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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

JAIME CORTESÃO 

 

(1884-1960)

 

Nacido em Ançã (Coimbra), estudió Medicina en Lisboa, erro fue en Oporto donde, desde su juventud acadêmica, se evidencio como líder intelectual y político, de convicciones libertarias y republicanas.  Allí fundo la revista Nova Silva (1907) y después la revista A Águia, lanzada al lado de Teixeira de Pascoaes y de Leonardo Coimbra la Renascença Portuguesa.  Habiéndose iniciado con A Morte da Águia (1910), poema de inspiración heroica, publicó en seguida Glória Humilde (1914), de tonalidad elegíaca, viniendo más tarde a reunir em volúmenes como Divina Voluptuosidad (1923) y Missa da Meia-Noite (1940), com el seudónimo de António Frois) su lírica de resonancias heroicas e místicas.

 

 Habiéndose dedicado también al teatro histórico y a la ficción, sería sin embargo como historiador que se distinguiria, sobre todo cuando tras haber sido uno de los impulsores de la revista Seara Nova (1921), al lado de Raul Proença Y António Sérgio, se vio después de la implantación de la dictadura, que siempre combatió, compelido a um largo exílio en España, en Francia y en Brasil, de donde solo regresó a Portugal em 1957, continuando hasta la muerte su combate cívico por la libertad y por la democracia.

 

 

TEXTO EM PORTUGUÊS  TEXTO EN ESPAÑOL

 

 

CANÇÃO VIOLETA

 

Amo o roxo. E vai que fazes?

A luz tamisas de malva

E roxa desponta a alva

Sobre a colcha de lilases.

 

Roxos alastram os razes.

E tu das-te nua e alva

Lírio roxo numa salva

Sobre a colcha de lilases.

 

Com suas pestanas pretas

As tuas pálpebras roxas

São duas grandes violetas.

 

E, por mais gosto da vida,

Depois que a lâmpada afrouxa,

Fez-se a alcova de ametista.

 

 

RENASCIMENTO 

 

                   Nasci de novo. Eis-me liberto, enfim!

                   Foi por um Céu, de estrelas todo cheio,

                   Numa visão de Amor, que um Anjo veio

                   Descendo até poisar ao pé de mim.

 

                   O beijo que me deu não teve fim...,

                   Apertou-me nos braços contra o seio,

                   Abriu os lábios segredando..., e a meio

                   Bateu asas e levou-me assim.

 

                   Ai! como é doce o seio que me embala!

                   E como tudo é novo e mais profundo!...

                   Mas já não volta, ou, quando volta, é morto!

 

Noutro Mundo melhor eu vivo absorto,

E logo conheci que a esse Mundo

Quem vai não volta, ou, quando volta, é morto! 

 

                   (A Águia, 1ª. série, 1911)

 

 

À MINHA MÃE E À MINHA TERRA

 

À Ti, minha Mãe que tens o rosto

Dorido e iluminado duma santa,

Todo embebido em lágrimas de Amor,

É que a minha Alma, de joelhos, canta!

A Ti, e à minha Terra, as duas Mães,

 

Que me criaram juntas num abraço,

Pois ambas me trouxeram no seu ventre,

Ambas me adormeceram no regaço.

 

E tu, vento de orgulho, que em mim passas

Rugindo a toda hora,

Une-te ao pó:

E agora

Que de toda a minha Alma fique só

A trêmula inocência dum menino

Para que eu reze uma oração de Graças!

Como és, ó mãe!, irmã desta Paisagem

Tão doce, religiosa e comovida,

Com uma parte viva neste mundo

E outra maior que é para além da Vida!

Já, por amor de mim, desses teus olhos,

Postos num rosto triste e macerado,

Como uma fonte prestes a nascer,

Muita lágrima em fio tens chorado

E muitas inda estão para correr.

 

Também a Terra sofre das raízes,

Que a penetram na ânsia de sugar;

Das Águas que a retalham pra correr,

Das humildes sementes a acordar;

Sofrem os Rios concebendo a Névoa

As Árvores no esforço de se erguer,

E Árvores, Rios, Névoas, tudo sofre

Quando lhes bate o láteo do Vento

Ou se o Sol as devora, calcinante:

E é todo esse profundo Sofrimento

Para que eu num delírio ria e cante!

 

O vento, em fúria, passa sobre a Terra:

Talvez tu chores minha Mãe agora,

E quando eu canto, para ser Poeta,

Tu choras minha Mãe e a Terra chora.

 

A graça do teu rosto é já do Céu

Participa de Deus, de Eternidade,

E não se vê melhor estando ao perto:

Mas no vidente enlevo da Saudade,

Olhos fechados, coração aberto...

 

Tu ensinaste-me a rezar, ó Mãe!

E a minha Terra...: é só olhá-la bem,

Longe até às encostas,

Vêem-se choupos sempre até além...:

É a Paisagem toda de mãos postas!

 

Só tu podias ser a minha Mãe,

Só tu e mais ninguém

Trazer-me ao peito

É dar-me um leite em lágrimas banhado;

E que a estes meus olhos fosse dado

Só há no mundo este lugar eleito.

 

Graças, ó minha Mãe!, te venho dar

E a ti, boa Paisagem, também dou

Por meu divino gosto de cantar,

Pela parte mais santa do que sou!

 

É por amor das lágrimas ardentes,

Que te cavaram sulcos pelo rosto,

É por amor do céu e do Sol-posto,

Do Mar... de ti, Paisagem, que me abraças,

Que eu sou Poeta e canto e choro e rezo

E que vos dou esta oração de graças.

 

E assim, ó minha Mãe, minha Paisagem,

Ensinai-me a criar como as mulheres

E como a Terra generosa e ruda:

Que sofras , ó minha Alma, as dores do Parto,

Que dês o sangue aos versos que fizeres

Que o sol te queime e o Vento te sacuda!

 

Minha Mãe, Minha Mãe, ó Minha Santa,

E vós, sagradas Águas e ramagens,

Bendita sejas tu entre as Mulheres,

Bendita seja tu entre as Paisagens! 

 

         (Glória Humilde, 1914)

                  

 

ROMANCE DO HOMEM DE BOCA FECHADA

 

—Quem é esse homem sombrio

Duro rosto, claro olhar,

Que cerra os dentes e a boca

Como quem não quer falar?

— Esse é o Jaime Rebelo,

Pescador, homem do mar,

Se quisesse abrir a boca,

Tinha muito que contar.

 

Ora ouvireis, camaradas,

Uma história de pasmar.

 

Passava já de ano e dia

E outro vinha de passar,

E o Rebelo não cansava

De dar guerra ao Salazar.

De dia tinha o mar alto,

De noite, luta bravia,

Pois só ama a Liberdade,

Quem dá guerra à tirania.

Passava já de ano e dia...

Mas um dia, por traição,

Caiu nas mãos dos esbirros

E foi levado à prisão.

 

Algemas de aço nos pulsos,

Vá de insultos ao entrar,

Palavra puxa palavra,

Começaram de falar

—Quanto sabes, seja a bem,

Seja a mal, hás de contá-lo,

— Não sou traidor, nem perjuro;

Sou homem de fé: não falo!

— Fala: ou terás o degredo,

Ou morte a fio de espada.

— Mais vale morrer com honra,

Do que vida deshonrada!

 

—A ver se falas ou não,

Quando posto na tortura.

—Que importam duros tormentos,

Quando a vontade é mais dura?!

 

Geme o peso atado ao potro

Já tinha o corpo a sangrar,

Já tinha os membros torcidos

E os tormentos a apertar,

Então o Jaime Rebelo,

Louco de dor, a arquejar,

Juntou as últimas forças

Para não ter que falar.

— Antes que fale emudeça! -

Pôs-se a gritar com voz rouca,

E, cerce, duma dentada,

Cortou a língua na boca.

 

A turba vil dos esbirros

Ficou na frente, assombrada,

Já da boca não saia

Mais que espuma ensanguentada!

 

Salazar, cuidas que o Povo

Te suporta, quando cala?

Ninguém te condena mais

Que aquela boca sem fala!

 

Fantasma da sua dor,

Ainda hoje custa a vê-lo;

A angústia daquelas horas

Não deixa o Jaime Rebelo.

Pescador que se fez homem

Ao vento livre do Mar,

Traz sempre aquela visão

Na sombra dura do olhar,

Sempre de boca apertada,

Como quem não quer falar.

 

 

 

TEXTO EN ESPAÑOL

Traducción de Rodolfo Alonso

 

 

RENACIMIENTO

 

Nací de nuevo. ίHéme libre, al fim!

Fue por un Cielo, bien de estrellas lleno,

En prodigio de Amor, que un Ángel vino

Bajando hasta posarse a mis pies.

 

El beso que me dio no tuvo fin...

Me estrechó en los brazos contra el seno,

Abrió los labios susurrando... en médio

Batió las alas y si me llevó.

 

ίAy! ίqué dulce es  el seno que me arrulla!

ίY cómo todo es nuevo y más profundo!

Mas ya nadie de ustedes me comprende;

 

En un Mundo mejor yo vivo absorto,

Y pronto conocí que a ess Mundo

                   Quien va no vuelve, o, cuando vuelve, ίha muerto! 

 

 

                        A MI MADRES Y A MI TIERRA

 

ίA ti, oh Madre mií con el rostro

Dolido y alumbrado de uma santa,

Todo embebido en lágrimas y Amor,

Es que a mi Alma, de rodillas, canta!

A Ti, y a mi Tierra, las dos Madres,

 

Que me criaron juntas en tu abrazo,

Pues ambas me trajeron en su vientre,

En el regazo ambas me acunaron.

 

Y tú, viento de orgullo, que em mí pasas

Rugiendo a toda hora,

Únete al polvo:

Y ahora

Que de toda mi Alma quede solo

La trémula inocência de un pequeño

ίPara que rece una oración de Gracias!

De este Paisaje eres, ίMadre!, hermana

Tan Dulce, religiosa y conmovida,

Con una parte viva en este mundo

ίY otra mayor más allá de la Vida!

Desde un rostro triste y afligido,

Como una fuente próxima a nacer,

Mucha Lágrima al hilo hás llorado

Y muchas todavia han de correr.

 

También la Tierra sufre en la raíces,

Que la penetran con ánsia de sorber;

En Aguas que la surcan por correr,

En simientes humildes que despiertan;

Sufren los Ríos al parir la Niebla

Los Árboles se esfuerzan por erguirse,

Y Àrboles, Ríos, Nieblas, todo sufre

Cuando les pega el látigo del Viento

O si el Sol las devora, calcinante:

Y es todo ese profundo Sufrimiento

ίPara que en un delirio ria y cante!

 

 

Furioso, oh viento, pasas por la Tierra:

Tal vez tú llores a mi Madre ahora,

Y cuando canto, para ser Poeta,

Mi Madre lloras y la Tierra llora.

 

La gracia de tu rostro ya es del Cielo

Participa de Dios, la Eternidad,

Y no se ve mejor estando cerca:

De la Nostalgia en el vidente arrobo,

Ojos cerrados, corazón abierto...

 

Tú me enseñaste a rezar, ίoh Madre!

Y  mi Tierra...: basta mirarla bien,

Lejos hasta los cerros,

Siempre álamos se vem hasta allá lejos...

ίEs el Paisaje todo en oración!

 

ίSólo tú podías  ser mi Madre!

Sólo tú y nadie más

Llevarme al pecho

Y leche darme en lágrimas baãnada;

Y que a estos ojos miíos le fue dado

Sólo en el mundo este lugar selecto.

 

Gracias, ίoh Madre mía! vengo a darte

Y a ti, buen Paisaje, también doy

ίPor mi divino gusto de cantar,

Por la más santa parte de quién soy!

 

Por amor de las lágrimas ardientes,

Que te cavaron arrugas en el rostro,

Por amor al cielo y al Crepúsculo,

Al Mar... a ti, Paisaje, que me abrazas,

Poeta soy y canto y lloro y rezo

Y esta oración de gracias les entrego.

 

Y así, oh mi Madre, mi Paisaje,

Enséñenme a crear cual las mujeres

Y cual la Tierra generosa y ruda:

ίQue sufras, mi Alma, Dolores de Parto,

Que des la sangre a los versos que hagas

Que el Sol te queme y el Viento te sacuda!

 

Madre Mía, Madre Mía, Mi Santa,

Y vosotras, sacras Aguas y frondas,

ίBendita seas tú entre las Mujeres,

Bendito seas tú entre los Paisajes!

 

 

 

Textos extraídos de la obra POETAS PORTUGUESES Y BRASILEÑOS DE LOS SIMBOLISTAS A LOS MODERNISTAS; organización y estúdio introductorio: José Augusto Seabra.  Buenos Aires: Instituto Camões; Editora Thesaurus, 2002.  472 p. ISBN 85-7062-323-2

 

Agradecemos ao Instituto Camões a autorização para a publicação dos textos, em parceria visando a divulgação da literatura de língua portuguesa em formato bilíngüe na web.

 

Página publicada em abril de 2008.



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