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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

JOSÉ BENTO

 

Nasceu no litoral da zona de Aveiro, em 1932. Estudou no Porto e em Lisboa.

 

Nos anos 50, revelou-se  como poeta em revistas de poesia como Árvore, Eros, Cadernos do Meio-Dia e Cassiopeia, de que foi um dos directores.

 

Poucas vezes se preocupou em reunir os seus poemas em livro, pelo que o seu nome é normalmente citado como excelente tradutor de numerosos poetas de língua espanhola, clássicos ou actuais (S. Juan de la Cruz, Pablo Neruda, Cernuda, Quevedo). Algumas vezes a intertextualidade com esses poetas é visível na sua poesia.

 

Poesia: Sequência de Bilbau (1978); O enterro do senhor de Orgaz (1986);

Silabário (1992) 

Fonte: www.instituto-camoes.pt

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

Das Quatro Estações - O Outono

Para escutar um excerto de Vivaldi,

As Quatro Estações – Outono

 

 

Novembro apagou nas buganvílias

seus nomes brancos, roxos, escarlates.

 

É mais difícil regressar a casa:

o caminho disfarçou, emudeceu

seu rosto nos muros e nas grades.

 

— Por onde seguiremos

sem que o outono espesso nos trespasse? 

 

 

José Bento

Um Sossegado Silêncio

Porto, Edições Asa, 2002

 

 

                   Estavas, linda Inês, posta em sossego

                                                        CAMÕES

 

         Estás ainda, Inês, posta em sossego, em palavra e em pedra,

dona da morte que te violou, imaculando-te.

Jacente sobre quê, se nenhum céu tem profundeza

que hoje possa erigir-te e revelar-te?

O que foste não conheço por tua luz, apenas vejo

teu reflexo numa água inquietante que perverto

ao aplacar a sede: palavras que te prendem e preservam,

ecoam em teu nome, solicitam meu coração para suster-te.

Aí respiras, os olhos dás aos campos onde o amado

com um verde aceno a sua ausência te mitiga,

como servas imploras a vida, ignorando

a rainha que em ti ascende a coroar-se com teu sangue.

Foram assim teus dias? Ou a substância que os compunha

era tão densa que ninguém os penetrou e os outros

só alcançaram o impossível de esconder, tua beleza?

Amaste? Ou o amor que de ti cantam foi, será

harmonioso êxtase de quem seu ferido amor celebra

e o teu rosto, abismado é a máscara de um rosto

mais vivo nessa voz em sua carne esplêndida?

Ante a morte que se te anunciou arremeteste

com súplicas e gesto dardejantes de loucura,

ou nada mais ousaste impor do que o silêncio

de um olhar tão cercado que nem lágrimas lhe acodem,

e o clamor posto em tua boca foi o pavor exangue

de quem vestiu antecipado o seu crepúsculo

e o póstumo se contempla nos que lhe ensinaram a agonia?

Estavas em sossego? Ou esse amor era de quem longe te evocava?

a ti búzio profundo para os lábios que busquem tua música.

 

 

TEM ESPERANÇA

(fragmento)

 

         Ten esperanza

         V. ALEIXANDRE

          A Felipe Mozhorta Etxaurren

 

 

O dia inteiro é um crepúsculo de cinza.

Foste perdendo a fragância da alvorada

como um impulso de uma veia que vai agonizando,

mas a noite já te pesa em cada movimento, corrompe o teu hálito

com o sedimento de uma fadiga maquinal.

As ruas tornam-se ermas, tantos os rostos de ninguém

que passam, sem te dar uma palavra na sua rigidez.

O rio traz a erosão dos montes, não o reflexo das frondes,

e em sua corrente sentes pulsar o lodo se buscas o cristal.

das horas que em suas margens e chamaste alegria.

As pontes enlaçam a cidade, mas os homens

defrontam-se, peito contra peito, sem se verem sequer.

 

Tu caminhas, vais caminhando ao só como nasceste.

Apenas a chuva te acompanha e em tuas faces

é acerba e premente como as lágrima

que não consegues chorar pois te gritaram

que te despiste já de teus gestos de menino.

E ficaste só com a estranha força de quem é indefeso.

 

Mas lembra-te que não acabaste de crescer,

que profundamente cresces ainda, lentamente,

entre o horror e o espanto: és aprendiz

que inábil, receoso, empunha o escopro,

perseguindo para o seu ser a harmonia total

que, encandeado, mal vislumbra, ao longe. 

 

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de XOSÉ LOIS GARCÍA

 

Poemas selecionados de la edición de la ANTOLOGIA LA ACTUAL POESIA PORTUGUESA, con traducciones de nuestro amigo XOSÉ LOIS GARCÍA, publicada originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 27/28, de 1983, de Barcelona, España. Ejemplar gentilmente donado por Aricy Curvello para la Biblioteca Nacional de Brasilia.

***

 

                  Estavas, linda Inês, posta em sossego

CAMÕES

 

         Estás aún, Inés, en sosiego, en palabra y en piedra,

señora de la muerte que te violo, inmaculándote,

¿Yaciente sobre qué, si ningún vielo tiene profundidad

que hoy pueda erigirte y revelarte?

Lo que fuiste no lo conozco por tu luz, solo veo

tu reflejo en un agua inquietante que pervierto

al aplacar la sed: palabras que te prenden y preservan,

retunban en tu nombre, solicitan mi corazón para sostenerte.

Ahí respiras, los ojos das a los campos donde el amado

con um verde seña su ausência te mitiga,

como sierva imploras la vida, ignorando

la reina que ti asciende a coronarse con tu sangre.

¿Fueron así tus dias? ¿O la sustância que los componía

era tan densa que nadie los penetro y los otros

sólo alcanzaron lo imposible de esconder, ¿tu belleza?

¿Amaste? ¿O el amor que de ti cantan fue, será

armonioso éxtasis de quien su herido amor celebra

y tu rostro abismado es la máscara de un rostro

más vivo en esa voz que en su carne espléndica?

Ante la muerte que se te anunció arremetiste

con súplicas y gestos punzantes de locura,

o solo intentaste imponer el silencio

de una mirada tan sitiada que ni lágrimas te acuden,

y el clamor puesto en tu boca fue el pavor desangrado

de quien vistió anticipado su crepúsculo

y póstumo se contempla en los que se el enseñaron la agonía?

¿Estabas em sosiego?¿O ese estar era de quien lejos te evocaba?,

a ti caracola profunda para los lábios que tu música busquen.

 

 

TEN ESPERANZA

(fragmento)

 

         Ten esperanza.

         V. ALEIXANDRE

         A Felipe Mezkorta Etxauren

 

 

El día entero es un crepúsculo de ceniza.

Fuiste perdiendo la fragrância de la alborada

como el impulso de una vena que va agonizando,

pero la noche ya te pesa en cada movimiento, corrompe tu hálito

con el sedimento de uma fatiga maquinal.

Las calles se vuelven yermas, tantos rostros de nadie

que pasan, sin darte una palabra en su rigidez.

El río trae la erosión de los montes, no el reflejo del follaje,

y en su corriente sientes latir el lodo si busca el cristal

de las horas que en sus márgenes te llamaste alegria.

Los puentes unen la ciudad, pero los hombres

se confrontan pecho contra pecho, sin ni siquiera verse.

 

Tu caminas, vas caminhando tan solo como naciste.

Sólo la lluvia te acompaña y en  tus mejillas

es acerba y opresora como las lágrimas

que no consigues llorar pues te gritaron

que te desnudaste ya de tus ademanes de niño.

Y quedaste solo con la extraña fuerza de quien está indefenso.

 

Pero recuerda que no terminaste de crecer,

que profundamente creces, aún lentamente,

entre el horror y el espanto: eres el aprendiz

que inhábil, receloso, empuña el cincel,

persiguiendo para su ser la armonía total

que, ofuscado, mal vislumbra, a lo lejos.

 

 

 

Página publicada em fevereiro de 2008.



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