MARIA TERESA HORTA
Maria Teresa Mascarenhas Horta nasceu em Lisboa em 20 de Maio de 1937. Oriunda, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa, conta entre os seus antepassados a célebre poetisa Marquesa de Alorna
Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dedicou-se ao cine-clubismo, como dirigente do ABC Cine-Clube, ao jornalismo e à questão do feminismo tendo feito parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Em conjunto lançaram o livro "Novas Cartas Portuguesas".
Teresa Horta também fez parte do grupo Poesia 61.
Fonte: wikipedia
De
CEM POEMAS [ANTOLOGIA PESSOAL]
+ 22 INÉDITOS
Rio de Janeiro: 7Letras, 2006
ISBN 85-7577-312-7
“É, portanto, de prazer, de desejo, de corpos no espaço e no tempo, que a escrita de Hora se constitui.” Ida Ferreira Alves
NÃO PRENTO MAIS DO QUE O LIMITE,
que par além do limite
já se entrega
Eu cumpro os meus
limites,
não cumprindo as regras
SÓ
Impeço
se te impeço contradigo
se te deixo
retraio ou não demoro
enquanto o verão
se esvai
como inimigo
nos olhos ou nas pedras
só por fora
Contorno de saliva
é nu nos dentes
a chuva perfurada ou o silêncio
Prossigo se te escuto
ou se te penso
como uma voz larga
só por dentro
OS TEUS OLHOS
Direi verde
do verde dos teus olhos
de um rugoso mais verde
e mais sedento
Daquele não só íntimo
ou só verde
daquele mais macio mais ave
ou vento
Direi vácuo
volume
direi vidro
Direi dos olhos verdes
os teus olhos
e do verde dos teus olhos direi vício
Voragem mais veloz
mais verde
ou vinco
voragem mais crespada
ou precipício
MEMÓRIA
Retenho com os meus
dentes
a tua boca entreaberta
e as palmas das mãos
dormentes
resvalam brandas e certas
As tuas mãos no meu peito
e ao longo
das minhas pernas
VIOLÊNCIA
Ó secreta violência
dos meus sentidos domados
em mim parto
e em mim esqueço
senhora do meu
silêncio
com tantos quartos fechados
Anoitece e desguarneço
despeço aquilo que
faço
Ó semelhança e firmeza
mulher doente de afagos
TROCO
Eu troco
ponho e disponho
da diferença do meu corpo
no agasalho da nuca
a penumbra do pescoç0
Ombros a meio divididos
onde as asas já despontam
para a ternura das nádegas
fazendo tudo
o que contam
Dispo
troco digo e ponho
os dedos no espaço incerto
onde a língua toma o gosto
do que fica a descoberto
De
Maria Teresa Horta
PALAVRAS SECRETAS
Organização de Floriano Martins
Ilustrações Siegbert Franklin
São Paulo: Escrituras, 2007.
171 p (Col. Ponte Velha)
ISBN 978-85-7531-267-4
Gentilmente cedido pela editora
www.escrituras.com.br
" O escândalo de que falas só surge em 1971, quando da publicação de Minha senhora de mim. E é sobretudo um escândalo que parte do puritanismo, do machismo, do marialvismo
que então minava e destruía a sociedade portuguesa. Produto de uma mentalidade formada, moldada pelo Fascismo e pela igreja católica, portanto pela falta de liberdade, pelo moralismo, pela hipocrisia; uma sociedade onde as mulheres não tinham sequer
direito a possuir uma sexualidade própria. Então, um livro como Minha senhora de mim, onde não só canto o corpo do homem amado e desejado, como claramente falo do meu próprio corpo e menciono o meu próprio desejo e prazer, só poderia escandalizar
e ser proibido, como aliás aconteceu." MARIA TERESA HORTA
VIOLÊNCIA
Ó secreta violência
dos meus sentidos domados
em num parto
e em mim esqueço
senhora do meu
silêncio
com tantos quartos fechados
Anoitece e desguarneço
despeço
aquilo que faço
Ó semelhança firmeza
mulher doente de afagos
MEU ACESO LUME
Colheste as flores
da tua chama
apagaste devagar
os teus sentidos
Sossegaste o corpo
em sua cama
desguarneceste em mim
os teus motivos
Que a vela acesa corte a madrugada
e lhe desdiga a calma e a palavra
Colheste devagar o meu queixume
Ó meu amor!
Ó meu aceso lume!
POEMA SOBRE O ENREDO
Enredada estou de mim
nesta febre em que me vejo
já que enredada de ti
não se cura o meu desejo
que nem me pus de curar
este fogo do teu corpo
nem me pus de enganar
esta sede que provoco
pois logo desenredada
eu sei que me enredaria
neste vício de enredar
o meu espasmo em teu orgasmo
por sua vez enredado na branda rede dos dias
ANTECIPAÇÃO
Entreabro as minhas
coxas
no início dos teus beijos
imagino as tuas
pernas
guiadas pelo desejo
oiço baixo o teu
gemido
calado pelos meus dentes
imagino a tua boca
rasgada
sobre o meu ventre
Página publicada em agosto de 2009; ampliada e republicada em janeiro de 2011.
|