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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

FERNANDO ASSIS PACHECO

(1937-1995),
 

Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco nació en la ciudad de Coimbra, en 1937,  aunque es de ascendencia  gallega. Licenciado en Filología Germánica por la Universidad de su ciudad natal. Periodista, coordinador del JL (Jornal de Letras, Artes e Ideas). Crítico literuario y uno de los intelectuales mas respetados de su país.

Obra poética: Cuidar dos Vivos (poesia), 1963 ; Câu Kiên: Um Resumo (poesia), 1972 (republicado em 1976 com o título Katalabanza, Kiolo e Volta); Memórias do Contencioso e Outros Poemas (poesia), 1980; A Musa Irregular (antologia poética), 1991 ; Respiração Assistida (poesia), 2003.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   /   TEXTOS EN ESPAÑOL
 

Os anos quarenta

 

AMO-TE MAIS quando

para a torneira do gás quando estou nu à noite quando

e começo a mexer em pânico os ossos da mão direita

 

há domingos há a infância em que se parou numa escadas

altas

ouvia-sea guerra ia-separa a cama por causa do ciclone

e quando o vento vem e decepa e quando

as árvores da rua é a mão que reort

uns papéis

brancos para colar nos vidros

ou quando (da capo) esse homem

nu à noite quando olha

e vejo vê-se

o indicador direito

manchado de nicotina

 

depois uma vez desfila

a vitória! surpreende-os na sala

que me dão dinheiro e corro a comprar barros

na feira e quando quando coisas assim

partia logo e isso era tristeza

volto a pensar: que queria eu na infância

o sol? ouro nome sobre o meu tão frágil?

amo-te mais à noite portanto

quando dobro as calca e começo

quando esse gesto útil quando

bate numas pernas e vê-se

de trinta e cinco ano

 

        

         E havia outono?

 

Havia o que não esperas: árvores,

altas árvores de coração amargo,

e o vendo rodopia e leva

a folhas cegas

por sobre a cabeça do homem.

Havia um coto em sangue.

 

Não morreremos nunca, diziam.

O beiço canta, a lenha queima

junto à pista.

Não morreremos nunca, diziam.

para nascer dez vezes,

não morreremos nunca,

diziam.

 

Aquele que trouxe uma tíbia da Quitilene

envernizou-a depois em silêncio.

Havia o que não esperas: horas,

minutos como horas

para mastigar o assus-

tado pelas trevas da mata.

 

E as mina

os fornilhos

as armadilhas com trotil

ah não vou contar-te um décimo

desta libertinagem.

Há súbitos rios, cândidos

arbustos pendentes

que a cigarra desperta ao meio-dia.

Morreremos dez vezes, diziam,

para nascer dez vezes, diziam,

não morreremos nunca.

 

Aquele que se enche de vinho

tinha as palavras presas

na boca por cabelos finíssimos.

Adormecia voltado para dentro,

ignorante e trêmulo,

espantado da queda

de grandes rochas no ouvido.

 

Havia o que não esperas: risos,

lágrimas como risos,

lágrimas

como folhas cegas,

explodindo ao de leve;

e a morte —

 

 

Toada em “A”

 

Vejo no espelho a minha assustada fealdade.

 

Nada posso contra deuses fabulosos.

 

Depois do capim, depois da poeira assalta-me

a imagem terna deste rosto em pedaços.

 

Ó longa viagem pela picada de Zela — o náufrago

apega-se a uma tábua, um cheiro

de praias na distância,

vence denodadamente os últimos metros.

Quereria beber a água que falta.

 

Aos amigos< de tanta solidão

não suspeitastes nunca.

 

Ah derreter,

dos ombros para cima derreter

a ossatura tenebrosa!

               

Queria eu dizer...

Queria eu dizer que muitos

tiros ouvidos, muitos medos,

que muitos lumes acesos

entram também neste saco.

 

Que arrasto o quê, me arrasto,

ínfimo caracol da mata

talvez útil mas só no dia

em que nele tropeçardes.

 

Escrevo Zala, Nambuangongo,

e penso: é um grito alto.

Queria eu dizer que há coisas

com que vos não maçais.

               

Um vento leve, uma espuma       

Do beijo fica um sabor,

do sabor uma lembrança,

um vento leve, uma espuma.

 

Do beijo fica um sereno

olhar, o amor de coisas

minúsculas e humildes,

um pássaro que vai e vem

da nossa boca às palavras.

Do beijo fica, suprema,

a descoberta da morte.

Um vento leve, uma espuma

salgada, à flor dos lábios.

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción de Xosé Lois García

 

 

Los anos cuarenta

 

TE AMOS MAS cuando miro cuand

hacia el grifo del gás cuando estoy desnudo por la noche cuando

y comienzo a agitar con pánico los huesos de la mano derecha

 

hay domingos hay la infância que se paro en unas escaleras

altas

se oía la guerra se iba a la cama por causa del ciclón

y cuando el viento viene y corta y cuando

 

los árboles de la calle es la madre que recorta

unos papeles

blancos para pegar en los vidrios

o cuando (de capo) esse hombre

desnudo a la noche cuando mira

y veo se vê

el índice derecho

manchado de nicotina

 

despes una vez defila

ίla victoria!  los sorprende en la sala

que me dan dinero y corro a comprar arcilla

en la feria y cuando cuando cosas así

luego partia ey eso era la tristeza

vuelvo a pensar: ¿qué queria yo en la infancia

el sol? ¿otro nombre sobre el mío tan frágil?

 

te amo más por la noche por lo tanto

cuando doblo los pantalones y empiezo

cuando ese gesto útil cuándo

golpea em unas piernas y se vê

de treina y cinco años

 

 

¿Y había otoño?

 

Había lo que no esperas: árboles,

altos árboles de corazón amargo,

y el viento remolina y lleva

las hojas ciegas

por encima de la cabeza del hombre.

Había un muñón sangrando.

 

No moriremos nunca, decían.

El labio canta, la leña quema

junto al rastro.

Moriremos diez veces,

no moriremos nunca,

decían

 

Aquel lo trajo una tíbia de Quitilene

la inverno después en silencio.

Había lo que no esperas: horas,

minutos como horas

para masticar lo asus-

tado por las tinieblas del bosque.

 

Y las minas / los hornijos/

las rampas con trotil/

ah no voy a contarte un décimo

de este libertinaje.

Había súbitos ríos, cándidos

arbustos pendientes

que la cigarra despierta al medio día.

Moriremos diez veces, decían,

paranacer diez veces, decían,

no moriremos nunca.

 

Aquel que se llena de ino

tenía las palabras presas

en la boca por cabellos finísimos.

Adormecía girado hacia adentro,

ignorante y trémulo,

espantado por la caída

de grandes rocas em el oído.

 

Había lo que no espera: risas,

lágrimas como risas,

lágrimas

como hojas cieas

explotando levemente;

y la muerte —

 

 

Tonada en “A”

 

Veo en el espejo mi asustada fealdad.

 

Nada puedo contra dioses fabulosos.

 

Después del césped, después de la polvoreda me asalta

la imagen tierna de este rostro en pedazos.

 

Oh largo viaje por el sendero de Zala – el náufrago

se agarra a una tabla, un olor

de playas en la distancia,

 

vence denodadamente los últimos metros.

Querría beber el agua que falta.

 

A los amigos: de tanta soledad

no sospechásteis nunca.

 

Ah derrretir

ίde los hombros hacia arriba derretir

el esqueleto tenebroso! 

 

 

Quería yo decir...

 

Quería yo decir que mucho

tiros oídos, muchos miedos,

que muchos fuegos encendidos

entran también em este saco.

 

Qué arrastro, me arrastro,

ínfimo caracol del bosque

quizás útil pero solo en el día

em que en él tropeceis.

 

Escribo Zala, Nambuangongo,

y pienso: es un grito alto.

Quería decir que hay cosas

con las que no os enfadais.

 

 

 

Poemas extraídos de HORA DE POESIA 27/28 Año 1983. “Antología de la actual poesia

portuguesa”, volume cedido pelo poeta Aricy Curvello para a Biblioteca Nacional de Brasília, reprodução com a autorização do tradutor Xosé Lois García.

Página publicada em abril de 2008



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