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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




RUBEN DARIO

 

San Pedro Metapa, 18.1.1867 - León, 6.2.1916. Sua obra, desde Azul até Cantos de Vida y Esperanza, exerceu forte influência em ambos os lados do Atlântico. 
É considerado um dos maiores poetas da língua castelhana.

Félix Rubén García y Sarmiento. Nicaragüense, mestiço de índio. Azul, de 1888, é um marco do Modernismo hispano-americano. Diplomata, percorreu a Europa e a América. "A Machado d'Assis" e "La Victoria de Samotracia" são de Del Chorro de la Fuente; "Visión", de El Canto Errante; "Coloquio de los Centauros", de Prosas Profanas.

Veja e leia também o ensaio: RUBEN DARIO – ONTEM, HOJE, SEMPRE E SUA PASSAGEM PELO BRASIL – por ANTONIO MIRANDA - ENSAIOS

REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO BRASIL. Ano 3,  No. 6  jul./dez., 2021.          Diretor Flavio R. Kothe.  Brasília, DF: Editora Cajuína/Opção editora, 2021.  146 p.              ISBN 2674-84-95

 

  TRADUÇÃO DO ESPANHOL por      ANDERSON BRAGA HORTA

 

 

           I

            OS BUFÕES

         Na casa familiar recordo dois bufões
         lembrando os de Velásquez. Um deles, o homem, era
         chamado “o capitão”. A velha companheira
         era a mãe.  E no entanto pareciam irmãos.

         Exibiam fantoches, vermes, assombrações.
         Coxo e vesgo, ele armava uma máscara fera.
         Fabricava bonecos e figuras de cera
         com as pequenas, horríveis e rechonchudas mãos.

         Também fingia-se de bispo, ele, e benzia;
         praticava sermões e endiabrado enredo
         e rezava contrito pai-nosso e ave-maria.

         Retiravam-se anão e anã ainda cedo.
[1]
         enquanto, em torno, a gente abastada se ria,
         silencioso, a um canto, eu tremia de medo.
 [2]

[1] Seria talvez melhor, em termos de fidelidade ao texto, este verso:
Logo se retiravam os anões, quedo e quedo. (Original: ledo, enano e
enana se retiraban quedo.)

[2] Não me esforcei pela solução óbvia “tinha medo”, literalmente con-
forma ao original. Adotei, neste caso, em vez de obediência à língua-
mãe, fidelidade ao modo de se expressar da língua-meta. Outra possi-
bilidade, creio que ideologicamente melhor: eu, silencioso, a um canto,
me encolhia de medo.
Não sei se foi fácil a opção.

       

 

        II
         EROS

 

        É minha juventude, que se diverte, cega,
       com versos e ilusões, espada de ouro ao cinto;
       em minha mente há um sonho sempre vário e distinto
       e meu espírito ágil ao acaso se entrega...

       Vejo em cada mulher como uma ninfa grega,
       de que em poemas sonoros as frescas graças pinto;
       e isso ocorre ao amor do porto de Corinto
       ou na rica em laranja em calda Chinandega.

       Tempo distante já! Mas ainda vejo flores
       nas laranjeiras verdes impregnadas de aromas,
       ou nas velhas fragatas que vêm dos longes mares;

       ou no Ítaco, ou nos mangues densos e criadores;
       ou tu, rosto adorado naquele tempo, assomas
       com primeiros amores ou primeiros pesares.
[3]

 

[3] Como no soneto anterior, precisei mexer na disposição das rimas.

 

 

       III
      
TERREMOTO

      
Madrugada. Em silêncio repousa a grande vila,
       onde menino de incidentes de lenda
       e assisti a serenatas de amor junto à vivenda
       de alguma noiva bela e tímida e tranquila.

       O céu repleno de constelações cintila;
       disputam-lhe o oriente suaves luzes vermelhas.
[4]
       Súbito, um terremoto sacode as casas velhas
       se nas ruas a gente, de joelhos, se aniquila.

       meio desnuda, e clama: “Santo Deus! Santo forte!
       Santo imortal!”  A terra treme a cada momento,
       Algo de apocalíptico verte oculta mão. Sorte.

      de atmosfera de chumbo sufoca.  Não há vento,
      e dir-se-ia que por ali passou a Morte
      ante a impassibilidade do firmamento.
      

[4] Forcejar pela manutenção de todas as rimas do original
poderia levar a um torneamento excessivamente amaneirado.

 

TEXTO EN ESPAÑOL y/e TEXTO EM PORTUGUÊS 
Traduzido por Anderson Braga Horta


NICARAGUA

Madre, que dar pudiste de tu vientre pequeño
tantas rubias bellezas y tropical tesoro,
tanto lago de azures, tanta rosa de oro,
tanta paloma dulce, tanto tigre zahareño:

Yo te ofrezco el acero en que forjé mi empeño,
la caja de armonía que guarda mi tesoro,
la peaña de diamantes del Ídolo que adoro
y te ofrezco mi esfuerzo, y mi nombre y mi sueño.



NICARÁGUA


Ó mãe, que de teu ventre pequeno dar pudeste
tantas louras belezas e tropical tesouro,
tanto lago de azuis e tanta rosa de ouro
e tanta pomba doce e tanto tigre agreste:

Ofereço-te a têmpera em que forjei, risonho,
a caixa de harmonia onde guardo o que adoro,
a peanha de diamantes do Ídolo ante quem oro,
e te dou meu esforço, e meu nome e meu sonho.

 

 

 

 

 

 

 



MACHADO D'ASSIS

Dulce anciano que vi, en su Brasil de fuego
y de vida y de amor, todo modestia y gracia.
Moreno que de la India tuvo su aristocracia;
aspecto mandarino, lengua de sabio griego.

Acepta este recuerdo de quien oyó una tarde
en tu divino Río tu palavra salubre,
dando al orgullo todos los harapos en que arde,
y a la envidia ruin lo que apenas la cubre.

(Rio de Janeiro, 1906.)



A MACHADO DE ASSIS


Doce ancião que vi, em seu Brasil repleno
de fogo e vida e amor, todo graça e eutimia.
Moreno que da Índia teve a aristocracia;
aspecto mandarino, língua de sábio heleno.

Aceita esta lembrança de quem ouviu uma tarde
em teu divino Rio tua palavra nobre,
dando ao orgulho todos os farrapos em que arde,
e à inveja ruim o que apenas a cobre.

 

 

 

 

 

 

 



LA VICTORIA DE SAMOTRACIA

La cabeza abolida aun dice el día sacro
en que, al viento del triunfo, las multitudes plenas
desfilaron ardientes delante el simulacro
que hizo hervir a los griegos en las calles de Atenas.

Esta egregia figura no tiene ojos y mira;
no tiene boca, y lança el más supremo grito;
no tiene brazos y hace vibrar toda la lira,
¡y las alas pentélicas abarcan lo infinito!

(Barcelona, 21-1-1914.)



A VITÓRIA DE SAMOTRÁCIA


A cabeça abolida diz ainda o dia sacro
em que, ao vento do triunfo, as multidões helenas
desfilaram ardentes diante do simulacro
que fez ferver os gregos pelas ruas de Atenas.

Esta egrégia figura não tem olhos e mira;
boca não tem, e lança o mais supremo grito;
não tem braços e faz vibrar inteira a lira,
e coas asas pentélicas abarca o infinito!

 

 

 

 


 

 



VISIÓN

Tras la misteriosa selva extraña
vi que se levantaba al firmamento,
horadada y labrada, una montaña,

que tenía en la sombra su cimiento.
Y en aquella montaña estaba el nido
del trueno, del relámpago y del viento.

Y tras sus arcos negros el rugido
se oía del león, y cual obscura
catedral de algún dios desconocido,

aquella fabulosa arquitectura
formada de prodigios y visiones,
visión monumental, me dió pavura.

A sus pies habitaban los leones;
y las torres y flechas de oro fino
se juntaban con las constelaciones.

Y había un vasto domo diamantino
donde se alzaba un trono extraordinario
sobre sereno fondo azul marino.

Hierro y piedra primero, y mármol pario
luego, y arriba mágicos metales.
Una escala subía hasta el santuario

de la divina sede. Los astrales
esplendores, las gradas repartidas
de tres en tres bañaban. Colosales

águilas con las alas extendidas
se contemplaban en el centro de una
atmósfera de luces y de vidas.

Y en una palidez de oro de luna
una paloma blanca se cernía,
alada perla en mística laguna.

La montaña, labrada parecía
por un majestüoso Piraneso
babélico. En sus flancos se diría

que hubiese cincelado el bloque espeso
el rayo; y en lo alto, enorme friso
de la luz recibía un áureo beso,

beso de luz de aurora y paraíso.
Y yo grité en la sombra: -¿En qué lugares
vaga hoy el alma mía?- De improviso

surgió ante mí, ceñida de azahares
y de rosas blanquísimas, Estela,
la que suele surgir en mis cantares.

Y díjome con voz de filomela:
-No temas: es el reino de la lira
de Dante; y la paloma que revuela

en la luz, es Beatrice. Aquí conspira
todo al supremo amor y alto deseo.
Aquí llega el que adora y el que admira.

-¿Y aquel trono, le dije, que allá veo?
-Ese es el trono en que su gloria asienta,
ceñido el lauro, el gibelino Orfeo.

Y abajo es donde duerme la tormenta.
Y el lobo y el león entre lo obscuro
enciende su pupila, cual violenta

brasa. Y el vasto y misterioso muro
es piedra y hierro; luego las arcadas
del medio son de mármol; de oro puro

la parte superior, donde en gloriosas
albas eternas se abre al infinito
la sacrosanta Rosa de las rosas.

-¡Oh, bendito el Señor!-clamé-; bendito,
que permitió al arcángel de Florencia
dejar tal mundo de misterio escrito

con lengua humana y sobrehumana ciencia,
y crear este extraño imperio eterno
y ese trono radiante en su eminencia,

ante el cual abismado me prosterno.
¡Y feliz quien al Cielo se levanta
por las gradas de hierro de su Infierno!

Y ella: -Que este prodigio diga y cante
tu voz.- Y yo: -Por el amor humano
he llegado al divino. ¡Gloria al Dante!

Ella, en acto de gracia, con la mano
me mostró de las águilas los vuelos,
y ascendió como um lirio soberano

hasta Beatriz, paloma de los cielos.
Y en el azul dejaba blancas huellas
que eran a mí delicias y consuelos.

¡Y vi que me miraban las estrellas!



VISÃO


Atrás da misteriosa selva estranha
vi que se levantava ao firmamento,
perfurada e lavrada, uma montanha,

que pousava na sombra o fundamento.
E na montanha estava o ninho erguido
do trovão, do relâmpago e do vento.

Dentre os seus arcos negros o rugido
se ouvia do leão, e, qual escura
catedral de algum deus desconhecido,

aquela fabulosa arquitetura
formada de prodígios e visões,
visão monumental, me deu tremura.

A seus pés habitavam os leões;
suas torres e flechas de ouro fino
se juntavam com as constelações.

E havia um vasto domo diamantino
onde se alçava um trono extraordinário
sobre sereno fundo azul marino.

Ferro e pedra primeiro, e mármor pário
depois, e ao alto mágicos metais.
Uma escada subia ao santuário

divino. Os esplendores siderais
as divisões da escada repartidas
de três em três banhavam. Colossais

águias coas grandes asas estendidas
contemplavam-se ao centro de estelar
atmosfera de luzes e de vidas.

E numa palidez de ouro lunar
uma alva pomba as álulas batia,
pérola alada em misterioso mar.

A montanha lavrada parecia
por algum Piranesi arquipotente,
babélico. Em seus flancos dir-se-ia

que houvera cinzelado o bloco ingente
o raio; e no alto, enfim, enorme friso
um áureo beijo recebia ardente,

beijo de luz de aurora e paraíso.
E eu na sombra gritei: -Em que lugares
hoje vaga minha alma?- De improviso,

entre cítricas flores, e colares
de branquíssimas rosas, surge Estela,
a que sói habitar os meus cantares.

E disse-me com voz de filomela:
-Não temas, não: no reino estás da lira
de Dante; e a pomba que revoa bela

na luz é Beatriz. Aqui conspira
tudo ao supremo amor e alto desejo.
Aqui chega o que adora e o que admira.

-E aquele trono, disse-lhe, que vejo?
-Nele, entre louros, é que a glória assenta
O gibelino Orfeu.- E aquém do adejo,

abaixo, é onde dormir sói a tormenta.
É onde o lobo e o leão por entre o escuro
acendem a pupila, qual violenta

brasa. E o vasto e misterioso muro
é de pedra e de ferro; essas arcadas
do meio são de mármor; de ouro puro

a parte superior, onde em gloriosas
albas eternas se abre ao infinito
a sacrossanta Flor, Rosa das rosas.

-Oh, bendito o Senhor! -clamei-; bendito,
que ao florentino arcanjo azou potência
para tal mundo de mistério escrito

com língua humana e sobre-humana ciência
deixar, e criar estranho império eterno
e esse trono de rútila eminência,

ante o qual abismado me prosterno.
E feliz quem ao Céu a alma levante
pelos férreos degraus de seu Inferno!

E ela: -Que este prodígio diga e cante
a tua voz.- E eu: -Pelo amor humano
eis que chego ao divino. Glória ao Dante!

Ela, em ato de graça, o vôo arcano
das águias me apontando na lonjura,
ascendeu como um lírio soberano

até Beatriz, pomba da etérea altura.
Brancas marcas no azul deixava, e vê-las
a minha alma consola e transfigura.

E vi que me fitavam as estrelas!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BALADA DE LA BELLA NIÑA DEL BRASIL

Existe un país encantado

donde las horas son tan bellas

que el tiempo va a paso callado

sobre diamantes, bajo estrellas.

Odas, cantares o querellas

se lanzan al aire sutil

en gloria de perpetuo Abril,

pues allí, la flor preferida

para mí es Anna Margarida,

la bella niña del Brasil.

 

Existe un mágico Eldorado

en donde Amor de rey está,

donde hay Tijuca y Corcovado

y donde canta el sabiá.

El tesoro divino da

allí mil hechizos y mil

sueños; mas nada tan gentil

como la flor de alba encendida

que he visto en Anna Margarida,

la única bella del Brasil.

 

Dulce, dorada y primorosa,

infanta de lírico rey,

es una princesita rosa

que amara Kate-Greenaway.

Buscará por la eterna ley

el pájaro azul de Tyltil,

sistro, oboe, arpa y añafil,

cuando Aurora a vivir convida,

adorable a Anna Margarida,

la niña bella del Brasil.

  

ENVIO

 

¡Princesa en flor, nada en la vida

hecho de oro, rosa y marfil,

iguala a esta joya querida:

la pequeña Anna Margarida,

la niña bella del Brasil!

 

(París, 1911]

 

 

CENTENÁRIO DE RUBÉN DARÍO NO BRASIL

 

Correios lançaram  selos da Série Relações Diplomáticas: Brasil – Nicarágua, que celebram os poetas Manoel de Barros e Rubén Darío, em 2016.. 

 

Na celebração do centenário do falecimento de Rubén Darío, foi inaugurada uma escultura em homenagem ao poeta em frente à Biblioteca Central da Universidade de Brasília, no dia 01/11/2016. Na oportunidade, foi lançado o livro Rubén Dario e o Brasil, de autoria de José Carlos Brandi Aleixo, sobre a obra do autor e mais especificamente sobre as viagens do poeta nicaraguense ao Brasil no início do século passado e suas relações com Joaquim Nabuco e com a literatura brasileira.

 

[ DARÍO, Rubén ] ALEIXO, José Carlos BrandiRubén Darío e o Brasil.  [Brasília, DF: Embaixada da Nicaragua, 2016]  40 p.

 

 

O escultor da efígie de Ruben Dario (??? Pesquisar o nome… ), o poeta Abhay K. e Antonio Miranda na oportunidade de descerramento da efígie do poeta nicaraguense em frente ao prédio da Biblioteca Central de Universidade de Brasília, 01/11/2016.

 

 


Antonio Miranda visitando a tumba do poeta Rubén Darío na Catedral de León, na Nicaragua, em 2014.


COLOQUIO DE LOS CENTAUROS

A Paul Groussac

En la isla en que detiene su esquife el argonauta
del inmortal Ensueño, donde la eterna pauta
de las eternas liras se escucha: -Isla de Oro
en que el tritón erige su caracol sonoro
y la sirena blanca va a ver el sol-, un día
se oye un tropel vibrante de fuerza y de harmonía.

Son los Centauros. Cubren la llanura. Les siente
la montaña. De lejos, forman son de torrente
que cae; su galope al aire que reposa
despierta, y estremece la hoja del laurel-rosa.

Son los Centauros. Unos, enormes, rudos; otros
alegres y saltantes como jóvenes potros;
unos, con largas barbas como los padres-ríos;
otros, imberbes, ágiles y de piafantes bríos,
y de robustos músculos, brazos y lomos, aptos
para portar las ninfas rosadas en los raptos.

Van en galope rítmico. Junto a un fresco boscaje,
frente al gran Océano, se paran. El paisaje
recibe, de la urna matinal, luz sagrada
que el vasto azul suaviza con límpida mirada.
Y oyen seres terrestres y habitantes marinos
la voz de los crinados cuadrúpedos divinos.

QUIRÓN

Calladas las bocinas a los tritones gratas,
calladas las sirenas de labios escarlatas,
los carrillos de Eolo desinflados, digamos
junto al laurel ilustre de florecidos ramos
la gloria inmarcesible de las Musas hermosas
y el triunfo del terrible misterio de las cosas.
He aqui que renacen los lauros milenarios;
vuelvel a dar su luz los viejos lampadarios;
y anímase en mi cuerpo de Centauro inmortal
la sangre del celeste caballo paternal.

RETO

Arquero luminoso, desde el Zodíaco llegas;
aún presas en las crines tienes abejas griegas;
aún del dardo herakleo muestras la roja herida
por do salir no pudo la esencia de tu vida.
¡Padre y Maestro excelso! Eres la fuente sana
de la verdade que busca la ltriste raza humana:
aún Esculapio sigue la vena de tu ciencia;
siempre el veloz Aquiles sustenta su existencia
con el manjar salvaje que le ofreciste un día,
y Herakles, descuidando su maza, en la harmonía
de los astros, se eleva bajo el cielo nocturno...

QUIRÓN

La ciencia es flor del tiempo: mi padre fue Saturno.

ABANTES

Himnos a la sagrada Naturaleza; al vientre
de la tierra y al germen que entre las rocas y entre
las carnes de los árboles, y dentro humana forma,
es un mismo secreto y es una misma norma:
potente y sutilísimo, universal resumen
de la suprema fuerza, de la virtud del Numen.

QUIRÓN

¡Himnos! Las cosas tienen un ser vital: las cosas
tienen raros aspectos, miradas misteriosas;
toda forma es un gesto, una cifra, un enigma;
en cada átomo existe un incógnito estigma;
cada hoja de cada árbol canta un propio cantar
y hay una alma en cada una de las gotas del mar;
el vate, el sacerdote, suele oír el acento
desconocido; a veces enuncia el vago viento
un misterio, y revela una inicial la espuma
o la flor; y se escuchan palabras de la bruma.
Y el hombre favorito del numen, en la linfa
o la ráfaga, encuentra mentor: -demonio o ninfa.

FOLO

El biforme ixionida comprende de la altura.
por la materna gracia, la lumbre que fulgura,
la nube que se anima de luz y que decora
el pavimento en donde rige su carro Aurora,
y la banda de Iris que tiene siete rayos
cual la lira en sus brazos siete cuerdas; los mayos
en la fragante tierra llenos de ramos bellos,
y el Polo coronado de cándidos cabellos.
El ixionida pasa veloz por la montaña,
rompiendo con el pecho de la maleza huraña
los erizados brazos, las cárceles hostiles;
escuchan sus orejas los ecos más sutiles;
sus ojos atraviesan las intrincadas hojas,
mientras sus manos toman para sus bocas rojas
las frescas bayas altas que el sátiro codicia;
junto a la oculta fuente su mirada acaricia
las curvas de las ninfas del séquito de Diana;
pues en su cuerpo corre también la esencia humana,
unida a la corriente de la savia divina
y a la salvaje sangre que hay en la bestia equina.
Tal el hijo robusto de Ixión y de la Nube.

QUIRÓN

Sus cuatro patas, bajan; su testa erguida, sube.



ORNEO

Yo comprendo el secreto de la bestia. Malignos
seres hay y benignos. Entre ellos hacen signos
de bien y mal, de odio o de amor, o de pena
o gozo; el cuervo es malo y la torcaz es buena.

QUIRÓN

Ni es la torcaz benigna ni es el cuervo protervo:
son formas del Enigma la paloma y el cuervo.

ASTILO

El Enigma es el solo que hace cantar la lira.

NESO

¡El Enigma es el rostro fatal de Deyanira!
Mi espalda aún guarda el dulce perfume de la bella;
aún mis pupilas llama su claridad de estrella.
¡Oh aroma de su sexo!, ¡oh rosas y alabastros!,
¡oh envidia de las flores y celos de los astros!

QUIRÓN

Cuando del sacro abuelo la sangre luminosa
con la marina espuma formara nieve y rosa,
hecha de rosa y nieve nació la Anadiomena.
Al cielo alzó los brazos la lírica sirena;
los curvos hipocampos sobre las verdes ondas
levaron los hocicos; y caderas redondas,
tritónicas melenas y dorsos de delfines
junto a la Reina nueve se vieron. Los confines
del mar llenó el grandioso clamor; el universo
sintió que un nombre harmónico, sonoro como un verso,
llenaba el hondo hueco de la altura; ese nombre
hizo gemir la tierra de amor: fue para el hombre
más alto que el de Jove, y los númenes mismos
lo oyeron asombrados; los lóbregos abismos
tuvieron una gracia de luz. ¡VENUS impera!
Ella es entre las reinas celestes la primera,
pues es quien tiene el fuerte poder de la Hermosura.
¡Vaso de miel y mirra brotó de la amargura!
Ella es la más gallarda de las emperatrices,
princesa de los gérmenes, reina de las matrices,
señora de las savias y de las atracciones,
señora de los besos y de los corazones.

EURITO

¡No olvidaré los ojos radiantes de Hipodamia!

HIPEA

Yo sé de la hembra humana la original infamia.
Venus anima artera sus máquinas fatales;
tras los radiantes ojos ríen traidores males;
de su floral perfume se exhala sutil daño;
su cráneo obscuro alberga bestialidad y engaño.
Tiene las formas puras del ánfora, y la risa

del agua que la brisa riza y el sol irisa;
mas la ponzoña ingénita su máscara pregona:
mejores son el águila, la yegua y la leona.
De su húmeda impureza brota el calor que enerva
los mismos sacros dones de la imperial Minerva;
y entre sus duros pechos, lirios del Aqueronte,
hay un olor que llena la barca de Caronte.

ODITES

Como una miel celeste hay en su lengua fina;
su piel de flor, aún húmeda está de agua marina.
Yo he visto de Hipodamia la faz encantadora,
la cabellera espesa, la pierna vencedora.
Ella de la hembra humana fuera ejemplar augusto;
ante su rostro olímpico no habría rostro adusto;
las Gracias junto a ella quedarían confusas,
y las ligeras Horas y las sublimes Musas
por ella detuvieran sus giros y su canto.

HIPEA

Ella la causa fuera de inenarrable espanto:
por ella ell ixionida dobló su cuello fuerte.
La hembra humana es hermana del Dolor y la Muerte.

QUIRÓN

Por suma ley, un día llegará el himeneo
que el soñador aguarda: Cinis será Ceneo;
claro será el origen del femenino arcano:
la Esfinge tal secreto dirá a su soberano.

CLITO

Naturaleza tiende sus brazos y sus pechos
a los humanos seres; la clave de los hechos
conócela el vidente: Homero, con su báculo;
en su gruta Deífobe, la lengua del Oráculo.

CAUMANTES

El monstruo expresa un ansia del corazón del Orbe;
en el Centauro bruto la vida humana absorbe;
el sátiro es la selva sagrada y la lujuria:
une sexuales ímpetus a la harmoniosa furia;
Pan junta la soberbia de la montaña agreste
al ritmo de la imensa mecánica celeste;
la boca melodiosa que atrae en Sirenusa,
es de la fiera alada y es de la suave musa;
con la bicorne bestia Pasifae se ayunta.
Naturaleza sabia, formas diversas junta,
y cuando tiende al hombre la grande Naturaleza,
el monstruo, siendo el símbolo, se viste de belleza.

GRINEO

Yo amo lo inanimado que amó el divino Hesiodo.

QUIRÓN

Grineo, sobre el mundo tiene un ánima todo.

GRINEO

He visto, entonces, raros ojos fijos en mí:
los vivos ojos rojos del alma del rubí;
los ojos luminosos del alma del topacio,
y los de la esmeralda que del azul espacio
la maravilla imitan; los ojos de las gemas
de brillos peregrinos y mágicos emblemas.
Amo el granito duro que el arquitecto labra
y el mármol en que duerme la línea y la palabra.

QUIRÓN

A Deucalión y a Pirra, varones y mujeres,
las piedras aún intactas, dijeron: "¿Qué nos quieres?"

LÍCIDAS

Yo he visto los lemures flotar, en los nocturnos
instantes, cuando escuchan los bosques taciturnos
el loco grito de Atis qu su dolor revela
o la maravillosa canción de Filomela.
El galope apresuro, si en el boscaje miro
manes que pasan, y oigo su fúnebre suspiro.
Pues de la Muerte el hondo, desconocido Imperio,
guarda el pavor sagrado de su fatal misterio.

ARNEO

La Muerte es de la Vida la inseparable hermana.

QUIRÓN

La Muerte es la victoria de la progenie humana.

MEDÓN

¡La Muerte! Yo la he visto. No es demacrada y mustia,
ni ase corva guadaña, ni tiene faz de angustia.
Es semejante a Diana, casta y virgen como ella;
en su rostro hay la gracia de la núbil doncella
y lleva una guirnalda de rosas siderales.
En siniestra tiene verdes palmas triunfales,
y en su diestra una copa con agua del olvido.
A sus pies, como um perro, yace un amor dormido.

AMICO

Los mismos dioses buscan la dulce paz que vierte.

QUIRÓN

La pena de los dioses es no alcanzar la Muerte.

EURITO

Si el hombre -Prometeo- pudo robar la vida,
la clave de la Muerte serále concedida.

QUIRÓN

La virgen de las vírgenes es inviolable y pura.
Nadie su casto cuerpo tendrá en la alcoba obscura,
ni beberá en sus labios el grito de victoria,
ni arrancará a su frente las rosas de su gloria.
........................................................................


*

Mas he aquí que Apolo se acerca al meridiano.
Sus truenos prolongados repite el Oceano.
Bajo el dorado carro del reluciente Apolo
vuelve a inflar sus carrillos y sus odres Eolo.
A lo lejos, un templo de mármol se divisa
entre laureles-rosa que hace cantar la brisa.
Con sus vibrantes notas, de Céfiro desgarra
la veste transparente la helénica cigarra,
y por el llano extenso van en tropel sonoro
los Centauros, y al paso, tiembla la Isla de Oro.

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS

Tradução de Anderson Braga Horta

 




COLÓQUIO DOS CENTAUROS

A Paul Groussac
Traduzido por Anderson Braga Horta


Na ilha em que conserva seu esquife o argonauta
do imorredouro Sonho -Ilha de Ouro, em que à pauta
das liras eternais se escuta o fluir canoro,
em que o tritão levanta seu caracol sonoro
e onde a sereia branca vai ver o sol-, um dia,
se ouve um tropel vibrante de força e de harmonia.

São os Centauros. Cobrem a planície, e os pressente
a montanha. De longe, formam sons de torrente
que tomba; seu galope a aragem preguiçosa
desperta, e faz tremer a folha ao louro-rosa.

São os Centauros. Uns, enormes, rudes; outros
alegres, saltitantes - adolescentes potros;
com grandes barbas uns, assim como os pais-rios;
outros, imberbes, ágeis e de piafantes brios,
e de robustos músculos, braços e lombos, aptos
a carregar as belas, róseas ninfas nos raptos.

Vão em galope rítmico. Junto a fresca boscagem,
em frente ao grande Oceano, param. A paisagem
recebe em face, da urna matinal, luz sagrada
que o vasto azul suaviza com límpida mirada.
E ouvem seres terrestres e habitantes marinos
o vozear dos comados quadrúpedes divinos.

QUÍRON

Calada a voz das trompas, que aos tritões tanto é grata,
caladas as sereias de lábios de escarlata,
as bochechas de Eolo desinfladas, digamos,
junto ao loureiro ilustre de florescidos ramos,
das Musas harmoniosas a imarcescível glória,
do mistério terrível das coisas a vitória.
Eis aqui renascentes os louros milenários;
de novo fazem luz os velhos lampadários;
e anima-se em meu corpo de Centauro imortal
o sangue do celeste cavalo paternal.

RETO

Arqueiro luminoso, do Zodíaco chegas;
ainda presas nas crinas trazes abelhas gregas;
do herácleo dardo mostras ainda a rubra ferida
por onde sair não pôde a essência de tua vida.
Excelso Pai e Mestre! És a fonte que mana
a verdade que busca a triste raça humana:
ainda Esculápio segue o veio a tua ciência;
sempre o veloz Aquiles sustenta a existência
com o selvagem manjar que lhe ofertaste um dia,
e Héracles, descuidando a maça, na harmonia
das estrelas, se eleva sob o pálio noturno...

QUÍRON

A ciência é flor do tempo: o meu pai foi Saturno.

ABANTE

Hinos à Natureza sagrada; hinos ao ventre
da terra e hinos ao gérmen que entre os rochedos e entre
as carnes vegetais e sob a humana forma
é um mesmo segredo e é uma mesma norma:
possante e sutilíssimo universal, resume
a suprema potência, a virtude do Nume.

QUÍRON

Hinos! As coisas têm um ser vital: ciosas,
têm aspectos ocultos, miradas misteriosas;
toda forma é um gesto, uma cifra, um enigma;
em cada átomo existe um incógnito estigma;
na árvore, cada folha canta um próprio cantar
e tem uma alma, enfim, cada gota do mar;
o vate, o sacerdote costuma ouvir o acento
desconhecido; às vezes profere o vago vento
um mistério, e revela uma inicial a espuma
ou a flor; e palavras escutam-se na bruma.
E o homem favorito do nume, em meio à linfa
ou à lufada, encontra mentor: - demônio ou ninfa.

FOLO

O biforme ixiônida compreende da altura,
pela materna graça, o lume que fulgura,
a nuvem que se anima de luz e que decora
o pavimento em que alta rege o seu carro Aurora,
mais a banda de Íris, que conta sete raios
qual a lira em seus braços sete cordas; os maios
na odorífera terra cheios de ramos belos,
e o Pólo coroado de cândidos cabelos.
O ixiônida passa veloz pela montanha,
com o peito rompendo das ervas más a sanha
- os eriçados braços, os cárceres hostis;
escutam-lhe as orelhas os ecos mais sutis;
seus olhos atravessam a intrincada folhagem,
enquanto as mãos agarram para a boca selvagem
as frescas bagas altas que o sátiro cobiça;
junto de oculta fonte o olhar se lhe espreguiça
sobre as curvas das ninfas do séquito de Diana;
pois em seu corpo corre também a essência humana,
e é uma corrente só com a seiva divina
e com o selvagem sangue que move a besta eqüina.
Tal de Ixião e da Nuvem o robusto rebento.

QUÍRON

As quatro patas baixam; ergue-se a testa ao vento.

ORNEU

Eu compreendo o segredo do animal. Há malignos
seres, e os há benignos. Cruzam-se entre eles signos
de bem e mal, de ódio ou de amor, ou de pena
ou gozo; o corvo é mau e a trocal é serena.

QUÍRON

Não, nem esta é benigna nem é aquele torvo:
formas do Enigma são ambos, a pomba e o corvo.

ÁSTILO

Acho que o Enigma é o sopro que faz cantar a lira.

NESSO

Eu, que o Enigma é o rosto fatal de Dejanira!
Minha espalda ainda guarda o doce odor da bela;
ainda atrai-me as pupilas o seu clarão de estrela.
O aroma de seu sexo! Oh rosas e alabastros!
oh inveja das flores e ciúme dos astros!

QUÍRON

Quando do sacro avô a essência luminosa
com a marina espuma compôs-se em neve e rosa,
nasceu Anadiomene, de rosa e neve feita.
Ao céu alçou os braços a sirena perfeita;
os curvos hipocampos por sobre as verdes ondas
ergueram os focinhos; e cadeiras redondas,
tritônicas melenas e dorsos de delfins
junto à Rainha nova se viram. Os confins
do mar enche o grandioso clamor; e o universo
sente que um nome harmônico, sonoro como um verso,
enche os espaços vagos, as alturas atroa,
faz a terra gemer de amor, aos homens soa
mais alto que o dos deuses, que sobre os cataclismos
o escutam assombrados. E os lôbregos abismos
tiveram uma graça de luz. VÊNUS impera,
primeira entre as rainhas da celestial esfera!
Pois é quem tem o forte poder da Formosura.
Vaso de mel e mirra germinou da amargura!
Ela é a mais galharda dentre as imperatrizes,
a princesa dos germens, rainha das matrizes,
a regente das seivas, essências, atrações,
a senhora dos beijos e, enfim, dos corações.

ÊURITO

Ah! não esqueço os olhos radiantes de Hipodâmia!

HIPE

Eu sei da fêmea humana a original infâmia.
Vênus lhe anima astuta as máquinas desleais;
sob os radiantes olhos riem males fatais;
de seu floral perfume se exala sutil dano;
seu crânio escuro alberga bestialidade e engano.
As formas puras tem de uma ânfora, eletriza
com um rir de água que frisa a brisa e o sol irisa;
mas a peçonha ingênita sua máscara apregoa:
são melhores, decerto, a águia, a égua e a leoa.
Sua úmida impureza gera o calor que enerva
até os sacros dons da imperial Minerva;
e de seus duros peitos, os lírios do Aqueronte,
sobe um olor que inunda a barca de Caronte.

ODITES

Há como um mel celeste em sua língua fina;
sua pele de flor rora ainda a água marina.
Eu já vi de Hipodâmia a face encantadora,
a cabeleira espessa, a perna vencedora.
Ela da fêmea humana foi augusto exemplar;
ante o seu rosto olímpico não se continha o olhar;
as Graças perto dela ficariam confusas;
tanto as ligeiras Horas quanto as sublimes Musas
por ela deteriam seus giros e seu canto.

HIPE

Ela o motivo foi de indizível espanto:
o ixiônida por ela dobrou a cerviz forte.
Da fêmea humana são irmãs a Dor e a Morte.

QUÍRON

Por suma lei, um dia chegará o himeneu
que o sonhador aguarda: Cênis será Ceneu;
clara será a origem do feminino arcano:
a Esfinge tal segredo dirá a seu soberano.

CLITO

Pródiga, Natureza os seus braços e peitos
tende aos humanos seres; a explicação dos feitos,
sabe-a o vidente: lembro Homero, com seu báculo;
em sua gruta Deífobe lembro, a língua do Oráculo.

CAUMAS

O monstro expressa uma ânsia do coração do Orbe;
nos Centauros o bruto a vida humana absorbe;
o sátiro é a selva sagrada e a luxúria:
une ímpetos sexuais à harmoniosa fúria;
Pã junta a soberbia da alta montanha agreste
ao ritmo da sublime mecânica celeste;
a boca melodiosa que atrai em Sirenusa
tanto é da fera alada quanto da suave musa;
com a bicorne besta Pasífaa se ajunta.
Natura sábia formas diversas toma e junta,
e, quando tende ao homem a grande Natureza,
o monstro, sendo o símbolo, se veste de beleza.

GRINEU

Eu amo o inanimado que amou, inda que rudo,
Hesíodo, o divino.


QUÍRON


Tudo tem alma, tudo.

GRINEU

Vi, houve um tempo, raros olhos fixos em mim:
os vivos olhos rubros que é a alma do rubim;
os olhos luminosos da alma das esmeraldas,
e os olhos da safira, que às cérulas grinaldas
a maravilha imitam; ah os olhos das gemas
de brilhos peregrinos e mágicos emblemas!
Amo o granito duro que o arquiteto lavra
e o mármore em que dorme a linha e a palavra.

QUÍRON

A Deucalião, e a Pirra, os varões e as mulheres,
pedras ainda intactas, disseram: "Que nos queres?"

LÍCIDAS

Eu tenho visto os lêmures flutuando, nos noturnos
instantes quando escutam os bosques taciturnos
o louco grito de Átis que a imensa dor revela
ou a maravilhosa canção de Filomela.
O galope acelero se na boscagem miro
manes que passam, e ouço seu fúnebre suspiro.
Pois que da Morte o fundo, desconhecido Império,
guarda o pavor sagrado de seu fatal mistério.

ARNEU

A Morte é inseparável da Vida, a irmã germana.

QUÍRON

A Morte é a vitória da linhagem humana.

MÉDON

A Morte! Eu bem a vi. Não é triste nem seca,
não carrega uma foice, nem tem a face peca.
É semelhante a Diana, casta e virgem como ela;
no rosto o encanto, a graça tem da núbil donzela
e leva uma grinalda de rosas siderais.
Tem na sinistra mão verdes palmas triunfais
e na destra uma taça cheia de água do olvido.
A seus pés, como um cão, jaz um amor dormido.

ÂMICO

Mesmo os deuses quiseram-lhe da doce paz a sorte.

QUÍRON

Esta é a pena dos deuses: não alcançar a Morte.

ÊURITO

Se o homem -Prometeu- pôde roubar a vida,
da Morte um dia a chave ser-lhe-á concedida.

QUÍRON

É a virgem das virgens inviolável e pura.
Ninguém seu casto corpo terá na alcova escura;
ninguém bebe em seus lábios o grito de vitória,
nem lhe arranca da fronte a grinalda de glória.
....................................................................................

*

Mas aqui eis que Apolo se acerca ao meridiano.
Seus prolongados trons repete o Oceano.
Sob o dourado carro do reluzente Apolo
volta a inflar as bochechas e a encher os odres Eolo.
Ora um templo de mármore ao longe se divisa
por entre louros-rosa que faz cantar a brisa.
Com as vibrantes notas, de Zéfiro desgarra
a veste transparente a helênica cigarra,
e vai no plaino extenso o grupo imorredouro
dos Centauros, e ao passo estremece a Ilha de Ouro.
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Tradução de Manuel Bandeira:

 

         BALADA DA LINDA MENINA DO BRASIL

         Existe um país encantado
         No qual as horas são tão belas,
         Que o tempo decorre calado
         Sobre diamantes, sob estrelas.
         Odes, cantares ou querelas
         Se derramam pelo ar sutil
         Em glória do perpétuo abril...
         Pois ali a flor preferida
         Para mim é Ana Margarida,
         Linda menina do Brasil.

Doce, dourada e primorosa,
Infanta de lírico rei,
É uma princesa cor de rosa
Que amara a Katy Grenaway.
Buscará pela eterna lei
O passar azul de Tiltil,
Quando entre cantos de anafil
E harpa a aurora a viver convida,
A essa rara Ana Margarida,
Linda menina do Brasil

          Oferta

Princesa em flor, nada na vida,
Por mais gracioso ou senhoril,
Iguala esta joia querida:
A pequena Ana Margarida,
Linda menina do Brasil.

Existe um mágico Eldorado
(E Amor como seu rei lá está),
Onde há Tijuca e Corcovado
E onde gorjeia o sabiá.
O tesouro divino dá
Ali mil feitiços e mil
Sonhos: mas nada tão gentil
Como a luz de aurora incendida
Que brilha em Ana Margarida
— A flor mais linda do Brasil.

          (Trad. de Manuel Bandeira)
         

 

 

 

 

A ROOSEVELT

 

          ¡Es con voz de la Biblia, o verso de Walt Whitman,
que habría que llegar hasta ti, Cazador!
¡Primitivo y moderno, sencillo y complicado,
con un algo de Washington y cuatro de Nemrod!

 

          Eres los Estados Unidos, eres el futuro invasor

de la América ingenua que tiene sangre indígena,
que aun reza a Jesucristo y aun habla en español.

 

Eres soberbio y fuerte ejemplar de tu raza;
eres culto, eres hábil; te opones a Tolstoy.
Y domando caballos, o asesinando tigres,
eres un Alejandro-Nabucodonosor.
(Eres un profesor de energía,
como dicen los locos de hoy)

 

Crees que la vida es incendio,
que el progreso es erupción;
en donde pones la bala
el porvenir pones.

                          No.

 

Los Estados Unidos son potentes y grandes.
Cuando ellos se estremecen hay un hondo temblor
que pasa por las vértebras enormes de los Andes.
Si clamáis, se oye como el rugir del león.

 

Que sientan las naciones
el volar de tu carro, que hallen los corazones
humanos en el brillo de tu carro, esperanza;
que del alma-Quijote, y el cuerpo-Sancho Panza
vuele una psique cierta a la verdad del sueño;
que hallen las ansias grandes de este vivir pequeño
una realización invisible y suprema;
¡Helios! ;Que no nos mate tu llama que nos quema!
Gloria hacia ti del corazón de las manzanas,
de los cálices blancos de los lirios,
y del amor que manas
hecho de dulces fuegos y divinos martirios,
y del volcán inmenso,
y del hueso minúsculo,
y del ritmo que pienso,
y del ritmo que vibra en el corpúsculo,
y del Oriente intenso
y de la melodía del crepúsculo.

 

¡Oh ruido divino!

Pasa sobre la cruz del palacio que duerme,
y sobre el alma inerme
de quien no sabe nada. No turbes el destino,
¡oh ruido sonoro!

El hombre, la nación, el continente, el mundo,
aguardan la virtud de tu carro fecundo,
¡cochero azul que riges los caballos de oro!

 

(¿1903?)

[Cantos de vida y esperanza]

 

 

 

 

A ROOSEVELT

         

          É com a voz da Bíblia, o verso de Walt Whitman,
que deveríamos chegar ante ti, Caçador!
Primitivo e moderno, simples e complicado,|
com algo de Washington e quatro de Nemrod!

         

          És os Estados Unidos,
és o futuro invasor
da América ingênua que carrega o sangue indígena,
que ainda reza para Jesus Cristo e ainda fala espanhol.

 

          És soberbo e forte exemplar de tua raça;
          culto és, e hábil; te opões a Tolstoi,
          és um Alexandre-Nabucodonosor.
          (És um professor de energia,
          como dizem os loucos de agora)

 

          Acreditas que a vida é incêndio,
          que o progresso é erupção;
          onde colocas o projetil
          o porvir pões.
                               Não.

 

Os Estados Unidos são poderosos e grandes.
Quando eles estremecem provocam um enorme tremor
que passa pelas vértebras enormes dos Andes.
Si clamais, se ouve como um rugir de leão.

 

Que as nações sintam
o voar de teu carro, que atingem os corações
humanos no brilho de teu carro, esperança;
que da alma-Quixote, e o corpo-Sancho Pança
voe uma psique certa à verdade do sonho;
que atinjam as ânsias enormes deste viver pequeno
uma realização invisível e suprema;
Hélios! Que não nos mate tua chama que nos queima!
          Glória para ti do coração das maçãs,
          dos cálices brancos dos lírios,
          e do amor que emana
          feito de doces fogos e divinos martírios,
          e do vulcão imenso,
          e do osso minúsculo,
          e do ritmo que penso,
          e do ritmo que vibra no crepúsculo,
          e do Oriente intenso
          e da melodia do crepúsculo.

 
          Oh ruído divino!
         
Passa sobre a cruz do palácio que dorme,
          e sobre a alma inerme
          de quem não sabe nada.  Não turves o destino,
          oh ruído sonoro!
          O homem, a nação, o continente, o mundo,
          aguardam a virtude de teu carro fecundo,
          cocheiro azul que reges os cavalos de ouro!

 

          (Tradução: Antonio Miranda)

 

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Tradução de Manuel Bandeira:

 

BALADA DA LINDA MENINA DO BRASIL

Existe um país encantado
N qual as horas são tão belas,
Que o tempo decorre calado
Sobre diamantes, sob estrelas.
Odes, cantares ou querelas
Se derramam pelo ar sutil
Em glória do perpétuo abril...
Pois ali a flor preferida
Para mm é Ana Margarida,
Linda menina do Brasil.

Doce, dourada e primorosa,
Infanta de lírico rei,
É uma princesa cor de rosa
Que amara a Katy Grenaway.
Buscará pela eterna lei
O pássaro azul de Tyltil,
Quando entre cantos de anafil
E harpa a aurora a viver convida,
A essa rara Ana Margarida,
Linda menina do Brasil.

          Oferta

Princesa em flor, nada na vida,
Por mais gracioso ou senhoril,
Iguala esta joia querida:
A pequena Ana Margarida,
Linda menina do Brasil!

Existe um mágico Eldorado
(E Amor como seu rei lá está),
Onde há Tijuca e Corcovado
E onde gorjeia o sabiá.
O tesouro divino dá
Ali mil feitiços e mil
Sonhos: mas nada tão gentil
Como a luz de aurora incendida
Que brilha em Ana Margarida
— A flor mais linda do Brasil.

 

Tradução de Manuel Bandeira. Extraído de BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos.  Rio de Janeiro: Editora Globo, 1948.

 

 

TRADUÇÕES DE SOLON BORGES DOS REIS:

 

 

Amo, amas

Amar, amar, amar, amar siempre, con todo
el ser y con la tierra y con el cielo,
con lo claro del sol y lo oscuro del lodo;
amar por toda ciencia y amar por todo anhelo.
Y cuando la montaña de la vida
nos sea dura y larga y alta y llena de abismos,
amar la inmensidad que es de amor encendida
¡y arder en la fusión de nuestros pechos mismos!

 

 

       

        Amo, amas

 

        Amar, amar, amar, amar sempre e com todo
        o ser e com a terra e com o céu, de sobejo,
        com o claro do sol e o escuro do lodo.
        Amar por toda ciência e por todo desejo.

 

        E quando nos seja dura e longa, e alta, a montanha
                                                                      da vida
        e os caminhos à frente com abismos feitos,
        amar a imensidão que arde no amor nutrida
        e arder na fusão de nossos próprios peitos...

 

 

 

Lo Fatal  

 

Dichoso el árbol, que es apenas sensitivo,

y más la piedra dura porque esa ya no siente,

pues no hay dolor más grande que el dolor de ser vivo,

ni mayor pesadumbre que la vida consciente.

 

Ser y no saber nada, y ser sin rumbo cierto,

y el temor de haber sido y un futuro terror...

Y el espanto seguro de estar mañana muerto,

y sufrir por la vida y por la sombra y por

 

lo que no conocemos y apenas sospechamos,

y la carne que tienta con sus frescos racimos,

y la tumba que aguarda con sus fúnebres ramos,

 

¡y no saber adónde vamos,

ni de dónde venimos!...

 

 

 

        O Fatal

 

        Ditosa, a árvore, ser apenas sensitivo,
        E mais a pedra dura, que essa já não sente,
        Pois não há dor maior que a dor de ser vivo,
        Nem há maior pesar que a vida consciente.
        Ser, e não saber nada, e ser sem rumo certo,
        E o temor de ter sido e um futuro terror...
        E o espanto seguro de amanhã estar morto.
        E sofrer pela vida e pela sombra e por
        Aquilo que não conhecemos e apenas suspeitamos.
        E a carne que tente em atrativos supremos
        E a tumba que aguarda com seus fúnebres ramos,
        E não saber aonde vamos,
        Nem de onde viemos...

 

Abrojos - XVII

 

Cuando la vio pasar el pobre mozo

y oyó que le dijeron: ¡Es tu amada!...

            lanzó una carcajada,

pidió una copa y se bajó el embozo.

¡Que improvise el poeta!

                        Y habló luego

del amor, del placer, de su destino...

Y al aplaudirle la embriagada tropa,

se le rodó una lágrima de fuego,

que fue a caer al vaso cristalino.

Después, tomó su copa

¡y se bebió la lágrima y el vino!

 

 

 

        Quando a viu passar o pobre moço

 

        Quando a viu passar o pobre moço
        e ouviu que lhe disseram: “É tua amada!...”
        soltou uma gargalhada,
        pediu um copo e disfarçou o rosto

 

        — Que improvise o poeta

 

        E falou logo
        do amor, do prazer, de seu destino...
        E ao aplaudir-lhe a embriagada gente,
        escorreu-lhe uma lágrima de fogo
        que foi cair no copo de mansinho

 

        Depois tomou o copo, tristemente,
        e bebeu a lágrima e o vinho!

 

 

 

Página ampliada em dezembro de 2019

 


 

 

 

 



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