PÁGINA ELABORADA POR
FLORIANO MARTINS
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EDUARDO LIZALDE
MÉXICO (1929)
Eduardo Lizalde (Ciudad de México, 1929). Poeta, narrador y ensayista. Estudió Filosofía y música en la Universidad Nacional Autónoma de México. Es uno de los grandes exponentes de la actual poesía mexicana. Ha ocupado diversos cargos en el campo universitario, artístico y cultural. Hizo parte del grupo poético fundado en compañía de Enrique González Rojo y Marco Antonio Montes de Oca. Fue director de la Casa del Lago de la UNAM, director general de Publicaciones y Medios de la Secretaría de Educación Pública, y director de Ópera del Instituto Nacional de Bellas Artes. Actualmente dirige la Biblioteca Nacional de México. Su obra poética iniciada con "La mala hora" en 1956, fue seguida por otras publicaciones entre las que se destacan, "Cada cosa es Babel" en 1966, "El tigre en la casa" en 1970, "La zorra enferma" en 1974, "Caza mayor" en 1979, "Tabernarios y eróticos" en 1989, "Rosas" en 1994 y "Otros tigres" en 1995. En 1984 le fue concedida la beca de la Fundación John Simon Guggenheim. Su obra ha sido distinguida con importantes galardones: el Premio Xavier Villaurrutia en 1969, el Premio Nacional de Poesía Aguascalientes en 1974, el Premio Nacional de Lingüística y Literatura en 1988, y el Premio Iberoamericano de Poesía Ramón López Velarde en 2002. (Fuente de la bibliografía: http://letras.s5.com
Obra poética
La mala hora. […] México. 1956.
La cámara. […] México. 1960.
Cada cosa es Babel. […] México. 1966.
El tigre en la casa. […] México. 1970.
La zorra enferma. Joaquín Mortiz Editor. México. 1975.
Caza mayor. […] México. 1979.
Memoria del tigre. […] Katún. 1983.
Tabernarios y eróticos. Editorial Vuelta. México. 1988.
Na idéia de beleza está implícita a ideia do horror. Qualquer outra concepção será vácua e possivelmente ingênua. Nos animais, se observarmos bem, se cumpre cabalmente esta dupla fascinação. A raposa simboliza a astúcia, é uma imagem que está presente em Blake e na Bíblia. É um animal que sempre está à distância e que ocupa sua vida em demarcar seu terreno. Cristo é, ao mesmo tempo, a imagem do tigre e do cordeiro, é o bem e é a destruição porque é, antes de tudo, a imagem terrenal de Deus. A raposa é o animal voraz, maligno, por natureza, e quando está doente, ou impossibilitada, se torna ainda mais perigosa.
[…]
Sou um cético radical. Gostaria que o homem fosse melhor, que a humanidade caminhasse para um mundo mais justo. É por isto que em Caza mayor fala do desaparecimento do homem, do tigre infernal e celestial. Desgraçadamente essa espécie está desaparecendo. Já não há tigres em Sumatra, já não há tigres na Índia, restam uns 400 em todo o planeta. E, em troca, é uma lástima que cresça a raça humana, que é muito menos bela e muito mais bestial que o tigre; prosperam os ratos e prospera a imundície ambiental. Esta ideia de extinção está tomada do Eclesiastes, que é a visão apocalíptica no sentido de que tudo haverá de terminar.
[…]
Ao reler Baudelaire topei com uma extraordinária e lúcida contribuição sua. Em um de seus textos Baudelaire indaga: “Que é a arte?” e depois de sucintas reflexões determina que a arte é desfiguração, que a arte não imita necessariamente a realidade, porque está marcada pelo enigma, daí o caráter de uma revelação. A mímesis aristotélica de certa maneira é o mesmo, ainda que Aristóteles tenha dito sob outros preceitos, ou seja, que a imitação deve ser iluminadora, já que a realidade é tão vasta que sempre oferece novas figuras. A propósito desta idéia me vem à mente algo com que lutei durante muitos anos e que era nada menos que suprimir o significado verdadeiro de uma metáfora. A princípio de contas a metáfora não abarca, como às vezes se acredita, todo o sentido que o poeta tenta lhe dar; sempre transpassa a ambiguidade e o caráter emocional que dela emana. De maneira que trabalhar somente com metáforas faz da poesia algo absolutamente tedioso. Creio que o conceito pode levar, em troca, a insuspeitados estágios da percepção.
[…]
O tom epigramático de minha poesia me economizou incontáveis investigações ensaísticas, não obstante, detrás de duas linhas epigramáticas está contida uma profunda reflexão e, quanto à imagem do tigre, o contemplador por excelência e o que atua no momento mais adequado, sigo sendo fiel ao que sua beleza ambivalente projeta: serenidade e violência, temeridade e tédio, memória e sublimação, potências que insinuam sua majestosidade e que sempre são dignas de celebrar.
EDUARDO LIZALDE
(“Las andanzas del tigre”, entrevista concedida a Daniel Sada. Revista Periódico de Poesía # 4. México, 1993.)
TEXTOS EN ESPAÑOL - TEXTOS EM PORTUGUêS
Tradução de Floriano Martins
GRANDE ES EL ODIO
1
Grande y dorado, amigos, es el odio.
Todo lo grande y lo dorado
viene del odio.
El tiempo es odio.
Dicen que Dios se odiaba en acto,
que se odiaba con fuerza
de los infinitos leones azules
del cosmos;
que se odiaba
para existir.
Nacen del odio, mundos,
óleos perfectísimos, revoluciones,
tabacos excelentes.
Cuando alguien sueña que nos odia, apenas,
dentro del sueño de alguien que nos ama,
ya vivimos el odio perfecto.
Nadie vacila, como en el amor,
a la hora del odio.
El odio es la sola prueba indudable
de la existencia.
2
Y el miedo es una cosa grande como el odio.
El miedo hace existir a la tarántula,
la vuelve cosa digna de respeto,
la embellece en su desgracia,
rasura sus horrores.
Qué sería de la tarántula, pobre,
flor zoológica y triste,
si no pudiera ser ese tremendo
surtidor de miedo,
ese puño cortado
de un simio negro que enloquece de amor.
La tarántula, oh Bécquer,
que vive enamorada
de una tensa magnolia.
Dicen que mata a veces,
que descarga sus iras en conejos dormidos.
Es cierto,
pero muerde y descarga sus tinturas internas
contra otro,
porque no alcanza a morder sus propios miembros,
y le parece que el cuerpo del que pasa,
el que amaría si lo supiera,
es el suyo.
4
Aunque alguien crea que el terror
no es sino el calcetín de la ternura
vuelto al revés,
sus pastos no son esos.
No están ahí los comederos
del terror.
La ternura no existe sino para Onán.
Y nadie es misericordioso
sino consigo mismo.
Nadie es tierno, ni bueno,
ni grandioso en el amor
más que para sus vísceras.
La perra sueña que da su amor al niño,
Goza amamantándolo.
Reino es la soledad de todas las ternuras.
Sólo el terror despierta a los amantes.
5
Para el odio escribo.
Para destruirte, marco estos papeles.
Exprimo el agrio humor del odio
en esta tinta,
hago temblar la pluma.
En estas hojas,
que escupo hasta secarme, arrojo
Todo el odio que tengo.
Y es inútil. Lo sé.
Sólo te digo una cosa:
si estas últimas líneas
fueran gotas,
serían de orines.
6
De pronto, se quiere escribir versos
que arranquen trozos de piel
al que los lea.
Se escribe así, rabiosamente,
destrozándose el alma contra el escritorio,
ardiendo de dolor,
raspándose la cara contra los esdrújulos,
asesinando teclas con el puño,
metiéndose pajuelas de cristal entre las uñas.
Uno se pone a odiar como una fiera,
entonces,
y alguien pasa y le dice:
“vete a cenar, tigrillo,
la leche está caliente”.
GRANDE É O ÓDIO
1
Grande e dourado, amigos, é o ódio.
Todo o grande e dourado
vem do ódio.
O tempo é ódio.
Dizem que Deus se odiava em ato,
que se odiava com a força
dos infinitos leões azuis
do cosmos;
que se odiava
para existir.
Nascem do ódio, mundos,
óleos perfeitíssimos, revoluções,
tabacos excelentes.
Quando sonha alguém que nos odeia, apenas,
dentro do sonho de alguém que nos ama,
já vivemos no ódio perfeito.
Ninguém vacila, como no amor,
na hora do ódio.
O ódio é a única prova indubitável
da existência.
2
E o medo é uma coisa grande como o ódio.
O medo faz com que exista a tarântula,
torna-a coisa digna de respeito,
a embeleza em sua desgraça,
apaga seus horrores.
Que seria a tarântula, pobre,
flor zoológica e triste,
não pudesse ser esse tremendo
causador de medo,
esse punho cortado
de um negro símio que enlouquece de amor.
A tarântula, oh Bécquer,
que vive enamorada
de uma tensa magnólia.
Dizem que às vezes mata,
que descarrega suas iras em coelhos adormecidos. É certo,
porém morde e desgarrega suas tinruras internas contra outro,
porque não alcança morder seus próprios membros,
e lhe parece que o corpo do que passa,
aquele que amaria se o soubesse,
é o seu.
3
Com seu grande olho o sol
não vê o que eu vejo.
KEATS
Se não as tivesse descoberto
partindo em dois o gato,
abrindo nozes,
remexendo pelas veias,
Deus não haveria se inteirado dessas coisas,
para sua criação ocultas,
perfeitamente ocultas.
Destas coisas terríveis
como ratos submissos
ou vidros comestíveis.
Outro Deus antagônico as forja,
em seu mundo gêmeo de gêmeos,
cego da cegueira,
banhado por suas nuvens de suor.
Sua segunda matéria armada em vãos.
E estas coisas existem sem meus olhos,
sem os olhos de Deus,
existem sozinhas,
gotas de tinta no deserto,
incriadas.
Deus as esquece a marteladas,
sonha em seu esquecimento,
no que não se deve a tantas imperfeições:
e olha suas mãos sem polegares.
4
Mesmo que alguém creia que o terror
não é senão o coturno da ternura
virado pelo avesso,
seus pastos não são esses.
Não estão ali os comedouros
do terror.
A ternura não existe senão para Onã.
E ninguém é misericordioso
senão consigo mesmo.
Ninguém é terno, nem bom,
nem grandioso no amor
mais do que para suas vísceras.
A cadela sonha que dá seu amor ao filho,
goza amamentando-o.
Reino é a solidão de todas as ternuras.
Somente o terror desperta os amantes.
5
Para o ódio escrevo.
Para destruir-te, marco estes papéis.
Exprimo o ácido humor do ódio
nesta tinta,
faço tremer a pluma.
Nestas folhas,
que esculpo até secar-me, jogo
todo o ódio que tenho.
E é inútil. Bem sei.
Só te digo uma coisa:
se estas últimas linhas
fossem gotas,
seriam de urina.
MEU CORPO ANDAVA EM RUÍNAS
Vil coisa o corpo,
estilhaços,
quando encalha em seus vãos.
Falto de assuntos,
esgotado o jardim de seu tesouro.
A sarna das heras devora
os corredores,
os furúnculos crescem junto aos pêssegos.
Jovens ruínas junto a velhos cães mofam.
Pedreiros ativos,
demolições da alma a domicílio.
O corpo em destruição junto aos ancoradouros,
barco senil, o corpo destroçado em construção.
O corpo esfarrapado pelas próprias mãos,
rasgado pelas próprias presas,
afogado na taça do próprio sangue,
por uma tormenta azul
do grifo na cozinha.
O miserável corpo entrado em séculos,
posto na adolescência de suas ruínas,
entrado no bazar, oh teóricos,
dos trastes pensantes,
no mercado de pulgas dos corpos.
A pátina do corpo, como a caspa dos edifícios,
somando fuligem ao ouro sem sustento.
LA CIUDAD HA PERDIDO SU BEATRIZ
He is a portion of the loveliness
which once he made more lovely.
Shelley
1
¡Ay, flores, brezos, castañas, dulces nueces,
dátiles y violetas,
gladiolas descreídas!
¿Por qué existir ahora,
si está muerta la flor,
la flor de flores?
¿Cómo, manjares,
tener sabor en lengua imaginable
si ya no existe el sol de los sabores?
¿De qué manera, olivos,
dar verde gozo al paladar discreto,
si el paladar murió con ella?
2
Oh muerte, ¿qué ha de morir de ti,
qué carne dañarás de muerte,
qué has de matar si ella está muerta?
¿Qué cosa ha de ser cosa
tras su muerte?
¿Qué dolor dolerá
si ella no duele?
3
Viva, era muerte,
y ahora, que no vive,
cincuenta veces muerte.
¿Quién era ella?
¿Cómo llorar así?
¿Cómo sufrir
por su maligna muerte?
¿No estaba muerta ya,
no andaba, en vida, muerta?
4
Su misma muerte pura
fue una traición de perra sin entrañas.
¡Por qué morir la perro!
¿Cómo, antes de ser creada
—antes de Dios—
morir a manos propias la creatura?
5
Si perra innoble fue, si diosa cruenta
¿a qué llorar su muerte?
Sangre vertió, desmembró cuerpos,
vendió a los cerdos carnes
en perlas cocinadas,
destejió obsidianas
para tejer con ellas
excrecencias de chivo.
¿Por qué llorar entonces?
6
Liebres que hubieron hierbas en sus muslos
de felino salvaje
fueron de corta vida,
y largos perdigueros,
halcones que en su vientre
cazaron aves deliciosas
no levantaron nunca
el tallo de su vuelo.
¿Qué llanto ha de valer entonces'
7
Perra sin límites
que corrompió a su paso la tierra
con su hirviente orina,
que al dogo fiel dio vástagos de puerca
y que agrietó las calles al andar,
cloaca ambulante ¿a qué llorar por ella?
8
¡Grandes hetairas,
qué pequeñas sois junto a ella!
qué despreciables,
qué puras.
Cuánto y qué poco
junto a la perra enorme,
que ahora muere sola y deja, viles,
como sombra florida o manto rubio,
prados detrás,
torpes jardines
que no conocen ya el camino
hacia las fuentes,
rotondas que suspenden
el viaje alrededor de sus rosales,
volantín o tiovivo —ay españoles—
de rosas muertas y colores vivos.
9
Ella murió, Dios mío.
¿De qué manera han de vivir los otros?
¿Cómo vivir, si ha muerto?
¿De dónde leña ha de tomar el hacha
si a cada tajo
el árbol vuelve a la semilla?
10
Árbol de arena estéril,
antorcha horrenda en llamas hasta el puño,
¡qué frutos dio, qué gemas, oh Dionisos!
Si lagartija fue, ¡qué pavos,
qué lechones salieron de su vientre!
Si leona ¡qué perdices del tacto,
qué gulas del amor hubo en sus alas!
11
He metido este sueño
en el triturador de la cocina.
Reconozco la distancia
el ruido de tus huesos que se rompen
como nueces tiernas;
el eco de tu voz contra las muelas;
de hierro y las cuchillas,
las distensiones de los nervios
que escapan al molino
como peces en sangre.
Pero el sueño impiadoso resucita,
se conforma en el caño,
se destritura halando ferozmente
la manivela del tiempo hacia otros aires,
Vuelve el sueño a soñarse
como en su primera infancia;
y tiene
la paleontología licuosa
de lo no vertebrado.
Lo desueño otra vez en el triturador,
que abre las fauces hogareñas
de laborioso tigre,
y el sueño, lento, vuelve.
12
¿Cómo expulsar del sueño
el sueño tuyo, amada?
¿Cómo cerrar las puertas del sueño,
a toda forma viviente?
¿Cómo estorbar la marcha
del tigre desgarrado,
con parapetos de neblina?
¿Cómo impedir el paso
de estas sólidas fieras
a la juguetería vaga del sueño?
¿Cómo escapar de un tigre
que crece al avanzar cuando lo sueñan
como la mole de nieve en la colina?
13
¡Ay Prometeo! Ya miro bien tus fieras
y entrañas nutritivas.
Termina el túnel del sueño cotidiano,
pero irrumpe a una luz más deslucida
que el negror de los sueños.
Tumba es la luz y lápida del sueño
sepultado en el pecho como una gallinaza
que golpea por dentro en la vigilia
y vuela al fondo abriendo carnes con sus ganchos
cuando duermo.
Y ella está muerta ahí,
en la coyuntura de sueño y luz,
con una muerte activa
de perra que va y viene por su jaula,
del sueño al mundo, del mundo al sueño,
comiéndome las vísceras
como una eterna goma de mascar.
14
¡Murió la perra, oh Dios!
Su muerte ha sido la más sucia trampa;
late en redor, atmósfera de púas,
se cierra sobre mí.
Su muerte ajena,
su muerte a propias garras y colmillos,
frustró mi mano,
congeló estos odios hambrientos para siempre,
condenó esta daga a la inocencia.
Murió la perra impune y nadie
la habrá de rescatar del césped blanco
en que hoy retoza,
y no despertará del sueño sin raíces
que ata su fronda infame al cuerpo.
(El tigre en la casa, 1970)
A CIDADE PERDEU SUA BEATRIZ
He is a portion of the loveliness
which once he made more lovely.
SHELLEY
I
Ah flores, urzes, castanhas, doces nozes,
tâmaras e violetas,
gladíolos desacreditados!
Por que existir agora,
se está morta a flor,
a flor de flores?
Como, manjares,
ter sabor em língua imaginável
se já não existe o sol dos sabores?
De que maneira, oliveiras,
dar verde gozo ao paladar discreto,
se o paladar morreu com ela?
II
Oh morte, que há de morrer de ti,
que carne danificarás de morte,
que hás de matar se ela está morta?
Que coisa há de ser coisa
após sua morte?
Que dor doerá
se ela não dói?
III
Viva, era morte,
e agora, que não vive,
cinqüenta vezes morte.
Quem era ela?
Como chorar assim?
Como sofrer
por sua maligna morte?
Não estava morta já,
não andava, em vida, morta?
IV
Sua própria morte pura
foi uma traição da cadela sem entranhas.
Por que morrer a cadela sem o cão!
Como, antes de ser criada
- antes de Deus -
morrer pelas própria mãos a criatura?
V
Se foi ignóbil cadela, se deusa cruenta,
para que chorar sua morte?
Sangue verteu, desmembrou corpos,
vendeu carne aos porcos
em pérolas cozinhadas,
desmanchou obsidianas
para com elas tecer
excrescências de cabrito.
Por que chorar então?
VI
Lebres que foram ervas em suas coxas
de felino selvagem
foram de curta vida,
e longos perdigueiros,
falcões que em seu ventre
caçaram aves deliciosas
não levantaram nunca
o talho de seu vôo.
Que pranto há de valer então?
VII
Cadela sem limites
que a seu passo corrompeu a terra
com sua fervente urina,
que ao dogue fiel deu rebentos de porca
e que fendeu as ruas ao andar,
cloaca ambulante, para que chorar por ela?
VIII
Grandes heteras,
que pequenas sois junto a ela!
que desprezíveis,
que puras.
Quanto e que pouco
junto à cadela enorme,
que agora morre solitária e deixa, vis,
como sombra florida ou manto ruivo,
prados atrás,
torpes jardins
que já não conhecem o caminho
até as fontes,
templos que suspendem
a viagem ao redor de suas roseiras,
volatim ou carrossel – ah espanhóis -
de rosas mortas e cores vivas.
IX
Ela morreu, Deus meu,
de que maneira viverão os outros?
Como viver, se morreu?
De onde há de tomar lenha o machado
se a cada talho
a árvore volta à semente?
X
Árvore de areia estéril,
facho horrendo em chamas até o punho,
que frutos deu, que gemas, oh Dionisos!
Se lagartixa foi, que pavões,
que leitões saíram de seu ventre!
Se leoa, que perdizes do tato,
que gulas do amor houve em suas asas!
XI
Meti este sonho
no triturador da cozinha.
Reconheço à distância
o ruído de teus ossos que se rompem
como ternas nozes;
o eco de tua voz contra as mós
de ferro e as facas,
as distensões dos nervos
que escapam ao moinho
como peixes em sangue.
Porém o sonho impiedoso ressuscita,
se ajusta no cano,
se destritura içando ferozmente
a manivela do tempo até outros ares.
Volta o sonho a sonhar-se
como em sua primeira infância;
e tem
a paleontologia liqüosa
do não vertebrado.
O dessonho outra vez no triturador,
que abre a garganta afoguenta
de laborioso tigre,
e o sonho, lento, retorna.
XII
Como expulsar do sonho
o sonho teu, amada?
Como fechar as portas do sonho
a toda forma vivente?
Como impedir a marcha
do tigre desgarrado,
com parapeitos de neblina?
Como impedir o passo
destas sólidas feras
para o armarinho vago do sonho?
Como escapar de um tigre
que cresce ao avançar quando o sonham
como a bola de neve na colina?
XIII
Ah Prometeu! Já vejo bem tuas feras
e entranhas nutritivas.
Termina o túnel do sonho cotidiano,
porém irrompe para uma luz mais desluzida
que o negror dos sonhos.
Tumba é a luz e lápide do sonho
sepultado no peito como um abutre
que golpeia por dentro na vigília
e voa ao fundo abrindo carnes com seus ganchos
quando durmo.
E ela está morta, ali,
na conjuntura de sonho e luz,
com uma morte ativa
de cadela que vai e vem por sua jaula,
do sonho ao mundo, do mundo ao aonho,
comendo-me as vísceras
como uma eterna gome de mascar.
XIV
Morreu a cadela, oh Deus!
Sua morte foi o mais sujo ardil;
gane ao redor, atmosfera de puas,
se fecha sobre mim.
Sua morte alheia,
sua morte pelas próprias garras e presas,
frustrou minha mão,
congelou estes ódios famintos para sempre,
condenou esta adaga à inocência.
Morreu a cadela impune e ninguém
poderá resgatá-la da relva branca
em que hoje traquina,
e não despertará do sonho sem raízes
que ata sua fronde infame ao corpo.
OS PUROS
A maior pureza é abjeção.
Não há dúvida.
Porém, consolo, oh puros:
Tampouco os abjetos e os vis
o são de todo.
Às vezes cheiram rosas
e acariciam cordeiros com sinceridade
ou beijam crianças
e dão sua vida pela Revolução.
PIE DE PÁGINA
Dice Painter que Proust pasó en su casa
una infernal, terrible temporada
de cierto culto al “buen gusto”,
pero en los últimos años, llenaba las estancias
con objetos horrendos, aunque amados, deformes
y sagrados, que hablaban de sus muertos,
de su infancia, de su tiempo perdido.
El que no puede, con su carne y humores, llenar su casa,
suele salir con frecuencia a las cantinas
―en otro tiempo espléndidas―,
del centro y de los aledaños de esta errática ciudad.
Pero, si es triste abstemio,
suele también infestarla con cosas de otros mundos,
que desbordan estantes
y estorban la visión de los libreros
en la pobre morada, que es casa del ausente.
Y una casa, sólo se colma con el que la habita.
Una casa es un alma que habita en su habitante.
Las preconstruidas bellezas ―austeras o suntuosas―,
sólo son galerías de almas ajenas,
guardarropa prestado.
Y los poemas son como las casas:
tienen que estar habitados para ser poemas.
(De Tabernáculos y eróticos, 1988)
PÉ DE PÁGINA
Para o arquiteto Francisco Javier Cossio, leitor de Proust, no nonagésimo aniversário de Os prazeres e os dias.
Diz Painter que Proust passou em sua casa
uma infernal, terrível temporada
de certo culto ao “bom gosto”,
porém nos últimos anos, enchia as estâncias
com objetos horrendos, ainda que amados, deformes
e sagrados, que falavam de seus mortos,
de sua infância, de seu tempo perdido.
Aquele que não pode, com sua carne e humores,
encher sua casa,
costuma sair com freqüência às cantinas
- em outro tempo esplêndidas -,
do centro e dos confins desta errática cidade.
Porém, se é triste abstêmio,
costuma também infestá-la com coisas de outros mundos,
que transbordam estantes
e impedem a visão dos livreiros
na pobre morada, que é casa do ausente.
E uma casa só se enche com o que a habita.
Uma casa é uma alma que habita em sua habitante.
As pre-construídas belezas – austeras ou suntuosas -,
apenas são galerias de almas alheias,
guarda-roupa emprestado.
E os poemas são como as casas:
devem estar habitados para ser poemas
Esta página integra a edição brasileira acervo inédito de Mundo mágico - Uma antologia crítica da poesia hispano-americana no século XX. Organização, tradução e notas de Floriano Martins. Cedida pelo Projeto Editorial Banda Hispânica: www.jornaldepoesia.jor.br/BHBHportal.htm.
TEXTOS EN ESPAÑOL - TEXTOS EM PORTUGUêS
Tradução de Antonio Miranda
LIZALDE, Eduardo. Poemas. Monterrey. Nuevo León: Consejo Nacional para la Cultura y las Artes: Instituto Nacional de Bellas Artes: Consejo parfa la Cultura y las Artes de Nuevo León: Sociedad Alfonsina Internacional: Tecnológico de Monterrey: Universidad Autónoma de Nuevo León: Universidad de Monterrey: Universidad Regiomontana, 2011. 43 p. (Poesía mexicana – Siglo XX) “Premio Internaiconal Alfonso Reyes, 2011”.
El tigre
HAY UN TIGRE en la casa
que desgarra por dentro al que lo mira.
Y sólo tiene zarpas para el que lo espía,
y sólo puede herir por dentro,
y es enorme:
más largo y más pesado
que otros gatos gordos
y carniceros pestíferos
de su espécie,
y pierde la cabeza con facilidad,
huele la sangre aun a través dei vidrio,
percibe el miedo desde la cocina
y a pesar de las puertas más robustas.
Suele crecer de noche:
coloca su cabeza de tiranosaurio
en una cama
y el hocico le cuelga
más allá de las colchas.
Su lomo, entonces, se aprieta en el pasillo,
de muro a muro,
y solo alcanzo el baño a rastras, contra el techo,
como a través de un túnel
de lodo y miel.
No miro nunca la colmena solar,
los renegridos panales del crimen
de sus ojos,
los crisoles de saliva emponzoñada
de sus fauces.
Ni siquiera lo huelo,
para que no me mate.
Pero sé claramente
que hay un inmenso tigre encerrado
en todo esto.
O TIGRE
Tem um tigre em casa
que desgarra por dentro a quem o mira.
E só tem garras para quem o espia,
e só pode ferir por dentro,
e é enorme:
maior e mais pesado
que outros gatos gordos
e carnívoros pestilentos
de sua espécie,
e perde a cabeça com facilidade,
cheira a sangue mesmo através do vidro,
percebe o medo desde a cozinha
apesar das portas mais robustas.
Pode crescer de noite:
coloca a cabeça de tiranossauro
numa cama
e o focinho dependurado
detrás da colcha.
Sua lombada, então aperta-se no corredor,
de parede a parede.
Não olho nunca a colmeia solar,
os retintos favos do crime
de seus olhos,
os crisóis de saliva envenenada
de sua cara.
Nem mesmo cheiro-o
para que não me mate.
Mas sei perfeitamente
que há um imenso tigre encerrado
em tudo isso.
QUE TANTO y tanto amor se pudra, oh dioses;
que se pierda
tanto increíble amor.
Que nada quede, amigos,
de esos mares de amor,
de estas verduras pobres de las eras
que las vacas devoran
lamiendo el otro lado del césped,
lanzando a nuestros pastos
las manadas de hidras y langostas
de sus lenguas calientes.
Como si el verde pasto celestial,
el mismo océano, salado como arenque,
hirvieran.
Que tanto y tanto amor
y tanto vuelo entre unos cuerpos
al abordaje apenas de su lecho, se desplome.
Que una sola munición de estaño luminoso,
una bala pequeña,
un perdigón inocuo para un paro,
derrumbe al mismo tiempo todas las bandadas
y desgarre el cielo con sus plumas.
Que el oro mismo estalle sin motivo.
Que un amor capaz de convertir al sapo en rosa
se destroce.
Que tanto y tanto, una vez más, y tanto,
tanto imposible amor inexpresable,
nos vuelva tontos, monos sin sentido.
Que tanto amor queme sus naves
antes de llegar a tierra.
Es esto, dioses, poderosos amigos, perros,
niños, animales domésticos, señores,
lo que duele.
QUE TANTO E TANTO amor apodreça, oh, deuses,
que se perda
tanto amor incrível.
Que nada reste, amigos,
desses mares de amor,
destas verduras pobres arbóreas
que as vacas devoram
lambendo o outro lado da grama,
lançando em nossos pastos
as manadas de hidras e lagostas
de suas línguas ardentes.
Como se o verde pasto celestial,
o próprio oceano salgado como arenque,
fervessem.
Que tanto e tanto amor
e tanto voo entre uns corpos
na abordagem apenas de seu leito, se desmorone.
Que uma única munição de estanho luminoso,
uma bala diminuta,
um chumbo inútil para um pato,
derrube ao mesmo tempo todas as revoadas
e desgarre o céu com suas plumas.
Que algum outro estoure sem motivo.
Que o amor capaz de transformar um sapo em rosa
se desfaça.
Que tanto e tanto, um vez mais, e tanto,
tanto impossível amor inexpressável,
nos deixe tolos, micos sem sentido.
Que tanto amor queime suas caravelas
antes de chegar à terra.
Assim seja, deuses, poderosos amigos, cães,
crianças, animais domésticos, senhores
o que lastima.
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Autógrafo no livro de Eduardo Lizalde em que destaca a participação de Antonio Miranda no Festival Las Lenguas de América, na UNAM, em 2012: “Para Antonio Miranda con el gusto de escuchar su espléndida lectura y la amistad de Eduardo Lizalde. C. Universitária, México, octubre 11 del 2012.”
Página (em construção) publicada em junho de 2012. ampliada e republicada em outubro de 2012.
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