MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
(1890-1916)
Nacido en Lisboa, vivió a partir de 1912 en Paris, desde donde se carteaba con Fernando Pessoa, dándole cuenta de las experiencias estéticas de vanguardia, sobre todo el Cubismo y el Futurismo. De regreso a Portugal conl Gran Guerra, preparó con entusiasmo el lanzamiento de Orpheu (1915), después de haber publicado, en 1914, el
libro de poemas Dispersão y la narrativa de A Confissão de Lúcio, a lo que siguió en 1915 el libro de cuentos Céu em Fogo.
Su escritura poética, contaminada de reminiscencias simbolistas, estaba ya marcada por el lenguaje modernista, que Pessoa mientras tanto teorizaba. EI escándalo provocado por Orpheu y la imposibilidad de continuar más allá del segundo número, por razones financieras, lo llevaron a partir de nuevo precipitadamente hacia Paris, donde iba a escribir sus últimos poemas, en un estado de depresión que lo llevó al suicidio, en 1916, a la edad de 26 años, pero habiendo enviado a Fernando Pessoa el original del libro de poemas Indícios de Oiro, publicado póstumamente, en 1937, por la revista Presença.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducciones de Rodolfo Alonso
ESTÁTUA FALSA
Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha alma desceu veladamente.
Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.
Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar ...
(Dispersão, 1914)
ESTATUA FALSA
Sólo de oro falso mis ajas se doran
Soy esfinge sin misterio en el ocaso.
La tristeza de las cosas que no fueron
A mi alma descendió veladamente.
En mi dolor se quiebran espadas de ansia,
Brotes de luz se confunden en tiniebla.
Las sombras que yo fluyo no perduran,
Como Ayer, para mí, Hoy es distancia.
Ya no tiemblo enfrente de! secreto;
Nada me enrubia ya, nada me aterra:
¡La vida corre sobre mí en guerra,
Y ni siquiera un temblor de miedo!
Soy estrella ebria que perdió los cielos,
Sirena loca que dejó el mar;
Soy templo presto a derruir sin dios,
Estatua falsa aún erguida en el aire ...
EPÍGRAFE
A sala do castelo é deserta e espelhada.
Tenho medo de Mim. Quem sou? Donde cheguei? ...
Aqui, tudo já foi ... Em sombra estilizada,
A cor morreu — e até o ar é uma ruína ...
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina —
Um som opaco me dilui em Rei ...
EPÍGRAFE
La sala del castillo: desierta y con espejos.
Tengo miedo de Mí. ¿Quién soy? ¿De dónde vine?
Aquí, todo ya fue ... En sombra estilizada,
Murió e! color - y aun el aire está en ruinas ...
Viene de Otro tiempo la luz que me ilumina -
Un son opaco me diluye en Rey ...
ÁPICE
O raio de sol da tarde
Que uma janela perdida
Reflectiu
Num instante indiferente –
Arde,
Numa lembrança esvaída,
À minha memória de hoje
Subitamente ...
Seu efémero arrepio
Zig-zagueia, ondula, foge,
Pela minha retentiva ...
— E não poder adivinhar
Por que mistério se me evoca
Esta idéia fugitiva,
Tão débil que mal me toca!...
— Ah, não sei por quê, mas certamente
Aquele raio cadente
Alguma coisa foi na minha sorte
Que a sua projecção atravessou ...
Tanto segredo no destino de uma vida ...
É como a idéia de Norte,
Preconcebida,
Que sempre me acompanhou ...
ÁPICE
EI rayo de sol de la tarde
Que una ventana perdida
Reflejó
En un instante indiferente –
Arde.
Como un recuerdo disipado,
En mi memoria de hoy
Súbitamente ...
Su efímero temblor
Zigzaguea, ondula, huye,
Por mi retentiva ...
—¡Y no poder adivinar
Por qué misterio se me evoca
Esta idea fugitiva,
Tan débil que mal me toca!...
—Ah, no sé por qué, mas ciertamente
Aquel rayo cadente
Alguna cosa fue en mi suerte
Que su proyección atravesó ...
Tanto secreto en el destino de una vida ...
Es como la idea de Norte,
Preconcebida,
Que siempre me acompañó ...
ÚLTIMO SONETO
Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes — e vieste ...
— Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.
Em que seda de afagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste
Como fui de perca! quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi ...
Pensei que fosse o meu o teu cansaço
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava ...
E fugiste ... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava? ...
ÚLTIMO SONETO
¡Qué rosas fugitivas fuiste allí!
Te requerían los tapetes, y viniste ...
—Si me duele hoy el bien que me hiciste,
Es justo, porque mucho te debí.
¡En qué seda de halagos me envolví
Cuando entraste, las tardes que apareciste!
Como fui de percal cuando me diste
Tu boca a besar, que remordí...
Pensé que fuese el mío tu cansancio
Que entre nosotros seria un largo abrazo
El tedio que, tan esbelta, te curvaba ...
Y escapaste ... ¿Qué importa? ¿Si dejaste
El recuerdo violeta que animaste
Donde se une el Colar a mi añoranza? …
CAMPAINHADA
As duas ou três vezes que me abriram
A porta do salão onde está gente,
Eu entrei, triste de mim, contente
E à entrada sempre me sorriam ...
CAMPANILLAZO
Las dos o tres veces que me abrieron
La puerta de! salón donde había gente,
Yo entré, triste de mí, contento-
Y a la entrada siempre me sonrieron ...
O PAJEM
Sozinho de brancura, eu vago — Asa
De rendas que entre cardos só flutua ...
— Triste de Mim, que vim de Alma pra rua,
E nunca a poderei deixar em casa ...
EL PAJE
Yo vago, solo de blancura - Ala
De encajes que fluctúa entre cardos ...
—Triste de Mí, que salí de Alma a la calle,
Y nunca la podré dejar en casa ...
AQUELE OUTRO
O dúbio mascarado — o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito —
Bem no fundo, o cobarde rigoroso.
Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua Alma de neve, asco dum vómito
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso.
O sem nervos nem Ânsia — o papa-açorda,
(Seu coração talvez movido a corda ... )
Apesar de seus berras ao Ideal.
O raimoso, O corrido, o desleal,
O balofo arrotando Império astral:
O mago sem condão — o Esfinge gorda ...
(Indícios de Ouro, 1937)
AQUELOTRO
El disfrazado incierto, e! mentiroso
Al fin, que en la vida pasó incógnito;
El Rey-luna postizo, e!l falso atónito;
Bien al fondo e! cobarde riguroso ...
En vez de Paje bobo presuntuoso ...
Su Alma de nieve asco de un vómito ...
Su ánimo cantado como indómito
Un lacayo invertido y presuroso ...
El sin nervios ni Ansia, el indolente .
(Su corazón tal vez movido a cuerda )
A pesar de sus gritos al Ideal.
El corrido, el mal genio, el desleal,
El fofo alardeando Imperio astral,
El mago sin poder, la Esfinge Gorda ...
FIM
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes
Façam estalar no ar chicotes
Chamem palhaços e acrobatas.
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza:
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro ...
(Últimos Poemas, 1916)
FIN
¡Cuando me muera golpeen latas,
Rompan en saltos y en piruetas,
Den latigazos en el aire,
Llamen payasos y acróbatas!
Que mi cajón vaya en un burro
Enjaezado a la andaluza ...
¡A un muerto nada se recusa
Y yo quiero por fuerza ir de burro!
(Traducciones de Rodolfo Alonso)
Extraídos de POETAS PORTUGUESES Y BRASILEÑOS
de los simbolistas a los modernistas. /Organización y estudio
introductorio: José Augusto Seabra. Buenos Aires: Instituto
Camões; Brasilia: Thesaurus, 2002. 472 p.
Edición bilingüe Portugués y Español.
LIVRO DOS POEMAS. LIVRO DOS SONETOS; LIVRO DO CORPO; LIVRO DOS DESAFOROS; LIVRO DAS CORTESÃS; LIVRO DOS BICHOS. Org. Sergio Faraco. Porto Alegre: L.P. & M., 2009. 624 p. ISBN 978-85-254-1839-1839-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
De "Livro das Cortesãs":
SALOMÉ
Insônia roxa. A luz a virgular-se em medo,
luz morta de luar, mais alma do que lua...
Ela dança, ela range. A carne, álcool de lua,
alastra-se pra mim num espasmo de segredo...
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas...
O aroma endoideceu, upou-se em cor, quebrou...
Tenho frio... Alabastro!... A minha alma parou...
E o seu corpo resvala a projetar estátuas...
Ele chama-me em íris. Nimba-se a perder-me,
golfa-me os seios nus, ecoa-me em quebranto...
Timbres, elmos, punhais... A doida quer morrer-me:
mordoura-se a chorar —há sexos no seu pranto...
Ergo-me em som, oscilo, e parto e vou arder-me
na boca imperial que humanizou um santo...
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Página ampliada e republicada em fevereiro de 2023.
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