JOEL HENRIQUES
Poeta português nascido nas Caldas da Rainha em 1979. Lançou o Fio da Voz, o seu primeiro livro, em 2007.
OUTRO POEMA
Nunca escreverei um último poema.
Depois do que disser,
Haverá sempre as frases do improvável.
A aceitação revelará o limite desejado,
Mais nítido
Do que todos os que poderia encontrar.
Não me pertence a última palavra
E não deixarei lembranças.
Apontarei para a dispersão
Por meio de um afectuoso silêncio.
O PRISMA DE MUITAS CORES. Poesia de Amor portuguesa e brasileira. Organização Victor Oliveira Mateus. Prefácio Antônio Carlos Cortes. Capa Julio Cunha. Fafe: Amarante: Labirinto, 2010 207 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Cadência
Um autor escreve à procura de uma conclusão
para os seus poemas,
pesquisou-a nas paixões e nos muros,
construiu metáforas,
assentou pedra sobre pedra.
Observava da janela,
e a paisagem continuava sem novidade,
quer o sol brilhasse,
quer viesse chuva cerrada.
As folhas agitavam-se na brisa,
depressa voariam sem memória.
Havia um gato à procura de alimento,
que olhava para cima.
O autor procurou nas ruas a resposta,
mas restava sempre uma história incompleta.
Viajou até à terra prometida
e apercebeu-se
de que é menos um lugar de chegada
que de partida.
Desesperado à procura de um último capítulo,
desejou a morte,
quis mais um fim do que o paraíso.
Se se abeirasse dos rios seria levado na corrente,
atingiria o horizonte,
mas não teria palavras para a ausência.
Explorou a força da fatalidade,
a sua terra era a de que precisava,
não a que lhe estava predestinada.
Constituiu-se salvação para outros anseios
e não esteve à altura.
A resposta sempre o rodeara,
era a sua incompletude.
O tempo irrompeu da noite como realidade.
As folhas agitaram-se na brisa.
Era como o gato à procura de alimento,
que olhava para cima.
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Página publicada em janeiro de 2021
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