RELÓGIO, NÃO MARQUE AS HORAS
Apresentação de JOSÉ SANTIAGO NAUD
Mescla de história, ficção e lirismo, tal qual outra mistura - a de raças, que nos conformou, a crônica afeiçoou a gente brasileira. Surgida como relato real ao fim da Idade Média, serviu de registro para os povos, assinalando o Brasil dos primeiros tempos. No século passado [século 19], instalou-se como gênero literário a partir do Romantismo, vindo a assumir papel destacado em nossos dias, consagrada depois de Rubem Braga como sensível apreensão do cotidiano e com papel destacado em nossos dias, consagrada depois de larga prática no jornalismo, a exemplo de nomes do nível de Clarice Lispector ou Carlos Drummond de Andrade. Formado em biblioteconomia, poeta, professor, viageiro inquieto e bom papo, Antonio Miranda reúne todas as condições para exercício peregrino cronista que é. A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese, assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas. Neste livro sua experiência ultrapassa as fronteiras da pátria, faz-se presença em outros limites, incorpora novas culturas e, na simpatia crítica a envolver histórias e pessoas, deixa que paire no ar da sua graça coberta em ouro e prata. Entre gentes e eventos, ligando no espírito brasileiro as certezas daqui ou de lá, em ambas as margens perfaz a plenitude da ventura amorável do riso, da solidariedade e das letras. |