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                                                Por  RONALDO CAGIANO*     SAN FERNANDO BEIRA-MAR: RESENHA CRÍTICA     Antonio  Miranda SAN  FERNANDO BEIRA-MAR Trad. de  Ricardo Ruiz. Buenos  Aires: Eloísa Cartonera, 2006.  24 p.     Edição bilíngüe.      Obra de  cunho crítico, satírico e picaresco, San Fernando Beira-mar, de Antonio  Miranda, é a anti-celebração da insegurança que avilta a sociedade brasileira e  que tem na figura de Luiz Fernando da Costa (vulgo "Fernandinho  Beira-mar",  um dos maiores  traficantes de armas da América Latina), um de seus ícones.   Épico às  avessas, o poema tematiza a epopéia dos criminosos invencíveis, que amedrontam  a sociedade brasileira,  desafiam as  autoridades e instauram o império do medo, construindo a grande tragédia humana  e urbana das sociedades contemporâneas, fruto das misérias e injustiças sociais  que vitimizam não apenas o povo brasileiro, mas os países periféricos,  submissos ao capitalismo espoliativo.  Assim como a máfia italiana, o crime  organizado se instalou de forma avassaladora, colocando a nu a fragilidade do  sistema legal, judiciário e prisional, criando um poder paralelo ao Estado e  superando-o com vantagem.    Com  ousadia, Antonio Miranda disseca, com dilacerante poesia (onde não há espaço  para o lirismo poético ou as expansões oníricas do espírito), esse clima de  tensão, essa atmosfera de medo e essa geografia de violência que sustentam os  obituários e tanto envergonham aos três poderes da nação.    Na melhor  tradição de poetas que refletiram sobre as mazelas do poder, como Gregório de  Mattos, o nosso "Boca do Inferno", Miranda dispara sua metralhadora  verbal para fazer um libelo contra uma realidade pungente e desafiadora.     Nesse Brasil em que o bandido está armado, a  polícia desarmada e a população alarmada, os versos de Miranda ajudam-nos a  compreender o status quo político, econômico e social e refletir sobre o grande  abismo que nos cerca, pois toca nas feridas, nos dá um soco no estômago,  provoca indignação e não nos deixa indiferentes à banalidade da vida e da morte  a que tantos se acostumaram.    *ensaísta, poeta, antologista. Brasília,  agosto 2006     |