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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



MIGUEL TORGA

(1907-1995)


Nasceu em São Martinho de Anta (Trás-os-Montes), Portugal.

Emigrou para o Brasil em 1919, com doze anos, para trabalhar na fazenda do tio, na cultura do café. O tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais, em Leopoldina. Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, na convicção de que ele havia de vir a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço - o que levou ao seu regresso a Portugal.

Em 1928 entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro, "Ansiedade", de poesia. Em 1929, com 22 anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema “Altitudes”. A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, era bandeira literária do grupo modernista e era também, bandeira libertária da Revolução Modernista. Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença, por "razões de discordância estética e razões de liberdade humana".

Em 1934, aos 27 anos, Adolfo Correia Rocha autodefine-se pelo pseudônimo que criou, "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é a designação nortenha da urze, planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho.

Polígrafo, escreveu poesia, ficção,teatro e foi traduzido a muitos idiomas. Entre os

A obra o poeta está presente em muitas páginas na Internet, mas em castelhano a presente é uma exceção.

Livros de poesia: Ansiedade (1928); Rampa (1930); Tributo (1931); Abismo (1932); O Outro Livro de Job (1936); Lamentação (1943); Libertação (1944); Odes (1946); Nihil Sibi (1948); Cântico do Homem (1950);Alguns Poemas Ibéricos (1952); Penas do Purgatório (1954); Orfeu Rebelde (1962); Câmara Ardente (1962) e Poemas Ibéricos (1965).(Resumido da Wikipedia)

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /  TEXTOS EN ESPAÑOL

FRONTEIRA

 

De um lado terra, doutro lado terra;

De um lado gente; doutro lado gente;

Lados e filhos desta mesma serra,

O mesmo céu os olha e os consente.

 

O mesmo beijo aqui; o mesmo beijo além;

Uivos iguais de cão ou de alcateia.

E a mesma lua lírica que vem

Corar meadas de uma velha teia.

 

Mas uma força que não tem razão,

Que não tem olhos, que não tem sentido,

Passa e reparte o coração

Do mais pequeno tojo adormecido.

 

A ORFEU

 

Das tuas mãos divinas de Poeta

Herdei a lira que não sei tanger;

Por eleição ou maldição secreta,

Tenho uma grade para me prender.

 

Cercam-me as cordas, de emoção,

Versos de ferro onde me rasgo inteiro.

Mas, do fundo da alma e da prisão,

Obrigado, meu Deus e carcereiro!

 

 

DIES IRAE

 

Apetece cantar,mas ninguém canta.

Apetece chorar, mas ninguém chora.

Um fantasma levanta

A mão do medo sobre a nossa hora.

 

Apetece gritar, mas ninguém grita.

Apetece fugir, mas ninguém foge.

Um fantasma limita

Todo o futuro a este dia de hoje.

 

Apetece morrer,mas ninguém morre.

Apetece matar, mas ninguém mata.

Um fantasma percorre

Os motins onde a alma se arrebata.

 

 

IBÉRIA

 

Terra.

Quanto a palavra der, e nada mais.

Só assim a resume

Quem a contempla do mais alto cume,

Carregada de sol e de pinhais.

Terra-tumor-de-angústia de saber

Se o mar é fundo e ao fim deixa passar...

Uma antena da Europa a receber

A voz do longe que lhe quer falar...

 

Terra de pão e vinho

( A fome e a sede só virão depois,

Quando a espuma salgada for caminho

Onde um caminha desdobrado em dois).

 

Terra nua e tamanha

Que nela coube o Velho-Mundo e o Novo...

Que nela cabem Portugal e Espanha

E a loucura com asas do seu Povo.

 

 

GUERRA CIVIL

 

É contra mim que luto

Não tenho outro inimigo.

O que penso

O que sinto

O que digo

E o que faço

É que pede castigo

E desespera a lança no meu braço

 

Absurda aliança

De criança

E de adulto.

O que sou é um insulto

Ao que não sou

E combato esse vulto

Que à traição me invadiu e me ocupou

 

Infeliz com loucura e sem loucura,

Peço à vida outra vida, outra aventura,

Outro incerto destino.

Não me dou por vencido

Nem convencido

E agrido em mim o homem e o menino.

 

 

BRASIL

Brasil
onde vivi,
Brasil onde penei,
Brasil dos meus assombros de menino:
Há quanto tempo já que te deixei,
Cais do lado de lá do meu destino!

Que milhas de angústia no mar da saudade!
Que salgado pranto no convés da ausência!
Chegar.
Perder-te mais.
Outra orfandade,
Agora sem o amparo da inocência.

Dois pólos de atracção no pensamento!
Duas ânsias opostas nos sentidos!
Um purgatório em que o sofrimento
Nunca avista um dos céus apetecidos.

Ah, desterro do rosto em cada face,
Tristeza dum regaço repartido!
Antes o desespero naufragasse
Ente o chão encontrado e o chão perdido.

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de Roldolfo Alonso

 

 

MIGUEL TORGA

(1907-1995)


Nacido em São Martinho de Anta (Trás-os-Montes”, vivió parte de la juventude en el Brasil. De regreso a Portugal, hizo estúdios de Medicina en Coimbra, donde se formo y se fijó. Inicialmente miembro Del grupo de presença (1927), se aparto de el para lanzar las revistas Sinal (1930) e Manifesto (1936), manteniendo a partir de allí una actitud Independiente, propia de su personalidad rebelde e inconformista. Después del libro inicial, Rampa (1930), multiplico su obra en la poesia, el cuento y el teatro, habiendo llevadoun lar Diário, en el que incluía muchos de sus poemas.Arraigado en el húmus originário, su lirismo de cepa pagana exalta la libertad del hombre en lucha por la plenitud de su potencialidad creadora y contra todas las prisiones que lo limitan, encontrando en el canto del poeta su más alta expresión (cf. O Ouro Livro de Job, 1936; Libertação, 1944; Odes, 1945; Nihil Sibi, 1948; Cântico do Homem, 1950; Penas do Purgatório, 1954; Orfeu Rebelde, 1958; Câmara Ardente, 1962. En Poemas Ibéricos su poesia se ensancha a la condición terrrestre y marítima de los pueblos peninsulares, que se prolonga más allá del Atlántico, especialmente en el Brasil de su adolescência, AL que consagro todo un libro, Traço de União (1955). Figura de referencia cívica ejemplar, se volvió un símbolo poético de resistência a la dictatura.

 

 

FRONTERA

 

De un lado tierra, al otro lado tierra;

De un lado gente, al otro lado gente;

Lados e hijos de esta misma tierra,

Los mira el mismo cielo y los consiente.

 

El mismo beso aqui, el mismo allá;

Igual aullido de manada o perra.

La misma luna lírica que va a

Teñir los hilos de una vieja tela.

 

Pero una fuerza que razón no tiene,

Que no tiene ojos, no tiene sentido,

Pasa y reparte el corazón

Del más pequeño tojo adormecido.

 

 

A ORFEO

 

De tus manos divinas de Poeta

La lira heredo que no sé teñir;

Por elección o madición secreta,

Tengo una reja de la cual asir.

 

Me rodean cuerdas, tensas de emoción,

Versos de hierro donde me abro entero,

Mas, del fondo del alma y la prisión,

¡Muchas gracias, mi Dios y carcelero!

 

 

DIES IRAE

 

Dan ganas de cantar, mas nadie canta.

Dan ganas de llorar, mas nadie llora.

Un fantasma levanta

Mano de miedo sobre nuestra hora.

 

Dan ganas de gritar, mas nadie grita.

Dan gans de escapar, mas nadie huye.

Un fantasma limita

Todo el futuro a este día de hoy.

 

Dan ganas de morir, mas nadie muere.

Dan ganas de matar, mas nadie mata.

Un fantasma recorre

Motines donde el alma se arrebata.

 

¡Oh! Madición del tiempo en que vivimos,

Sepultura de rejas cinceladas.

¡Que hacen ver el vivir que no tenemos

Y ânsias inanimadas!

 

 

IBERIA

 

Tierra.

Cuanto dé la palabra, y nada más.

Sólo así la resume

Quien la contempla desde una alta cumbre

Bien cargada de sol y de pinares.

 

Tierra-tumor-de-angustia de saber

Si el mar es hondo y al fin deja pasar...

Una antena de Europa que recibe

La voz de lejos que le quiere hablar...

 

Tierra de pan y vino

(La sed y el hambre ya vendrán después,

Cuando espuma salobre sea el camino

Donde no anda desdoblado en dos).

 

Tierra desnuda y anta

Que en ella cupo el Mundo-Viejo y Nuevo...

Que en ella caben Portugal y España

Y la locura alada de su Pueblo.

 

 

GUERRA CIVIL

 

Es contra mí que lucho.

No tengo otro enemigo.

Lo que pienso,

Lo que siento,

Lo que digo

Y lo que hago,

Eso pide castigo

Y a la lanza desespera en mi brazo.

 

Absurda alianza

De adulto y niño,

Lo que soy es insulto

AL que no soy;

Y combato esa imagen

Que a traición me invadió y me ocupó.

 

 

BRASIL

 

Brasil donde viví, Brasil en donde pene,

Brasil donde fui asombrado niño:

¡Cuanto tiempo hace ya que te dejé,

Muelle al lado de allá de mi destino!

 

¡Qué millas de ansia en un mar de nostalgia!

¡Qué sal de llanto en un convés de ausência!

Llegar. Perderte más. Otra orfandad,

Ahora sin que me ampare la inocencia.

 

¡Dos pólos de atracción en el pensar!

¡Dos ansias otras para los sentidos!

Un purgatório donde el sufrimiento

Nunca avista algún cielo apetecido.

 

¡Ah, destierro del rostro en cada faz,

Tristeza de un regazo repartido!

Naufrague antes el desesperar

Entre el suelo encontrado y el perdido.

 

 

 

Textos extraídos de la obra POETAS PORTUGUESES Y BRASILEÑOS - DE LOS SIMBOLISTAS A LOS MODERNISTAS; organización y estúdio introductorio: José Augusto Seabra.  Buenos Aires: Instituto Camões; Editora Thesaurus, 2002.  472 p. ISBN 85-7062-323-2

 

Agradecemos ao Instituto Camões a autorização para a publicação dos textos, em parceria visando a divulgação da literatura de língua portuguesa em formato bilíngüe na web.

 

 

Página publicada em junho de 2008.

 




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