JAVIER HERAUD
(1942-1963)
O poeta nasceu em Miraflores, nos arredores de Lima e faleceu, baleado, em Puerto Maldonado. Viveu apenas vinte anos mas deixou uma obra poética extensa, em que alterna a frescura juvenil com a penumbra de seu amadurecimento precoce. Versos de uma fluidez vivaz, já em seu primeiro livro — El rio — aos 18 anos de idade, seuido de “El viaje”, um ano depois. Estudava na Universiidad Mayor de San Marco, lecionava inglês e castelhano. Viajou pela Rússia, pela Ásia e esteve como bolsista em Cuba estudando cinematografia. Ganhou um prêmio, com seu poemário “Estación reunida”.
Conservo um exemplar bastante surrado — deve ter passado de mão em mão, em leituras sucessivas —, que me foi dedicado por Alberto Chavez N., amigo ligado ao grupo teatral Cuatro Tablas, com esta expressiva dedicatória: “Antonio: pocos dias pasaste por mí y en mi cabeza guardo tus pasos. Gracias por los dias, trataré de dar tus pasos com mis dias”. Lima, 20/6/72
TEXTOS EN ESPAÑOL / TEXTOS EM PORTUGUÊS
INVIERNO
Agosto ha pasado ya.
Duras primaveras
acosan mis olvidados
recuerdos.
(Las cicatrices
del tiempo y del olvido,
las cicratices del odio
y el amor,
las llanuras de sangre
abiertas con la mano,
los campos desolados
por la sed y el amor).
MI CASA MUERTA
1
No derrumben mi casa
Vieja, había dicho.
No derrumben mi casa.
2
Teníamos nuestra pégola,
y dos puertas a la calle,
un jardín a la entrada,
pequeño pero grande,
un manzano que yace seco
ahora por el grito
y el cemento.
El durazno y el naranjo
habían muerto anteriormente,
pero teníamos también
(¡cómo olvidarlo!)
un árbol de granadas.
Granadas que salían
de su tronco,
rojas,
verdes,
el árbol se mezclaba
con el muro,
y al lado,
en la calle,
un tronco que
daba moras
cada año,
que llenaba de hojas
en otoño las puertas
de mi casa.
3
No derrumben mi vieja casa,
había dicho,
dejen al menos mis
granadas
y mis moras,
mis manzanas y mis
rejas.
4
Todo esto contenía
mi pequeño jardín.
Era un pedazo de
tierra custodiado
día y tarde por una
verja,
una reja castaña y alta
que
los niños a la salida
del colegio
saltaban fácilmente,
llevándose las manzanas
y la moras,
las granadas
y la flores.
5
Es cierto, no lo niego,
las paredes se caían
y las puertas no cerraban
totalmente.
Pero mataron mi casa,
mi dormitorio con su
alta ventana mañanera.
Y no quedó nada
del granado,
las moras ya no
ensucian mis zapatos,
del manzano sólo veo
hoy día,
un triste tronco que
llora sus manzanas
y sus niños.
6
Mi corazón se quedó
con mi casa muerta.
Es difícil rescatar
un poco de alegría,
yo he vivido entre
carros y cemento,
yo he vivido siempre
entre camiones
y oficinas,
yo he vivido entre
ruinas todo el tiempo,
y cambiar un poco
de árbol y de pasto,
una palmera antigua
con columpios,
una granada roja
disparada en la batalla,
una mora caída con un niño,
por un poco
de pintura
y de granizo,
es
cambiar
también algo
de alegría
y de tristeza,
es cambiar también
un poco de mi vida,
es llamar también
un poco aquí a la muerte
(que me acompañaba
todas las tardes
en mi vieja casa,
en mi casa muerta).
EPÍLOGO
Sólo soy
un hombre
que agota sus palabras.
POEMA
Mil países que
yo no conozco,
mil estrellas y
túneles,
mil países y pueblos,
mil y un puentes
incontables.
Desconocido país:
en tus puertas ya
me siento torturado,
en tu boca ya me
siento masticado,
en tus ríos ya
me siento ahora
y siempre y nunca
ahogado.
Extraídos de POESÍAS COMPLETAS Y HOMENAJE. Lima: Ediciones de La Rama Florida, 1964. 242 p.
[ HERAUD, Javier ]. Javier Heraud y las voces panegíricas. Huari, Ancash, Perú:1964. Incluye el texto introductorio: “Intuición de la muerte em Javier Heraud Liminar” y textos de Jorge A. Herau Cricet, Pablo Neruda, Washington Delgado, Alejandro Romualdo, Carlos C. Belli, Arturo Corcuera,Tomas Gustavo Escajadillo y una selección de poemas em homenaje a Javier Heraud. 16x21 cm. Col. A.M.
EL POETA
poema de Arturo Corcuera
in memorian de Javier Heraud
Leía a Marx,
a Pablo. Y a Vailejo
lo llevaba en el pecho
como un llanto.
Deteníase a oír en el silencio
algo que no cabía en su tamaño.
Se advertía en sus ojos
que soñaba
en ardiente vigilia, como nadie.
Me sé sus sueños
de memoria, su alma.
Lo mataron en medio de la
tarde
porque un alba traía
para todos;
porque otro sol,
otro aire, reclamaba.
En las hojas
que caen del otoño
me parece que escucho sus
pisadas.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Antonio Miranda
INVERNO
Agosto já se foi.
Duras primaveras
acossam esquecidas
lembranças.
(As cicatrizes
do tempo e do olvido,
as cicatrizes do ódio
e o amor,
as planícies de sangue
abertas com a mão,
os campos desolados
pela sede e o amor).
MINHA CASA MORTA
1
Não derrubem minha casa
velha., assim disse.
Não derrubem minha casa.
2
Tínhamos nossa pérgula,
e duas portas para a rua,
um jardim na entrada,
pequeno mas amplo,
a macieira que fenece
agora pelo grito
e o cimento.
O pêssego e a laranja
já haviam perecido,
mas tínhamos também
(como esquecer?!)
um pé de romã.
Romãs que saíam
do galho,
rubras,
verdes,
a árvore enxertada
no muro,
e ao lado,
na rua,
um galho que
dava amoras
a cada ano,
que enchia de folhas
no outono as portas
de minha casa.
3
Não derrubem minha casa,
assim disse,
deixem pelo menos minhas
romãs
e minhas amoras,
minhas maçãs e minhas
grades.
4
Tudo isso havia
em meu pequeno jardim.
Era um pedaço de
terra vigiado
dia e noite por uma
grade,
uma cerca castanha e alta
que
os meninos à saída
do colégio
pulavam facilmente,
levando as maçãs
e as amoras,
as romãs
e as flores.
5
É certo, não nego,
as paredes ruíam
e as portas não fechavam
inteiramente.
Mas mataram minha casa,
meu dormitório com sua
janela alta para o amanhecer.
E nada restou
Do pé de romã,
as amoras já não
tingem meus sapatos,
da macieira só vejo
agora,
um triste tronco que
chora suas maçãs
e seus filhos.
6
Meu coração ficou
em minha casa morta.
É difícil resgatar
um pouco de alegria,
eu vivi entre
carros e cimento,
eu vivi sempre
entre caminhões
e escritórios,
eu vivi nas
ruínas o tempo todo,
e mudar um pouco
de árvore e de pasto,
uma velha palmeira
com balanços
uma granada rubra
disparada na batalha,
uma amora caída com um menino,
por um pouco
de tintura
e de granizo,
é mudar
também algo
da alegria
e da tristeza,
é mudar também
um pouco de vida,
é chamar também
um pouco da morte
(que me acompanhava
todas as tardes
em minha velha casa,
em minha casa morta.)
EPÍLOGO
Sou apenas
um homem triste
que esgota as palavras.
POEMA
Mil países que
eu não conheço,
mil estrelas e
túneis,
mil países e povoados,
mil e uma pontes
incontáveis.
Desconhecido país:
em tuas portas já
me sinto torturado,
em tua boca já me
sinto mastigado,
em teus rios já
me sinto agora
e sempre e nunca
afogado.
O POETA
poema de Arturo Corcuera
in memorian de Javier Heraud
Trad. de Antonio Miranda
Lia Marx.
Pablo. E o Vallejo
levava no peito
como um pranto.
Ficava a ouvir no silêncio
algo que não cabia em seu porte.
Percebíamos em seus olhos
que sonhava
em ardente vigília, como ninguém.
Sei os seus sonhos
de memória, sua alma.
Mataram-no em plena
tarde
porque uma alvorada trazia
para todos;
porque outro sol.
outro ar, reclamava.
Nas folha
que caem no outono
parece que escuto seus
passos.
REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. No. 9 – jan./jun. 2023. Editor: Flavio R. Kothe. Brasília, DF: Editora Cajuína, Opção editora, 2023. 174 p. ISSN 22674-8495.
Tradução do Espanhol
por MARCOS FREITAS:
OUTONO
Nos rios do outono
meu sangue, os mortos,
meu amor, as ervas caídas,
meus lábios, as cicatrizes
abertas,
irão se derreter como uma primavera,
irão se unir como crianças
brincando,
no eterno renascer
de nossos corações.
POEMA
Perco na ladeira todos os dias
meus passos. Já não os ouço
como antes (retumbando na
vigília), meu falo comigo
nas duras noites de ascensão.
Perco todas as minha coisas
(minha voz, meus olhos, meus braços,
minha árvore se conectando a meu coração).
Todas as minhas coisas na ascensão
perco, noite após noite. Minhas roupas vão
caindo enquanto cai meu espírito
nas rochas, nas pedras, na
encosta da montanha onde eu escalo
a noite pelo braço, de dia pela voz.
ARTE POÉTICA
O encontro e o descanso,
o esquecimento e a lembrança,
o reencontro e o amor,
o amor e o desespero
do tempo, são pálidas
reflexões de minha palavra
usada e nova.
A lembrança vem a cada
momento: nunca saberemos
se nossos homens apenas
do passado ou se vivemos
apenas para o futuro, ou se
apenas para o momento presente.
A lembrança se acumula e não
volta, em cada encontro
há uma vida, um descanso
é sempre perder um pouco de
morte, sempre que descemos
uma rua, existirão pedras
que repetem nossos
antigos passeios ao sol,
e que nos falam dos caminhos
percorridos até agora.
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Página ampliada e republicada em julho de 2023
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