PAULO BRITO E ABREU
Paulo Jorge Cardoso de Oliveira Brito e Abreu, de seu nome completo, nasceu em Lisboa, a 27 de Maio de 1960.
“...nesse olhar, necessariamente atento, deparamo-nos com um percurso esotérico que só um verdadeiro cultor do pensamento pode conhecer. E, se um dia houver uma escolha, rigorosa e inexorável, entre os eleitos da poética do pensamento, o Autor encontrar-se-á, de modo inequívoco, entre eles, pois a sua Poesia torna-se uma constelação do Conhecimento. Nessa constelação, o mundo emerge e torna-se autêntico, luminoso e eterno.” JOSÉ FERNANDO TAVARES, 1995
“É um trajecto de raiva e de amor, que veio da poesia branca à sonoridade da rima e à metrificação clássica.Mas não se sabe nunca onde se deterá. Vai e vem. Inquieta-se. È essa a sina dos vates: procurar – entre a erva e a luz – o sangue do cordeiro assassinado. Adelante, Paulus.” Estoril – Janeiro de 1996- FERNANDO GRADE
NA PARTIDA DA SENHORA BEATRIZ
(inspirado no “alma minha gentil que te partiste”)
Amada Beatriz, que em tua Sorte
Sofreste cá da mágoa o cruel gume,
Repousa lá no Céu, sem azedume,
E viva eu de saudades e de morte.
Se lá, no divo assento, onde és tu Norte,
Memória desta vida se presume,
Ti dá-nos, lá do Céu, teu vivo lume
E pede ao Pai que a dor, a pena corte.
E se vires que ali podes lembrar-te,
Amada Beatriz, no teu fulgor,
Dos filhos e dos netos por quem Marte
E Apolo e Vénus foram teu louvor,
Diz a Deus, diz a Deus, que Ele também parte
Quando parte uma esposa do Senhor.
Lisboa, 15/3/92
DESENGANO
Nos braços do Amor, o Fado amaro
Me pôs um dia cru, enraivecido;
Me pôs para sofrer, que o dolorido
E tenebroso Amor, me custou caro.
Em lágrimas e Dor, no desamparo,
Amor me foi algoz, e foi bandido;
Foi loucura este Amor, que o deus Cupido,
Por ser vidente e cego, é pomo raro.
Oh Dor, míseras tunas, meus enganos,
Tristes águas, alvor de mágoas mil:
Meu candor, que assim foi nas almas danos,
Seja alor, seja alegre e pastoril,
Que é triste eu ir morrendo anos e anos,
Como é vil, um Abreu não ter Abril.
Tomar,26/12/93
À MEMÓRIA DE NATÁLIA CORREIA
Tu vinhas com as flamas, flor imensa,
Dançando nos teus dramas, onde a fera
Tinha garras de gata na sentença
E a Lua cor de prata era quimera.
Vestida ou qual Diana eras Provença,
Qual deusa do piano eras Citera;
Coríntia te vi eu, que a flor é crença,
E Cynthia te chamava a Primavera.
Quisera ver-te Lua, ver-te Mãe
Na graça, a graça tua em que ensaiaste
Do trovador a voz. E digo amém
Á verdura da flor, à sua haste
Que diz a todos nós, grita também:
- “Madre, ó Mãe, porque é que nos criaste?”
Lisboa, 20/7/94
NOVA COITA D’AMOR
Beladona imortal, que no passado
Dum Vate os próprios versos acendias;
Beladona gentil, que amados dias
Hás dado a um coração desesperado;
Ouve os ais dum profeta desejado
Por mil demónios vis, por mil harpias,
E à minh’Alma já volve, ó meu Messias,
Ó flor que vezes mil eu hei beijado.
Num passado imortal, tu foste Aquela
A quem, qual capitão, amei a bordo...
Tu foste a pura, a tímida donzela,
Dos meus versos o Nume que eu recordo.
Em sonhos delirando, eu grito: “Bela...”
Mas quando digo “Dona” então acordo.
Lisboa, 7/4/90
Página publicada em abril de 2009
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