JOÃO DE CASTRO OSÓRIO
(1899-1970)
João de Castro Osório de Oliveira era filho de Ana de Castro Osório e do poeta Paulino de Oliveira e irmão do escritor José Osório de Oliveira. Poeta, dramaturgo, historiador literário e ensaísta, publicou sucessivas edições da Clepsidra, de Camilo Pessanha, com base nos autógrafos que zelosamente conservou. Em 1940-41 publicou A Tetralogia do Príncipe Imaginário. Editou ainda, entre outros estudos de história da literatura portuguesa, Florilégios das Poesias Portuguesas Escritas em Castelhano e Restituídas à Língua Nacional (1942), Ordenação Crítica dos Autores e Obras Essenciais da Literatura Portuguesa (1947), Cancioneiro de Lisboa (Séculos XIII-XX), em 1956, O Testemunho de Garcia de Resende (1963) e por fim uma Suma Poética da Língua Português (1970).
CANÇÃO BAILADA
Sobre o campo, reflorindo,
Bailava o seu corpo lindo...
O amor vil
Ao som das arpas da aragem
Bailavam ramos, e a. imagem
Do amor vi.
Da 'curva dos horizontes
Vindo, ao ritmo das fontes,
O amor vi...
Mimando o voo das aves
Vir, com seus passos suaves,
O amor vi...
Doce presença divina,
Bailar, de luz, na campina,
O amor vil
Graça da fria existência,
Ritmando a sua cadência,
O amor vi...
CANÇÃO DO PERFEITO AMOR
Aonde, em que paragem, sobre o mundo,
Verei surgir, em fim, o bem profundo
Do perfeito amor?
Flores das altas colinas, quem pudera
Vê-lo surgir, na luz da primavera,
O perfeito amor...
Verde acenar de esperança da folhagem,
Anuncias-me, acaso, ao longe, a imagem
Do perfeito amor?...
Quem me dirá aonde, em que destino,
Verei o sonho eterno que imagino,
O perfeito amor?
Volve dos céus meu grito de ansiedade!
É tudo uma resposta de saudade
Do perfeito amor...
Saudade do futuro, ansiosa esperança...
O mundo diz-me: a vida sempre alcança
O perfeito amor.
CANTIGA DE PASTORELA
Tal vão, pelos montes,
Cantantes, as fontes,
Vais, na alva, a cantar...
Ê o canto da aurora?
Suave pastora
Conduz-me, a cantar...
Os mansos rebanhos
De ovelhas e anhos
Seguem teu cantar.
Amores e cuidados,
Leva-nos, aos prados
Do sonho, a cantar.
Voltas, na tardinha...
E o gado encaminha,
Lento, o teu cantar...
Volta do pascigo...
Mostrar-me-ás o abrigo
Que espero — a cantar?.
MEIRELES, Cecília. Poetas de Portugal. Seleção e prefácio de Cecília Meireles. Rio de Janeiro: Edições Dois Mundos Editora Ltda, 1944. 315 p. (Coleção Clássicos e Contemporâneos, dirigida por Jaime Cortesão Ex. bibl. Antonio Miranda
“Outro caso especial, relativamente à nova poesia portuguesa, é o de JOÃO DE CASTRO OSÓRIO, de 1899. O trabalho que constitui verdadeiramente sua apresentação, “O cancioneiro sentimental”, aparece apenas em 1936, embora elaborado muito antes. Sua maturidade artísticas vem a coincidir com a plenitude da poesia nova em Portugal. Remoçando as formas antigas dos cancioneiros, enriquecendo as letras portuguesas de formas da literatura árabe, João de Castro Osório conseguiu uma aliança de emoção vive e atual com elementos tradicionais que constitui casa aparte nas letras de hoje.
Página publicada em agosto de 2015
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