RUY CINATTI
Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes] GCIH (Londres, 8 de Março de 1915 — Lisboa, 12 de Outubro de 1986) foi um poeta, antropólogo e agrónomo português.
Biografia completa em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruy_Cinatti
HATHERLY, Ana. CAMINHOS DA MODERNA POESIA PORTUGUESA. 2ª. edição S.l.:Ministério da Educação Nacional, Direção Geral do Ensino Primário, 1969. 121 p. (Coleção Educativa, Serie G, n. 8) 11x16 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
Passou o amor. Um grande vazio fica-nos na
na alma, uma grande tristeza, um doloroso abandono.
Enquanto novo amor não vem há um intervalo
de saudade e de quietação,.
A alma espera.
(I)
Quando o amor morrer dentro de ti
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passaram dá-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.
(“ Poemas Escolhidos”)
(II)
A água que se escoa com ou meu pranto
Traz-me pensamentos resignados e doces;
E o coração — líquida alma em que me afundo —
Vibra com a terra molhada e desperta.
As lágrimas têm agora um sabor amável
E eu ergo um olhar ao céu, reconhecido;
Como botões já estão sonhando frutos.
Cada gota ou cristal fica suspenso
Entre mim e o céu, como uma estrela;
A chuva cai do céu — hora serena —
Molhando-me nos meus próprios pensamentos.
Bendito seja Deus!, que eu estou a ouvir
A música sem nome em gotas límpidas.
No peito abre-se um vale, eu vou subindo
O caminho desde a água ao infinito.
Página publicada em janeiro de 2020.
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