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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

RAUL DE CARVALHO

 

Poeta português, natural do Alvito. Foi colaborador das revistas Távola Redonda e Árvore e Cadernos de Poesia, que, na década de 50, conglomeravam de forma irregular, mas activa, poetas de várias sensibilidades. A obra deste poeta, onde se encontram evocações da sua infância alentejana, revela a sua ligação ao neo-realismo. A fidelidade ao humano e o estilo enumerativo e anafórico são marcas da sua poesia.

 Os seus títulos englobam As Sombras e as Vozes (1949), Poesia, (1955), Mesa de Solidão (1955), Parágrafos (1956), Versos - Poesia II (1958), A Aliança (1958), Talvez Infância (1968), Realidade Branca (1968), Tautologias (1968), Poemas Inactuais (1971), Duplo Olhar (1978), Um e o Mesmo Livro (1984) e Obras de Raul de Carvalho — I — Obra Publicada em Livro (editada postumamente em 1993). Recebeu, em 1956, o Prémio Simón Bolívar, do concurso internacional de poesia realizado em Siena, Itália.Fonte da biografia:
www.astormentas.com/

  

Isso até me agrada. Que me deitem fora

Que me deixem livre de compromissos afectivos.

Ficar ligeiro por dentro; ser como casca só.

Não tropeçar nos detritos humanos

Que me cercam,

Não ter altivez nenhuma nisso.

Ser simplesmente um andante.

Ter o caminho livre.

 

 

CORAÇÃO SEM IMAGENS

 

Deito fora as imagens,

Sem ti para que me servem

as imagens?

 

Preciso habituar-me

a substituir-te

pelo vento,

que está em toda a parte

e cuja direcção

é igualmente passageira

e verídica.

 

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos

numa casa deserta,

ao trémulo vigor de todos os teus gestos

invisíveis,

à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve

a não ser eu.

 

Serei feliz sem as imagens.

As imagens não dão

felicidade a ninguém.

 

Era mais difícil perder-te,

e, no entanto, perdi-te.

 

Era mais difícil inventar-te,

e eu te inventei.

 

Posso passar sem as imagens

assim como posso

passar sem ti.

 

E hei-de ser feliz ainda que

isso não seja ser feliz.

 

 

Para um novo livro de Cesário Verde

 

Eles tomam cerveja, ambrosia, licores

oleosos, sagrados como discos lunares.

Do azul da gravata ou da fímbria das ondas

retiram pensamentos ociosos e puros.

 

Recolhem-se de noite às oliveiras mansas

duma infância passada em louco desafio.

Ou então, nos portais, em amoroso convívio,

fingem que já não temem a noite nem o frio.

 

Já não têm família e mastigam, sozinhos,

um jovial jantar, colorido e minúsculo,

que haviam de comer, num domingo qualquer,

entre amigos cantando, ente mulheres amando.

        

Têm as caudas leves e subtis dum peixe,

têm um planeta adormecido e exangue,

têm os olhos líquidos, de asfódelo ou de cobre,

esses seres mitológicos que asfixiam a Terra.

 

São eles que caminham, irreais e aos tombos,

pondo nódoas de espanto por cima dos telhados.

Eles é que me deram o título deste poema:

A Cidade Está Cheia de Homens Assassinados.

 

 

 

Página publicada em maio de 2008.

 




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