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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


MARIA TERESA HORTA

MARIA TERESA HORTA


 

Maria Teresa Mascarenhas Horta nasceu em Lisboa em 20 de Maio de 1937. Oriunda, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa, conta entre os seus antepassados a célebre poetisa Marquesa de Alorna

 

Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Dedicou-se ao cine-clubismo, como dirigente do ABC Cine-Clube, ao jornalismo e à questão do feminismo tendo feito parte do Movimento Feminista de Portugal juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa. Em conjunto lançaram o livro "Novas Cartas Portuguesas".

 

Teresa Horta também fez parte do grupo Poesia 61.

Fonte: wikipedia


De
CEM POEMAS [ANTOLOGIA PESSOAL]
+ 22 INÉDITOS

Rio de Janeiro: 7Letras, 2006
ISBN 85-7577-312-7

 

É, portanto, de prazer, de desejo, de corpos no espaço e no tempo, que a escrita de Hora se constitui.” Ida Ferreira Alves

 

 

 

 

NÃO PRENTO MAIS DO QUE O LIMITE,
que par além do limite
já se entrega

Eu cumpro os meus
limites,
não cumprindo as regras

 



Impeço
se te impeço contradigo

se te deixo
retraio ou não demoro

enquanto o verão
se esvai
como inimigo
nos olhos ou nas pedras
só por fora

Contorno de saliva
é nu nos dentes
a chuva perfurada ou o silêncio

Prossigo se te escuto
ou se te penso
como uma voz larga
só por dentro

 

 

OS TEUS OLHOS

 

Direi verde
do verde dos teus olhos

 

de um rugoso mais verde

e mais sedento

 

Daquele não só íntimo

ou só verde

daquele mais macio    mais ave

ou vento

 

Direi vácuo

               volume

direi vidro

 

Direi dos olhos verdes

os teus olhos

e do verde dos teus olhos direi vício

 

Voragem mais veloz

mais verde

                ou vinco

voragem mais crespada

ou precipício

 

 

MEMÓRIA

 

Retenho com os meus

dentes

a tua boca entreaberta

 

e as palmas das mãos

dormentes

resvalam brandas e certas

 

As tuas mãos no meu peito

e ao longo

das minhas pernas

 

 

VIOLÊNCIA

Ó secreta violência
dos meus sentidos domados

em mim parto
e em mim esqueço

senhora do meu
silêncio
com tantos quartos fechados

Anoitece e desguarneço
despeço aquilo que
faço

Ó semelhança e firmeza
mulher doente de afagos

 

 

TROCO

 

Eu troco

ponho e disponho

da diferença do meu corpo

 

no agasalho da nuca

a penumbra do pescoç0

 

Ombros a meio divididos

onde as asas já despontam

para a ternura das nádegas

 

fazendo tudo

o que contam

 

Dispo

troco digo e ponho

os dedos no espaço incerto

 

onde a língua toma o gosto

do que fica a descoberto

 

 

De
Maria Teresa Horta
PALAVRAS SECRETAS
Organização de Floriano Martins
Ilustrações Siegbert Franklin

São Paulo: Escrituras, 2007.
171 p  (Col. Ponte Velha)
ISBN 978-85-7531-267-4

Gentilmente cedido pela editora

www.escrituras.com.br

 

 

" O escândalo de que falas só surge em 1971, quando da publicação de Minha senhora de mim. E é sobretudo um escândalo que parte do puritanismo, do machismo, do marialvismo                

que então minava e destruía a sociedade portuguesa. Produto de uma mentalidade formada, moldada pelo Fascismo e pela igreja  católica, portanto pela falta de liberdade, pelo moralismo, pela hipocrisia; uma sociedade onde as mulheres não tinham sequer                   

direito a possuir uma sexualidade própria. Então, um livro como Minha senhora de mim, onde não só canto o corpo do homem amado e desejado, como claramente falo do meu próprio corpo e menciono o meu próprio desejo e prazer, só poderia escandalizar

e ser proibido, como aliás aconteceu."        MARIA TERESA HORTA                                   

 

 

VIOLÊNCIA

 

Ó secreta violência

dos meus sentidos domados

 

em num parto

e em mim esqueço

 

senhora do meu

silêncio

com tantos quartos fechados

 

Anoitece e desguarneço

despeço

aquilo que faço

 

Ó semelhança firmeza

mulher doente de afagos

 

 

MEU ACESO LUME

 

Colheste as flores

da tua chama

apagaste devagar

os teus sentidos

 

Sossegaste o corpo

em sua cama

desguarneceste em mim

os teus motivos

 

Que a vela acesa corte a madrugada

e lhe desdiga a calma e a palavra

 

Colheste devagar o meu queixume

 

Ó meu amor!

Ó meu aceso lume!

 

 

POEMA SOBRE O ENREDO

 

Enredada estou de mim

nesta febre em que me vejo

já que enredada de ti

não se cura o meu desejo

 

que nem me pus de curar

este fogo do teu corpo

nem me pus de enganar

esta sede que provoco

 

pois logo desenredada

eu sei que me enredaria

neste vício de enredar

o meu espasmo em teu orgasmo

por sua vez enredado na branda rede dos dias

 

 

ANTECIPAÇÃO

 

Entreabro as minhas

coxas

no início dos teus beijos

 

imagino as tuas

pernas

guiadas pelo desejo

 

oiço baixo o teu

gemido

calado pelos meus dentes

 

imagino a tua boca

rasgada

sobre o meu ventre

 

 

 

 

 

Página publicada em agosto de 2009; ampliada e republicada em janeiro de 2011.


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