Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Fonte da foto:
http://www2.bienaldolivro.ce.gov.br

 

ROSA ALICE BRANCO

 

 

Nascimento: 1950. Mestre em Filosofia do Conhecimento pela Universidade Nova de Lisboa, com uma tese sobre a percepção visual em Berkeley, nascida em 1950. Ensina psicologia da percepção na Escola Superior de Artes e Design. Participou no Grupo de Estudos de Semiótica e Poética do Porto, tendo sido um dos responsáveis pela revista Figuras e pertence à direcção da revista Limiar. A sua poesia, reflectindo sobre paradoxos filosóficos e linguísticos, ocupa um lugar único na poesia portuguesa contemporânea mais recente.

 

Bibliografia: Animais da Terra, Porto, 1988; Monadologia Breve, Porto, 1991; A Mão Feliz. Poemas D(e)ícticos, Porto, 1994; O Desenvolvimento da Filosofia do Sugerir: a Percepção como Operação Interpretativa, Lisboa, 1990; O Que falta ao Mundo para ser Quadro, Porto, 1993  Fonte: www.infopedia.pt/

 

 

 

Arte poética

 

Gostaria de começar com uma pergunta

ou então com o simples facto

das rosas que daqui se vêem

entrarem no poema.

 

o que é então o poema?

Um tecido de orifícios por onde entra o corpo

sentado à mesa e o modo

como as rosas me espreitam da janela?

 

Lá fora um jardineiro trabalha,

uma criança corre, uma gota de orvalho

acaba de evaporar-se e a humidade do ar

não entra no poema.

 

Amanhã estará murcha aquela rosa:

poderá escolher o epitáfio, a mão que a sepulte

e depois entrar num canteiro do poema,

enquanto um botão abre em verso livre

lá fora onde pulsa o rumor do dia.

 

O que são as rosas dentro e fora

do poema? Onde estou eu no verso em que

a criança se atirou ao chão cansada de correr?

E são horas do almoço do jardineiro!

Como se fosse indiferente a gosta de orvalho

ter ou não entrado no poema!

 

Poemas extraídos da revista POESIA SEMPRE, Num. 26, Ano 14, 2007. Edição da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

 

 

A TUA PELE DESCALÇA

 

Veio uma onda . A varrer o meu sono .

Caminhava nele como caminho na areia .

Nada me une ou divide. Nada me retém.

Sentas-te onde me sento no teu colo

e peço sempre a mesma história . A tua voz

cria as memórias que hei-de ter . Por agora

caminho ao longo das gaivotas e grito como elas

quando a maré baixa . Às vezes apoio-me num rochedo

para dizer “casa” e logo desmorono. Sigo descalça

como tu para dizer “seguimos”. Mas são apenas sons

sob o sol de maio. Murmúrios do que não serei.

Sempre tive problemas com o verbo ser. Faço

e desfaço as malas, entro e saio das gavetas.

Pausa na camisa que vestiste da última vez.

Uma vontade de a amarrotar, desapertar os botões

e sentir lá dentro a tua pele cá fora.

Tudo isto é tão verdade como podem ser os botões

de uma camisa escrita. Confesso que não pensei na cor,

ou se era às riscas. Agora acho que podia ser a de quadrados.

Em qualquer delas a tua pele entra na minha.

 

 

De
Rosa Alice Branco
Soletrar o dia.
São Paulo: Escrituras editora, 2004.
111 p.   (Col. Ponte Velha)
ISBN  85-7531-122-0

 

"Esta me parece a afirmação mais substantiva da poética de Rosa Alice Branco, a de que todos os sentidos são táteis. As leituras adentradas em grutas filosóficas ou estéticas, atentando para demandas míticas ou metapoéticas, ajudam parcialmente a soletrar o dia dessa mulher que escreve com toda fluidez com que se deixa viver. O domínio de uma linguagem, que ela o tem com depurado esmero, não lhe inventa ou determina passos. Assim como ela toca tudo o que se sente, não pode compreender sua poética ausente dessa condição tátil a que me refiro. Diz com todos os verbos: é preciso oca a imaginação e deixar-se tocar por ela. Não abole a transcendência, claro está, mas lhe diz com toda a clareza que ela não poderá jamais ser alguém sem a imanência."  FLORIANO MARTINS



Ilusionismo

 

Não sei o que te diga. E se soubesse

a quem o diria? Já não sei inventar os domingos.

Pode-se inventar tudo menos os domingos.

Começo a vestir-me para o outono, começo

por este dia que só de dizê-lo é inverno.

Ponho uma camisola clara para afugentar a noite.

E todas as horas. As que ficam no fundo

e arrasam a gaveta. O peso incontável

de terem partido os dias da semana

iguais entre si, iguais a ti e a mim.

Fiou um segundo esquecido na gaveta.

É com ele que farei o dia e todos os dias

que faltam para que não me faltes.

 

 

No centro do vermelho

 

Olha como caminho ao lado do que digo

quando me esqueço de sentir o que me toca

e não podes querer-me porque estou ao lado

do que sou. Afasto-me de nós, quando de mim

desvio o olhar e as mãos buscam ao lado

do que está e encontram as palavras longe

da boca que humedece o som e o sentido.

Quando digo ao lado do caminho é também

perder o sentido que me fez andar

e pôr de lado o outro, não ser para ele

que semeio as palavras no chão da casa

quando se deita ao lado do meu corpo.

Dispo-me fora e dentro do que digo,

chamem-lhe coração ou intestinos,

é com a pele que te olho nos olhos,

as palavras acorrem aos ouvidos

c a boca está no centro do vermelho.

Sei que alguém está ferido, tem fome,

está só, e é por isso fútil cada letra

que não seja o tecto das palavras.

 

 

 

 

Página publicada em novembro de 2009; ampliada e republlica em janeiro de 2011.

 


Voltar para a Página de Portugal Voltar para o topo da Página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar