SALVADOR ESPRIU
(1913-1985)
Salvador Espriu i Castelló
Nasceu a 10 de julho de 1913 em Santa Coloma de Farners, na Catalunha, onde o seu pai era notário. A epidemia de sarampo de 1922, durante a qual faleceu a sua irmã, obriga-o a passar longos períodos acamado, tempo que aproveita para ler a extensa biblioteca familiar. Estuda Direito na Universidade Autónoma de Barcelona durante a Segunda República Espanhola, licenciando-se em 1935. Em 1936 preparava-se para estudar línguas clássicas e egiptologia, planos que se vê forçado a abandonar por causa da Guerra Civil Espanhola.
"al iniciarse la guerra civil, yo me sentía republicano y partidario del concepto de una España federal. Por tanto, no deseaba entonces, ni deseo ahora, el enfrentamiento sino la concordia. Sufrí mucho, espiritualmente, porque sufrí por ambos bandos".
Em 1938 morre de tuberculose o seu grande amigo, o poeta Bartomeu Rosselló-Pòrcel. Terminada a guerra, a Universidade Autónoma é suprimida e substituída pela oficial. Proíbe-se a língua catalã deitando por terra as suas expectativas de se dedicar ao ensino. Trabalha como ajudante de notário, tendo pouca actividade literária, face à impossibilidade de publicar em catalão.
Em 1966 os estudantes organizam uma reunião, em Barcelona para a qual são convidados diversos intelectuais. Entre eles está Espriu que é preso e multado.
Foi um dos membros fundadores da Associação de Escritores de Língua Catalã.
Faleceu em Barcelona a 22 de Fevereiro de 1985.
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O crítico espanhol Josep Maria Castellet destaca a capacidade de Espriu para assimilar a herança mítica da humanidade, integrando num mesmo universo literário o Livro dos Mortos do Antigo Egipto, a Bíblia, a mística judaica e a Mitologia Grega.
Foi um dos grandes renovadores da prosa catalã em conjunto com Josep Pla e Josep Maria de Sagarra.
Da sua extensa obra a mais bem conhecida é A pele do touro (título original: La pell de brau) em que desenvolve a sua visão da problemática histórica, social e cultural de Espanha.
A sua poesia do pós-guerra é marcadamente hermética e simbólica, assinalando uma profunda tristeza pelo mundo que o rodeia e pela recordação dos horrores da guerra.
Biografia completa, incluindo la bibliografia do autor em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Salvador_Espriu_i_Castell%C3%B3
TEXTOS EN CATALAN - TEXTOS EM PORTUGUÊS
4 POETAS DE CATALUNHA. Organização e tradução de Luis Soler. Florianópolis, SC: Editora UFSC, 2010. 116 p. 12,5x19 cm. Inlcui os poetas: Joan Maragall, Carlos Riba, Joan Oliver (Pere Quart), Salvador Espriu. ISBN 978-85-328-0513-3 Ex. bibl. Antonio Miranda.
LES VELLES GERMANES
Grogs retrats de Primera
Comunió, de noces
de cosins morts, esperen
que tadormis i passin
fines potes d'aranya
per llur somrís inmòbil.
M'has ben vetllat i deixes
encès un Hum elèctric,
de crim de boig, al sostre.
Estie ja tan malalta,
que tusso de fatiga
en resseguir les taques
deil paper baratíssim
de les parets. A l'hora
però, de més sofrença,
malço, per no cridar-te,
i me'n vaig de puntetes
a la finestra, on miro,
en el reflex d'un vidre,
la teva faç, les nostres
vides juntes, la roba
de dol etern, i sento
batecs de cors i portes,
lents toes de missa d´alba.
THÀNATOS
Quan vinguis, et rebria
mes bé des de la cendra
d'un vell foc? O tespero
amb el salvatge xiscle
del vent entre les canyes
o amb la cançó profunda,
monótona, tranquilla,
tan dolça, sempre nova,
del somni de la mar?
O potser m´has de prendre
de cop, enllà de buides
estances, entre blanques
parets que varen veure
com els meus morts et feien
acatament: glaçades
presons on deslliuraves
el desig d´altres vides
orbes, com jo, de Deu.
Quan arribis, si et sento,
hauré de saludar-te
amb un gran crit. Car moro
sense cap saviesa,
però molt ric de passos
de perdut vianant.
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Tradução de Luis Soler
AS VELHAS IRMÃS
Amarelos retratos de Primeira
Comunhão, de bodas
de primos mortos, aguardam
que durmas e caminhem
finas patas de aranha
por teus sorrisos permanentes.
Velaste bem por mim e deixas
acesa uma lâmpada elétrica
de crime de louco, no teto.
Sinto-me tão doente
que tusso de cansaço
ao revistar as manchas
no papel baratíssimo
das paredes. Porém,
nas dores mais agudas,
levanto-me, para não te chamar,
e nas pontas dos pés
vou à janela olhar,
no reflexo de um vidro,
o teu rosto, as nossas
vidas juntas, as roupas
de eterno luto, e ouço
bater corações e portas,
toques lentos de missa de alvorada.
TÂNATOS
Quando vieres, receber-te-ei
melhor desde as cinzas
de um velho fogo? Ou te espero
com o estrilo selvagem
do vento entre os bambus,
ou com o canto fundo,
monótono, tranquilo,
tão doce, sempre novo
da ensonhação do mar?
Me tomarás, talvez, de chofre,
andando por vazios
aposentos, entre brancas
paredes que assistiram
a meus mortos fazer-te
acatamento: frias
prisões de onde liberavas
anseios de outras vidas
cegas, como eu, de Deus?
Quando chegares, se te ouço,
vou te cumprimentar
com um terrível grito. Pois eu morro
sem nenhuma ciência,
rico somente em passos
de perdido andarilho.
Página publicada em agosto de 2019
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