MARTIN ADAN
Ramón Rafael de la Fuente Benavides, (*Lima, 27 de octubre de 1908 - † 29 de enero de 1985), mejor conocido por su seudónimo Martín Adán, fue un poeta peruano, cuya obra destaca por su hermetismo y profundidad. Es considerado uno de los grandes representantes de la literatura vanguardista latinoamericana.
Cursó sus estudios escolares en el Colegio Alemán Alexander von Humboldt. Desde muy joven mostró dotes literarias. Fueron sus profesores Luis Alberto Sánchez y Emilio Huidobro quienes influyeron mucho en su vocación por las letras, que compartió con sus compañeros de clase Emilio Adolfo Westphalen, Estuardo Núñez y Xavier Abril. Con solo 16 años de edad y cursando el último año de colegio, empezó a escribir La casa de cartón (que se publicaría cuatro años después). Luego colaboró en la revista Amauta y formó parte del grupo del mismo nombre liderado por José Carlos Mariátegui. También ingresó a la Universidad de San Marcos donde se doctoró en Letras.
Perteneció a la Academia Peruana de la Lengua y obtuvo el Premio Nacional de Poesía tanto en 1946 como en 1961. En 1976 se le concedió el Premio Nacional de Literatura.
A medida que pasó el tiempo, vivió con creciente estrechez económica y sufriendo de un fuerte alcoholismo. Buena parte de sus últimos años los pasó en sanatorios, hasta su muerte en 1985.
Allen Ginsberg se mostró interesado en su obra y en su persona. Por ello, aprovechando su paso por el Perú con el objeto de conocer la ayahuasca, logró entrevistarse con Martín Adán.
Fuente: vea biografia completa em wikipedia
Extraído de
POESIA SEMPRE. Número 28. Ano 15 / 2008. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 246 p. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Tradução de FLORIANO MARTINS
O pensamento sobre a água
O pensamento sobre a água Nem o sorriso ante a rosa,
Altar de sacrifício, Nada é senão tua rocha.
Somente tu és volume real e tato E tudo o que me enamora, Crueldade possível, alma latente, Hora eterna...
Porque a solidão não lhe bastava,
A do Princípio, Ele buscou sua mão,
E o poeta diz que foi nunca
E os historiadores dizem que foi em marcos.
Eu já morri; soube entre tua pedra,
Antes de meu silencio e minha palavra,
Quando o rio ia acima
E não desceu nada.
Tudo é simples como tu, Machu Picchu,
A vida não é mais que uma esperança,
E um muro e urna mulher
E certo número de palavras.
Não, não é ver o húngaro comer
No pobre restaurante,
Es tu, pedra entre céus,
A vida que me baste.
Não, não, tu não és o que basta,
Não, não, tu não és o que está me bastando.
A vida é mais que ser. Será meu gato,
Meu gato viverá, e ele será algo;
E eu morrerei
Porque não me basto.
Porque tu vives, Machu Picchu,
Pedra que está em sua altura.
Pedra que me representa,
Pedra que está se gastando.
Nada será depois de meu momento,
Tudo já era quando eu nascia.
Após minha morte não morrerei nunca,
Sempre começará a vida.
Tudo será como é e, no entanto,
Tudo serei, variedade, sina, simpatia.
Tudo será como é porque está ardendo e doendo em mim!
Porque não há outra coisa!
Tudo será como é porque não são
Senão meu corpo e a nuvem e tua rocha!
Tudo, porque eu ainda falo
E todo o mundo é orelha de agora!
E o ar é meu terror, e o rio sonha,
E soa sem cessar, sem verdadeira sombra!
Dormirás, Alma Minha?
Despertarás amanhã para teus afazeres?
Serás outra vez a que já foste?
Serás outra vez?
Diante desta rocha, que está te olhando E que te vê,
E que te vê tremenda com um olho só
De mil pés;
Diante desta rocha, fugir é impossível
E há que desnascer e renascer.
Porque ser é necessário,
Não há outro modo de não ser e renascer.
E se não és, o que és, o que serás, qual Deus,
Que intenso ser
Te arrastará em sua fúria?
0 que é a inteligência do não saber?
0 que sabes tu do que não sabes?
Machu Picchu sabe o de depois.
Tudo está eterno, porque era eterno. Já no princípio.
Sim, tudo com o símio e o poeta, Tudo veio.
Quando a palavra não dizia
E nada soou senão o primeiro vagido,
Da primeira criatura monstruosa
De formol e vidro,
0 que não dizia nada porque cala,
Porque o poema busca seu princípio.
A inteligência não sabia nada
Diante de ti, era outra pedra muda e outro mito,
Vinham colegiais pestilentas,
Arqueólogos de longe e sem filhos.
Exata e cruel tua pedra, Pedra,
Pedra recém-lavrada do Abismo,
Lavra de mão alguma, o divino
Tão feio e caduco...
Deixa-me tu, gato branco, amar,
Até o fim de tua cauda.
Nada é senão nada
E acima a rocha.
O simples é verdadeiro?
Mas o que é a verdade senão a tua cauda,
Á qual me agarro, gato branco,
Minha realidade de agora?
Venho eu mesmo,
Vem comigo e sabe a palavra.
Porém não sabe como estar a sós
Diante de sua eternidade e diante de seu nada.
Que terrível a tua realidade!
Que terrível a tua rocha retocada!
Es tão humano, Machu Picchu!
Página publicada em setembro de 2018
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