DÉCIO BETTENCOURT MATEUS
Nasceu no Menongue no dia 11 de setembro de 1967. Obra publicada: “A Fúria do Mar” (2004).
Blog: http://www.minhaangola.org/#/decio-bettencourt-mateus/4532062401
A Minha Casa
A minha casa
É fácil de localizar
É fácil de encontrar
Basta ires sempre em frente
Para além da linha do horizonte
É fácil concerteza
Primeiro encontras lixo
Lixo e pessoas em convivência
E em harmonia,
Lixo na parte de baixo
E na parte de cima
Lixo e pessoas em convivência íntima
Mais adiante
E com o mau cheiro crescente
Encontras uma lagoa
E nela, crianças a banharem
Crianças a brincarem
Na maior, numa boa
Mais a frente
Entras em becos estreitos
Becos pequenos e apertaditos
I! fácil, é só teres isto em mente
Becos e suas enxurradas
Becos e suas águas estagnadas
Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
lá onde a água corrente
Lá onde a água potável
Passa muito distante
E da cor do invisível!
E conruaiva no falar!
Sempre em frente
Para além da linha do horizonte
Lá onde a luz eléctrica
Connosco brinca
Qual nuvem passageira
Que ora vai, ora vem zombateira!
Barulb
E no quintal da minha casa
Há jovens a falar alto, bêbados
Jovens cansados, frustrados e arrebentados
São os meus kambas
Kambas das bebedeiras e das minhas malambas
É fácil de localizar concerteza
Sempre em frente
Para além do horizonte!
Carrovdho
Sujo desconfortante,
MusiOlalta e ruidosa a incomodar
E a perurbar gente
GenteCom raiva no escutar!
o Candongueiro
(Para Glória,
Uma desconhecida
Que viajou comigo
Em um dia qualquer)
Paragem do candongueiro:
Sol escaldante
A fustigar gente
Gente aborrecida
De pé, cansada de esperar
Gente entristeci da
Com raiva no olhar!
Ao entrar no candongueiro:
Correrias
Gente aos empurrões
Gente aos safanões
Mãos leves puxam carteiras
Mãos malandras nas mbundas das senhoras
É assim todos os dias
Dentro do candongueiro … cima do muito ruído)
Gritarias
Barulheiras
Gente aos desentendimentos
E a protestar
Gente COm vincos nos rostos
apertadas
Que o motorista faz
Pois muito me apraz
Sentir tuas pernas encostadas
Às minhas
Olhando de soslaio tuas maminhas
Só eu sinto teu calor
Tua respiração ofegante
E teu agradável odor
Só eu viajo contente
Meu corpo colado ao teu
Teu olhar cravado no meu!
Que a viagem dure eternamente
E que entre mais gente!
Casei-me com a poesia
Fui a um jardim
Com bonitas flores
De agradáveis odores
Escolher uma para mim
Para com ela me juntar
E amar
Escolhi uma rosa
E Com ela tive uma prosa
Sobre meus planos de casamento
No momento,
A rosa disse não
E seus espinhos feriram meu coração
Mais adiante
Escolhi um belo cravo
E falei-lhe de amor
Mas o cravo era altivo
E no mesmo instante
Sua resposta foi um dissabor
Namorei e casei com a poesia
Esqueci-me das flores
De agradáveis odores
Esqueci-me do jardim
E do seu caminho outrossim
Casei-me com a poesia
A que me deu primazia!
Depois
Escolhi uma orquídea bonita
E estando a sós os dois
Falei-lhe de mansinho
E com carinho
A orquídea disse-me que era tudo fita
Com mais flores
De agradáveis odores
Falei de amor
E mais amargor
Recebi como resposta
Para meu desgosto e desfeita
Por último
Em um belo dia
Procurei e encontrei a poesia,
Falei-lhe íntimo
A poesia não complicou
A poesia aceitou
A poesia deu-me primazia
Não Digas Depois
Não digas depois
Que para ti
E desde que parti
A noite pariu desgraça
E abortou esperança
Não digas isto misturado com ais
Não penses que sem razão
A calema invadiu teu coração
De dor
E dissabor,
E que o amargor do peso
É obra do acaso
Não digas à ninguém
Que o vento se tornou cruel
E a mim também
Não digas que o mel
Perdeu a doçura
Que tinha em outra altura
Extraídos de:
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos "Guaches da Vida", 2005. 593 p.
Página publicada em junho de 2012
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