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MÁRIO BEIRÃO

 

Mário Pires Gomes Beirão (Beja, 1 de Maio de 1890 - Lisboa, Fevereiro de 1965) foi um poeta português.

Licenciou-se em Direito na Universidade de Lisboa, onde teve como colegas os poetas Florbela Espanca e Américo Durão. Foi um dos colaboradores da revista Águia.

 

Grande saudosista do seu tempo.

 

Considerado por Hernâni Cidade como "o maior de todos depois Pascoaes, o grande revelador da alma nostálgica" (Portugal Histórico-Cultural 1973: p. 380).

 

Apoiante do Estado Novo salazarista, foi o autor do Hino da Mocidade Portuguesa ("Lá vamos, cantando e rindo…") e da Marcha da Mocidade Portuguesa

 

O seu nome consta da lista de colaboradores da Revista de turismo [2] iniciada em 1916.

 

                                              Poesia:

1912 Cintra (eBook), dedicado a Teixeira de Pascoaes; 1913 O Último Lusíada

1915 Ausente; 1917 Lusitânia; 1923 Pastorais; 1928 A Noite Humana; 1940 ; Novas Estrelas; 1957 Mar de Cristo; 1964 O Pão da Ceia O Oiro e Cinza. 

Biografia e imagem do poeta: wikipedia.

 

 

 

HATHERLY, Ana.  CAMINHOS DA MODERNA POESIA PORTUGUESA. 2ª. edição  S.l.:Ministério da Educação Nacional, Direção Geral do Ensino Primário, 1969. 121 p. Capa: Ruy Pacheco. Ilustrações de Ruy e Mário Pacheco.
(Coleção Educativa, Serie G, n. 8)  11x16 cm.   Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

 

MORNA, A ARAGEM SUSPIRA.

Noite de lua-cheia e mar banzeiro... 

A nau da Praia Lusitana
Que peregrina, em busca
Dum clarão que uma nuvem sempre ofusca,
Vai, extasiada, a sonhar,
Cortando a vítrea superfície plana,
Cortando o luar...
Toma a viola um gageiro,
Estreita-a ao peito,
Estreita-a mais,
De insatisfeito;
Desfere as cordas que, surpresa,
Vibram, doridas... e, a escorrer tristezas,
Súbito, espumam e o salpicam de ais!

Morna, a aragem suspira,
Como se compreendesse

O que essa viola diz, na febre em que delira,
Ora em grito de angústia, ora gemer de prece..
. 

De olhos postos no vago ideal da Ausência,
Em perdidas distâncias,
Rasos dum pôr-de-sol de morta refulgência,
De imagens de outros céus, fumos de outras estâncias,

O gageiro desata
A voz, que os ares tinge de fulgores,
De auroras de oiro e prata:
E nascem lírios, doces como a graça
Do vulto de Maria;
Rosas que lembram, pálidas, a taça
Gloriosa, donde escorre a luz do dia;
Açucenas de Deus...; quantas sagradas flores!
Elas surgem, puríssimas, dum canto,
Que é todo o Mar Oceano a desfazer-se em pranto;
Duma alma, em orfandade,
Naufragando em si mesma, consumida,
Desterrada da sua própria vida,
Ardendo em penas de saudade... 

E do gageiro a voz ondeia, cresce;
Pelos ecos alonga-se... persiste...
Embala escuras solidões do Mundo...
Por vezes, desce
Ao mais profundo
Das raízes de tudo quanto existe! 

Oh, que jardim fantástico decora
De sons o corpo imenso
Da noite austral!

} A espaços, ri; a espaços, sangra e chora,
Na sua primavera sideral...
Vago e suspenso,
De celestiais espíritos esplende
E, a si mesmo embalando-se, adormece...
Vago e suspenso,
Por vezes, saudosíssimo, rescende
À luz que beija doirada messe,
Que ondula aos ventos de Portugal...

 

MÁRIO BEIRÃO

em «Mar de Cristo

 

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2020

 

 

 


 

 

 
 
 
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