CURRY DUVAL
Nasceu em Luanda no dia 14 de abril de 1966. Obras publicadas: “Obsessão” (1995), “Cristal de Mel” (1997) e “Húmus em Alvorada” (2003).
Na Piroga do Xinguilamento 1. II
I.
Crê-se na beleza profunda das coisas, menos no fel da
sua opacidade. Mas na dança poeirenta das beçanganas,
esta desfaz-se nos panos infravermelhos com missangas
de gipepe, que adornizam a história de uma tradição. Esta,
no mar africano do pescador, encantou o universo das
viagens marítimas.
Na dança poeirenta do xinguilamento axiluanda, uma
cultura refugia-se fundo na raiz do seu tempo e traz p'ra
modernidade o sentido da própria história, que as velas
marginais do além, vãmente fizeram por mortalizar.
II.
No cortejo vermelho preto e branco das beçanganas,
o verbo Sábio Doce do Criador abençoa a criação
do Amor. Revitaliza Ele mesmo p'la unção, a piroga
do pescador, que sobre o mar sorre de leve por tanta
riqueza na arena da terra.
Na dança das beçanganas - filhas do mar _ o som do
batuque confunde-se com os seres em transe e gritos
de loucura e doçura. E na piroga da vida, o homem do
mar amaldiçoa somente a escuridão da vida e faz da
dança, a gargalhada ambígua da felicidade.
In gratidão australl.II.III
I.
Nunca vi tamanha forma dinossaura neste
imbondeiro africano, há séculos imerso na
imensidão de uma tirania por todos
clamada de insana/inglória colonial do
apartheid.
Jamais vi vozes tão embusteiras por um
espaço irmão - Angola - que há muito
clamou AmorlFraternidade e união,
porquanto é a beleza espiritual as
mãos da felicidade humana. Agora fel?
II.
Mas que ventos de um espírito qualquer
terão convertido os destruidores do imoral
para a revolta contra este país de um ser
Ngola Kiluange na cálida região austral?
Oh, que exímia traição à africana.
Nunca vi irmão tamanha in gratidão nesta
geografia afro-universal, onde o peito
transformou-se em monstro porque terminou
a esbelteza da irmandade no espaço
austral desta África (do Sul) ingénua.
III.
Jamais vi vil traição elevada às balbúrdias
de um país quase antropófago, digno fiel
aos preceitos mais mundanos do demónio
num espaço manso, ele próprio o perdão
também.
Eis a in gratidão da fraternidade à africana.
Extraídos de:
VASCONCELOS, Adriano Botelho de, org. Todos os sonhos. Antologia da Poesia Moderna Angolana. Luanda: União dos Escritores Angolanos "Guaches da Vida", 2005. 593 p.
Página publicada em junho de 2012
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