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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA SURREALISTA PORTUGUESA

 


ANTÓNIO DACOSTA
(1914-1880)

 

António Dacosta (Angra do Heroísmo, 3 de Novembro de 1914 – Paris, 2 de Dezembro de 1990) foi um poeta, critico de arte e pintor português.

A sua obra pictórica é constituída por duas fases distintas. Entre 1939 e 1948 trabalha essencialmente dentro de um idioma surrealista, afirmando-se como uma figura de referência do movimento em Portugal. Essa fase encerra-se com pinturas realizadas em Paris – onde fixa residência a partir de 1947 –, em que se aproxima da abstração. Segue-se um hiato de trinta anos em que interrompe quase por completo a prática artística, dedicando-se à crítica de arte.

Retoma a pintura de forma consistente apenas no final da década de 1970. A partir daí e até à data da sua morte irá realizar um conjunto de obras diversas, identicamente notáveis, "cujo intimismo e a poesia são ímpares na pintura portuguesa contemporânea"1 . A sua presença duplamente prestigiada, pelo passado e pela nova visibilidade que adquire na década de 1980, seria marcante na sensibilidade pictural desses anos em Portugal.
Fonte: wikipedia

 

 

 

 

O TRABALHO DAS NOSSAS MÃOS

 

EU ERA NOVO E TU SIMULAVAS.

TARDES IMÓVEIS Â PORTA DO NOSSO MEDO NAS MAIS

DIFÍCEIS EM QUE TE

OCUPAVAS COM GESTOS E UMA INVENCÍVEL ENTREGA TE

 

FAZIA INVEJAR AS CHA-

MINÉS E OS SEUS FUMOS.

TU, O TEU SANGUE CRESPUSCULAR, DISSOLVIA O MEU

REMORSO DE TER NASCIDO E

DISSOLVIA O PEZ QUE OS OUTROS COLAVAM AO NOSSO

CORPO.

O TEU GESTO DE MOLHAR A LUZ NA TUA PELE DISFARÇAVA

COM CUIDADO QUAL-

QUER ASA DE PECADO.        

O NOSSO RECEIO NÃO ERA JÁ DAS CINZAS QUE NOS APOU-

CAM. A LIMPIDEZ DO CÉU,

TRABALHO DAS NOSSAS MÃOS, ENTREABRIRA-TE OS LÁBIOS

DOUTRA SEDE, PERMA-

NENTE COMO A CHUVA.

 

EU ERA NOVO E TU SIMULAVAS OS MEUS DEDOS DESFO-

LHANDO-SE.

PORQUE O NOSSO PESO ERA DE SÍMBOLOS, DECIDISTE

CRIAR OUTROS.

A DORMIR REFIZEMOS OS NOSSOS FRUTOS DE ALEGRIA E

NUNCA NINGUÉM NOS IM-

PORTUNOU COM TARJAS TRISTES À NOSSA PORTA. A VIVER

REFIZEMOS AS COISAS E

O SEU GUME, NA EVIDÊNCIA DO QUE EXISTE.

DESPIAS SORRIDENTE, DESLUMBRADA, AQUELE QUÊ DE

AUSENTE NA CARNE DAS

ESTÁTUAS, E NADA QUE NÃO FOSSE EXACTO TURBAVA OS

TEUS OLHOS. A TERRA

ABRIA-SE PARA A CHUVA ENQUANTO A SEMENTE DO DIA

ENTRAVA NO BICO DOS

PÁSSAROS. HAVIA UM GESTO DE ELEVAÇÃO.

 

EU SIMULAVA VER UM BARCO INCENDIADO, UM MAR DE

LIXÍVIA A ARDER E AS REN-

DAS DA NOITE CREPITANDO. OUVES AINDA O RUMORDAS

ESTRELAS DE QUE, NOS

DECLIVES, DEPENDIAM NOSSOS PASSOS? UM PEDESTAL DE

ÓCIO SUSTINHA AS ES-

TÁTUAS DO VALE, INERTES DE DESTERRO, TODAS DE ROSTO

SEMELHANTE, EXISTIN-

DO DE AUSÊNCIA ERGUIDA.

NESSA HORA O LINHO QUE NOS COBRIA TINHA QUALQUER

COISA DE FEROZ E RECLA-

MAVA SANGUE.

O BRANCO ENSINOU-NOS A ESPADA. A ESPADA A CORAGEM

DE A SABER INÚTIL.

UM DIA DISSESTE A FITAR OS OLHOS DE IMENSAS COISAS -

QUE AO MENOS NOS

SALVEMOS NÓS! - DÓI-ME O CORPO DE ESPERAR...

 

 

Página publicada em dezembro de 2013

 

 

 

 
 
 
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