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JOSÉ FERNANDES FAFE

 

 

José Fernandes Fafe (Porto, 31 de Janeiro de 1927) é um diplomata e escritor português, autor de mais de 20 livros, entre poesia, romance e ensaio.

Viúvo de Maria Virgínia Liñan Tição Fernandes Fafe (1926-2011), 2 filhos. Nasceu no Porto em 31 de Janeiro de 1927 e formou-se em Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Com diversas obras publicadas nas áreas da poesia, ensaio e romance, Fernandes Fafe é autor da primeira biografia de Ernesto Che Guevara ("De Cuba al Terzo Mondo") editada em Itália pela Mondadori em finais da década de 60 e sob o pseudónimo de David Alport.

Embaixador de Portugal, representou o seu País em Cuba (1974-1977), México (1977-1980), Cabo Verde (1983-1989) e Argentina (1989-1992), tendo igualmente sido embaixador itinerante para os países africanos de expressão oficial portuguesa.  Fonte: wikipedia

 

 

         ABSOLUTO

 

         Sem amor: Deserto.
        

         Como as cidades hão-de ser no Fim.
         E a Terra há-de ser, glacial.
         E

         Este pássaro que canta interrompeu-me.
         E o Sol há-de ser um corpo frio.
         E ao mesmo tempo, há-de bulir ao vento
         noutra galáxia, a flora da Vida...

         O Absoluto é o pássaro que canta.

 

                  (Poesia Amável)

 


         VARANDA

 

         Varanda,
         em ti meu debruço
         a ver o fundo do mar:

         Um redemoinho: soluço
         de peixe?

         Sol a nadar!
         A longa fascinação
         em torno de um coração
         que na água se retrata...
         Ou é uma rosa do mar?

         E os seixos! Brancura amena
         da noite que madrugasse
         nos dentes de uma morena...

         Vejo o meu retrato de água:
         Sombras no limbo da Origem
         com altos perfis de mágoa...
         A mágoa dá-me vertigem.

         Varanda, cerra esses olhos
         de selva submarina...
         Os teus ombros,
                                  os teus ossos,
         estão a ameaçar ruína...

 

                  (Poesia Amável)


        

         SONHO

 

         A sua presença de mulher foi-se ausentando...
         A um gesto seu, diáfano, alou-se o sofrimento...
         Tudo era a sua voz, mas sem significar
         mais que o murmúrio dum encantamento...

         Prendi-nos um fio de segredo, murmurado
         pelos seus olhos baixados, antes dum sorriso,
         com que a meus olhos as coisas se velaram
         para lá do seu rosto assim preciso...

         Pudor na sua alma ou nos meus dedos?

         Como é indizível essa experiência de morrer!
        
         O que me resta é regressar à Vida,
         amá-la, delicadamente, como os mortos
         — se os mortos pudessem reviver.

 

                   (O Anjo Tutelar)

 

Página publicada em agosto de 2016

 


 

 

 
 
 
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