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ANTÓNIO FELICIANO DE CASTILHO

 

António Feliciano de Castilho, 1.º visconde de Castilho, (Lisboa, 28 de Janeiro de 1800 — Lisboa, 18 de Junho de 1875) foi um escritor romântico português, polemista e pedagogista, inventor do Método Castilho de leitura. Em consequência de sarampo perdeu a visão quase completamente aos 6 anos de idade. Licenciou-se em direito na Universidade de Coimbra. Viveu alguns anos em Ponta Delgada, Açores, onde exerceu uma grande influência entre a intelectualidade local. Contra ele se rebelou Antero de Quental (entre outros jovens estudantes coimbrões) na célebre polémica do Bom-Senso e Bom-Gosto, vulgarmente chamada de Questão Coimbrã, que opôs os jovens representantes do realismo e do naturalismo aos vetustos defensores do ultra-romantismo.


Veja a biografia na íntegra em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Feliciano_de_Castilho

 

          DEFENSA DE UM INSCONSTANTE
      
(CANÇONETA)

Desterra teus vãos ciúmes,
festejo a quantas são belas
mas sempre a rainha delas
és tu, Annânia cruel.

De teu semblante as lindezas
adoro noutros semblantes:
são meus passos inconstantes,
é meu coração fiel.

Não to nego, com Annia
falo às vêzes em segrêdo;
não to nego, êste arvoredo
viu-me com Lília brincar:

Porém com Lília só brinco;
por ter nos brincos teus modos:
de Armia os segredos todos
os teus me fazem lembrar .

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ... . . . . . .

Se a Ismene pedi cabelo,
foi só por também ser louro:
fui rico do teu tesouro,
sem o obter da tua mão.

Amo em Gertrúria o teu riso,
amo os teus olhos em Jônia,
preso nas cartas de Aônia
tua escrita e discrição.

Um só coração me coube,
e tu és a flor das belas!
Nem mesmo entre os braços delas
te fôra infiel jamais.

Por distração tenho às outras
vêzes mil teu nome dado;
e até hoje inda a teu lado
não tive enganos iguais!

Meu pensamento amoroso
équal Favônio entre as flores,
que, a mil sussurrando amôres,
elege a rosa entre mil;

Por todo um jardim vagueia,
mas guarda a afeição saüdosa;
passa, e lembra-nos a rosa,
da rosa ingênua e gentil.

Quanto mais julgas, ingrata,
perder a tua conquista,
tanto mais se aumenta a lista
dos teus triunfos sem par.

De meu coração te queixas
serem sem conto as rainhas!
São escravas, que não tinhas,
que vão teu carro puxar.

Dez Análias te abandono,
[ônías duas, seis Temíres,
e após estas quantas vires
de semblante encantador.

Arrnânía, sôbre áureas rodas,
por tuas rivais tirada,
sobe, de mirto coroada,
ao Capitólio ele amor!

Lá, sôbre as aras do nume,
jura um prêmio aos meus ardores
Quanto amarás teus favores
quem tanto os desdéns te amou!.

Depois, sofre que ame sempre
em teu sexo a todos grato
os pedaços de um retrato
gue a natureza quebrou.

 

Página publicada em outubro de 2015

 

 


 

 

 
 
 
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