POESIA SURREALISTA PORTUGUESA
MARCELINO VESPEIRA
(1925-2002)
Marcelino Vespeira (Samouco, Alcochete, 9 de Setembro de 1925 — Lisboa 22 de Fevereiro de 2002) foi um artista gráfico e pintor; pertence à 3ª geração de artistas modernistas portugueses 1 .
Figura de referência do movimento surrealista em Portugal, Vespeira construiu uma obra longa e diversificada. Emergiu em meados da década de 1940 no quadro do neo-realismo; atingiu um ponto alto nas obras surrealistas e intensamente pessoais realizadas entre 1948 e 1952; passou depois por opções abstractas para regressar, nas últimas décadas, aos temas e formas que caracterizaram o seu período surrealista. Fonte: wikipedia
O dia não foi meu
e tantos outros que o não são
erro no calendário
ou voluntária distracção
E os dias que foram meus
gestos de outros são
que se dão a quem os quer
nos dias que o não são
E da pressa de os perder
do cansaço de os contar
ganho vícios da noite
que me sabem perdurar
(manequim visado)
Ter fomes polidas
de desejos vadios
e mapas sensatos
de aventuras falidas
E ter um sorriso morno
de manequim visado…
HOJE
O dia não foi meu
e tantos outros que o não são
erro no calendário
ou voluntária distracção
E os dias que foram meus
gestos de outros são
que se dão a quem os quer
nos dias que o não são
E da pressa de os perder
do cansaço de os contar
ganho vícios da noite
que me sabem perdurar
Parque dos Insultos, 1949
Página publicada em janeiro de 2014
|