CÂNDIDO FURTADO 
                        
                      Joaquim Cândido Furtado, «No  álbum de uma africana» in. Almanach de Lembranças, 1864, p. 116 
                        
                        
                      NO ÁLBUM DE UMA AFRICANA 
                        
                      Qu'importa a cor, se as graças, se a candura,  
                      Se as formas divinaes do corpo teu  
                      Se escondem, se adivinhão, se apercebem  
                      Sob esse tão subtil, ligeiro véu? 
                        
                      Que importa a cor, se o sceptro da belleza  
                      Co'o mesmo enleio e brilho nos seduz?  
                      E se o facho d'amor reflecte a esparge  
                      Ou no jaspe, ou no ébano, egual luz? 
                        
                      E menos bella, acaso, a violeta 
                      Por que o céu lhe não deu nevada cor? 
                      Não é gentil a escura peônia 
                      Ou do verde lilaz a roxa flor? 
                        
                      Não tem encantos mil a noute escura,  
                      Não deleita então mais o rouxinol?  
                      Não serão do crepúsculo as sombras pallidas  
                      Mais bellas do que a luz d'ardente sol? 
                        
                      Não vive o alvo lyrio um dia apenas,  
                      E praso egual a cândida cecém,  
                      Em quanto que nas balsas a saudade  
                      De cada vez mais viço e vida tem? 
                        
                      Que importa a cor, se as graças, se a candura,  
                      Se as formas divinaes do corpo teu  
                      Se escondem, se adivinhão, se apercebem  
                      Sob esse tão subtil, ligeiro véu? 
                        
                        
                      Página publicada em fevereiro de 2009. 
                  
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