ELIAS GAVINHO
Elias Lourenço Gavinho nasceu em Portugal, na vila de Caminha, dis-, trito de Viana do Castelo, no ano de 1895. Veio para Manaus com três anos de idade, embora tenha retornado por algum tempo ao país natal, a fim de estudar. Na capital do Amazonas foi redator-chefe de "O Lusitano", faleceu em Portugal em 1935. Obra poética: Ânsias (Manaus, 1913).
POESIA E POETAS DO AMAZONAS. Organizadores: Tenório Telles Marcos Frederico Krüger. Manaus: Valer, 2006. 326 p. Ex. bibl. de Antonio Miranda.
Contrastes
Tristes crianças: - sempre abandonadas
Vagueiam pobremente pelas ruas,
Uns trapos encobrindo as pernas nuas,
Ao vento e ao frio Quedam regeladas.
Quando a fome trouxer já definhadas
Em vingança cruel as frontes suas,
Quando não virem mais a luz das luas
E o róseo despontar das alvoradas,
Dirá a humanidade: - triste sorte.
Vaguear no mundo, errantes, sem um
Norte Sob as mil desventuras da matéria!...
Ó Deus, vem ver Quão triste é a térrea vida:
Se uns vivem na opulência enternecida
Outros desaparecem na miséria!...
(Ânsias)
Súplicas
Ó ternas ilusões da minha mocidade,
Suaves como a luz, heróicas, graciosas
Voltai a mim, voltai, brancas e luminosas
Espargindo alegria a esta mútua saudade.
Vós sois da vida o deus, vós sois a hilaridade
De quimeras sem fim: imáculas, airosas,
Sois pérolas d'orvalho em tranças majestosas
Onde pompeia a luz feérica verdade.
Se de ilusões outrora, alegre, satisfeito,
Almejava um só fim, risonho e não funéreo,
Por Que deixais agora arder-me em febre o peito?...
O minhas ilusões, ó meu viver aéreo,
Não mais me abandoneis: volvei-me o casto efeito
Desse viver feliz, num louco refrigério.
(Ibidem)
Página publicada em novembro de 2020
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