NUNO DE SAMPAYO
(1925-2005)
Nuno de Sampayo (Lisboa, 20 de Outubro de 1925 - 15 de Março de 2005) foi escritor, poeta, ensaísta e crítico literário português. Publicou, em poesia, A Orla e o Tempo (1956), A Condição Angélica (1960), O Eterno Instante (1964). Em 1958 Jorge de Sena (1919-1978) inclui-o na seleção da antologia poética Líricas portuguesas. Compilou em O Espírito da Obra (1961) um conjunto de ensaios dedicados à obra de grandes nomes da literatura universal como Tolstoi, Proust, Kafka e Joyce, entre outros. Entre 1961 e 1983 trabalhou no Serviço de Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que ajudou a desenvolver a convite de António Branquinho da Fonseca (1905-1974). Fonte: wikipedia
O ANJO DO PÓRTICO DE REIMS
Ó figura ambígua, com um lírio no sorriso,
Inicia-nos no mistério da tua boca alada,
E diz-nos se és uma sereia de lábios sinuosos,
um efebo andrógino,
Um estrela pervertida ou um clarim estridente!
(A Condição Angélica)
HERMETISMO
Aquela que vem, flor, diadema, pássaro,
E a balança das mãos e as asas dos poemas.
E a neve mais amada quando ela vem, tardia,
E os flocos — pâmpanos de de uma angústia de cristal,
E os passos da morte estalando na areia fina.
Ó flor, penacho de insecto,
Ó neve, diadema do tecto,
Opacas paredes.
E a tesoura do anjo recortando a flor da morte
Na sua exacta ambiguidade.
(O Eterno Instante)
Página publicada em setembro de 2016
|