ÁLVARO MACIEIRA
Álvaro Macieira, jornalista, escritor, artista plástico, consultor cultural, nasceu a 13/5/ 1958 em Sanza-Pombo, (Pombo, Província do Uíge, Angola). Serviu às Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FPLA). Editou Cultura na Agência Angola Press. Começou no Jornal de Angola e no Correio da Semana. Colaborou para a Rádio Nacional de Angola, TPA – TV Pública e Tribuna Cultural da BBC de Londres. Foi assessor de Imprensa e Porta-voz em 1996 do Primeiro-ministro de Angola, Marcolino Moco. Membro da União dos Escritores Angolanos, publicou: Castro Soromenho: Cinco Depoimentos (1988),Cantos de Amor (1992), Séculos de Amor (2005, poesia) e Uanga ua Ngola – Subsídios para uma Biografia do escritor Órcar Ribas (no prelo). Preside o Conselho Fiscal da União dos Escritores Angolanos. Membro da União Nacional dos Artistas Plásticos. É um dos fundadores e ex-presidente da Associação dos Jornalistas Culturais de Angola. É membro honorário da Associação dos Jornalistas Económicos de Angola e um dos Vogais de Direção do Progresso Associação do Sambizanga, a única equipa de Futebol angolana que jogou no estádio do Maracaná (1980), Rio de Janeiro, Brasil. É Presidente da Mesa da Assembleia-geral da Associação dos Naturais e Amigos do Município de Sanza-Pombo. Foi Consultor na sede da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Lisboa. Prêmio de Pintura EnsArte (2000). Em 2002 conquistou o Primeiro Prêmio de Pintura EnsArte, o maior das artes plásticas. Em 2002 recebeu o prêmio Melhor Pintor do Ano pela Revista Tropical e pela Televisão Pública de Angola. Fez 25 exposições individuais e participou em mais de 20 coletivas. Suas obras pictóricas estiveram em cidades como Paris, Abuja, Moscou, Washington, Berlim, Bona, Bremen e Hannover.
II BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA – Poemário. Org. Menezes y Morais. Brasília: Biblioteca Nacional de Brasília, 2011. s.p. Ex. único.
Cabe ressaltar: a II BIP – Bienal Internacional de Poesia era para ter sido celebrada para comemorar o cinquentenário de Brasília, mas Governo do Distrito Federal impediu a sua realização. Mas decidimos divulgar os textos pela internet.
Poema para as próximas gerações
(Homenagem a poeta Alda do Espírito Santo)
Viste a Torre de Belém,
Além antes de nós
Atravessaste o Portal sul da igreja dos Jerónimos
Por nós antes de nós
Viste a Arte Românica e compreendeste a Gótica:
Monumentos, esculturas e pinturas
e literatura Por nós antes de nós
Viste o poder cego de uns quantos contra nós
Que somos tantos antes de nós
E nós contigo na mesma luta contra a opressão
uma multidão perene e translúcida no tempo colono
Por nós antes de nós
Deste-nos amor e dignidade humana
Travessias e memórias palpáveis sonhos certezas
na Casa dos estudantes do império da nossa Lisboa.
E abalaste o próprio império nas suas entranhas
Com tuas palavras e poesia sabor de mel do suor das roças de cacau do café e cheiro a chão molhado.
Por nós antes de nós
E nos músculos Angolares da tua inigualável e imensa força telúrica, chuva torrencial
Disseste
Não à exploração de homens por homens entre homens
Por nós antes de nós
Porque sabias que o mundo cruzava-se em ti mesma
forte vento equatorial, pilar de todos os edifícios
Hemisférios da tua sapiência amadurecida em S. Tomé e Príncipe o mundo: húmus da terra verde tão amada.
E pedaços de liberdade por reconstituir Por nós
antes de nós. Nossa Musa para sempre.
Angola, Sede da UEA- União dos Escritores Angolanos, 11 de Março de 2010, durante as exéquias fúnebres de Alda do Espírito Santo, em Luanda onde faleceu. Inédito.
Vozes mudas do prazer
Tanto medo
De te entregares
nua e pura.
Tanto medo de sustentarmos
Desejos
Mudos e cristalinos.
Temos medo de nós.
Dos olhares perplexos dos outros
A questionar nossa sorte.
Tanto desejo.
E porque não aceitar
(sem complexos de culpa)
A ereção de meu corpo.
O gingar violento de tuas ancas
Ritmadas
No orgasmo
In (contido)
De meu peito
Em teus seios.
Séculos de amor
Aquele dia
Queria que fosse alegre
Como o canto das cigarras
ao sol.
Escutar a suave melodia
de teus impulsos , tuas palavras
Doces, doces como teus abraços.
Estacionou em cada esquina
Na cidade.
Toda a mocidade para esperar
Envelheci com a própria noite
Buzinas tocaram alarmadas
Meu corpo caiu na escuridão
Da saudade.
Esta minha sorte, meu caminho
Quanto desejo me inspiras.
Sou rochedo
Aguardando séculos de amor
Mesmo que minhas propostas
Não tenham as respostas
desejadas. Tu desejas?
in Séculos de Amor. Dois Cadernos de poesia – Coleção “Os Nossos Poetas”, 18 - Kilombelombe, Luanda, Angola,2005, com prefácio de Jorge Macedo.
Página publicada em abril de 2019
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