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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA LÍRICA E CCONCEPTISTA

 

Monumento a Frei Jerónimo Baía, Oeiras, Portugal

JERÔNIMO BAÍA

 

Jerônimo Baia (Coimbra, 1620-30 – São Romão de Neiva (Viana do Castelo), 1688) foi um poeta barroco português. Professou no convento beneditino de São Martinho de Tibães (Braga), tendo realizado seus estudos em Coimbra e em Lisboa. Em 1674, a ordem beneditina atribuiu-lhe o cargo de cronista. Frequentador da corte de D. Afonso VI, foi nomeado pregador régio. debora= falsinha.

Além dos livros “Lampadário De Cristal“ e “Tardes De Verão“, sua poesia está espalhada nos cancioneiros “Fénix Renascida“ (1716-1728) e “Postilhão de Apolo“ (1761). “PINAR NO BAIRRO ALTO”, "A uma trança de cabelos negros", "Ao Menino Deus em metáfora de doce" e “A f., favorecendo com a boca e...” estão entre seus poemas mais conhecidos, com características profundamente barrocas. Há outros como “A morte do conde de Castelo” e “Falando com Deus”, “Ao rigor de Lísi“, “Sonhando que vira a Márcia” e “Retrato (romance)” PINAR É MELIFonte: wikipedia

 

RETRATO

 

        Vi Fílis, a bela,

Lume dos meus olhos,

Olhos de minha alma,

Alma de meu corpo.

Vi-a, e Febo logo

        Vi-a, e logo amor,

Quer que a pinte a cores, ,

Quer que a cante a coros.

        Meti-me em debuchos

E saí com tonos (1).

Quem me fora Apeles!

Quem me fora Apoio!

        Seu rico cabelo,

Do mais precioso,

Mil troféus alcança

E logra mil louros.

        Os raios enlaça

Para mal dos olhos.

Todo ele é nós cegos;

E nós, cegos todos (3).

        O campo da testa,

Belo e belicoso,

Faz de neve fronte

A esquadrão de togo.

        Seus olhos rasgados,

De avarentos noto,

Pois quanto mais ricos,

Tanto estão mais rotos.

        São mar de beleza

Que me tem absorto,

E suas meninas

São os meus cachopos.

        Dormidos se mostram,

Mas sabem (que assombro!)

Mais eles dormidos

Que espertos os outros.

        Altamente dormem,

Mas, entre seus sonhos,

Mais que de dormidos,

Roncam de formosos.

        Feito de apanhia (4).

Mistura o seu rosto

Com o branco o tinto (5)

De neve entre copos (6)

        O nariz e as faces

Têm câmbio cheiroso:

Elas, flores dão,

Ele, dá (7) favónios.

        A boca parece,

Se mal não apodo,

Pela cor, ferida;

Pelo breve, ponto.

        De seus dentes quando

Descobre o tesouro,

O aljôfar se mete

Nas conchas, medroso.

        Por ser tão tenrinho,

Tão de leite todo,

Seu colo podia

Andar inda ao colo.

        É tão rica joia,

Brinco tão formoso,

Que todos os dias

O traz ao pescoço.

        Põe a mão galharda,

Por quem vivo e morro,

O papel, de tinta;

A neve, de lodo (7).

        Tudo nela é branco,

Porém eu me assombro

De topar as setas

Onde o alvo topo (8).

        São seus pés tão breves,

Que estes versos toscos,

Com ser tão pequenos,

Lhe ficam mui longos.

 

JERÓNIMO BAÍA tomo III, pág. 124 (1718).

 

 

Comentário extraídos do livro: CIDADE, Hernâni.  A poesia lírica cultista e conceptista.  Coleção de poesias do século XVII, principalmente de “Fênix Renascida”).  Lisboa: Seara Nova, 1968.  70 p. 

 

NOTA—As citações, à excepção das de marcação diferente, nas últimas páginas, são da ed. de 1716-1724.

 

(1) Árias. Defluxos e tonos, estão relacionados como Apeles e Apoio, cores e coros. Entre estas, porém, além da relação de sentido, há a relação da quase homofonia.

(2) Repare-se neste e nos trocadilhos que se seguem: nós cegos e nós, cegos.

(3)  Apanhadura, colheita, mistura do flue se apanha.

(4) Como na linha seguinte se fala em copos, o branco e o tinto, que é o branco e o preto dos olhos, lembram as designações dos dois tipos de vinho.

(5) Copos de neve—neve em abundância, segundo Morais.

(6) No texto: Ele de favónios.

(7) O sentido é que, em comparação da sua mão, de tão branca e pura, o papel é da cor da tinta e a neve da sujidade do lodo.                  

(8) O alvo tem na frase o sentido da alvura da pele e também o de objectivo das setas. Estas são as setas simbólicas de Cupido, que deixavam apaixonado o coração que feriam.

 

 

Retrato

 

Pintar o rosto de Márcia

    Com tal primor determino,

    Que seja logo seu rosto

    Pela pinta conhecido.

Anda doudo de prazer

    Seu cabelo por tão lindo,

    Pois mal lhe vai uma onda,

    Quando outra já lhe tem vindo.

Sua testa com seus arcos

    Do Turco Império castigo

    Vencido tem Solimão,

    Meias Luas tem vencido.

Dormidos seus olhos são,

    Porém Planetas tão ricos

    Nunca já foram sonhados,

    Bem que sempre são dormidos.

A dormir creio se lançam

    Por ter de mortais, e vivos

    Tão boa fama cobrado,

    Nome tão grande adquirido.

Entre seus raios se mostra

    O grande nariz bornido,

    Por final que entre seus raios

    Prova o nariz de aquilino.

Nas taças de suas faces

    Feitas do metal mais limpo,

    Como certos Reverendos,

    Mistura o branco co’tinto.

As perlas dos dentes alvos,

    Os rubins dos beiços finos

    Tem desdentado o marfim,

    E a cor mais viva comido.

O passadiço da voz

    Nem é neve, nem é vidro,

    Nem mármore, nem marfim,

    Nem cristal, mas passadiço.

Na maior força de Julho

    Creio que treme de frio,

    Pois tem como neve as mãos

    E os pés como neve frios.

Que nelas há dous contrários

    Os meus olhos mo têm dito,

    Pois sendo uma fermosura

    São mais pequenas que os chispos.

No maior rigor do Inverno,

    Na maior calma de Estio,

    Nem tem frio, nem tem calma,

    Nem tem calma, nem tem frio.

Porque de Inverno, e Verão

    Sempre Primavera há sido,

    Pois sempre veste de Abril,

    E de Maio traz vestido.

Este é de Márcia o retrato,

    E dirá quem o tem visto,

    Que com ela o seu retrato

    Se parece todo escrito.

Mas se em cousa alguma erro

    Das que até’qui tenho dito,

    À vista do tal retrato

    Me retrato, e me desdigo.

 

Frei Jerônimo Baía, in 'Fénix

 

 

 

A F., FAVORECENDO COM A BOCA

E DESPREZANDO COM OS OLHOS

 

Quando o Sol nasce e a sombra principia,

A doce abelha, a borboleta airosa

Procura luz ardente e fresca rosa,

Que faz a terra céu e a noite dia.

 

Mas quando à flor se entrega, à luz se tia,

Uma fica infeliz, outra ditosa,

Pois vive a abelha e morre a mariposa

Na favorável rosa e chama ímpia.

 

Fllis, abelha sou, sou borboleta,

Que com afecto igual, com igual sorte,

Busco em vós melhor luz, flor mais selecta.

 

Mas quando a flor é branda, a chama é forte,

Néctar acho na flor, na luz cometa;

A boca me dá vida, os olhos morte.

 

JERÓNIMO BAÍA, tomo III, pág. 195.

 

NOTA—Exceptuando o 3.° verso em que se inverte a

ordem adoptada, em todos os outros as duas imagens—a

da abelha e a da borboleta—seguem em tal paralelismo,

que é fácil, com pequenas modificações ,a decomposição

longitudinal do soneto em dois soneülhos:

 

Quando o sol nasce          [Quando] a sombra principia

A doce abelha               A borboleta airosa

 

Comentário extraídos do livro: CIDADE, Hernâni.  A poesia lírica cultista e conceptista.  Coleção de poesias do século XVII, principalmente de “Fênix Renascida”).  Lisboa: Seara Nova, 1968.  70 p. 

 

Falando com Deus

 

Só vos conhece, amor, quem se conhece;

Só vos entende bem quem bem se entende;

Só quem se ofende a si, não vos ofende,

E só vos pode amar quem se aborrece.

 

Só quem se mortifica em vós floresce;

Só é Senhor de si quem se vos rende;

Só sabe pretender quem vos pretende,

E só sobe por vós quem por vós desce.

 

Quem tudo por vós perde, tudo ganha,

Pois tudo quanto há, tudo em vós cabe.

Ditoso quem no vosso amor se inflama,

 

Pois faz troca tão alta e tão estranha.

Mas só vos pode amar o que vos sabe,

Só vos pode saber o que vos ama.

 

 

A uma trança de cabelos negros

 

Diversa em cor, igual em bizarria

Sois, bela trança, ao lustre de Sofala,

Luto por negra, por vistosa gala,

Nas cores noite, na beleza dia.

Negra, porém de amor na monarquia

Reinais senhora, não servis vassala;

Sombra, mas toda a luz não vos iguala;

Tristeza, mas venceis toda a alegria.

Tudo sois, mas eu tenho resoluto

Que sois só na aparência enganadora

Negra, noite, tristeza, sombra, luto.

Porém na essência, ó doce matadora,

Quem não dirá que sois, e não diz muito,

Dia, gala, alegria, luz, senhora?

 

(*Fénix, III, p. 204)

 

 

Página publicada em agosto de 2015


 

 

 
 
 
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