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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


ADILIA LOPES

ADÍLIA LOPES

é o pseudônimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, poeta, cronista e tradutora portuguesa, nascida em Lisboa, em 1960. É formada em Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa, tendo feito especialização em Linguística e em Ciências Documentais.

Em 1985 publicou, em edição de autor, "Um jogo bastante perigoso", seu primeiro livro de poesia.  A seguir, publicou : "A Pão e Água de Colónia" (1987) , "O Marquês de Chamilly" (1987), "O Decote da Dama de Espadas" (1988), "Os 5 Livros de Versos Salvaram o Tio" (1991), "O Peixe na Água" (1993), "A Continuação do Fim do Mundo" (1995), “A Bela Acordada” (1997), “Clube da Poetisa Morta” (1997), “O Poeta de Pondichéry” seguido de “Maria Cristina Martins” (1998), “Florbela Espanca espanca”, (1999), “Sete rios entre campos” (1999), “O Regresso de Chamilly” (2000),” Irmã Barata, Irmã Batata” (2000), “ A Obra” (2000) e "A mulher -a-dias" (2002).



para a Fiama, que não gosta de cisnes e que escreveu “Cisne”

(O cisne persegue a Fiama no quintal
a Fiama persegue o cisne no poema
sarada a mão direita da poetisa
a poetisa pode escrever sobre o cisne
(de ódio de cisne e de ócio de Fiama
se faz a literatura portuguesa
minha contemporânea)
depois a Fiama persegue o cisne no quintal
durante um quarto de hora
e o cisne persegue a Fiama no poema
pela vida fora)

         *
Clarice Lispector,
a senhora não devia
ter-se esquecido
de dar de comer aos peixes
andar entretida
a escrever um texto
não é desculpa
entre um peixe vivo
e um texto
escolhe-se sempre o peixe
vão-se os textos
fiquem os peixes
como disse Santo António
aos textos

                   In Clube da poetisa morta

O amor
é foda
o amor
é boda
(a senhora sabe
da poda?)
o amor
está sempre
fora
de moda
é preciso amar
atrever-se a amar
andar com este
e com este
         *
Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a vida
porque achamos
que não presta

Deus é a nossa
mulher-a-dias
que nos dá prendas
que deitamos fora
como a fé
porque achamos
que é pirosa
         *
Gosto de me deitar
sem sono
para ficar
a lembra-me
das coisas boas
deitada
dentro da cama
às escuras
de olhos fechados
abraçada a mim

                            In Florbela Espanca espanca

 

Poemas extraídos da revista POESIA SEMPRE, Num. 26, Ano 14, 2007. Edição da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

 

LOPES, Adília.  Antologia.  Posfácio de Flora Süssekind.  São Paulo: 7Letras; Cosac & Naify, 2002.  240 p.  (Coleção Ás de colete)   14,5x21,5 cm. Capa e projeto gráfico: Elaine Ramos.  capa dura  ISBN 85-7503-138-4    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

NATURA ET ARS

 

Uma floresta é unm labirinto?

um deserto pode ser rocaille?

a vida é um romance?

o mundo é um palco?

um florete é uma flor?

uma serpentina é uma serpente?

 

Imagino o fim da Terra assim

todas as casas e todas as ruas

desaparecem

assim como todas as pessoas

graças a um cataclismo

sobrevivem apenas os telefones

as baratas e as listas dos telefones

marcianos nos dias a seguir

tentam interpretar a lista dos telefones

os marcianos não estabelecem uma relação

entre os telefones e a lista dos telefones

mas entre a lista dos telefones e as baratas

e essa relação é plenamente satisfatória

 

 

 

PEDRA ESTÁ apaixonada

por Hipólito

Hipólito não está apaixonado

por Fedra

Pedra enforca-se

Hipólito morre

num acidente

 

D ido está apaixonada

por Eneias

Eneias não está apaixonado

por Dido

D ido oferece uma espada

a Eneias

Eneias esquece-se da espada

quando se vai embora

Dido suicida-se

com a espada esquecida

por Eneias

 

Um desgosto de amor

atirou-me para um

curso de dactilografia

consolo-me

a escrever automaticamente

o pior são os tempos livres

 

 

Página publicada em novembro de 2009

 

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