Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ANA PAULA TAVARES

Fonte: www.skyscrapercity.com  

ANA PAULA TAVARES

Poetisa e historiadora nascida em Lubango, na província de Huila, em 1952. Obteve o grau de Mestre em Literaturas Africanas pela Universidade de Lisboa.

 

Ana Paula Ribeiro Tavares (Lubango, província da Huíla, Angola, 30 de Outubro de 1952) é uma historiadora e poetisa angolana.
Iniciou o seu curso de história na Faculdade de Letras do Lubango (hoje ISCED, Instituto Superior de Ciências da Educação do Lubango), terminando-o em Lisboa. Em 1996 concluiu o Mestrado em Literaturas Africanas. Atualmente vive em Portugal, faz o Doutoramento em literatura e leciona na Universidade Católica de Lisboa. Sempre trabalhou na área da cultura, museologia, arqueologia e etnologia, património, animação cultural e ensino.

Tanto a prosa como a poesia de Ana Paula Tavares estão presentes em várias antologias publicadas em Portugal, no Brasil, em França, na Alemanha, em Espanha e na Suécia.

A escrita de Ana Paula Tavares sofreu influência de autores brasileiros, como Manuel Bandeira, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Mello Neto, cujas obras chegavam a Angola por meio de viajantes. Segundo a poeta, não só a literatura, mas também a música brasileira influenciou sua escrita.


Obras: Ritos de passagem (poesia). Luanda: UEA, 1985 [2ª ed. Lisboa: Caminho, 2007]. Sangue da buganvília: crônicas (prosa). Centro Cultural Português Praia-Mindelo, 1998. O Lago da Lua (poesia). Lisboa: Caminho, 1999. Dizes-me coisas amargas como os frutos (poesia). Lisboa: Caminho, 2001. Ex- votos, 2003. A Cabeça de Salomé (prosa). Lisboa: Caminho, 2004. Os olhos do homem que chorava no rio (romance), em coautoria com Manuel Jorge Marmelo. Lisboa: Caminho, 2005. Manual Para Amantes Desesperados (poesia). Lisboa: Caminho, 2007.

 

 

RAPARIGA

Cresce comigo o boi com que me vão trocar
Amarraram-me às costas, a tábua Eylekessa

Filha de Tembo
organizo o milho

Trago nas pernas as pulseira pesadas
Dos dias que passaram...

Sou do clã do boi —

Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
O sono profundo do deserto,

a falta de limite...

Da mistura do boi e da árvore
a efervescência
o desejo
a intranqüilidade
a proximidade
do mar

Filha de Huco
Com a sua primeira esposa
Uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes
        

 

A MÃE E A IRMÃ

 

A mãe não trouxe a irmã pela mão

viajou toda a noite sobre os seus próprios passos

toda a noite, esta noite, muitas noites

A mãe vinha sozinha sem o cesto e o peixe fumado

a garrafa de óleo de palma e o vinho fresco das espigas

                                               [vermelhas

A mãe viajou toda a noite esta noite muitas noites

                                               [todas as noites

com os seus pés nus subiu a montanha pelo leste

e só trazia a lua em fase pequena por companhia

e as vozes altas dos mabecos.

A mãe viajou sem as pulseiras e os óleos de proteção

no pano mal amarrado

nas mãos abertas de dor

estava escrito:

meu filho, meu filho único

não toma banho no rio

meu filho único foi sem bois

para as pastagens do céu

que são vastas

mas onde não cresce o capim.

A mãe sentou-se

fez um fogo novo com os paus antigos

preparou uma nova boneca de casamento.

Nem era trabalho dela

mas a mãe não descurou o fogo

enrolou também um fumo comprido para o cachimbo.

As tias do lado do leão choraram duas vezes

e os homens do lado do boi

afiaram as lanças.

A mãe preparou as palavras devagarinho

mas o que saiu da sua boca

não tinha sentido.

A mãe olhou as entranhas com tristeza

espremeu os seios murchos

ficou calada

no meio do dia.

 

               (Dizes-me coisas amargas como os frutos)

 

 

O CERCADO

 

De que cor era o meu cinto de missangas, mãe

feito pelas tuas mãos

e fios do teu cabelo

cortado na lua cheia

guardado do cacimbo

no cesto trançado das coisas da avó

 

Onde está a panela do provérbio, mãe

a das três pernas

e asa partida

que me deste antes das chuvas grandes

no dia do noivado

 

De que cor era a minha voz, mãe

quando anunciava a manhã junto à cascata

e descia devagarinho pelos dias

 

Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe

se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera

p'ra lá do cercado

 

 

    (Dizes-me coisas amargas como os frutos)

 

 

BOI  À VELA

Os bens nascidos na huíla
são altos, magros
navegáveis
de cedo lhes nascem
cornos
leite
cobertura

os cornos são volantes
indicam o sul
as patas lavram o solo
deixando espaço para
a semente
a palavra
a solidão>


A ABÓBORA MENINA

Tão gentil de distante, tão macia aos olhos
vacuda, gordinha,
de segredos bem escondidos

estende-se à distância
procurando ser terra
quem sabe possa
acontecer o milagre:
folhinhas verdes
flor amarela
ventre redondo
depois é só esperar
nela deságüem todos os rapazes.


NOVEMBER WITHOUT WATER


Olha-me p´ra estas crianças de vidro
cheias de água até às lágrimas
enchendo a cidade de estilhaços
procurando a vida
nos caixotes de lixo.

Olha-me estas crianças
transporte
animais de cargas sobre os dias
percorrendo a cidade até os bordos
carregam a morte sobre os ombros
despejam-se sobre o espaço
enchendo a cidade de estilhaços.

*

Chegas
eu digo sede as mãos
fico
bebendo do ar que respiras
a brevidade

assim as águas
a espera
o cansaço.

 


Inexplicavelmente, escolheram o nome Paula Tavares para a edição brasileira de sua obra reunida, quando a poeta é mais conhecida por Ana Paula Tavares, e vamos usar ambos nomes na identificação para facilitar a vida dos internautas. Ana Paula ou Paula, sua poesia é sempre excelente. Em boa hora é publicada no Brasil!

 

EX-VOTO

O tempo pode medir-se
No corpo

As palavras de volta tecem cadeias de sombra
Tombando sobre os ombros

A cera derrete
No altar do corpo

Depois de perdida, podem tirar-se
Os relevos

 

ADORNO

Toda a noite chorei na casa velha
Provei, da terra, as veias finas,
Um nome um nome a causa das coisas
Eu terra eu árvore eu sinto
todas as veias da terra
em mim e
o doce silêncio da noite.

 

CIRCUM-NAVEGAÇÃO

Em volta da flor fez
          a abelha
a primeira viagem
circum-navegando
          a esfera

Achado o perímetro
suicidou-se, LÚCIDA
no rio de pólen
          descoberto.

DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA.         ANO XX – No. 30.  Editor Bilharino.   Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000.  200 p.   No. 10 787      Uberaba, MG – Brasil. Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p.                   Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

 

                                                                         Raro é o que transporta
                                   o segredo da chuva
                                   Sábio é o que sentado
                                   a sabe ouvir

       A seca
                 parou
                 o chão das ilhas
       lavrando de silêncio
                 o tempo adormecido
       A pele gretada
                 do chão das ilhas
                 traz exposta
       As suas veias mais finas
       a cor do sangue
       o lentíssimo pulsar
       do seu segredo
                             de vidro


                 Geme
                          o silêncio da terra
                 por baixo do chão das ilhas.


      
RAPARIGA
 
       
Cresce comigo o boi com que me vão trocar
        Amarram-me já às costas, a tábua Eylekessa
       
                                     Filha de Tembo   
                                     organizo o milho

        Trago nas pernas as pulseira pesada
        Dos dias que passaram

                                     Sou da clã do boi —

        Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
        O sono profundo do deserto
                                           a falta de limite...

        Da mistura do boi e da árvore
                                           a efervescência
                                           o desejo
                                           a intranquilidade
                                           a proximidade
                                                               do mar
        Filha de Huco
        Com a sua primeira esposa
        Uma vaca sagrada,
                                     concedeu-me
        o favor das suas tetas úberes.


*
Página ampliada e republicada em abril de 2024.



 

 

Página publicada em novembro de 2008; ampliada em setembro de 2009. ampliada e republicada em dezembro de 2011.




Voltar para o topo da página Voltar para a página de Angola

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar