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D. TOMÁS DE NORONHA


 

Nascimento: (?), Alenquer, Morte: 1651

 

D. Tomás de Noronha era filho de um fidalgo escudeiro do rei D. Sebastião. Casou com uma prima e, tendo enviuvado, casou pela segunda vez.

Jacinto Cordeiro, no seu Elogio dos Poetas Lusitanos (1631), coloca-o entre os mais célebres poetas do seu tempo.

 

Participou no movimento de reacção crítica ao estilo poético existente na Fénix Renascida e no Postilhão de Apolo, atacando o ridículo do artificiosismo que se fazia sentir nas composições literárias da época. Podou, em oitavas herói-cómicas, o estilo do seu tempo em autênticas paródias de lugares-comuns gongóricos. Dedicou-se, assim, à sátira caricaturesca dos vícios, vergonhas e torpezas sociais em estilo quase sempre indecoroso e grosseiro. Os versos eram para ele ora uma forma de pedir favores (o que é vulgar até ao Romantismo), ora uma forma de descarregar os seus ressentimentos de fidalgo de alta estirpe sem rendimentos condignos. A sua miséria fê-lo perder todo o respeito às diferentes condições sociais, sem excluir as prestigiadas pela religião ou as que motivam a compaixão, pelo sofrimento que vivem. Desenhou-nos o feroz auto-retrato actualizado do escudeiro vicentino, entre outras críticas de tipos e costumes.

 

Tomás de Noronha, conhecido pelo apodo de Marcial de Alenquer devido ao carácter satírico das suas composições poéticas, deixou-nos óptimos exemplos de textos ricos em alusões ao mundo social circundante como Bulha de Regateiras e A uns noivos que se foram receber.   Fonte: Infopedia

 

Tomás de Noronha, conhecido pelo apodo de Marcial de Alenquer devido ao carácter satírico das suas composições poéticas, deixou-nos ótimos exemplos de textos ricos em alusões ao mundo social circundante como Bulha de Regateiras e A uns noivos que se foram receber, levando ele os vestidos emprestados e indo ela muito doente e chagada:

Saiu a noiva muito bem trajada,
Saiu o noivo muito bem trajado,
O noivo em tudo muito conchegado,
A noiva em tudo muito conchagada.
Ela uma anágoa muito bem bordada,
Ele um capote muito bem bordado;
Do mais do noivo tudo de emprestado,
Do mais da noiva tudo de emprastada.
Folgámos todos os amigos seus
De ver o noivo assim com tanto brio
,
De ver a noiva assim com tantos brios.
Disse-lhe o cura então: - Confia em Deus.
E respondeu o noivo: - E eu confio.
E respondeu a noiva: - E eu com fios.

D. Tomás de Noronha, 
Fénix Renascida,

Biografia extraída de
https://www.infopedia.pt/recursos/lendas-portuguesas/$d.-tomas-de-noronha

 

 

A MUITOS TEMORES NO PORTO COM MEDO

          DE UMA NAU DE HOLANDESES

 

Portugal,  Portugal, és um sandeu

Estás caduco já por esta cruz,

Tanto talam-balam, tanto truz, truz,

Para quarenta cus cheio de breu!

 

Para quarenta cus, pois bem sei eu,

Quem, sem lança nenhuma ou arcabuz,

Para dar guerra a quatrocentos cus

Armado está com quanto Deus lhe deu.

 

Holanda será caça se cá vem,

Se tendes medo a Holanda, o meu Ruão

Sabe correr a caça muito bem.

 

Esforçai-vos, pois tendes capitão,

Que toda Holanda escassamente tem

Para forrar a perna de um calção.

 

 

 

DE CONSOANTES FORÇADOS

                                                       

Não sossegue eu mais que um bonifrate,

de urina sobre mim se vaze um pote,

As galas que eu vestir sejam picote,

Com sede me dêem água em açafate.

 

Se jogar o xadrez, me dêem um mate,

E jagando às trezentas, um capote,

Faltem-se consoantes para um mote,

E sem o ser me tenham por orate.

 

Os licores que beba sejam mornos,

Os manjares que coma sejam frios,

Não passeie mais rua que a dos fornos,

 

E para minhas chagas faltem fios,

Na cabeça por plumas tragam cornos,

Se meus olhos por ti mais forem rios.

 

PRAGAS SE CHORAR MAIS POR UMA DAMA CRUEL

 

Não sossegue eu mais, que um bonifrate,
De urina sobre mim se vase um pote,
As galas, que eu vestir, sejam picote,
Com sede me deem água em açafate.

 

Se jogar o xadrez, me deem um mate,
E jogando às trezentas um capote,
Faltem-me consoantes par um mote,
E sem o ser me tenham por orate.

Os licores que beba, sejam mornos,
Os manjares, que coma, sejam frios,
Não passeie mais rua, que a dos fornos.

E para minhas chagas faltem fios,
Na cabeça por plumas traga cornos,
Se meus olhos por mais forem rios.


 

LIVRO DOS POEMAS.  LIVRO DOS SONETOS. LIVRO DO CORPO. LIVRO DOS DESAFOROS.       LIVRO DAS CORTESÃES. LIVRO DOS BICHOS..  Org. Sergio Faraco.   Porto Alegre:         L.P. & M., 2009.   624 p   ISBN 978-85-254-1839-5                  Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

Da seção do LIVRO DAS CORTESÃS:

A UMA DAMA PRÓDIGA DE FAVORES

Se assim, formosa Helena, como és sol,
não deras tantas mostras de ser lua,
não te tivera o mundo por comua,
nem quem tanto te quer por caracol.

Olha que já te traz a fama o rol
por ser a tua grandeza a todos nua,
e pode ser que ganhes sendo crua
não acudindo como peixe ao anzol.

Ai! muda, Helena, muda as modas,
e não sejas, oh! não! como é a corça,
que mais corre como a seta que lastima.

Ama a quem te mais quer, e não a todos,
que repartido o amor tem menos força,
e a coisa que é mais comum não se estima.
 

**

Da seção do LIVRO DOS DESAFOROS: 

 

AO PADRE GIRÃO, POR FAZER VERSOS COMPRIDOS 

Padre Girão, se a Vossa Reverência
lhe deu licença o Louro Patriarca
para fazer os versos mais da marca,
bem dada foi em sua consciência.

Porém se lhe deu, mostre Vossência
exemplo em Camões, Lope ou Petrarca
e não me ande por aqui roçando alparca,*
porque me dá com um pau na paciência.

Se a musa de Vossência é centopéia,
sevandija do charco do Pegaso,
versos faça — com Deus! — de légua e meia.

Porém, se algum coimeiro** do Parnaso,
lhos levar por compridos à cadeia,
que há de fazer Vossência neste caso?

 ----

* Alpargata.
** Cobrador de coima, multa.

 

 

*

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Página publicada em agosto de 2022

 



 

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Página publicada em novembro de 2021

 

 

 

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