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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA ESPAÑOLA - POESIA ESPANHOLA
Coordenação de Aurora Cuevas Cerveró
 

JORGE MANRIQUE
(1440? - 1479)
 

De
Jorge Manrique
POESIA DOUTRINAL
COPLAS PELA MORTE DE EU PAI E COPLAS PÓSTUMAS

Introdução, tradução e notas de Rubem Amaral Jr
São Paulo: 1984
Projeto gráfico de Diana Mindlin. Tiragem de 800 exemplares.


Edição do tradutor, esmerada, de muita qualidade editorial e tipográfica. Agradecemos ao  Rubem a doação da obra, com o devido autógrafo, e a autorização para a reprodução de textos.  Rubem Amaral Jr é um estudioso da obra do grande poeta espanhol e amealhou uma coleção considerável de edições do autor das Coplas em sua biblioteca particular.

Existem muitas biografias de Jorge Manrique na web. Cabe apenas ressaltar o que diz o próprio Rubem na introdução:  "A biografia do criador da que já foi considerada obra culminante da poesia medieval espanhola e, até mesmo, melhor poema da língua castelhana, é extraordináriamente carente de dados precisos." (p. 11) Sobre a obra de Manrique nos diz: "foi poeta de reduzida bagagem literária, limitada a apenas 49 composições conhecidas (50 se aceitarmos a atribuição da cantiga Con tantos males guerreo), abrangendo os diferentes gêneros em moda na época: cantigas, coplas, esparsas, motes, glosas, perguntas, respostas, etc. Sua elaboração deve ser situada entre 1465 e 1469" (p. 17). Cada uma das traduções vem acompanhada de notas explicativas de origens etimológicas, sentidos e concepções da época, dados que ajudam a entender os poemas, que excluímos. Lamentavelmente, a edição presente é de difícil acesso, fora de comércio, apenas em acervos particulares.

"La mar que es el morrir" é verso célebre de Manrique que serviu de título e mote para o livro de poemas do escritor venezuelano Miguel Otero Silva e, com certeza, inspirou a muitos outros poetas nos séculos de sua vigência.  A.M.

 

TRADUÇÃO DE RUBEM AMARAL JR.

POESIA DOUTRINAL
COPLAS PELA MORTE DE SEU PAI E COPLAS PÓSTUMAS

 

I
  Recorde a alma dormida
avive o senso e desperte
contemplando
como perpassa a vida,
chega-se a morte solerte,
tão calando;
    quão prestes se vai o prazer
como depois de lembrado
causa dor,
como, a nosso parecer
qualquer momento passado
foi melhor.

II
  E pois, vemos o presente
com é num instante vencido
e acabado,
se julgamos sabiamente
daremos até o não sido
por passado.
    Não se enganem em pensar
que seguirá o que vem
outra norma,
mais que o já visto durar,
porque passará também
por esta forma.

III
    Nossas vidas são os rios
que vão lançar-se no mar
que é o morrer;
ali vão os senhorios
diretos a se acabar
e se perder;
    ali os rios caudais,
ali os ouros meãos
e menores:
lá chegados são iguais
os que vivem por suas mãos
e os senhores.

IV
    Deixo as invocações
dos afamados poetas
e oradores;
não cuido de suas ficções,
que trazem ervas secretas
seus sabores.
    Àquele só me encomendo,
aquele só invoco eu

de verdade,
que neste mundo vivendo,
o mundo não conheceu
sua deidade.

V
    Este mundo é o caminho
para o outro, que é morada
sem pesar;
mas sempre tem bom alinho
para andar esta jornada
sem errar.
    Parimos quando nascemos,
andamos quando vivemos
e chegamos
ao tempo que fenecemos;
assim que quando morremos
descansamos.

VI
    Este mundo ameno é
se bem usássemos dele
qual devemos,
pois segundo nossa fé
somente ganhar aquele
pretendemos.
    Mesmo o Filho de Deus
para ao céu nos alçar
descendeu
a nascer aqui entre os seus
e a neste solo habitar
onde morreu.

VII
Se fosse em nosso poder
fazer a cara formosa
corporal,
como podemos fazer
a alma tão gloriosa
angelical,
    que diligência tão viva
teríamos toda hora,
tão disposta,
em nos compor a cativa,
deixando-nos a senhora
descomposta!

VIII
    Vede quão pouco valor
têm as coisas trás que andamos
e corremos;
que neste mundo traidor
antes mesmo que morramos
as perdemos.
    Delas desfaz a idade,
delas casos desastrados
que acontecem;
delas, por sua qualidade,
em os mais altos estados
desfalecem.

IX
   Dizei-me: a formosura,
a gentil frescura e tez
duma cara,
o rosado e a brancura,
quando a velhice se fez,
onde pára?
    As manhas e ligeireza
e a força corporal
da juventude,
tudo se torna graveza
quando chega ao arraial
da senectude.

X
    Pois até o sangue dos godos,
e a linhagem e a nobreza
tão crescida,
por quantas vias e modos
se some sua grande alteza
nesta vida!
    Muitos, por pouco valer,
por quão baixos e abatidos
que as têm!
Outros que, por nada ter,
com ofícios indevidos
se mantêm.

XI
    Que os estados e riqueza
não nos deixem em má hora
quem garante?
Não lhes peçamos firmeza,
pois que são duma senhora
inconstante;
    que eles são da Fortuna
que a roda sua a girar
não repousa,
a qual não pode ser una
nem estar queda ou parar
em uma cousa.

XII
    Mas concedo que eles sigam
e cheguem junto da fossa
com seu dono;
por isso não nos desdigam,
breve vai-se a vida nossa
como sono.
    E os deleites de cá
são, em que nos deleitamos,
temporais,
e os tormentos de lá,
que por eles esperamos,
eternais.

XIII
    Os prazeres e dulçores
desta vida trabalhada
que possuímos,
não são mais que batedores,
e a morte uma cilada
em que caímos.
    Não olhando nosso dano,
corremos a rédea solta
sem parar;
dês que vemos o engano
e queremos dar a volta,
não há lugar

XIV
    Estes reis tão poderosos
que vemos por escrituras
já passadas,
com casos tristes, chorosos,
foram suas boas venturas
transtornadas;
    assim que nada é tão forte,
que a papas, imperadores
e cardeais
assim os trata a morte
como a uns pobres pastores
de animais.

XV
    Deixemos em paz troianos,
cujos males não lhes vimos
nem as glórias;
deixemos atrás romanos,
se bem que temos e ouvimos
suas histórias;
    não curemos do que contem
sobre o século passado,
que foi dele;
venhamos logo ao de ontem,
que também está olvidado
como aquele.

XVI
    Que fim teve o rei Dom João?
De Aragão os três infantes
qual tiveram?
Onde estão tanta invenção
e tantos jovens galantes
que as trouxeram?
    Foram apenas devaneios?
Que foram salvos das eiras
as verduras,
as justas e os torneios,
paramentos e cimeiras,
bordaduras?

XVII
    Que fim levaram as damas,
seus toucados e vestidos
seus olores?
Que fim levaram as chamas
dos ardores acendidos
de amadores?
    Que é feito do trovar,
das músicas acordadas
que tangiam?
Que é feito do dançar,
daquelas roupas chapadas
que traziam?

XVIII
    Pois o outro, seu herdeiro,
Dom Henrique, que poderes
alcançava!
Quão brando, quão lisonjeiro
o mundo com seus prazeres
se lhe dava!
    Mas verás quão inimigo,
quão contrário, quão danoso
se lhe mostrou;
havendo-lhe sido amigo,
o que lhe deu generoso
lhe não durou!

XIX
    As dádivas desmedidas<
os edifícios reais
cheios de ouro,
as baixelas tão lavradas,
os henriques e reais
do tesouro,
    os jaezes, os cavalos
de suas gentes e atavios
tão sobrados,
onde iremos nós buscá-los?
Que foram salvo rocios
pelo prados?

XX
    Pois seu irmão o inocente
que em sua vida sucessor
se chamou,
que corte tão excelente
teve, e quanto grão senhor
o cercou!
    Mas, como era mortal,
meteu-o a morte logo
em sua frágua.
Oh juízo divinal,
quando mais ardia o fogo,
deitaste água!

XXI
    Pois do grande Condestável,
o Mestre, que conhecemos
tão privado,
calemos a sorte instável,
digamos só que o tivemos
degolado.
    O seu tesouro opulento,
suas vilas e seus lugares,
seu mandar,
causaram-lhe só lamento.
Que foram salvo pesares
ao deixar?

XXII
    E os outro dois irmãos,
os mestres tão prosperados
como reis,
que aos grande e meãos
trouxeram tão sojugados
a suas leis;
    aquela prosperidade
que tão alta foi erguida
e exaltada,
que foi salvo claridade
que estando mais acendida
foi apagada?

XXII
    Tantos duques excelentes,
tantos marqueses e condes
e barões
como vimos tão potentes,
dize, morte, onde os escondes
e transpões?
    E as mui claras façanhas
que fizeram em suas guerras
e nas pazes,
quando tu, crua, te assanhas,
com tua força as aterras
e desfazes.

XXV
    O que de bons era abrigo,
amado por virtuoso
pela gente,
o senhor Mestre Rodrigo
Manrique, tanto famoso
e tão valente,
    seus grandes feitos e claros
não cumpre que eu os gabe,
que os miraram,
nem os quero fazer caros,
pois que o mundo todo sabe
qual passaram.

XXVI
    Amigo de seus amigos,
que senhor para criados
e parentes!
Que inimigo de inimigos!
E que mestre de esforçados
e valentes!
    Que siso para prudentes!
Que graça pra donosos!
Que razão!
Brando pra dependentes!
Para os bravos e danosos,
um leão!

XXVII
    Em ventura Otaviano;
Júlio César em vencer
e batalhar;
em sua virtude, Africano;
Aníbal em seu saber
e trabalhar;
    em sua bondade, um Trajano;
Tito em liberalidade
com alegria;
em seu braço, Aureliano;
Marco Atílio na verdade
que prometia.

XXVIII
    Antonio Pio em clemência;
Marco Aurélio na igualdade
do semblante;
Adriano na eloquência;
Teodósio em humanidade
e bom talante.
    Aurélio Alexandre é
na disciplina e rigor
de sua guerra;
um Constantino na fé,
Camilo no grande amor
de sua terra.

XXIX
    Não deixou grandes tesouros,
nem logrou muitas riquezas
nem baixelas,
mas teve guerra com os mouros,
ganhando suas fortalezas
e vilelas;
    e nas lides que triunfou
quantos mouros e cavalos
se perderam;
e neste ofício ganhou
as rendas e os vassalos
que lhe deram.

XXX
    Pois por sua honra e estado,
em outros tempos passados,
como achou-se?
Ficando desamparado,
com irmãos e os criados
sustentou-se.
    Depois que atos famosos
praticou na dita guerra
que fazia,
fez contratos tão honrosos
que lhe deram mui mais terra
que possuía.

XXXI
    Estas suas velhas histórias
que com o braço pintou
na juventude,
com outras novas vitórias
agora as renovou
na senectude.
    Por sua grade habilidade,
por méritos e anciania
bem gastada,
alcançou a dignidade
da alta e grã Cavalaria
da Espada.

XXXII
    E suas vilas e suas terras
por tiranos ocupadas
as achou,
mas por cercos e por guerras
e por força de espadas
as cobrou.
    Pois nosso Rei natural,
se dessas obras que obrou
foi servido,
diga-o o de Portugal
que em Castela quem tomou
seu partido.

XXXIII
    Depois de posta a vida


tantas vezes por´sua lei
no tab´leiro;
depois de tão bem servida
a coroa de seu rei
verdadeiro;
    depois de tanta façanha
que exatamente contar
não comporta,
em a sua vila de Ocaña
veio a morte chamar
a sua porta.

XXXIV
    Dizendo: "Bom cavaleiro,
deixai o mundo enganoso
com seu afago;
vosso coração inteiro
mostre seu esforço famoso
em este trago.
    "E pois de vida e saúde
fizestes tão pouca conta
pela fama,
esforce-se a virtude
para sofrer esta afronta
que vos chama".

XXXV
    Não se vos faça amarga
a batalha temerosa
que esperais,
pois outra vida mais larga,
de fama tão gloriosa,
aqui deixais;
   "se bem tal vida de honor
também não seja eternal
nem verdadeir;
mas, contudo, é bem melhor
que a outra temporal
e passageira.

XXXVI
    O viver que é perdurável
não se ganha com estados
mundanais,
nem com vida deleitável
onde moram os pecados
infernais;
    "mas os bons religiosos
ganham-no com orações
e flagícios;
os cavaleiros famosos
contra mouros em aflições
e suplícios.

XXVII
    E pois vós, claro varão,
tanto sangue derramastes
de pagãos,
esperai o galardão
que neste mundo ganhastes
pelas maõs;
    "e com esta confiança
e com a fé tão inteira
que haveis,
parti com boa esperança,
que estoutra vida terceira
ganhareis".

(Responde o Mestre:)
XXXVIII

    "Não gastemos tempo já
em esta vida indina
por tal via,
que minha vontade está
pra tudo com a divina
em harmonia.
    "E consinto em meu morrer
com a vontade bem forte,
clara e pura,
que querer homem viver
quando Deus quer dar-lhe morte
é loucura".

(Do Mestre a Jesus)
XXXIX
    Tu que, por nossa maldade,
mau nome e forma servil
com amor tomaste;
Tu, que com tua divindade
o corpo humano tão vil
também juntaste;
    "Tu, que tão grandes tormentos
sofreste sem resistência
em tua pessoa,
não por meus merecimentos,
mas só por tua clemência
me perdoa".

Cabo
XL
   Assim, com tal entender,
todos sentidos humanos
conservados,
cercado de sua mulher
e de seus filhos, seus manos
e criados,
    deu a alma a quem lha deu
(O qual no céu a porá,
em sua glória),
e embora consolo deixará
sua memória.

 

COPLAS PÓSTUMAS

    Oh mundo, pois que nos matas,
fosse a vida que existe
toda vida!
Mas segundo cá nos tratas,
o melhor e menos triste
é a partida
de tua vida, tão coberta
de tristezas e de dores,
despovoada,
de bens sempre tão deserta,
de prazeres e dulçores
despojada.

    É teu começo choroso,
tua saída sempre amarga
e nunca amena;
o do meio, trabalhoso,
e a quem dás vida mais larga
lhe dás pena.
   Assim os bens mal morrendo
e com suor se procuram
e no-los dás;
os males chegam correndo
depois de chegados duram
muito mais.

 

 

MANRQUE, Jorge.  Coplas a la muerte de su padre. Coplas póstumas. Introdução, tradução e notas de Rubem Amaral Jr.  Edição bilíngue.  Brasília?: Embajada de España em Brasil, Consejeria de Educación, Asesoria Linguistica; Montevidoe: Oltaver S.A. Buenos Libros Activos, 1993.  136 p. (Coleção: Orellana, volume 7)  ISBN 9974-575-303  14x21 cm.  Col. A.M. 

(ejemplos):

 

[II]

 

       Y pues vemos lo presente

       cómo en vn punto se es ydo

       y acabado,

15   sy juzgamos sabiamente,

       daremos lo no venido

       por pasado.

       No se engañe nadie, no,

20   pensando que a de durar

       lo que spera

       mas que duró lo que vio,

       por que todo ha de pasar

       por tal manera.

 

 

Actualización ortográfica

 

 

II

 

Y pues vemos lo presente

como en un punto se es ido

y acabado,

si juzgamos sabiamente

daremos lo no venido

por pasado.
No se engane nadie, no,
pensando que ha de durar
lo que espera
más que duró lo que vio,
porque todo ha de passar
por tal manera.

 

 

 

II

 

E pois vemos o presente

como é num instante vencido

e acabado,

se julgamos sabiamente

daremos até o não sido

por passado.

Não se enganem em pensar

que seguirá o que vem

outra norma,

mais que o já visto durar,

porque passará também

por esta forma.

  

 

[XIV]

 

Estos reyes poderosos

que vemos por escripturas

          ya pasadas,

160    con casos tristes, llorosos,

          fueron sus buenas venturas

          trastornadas;

          asy que no ay cosa fuerte,

          que a papas y emperadores

165   y perlados,

          asy los trata la muerte

          como a los pobres pastores

          de ganados.

 

 

 

Actualización ortográfica

 

XIV

 

Estos reyes poderosos

que vemos por escrituras

ya pasadas

con casos irisles, llorosos,

lueron sus buenas venturas

transtornadas;

así que no hay cosa fuerle

que a papas y emperadores

y prelados

así los trata la muerte

como a los pobres pastores
de ganado.

 

 

 

XIV

 

Estes reis tão poderosos

que vemos por escrituras

já passadas,

com casos' tristes, chorosos,

foram suas boas venturas

transtornadas;

assim que nada é tão forte,

que a papas, imperadores

e cardeais

assim os trata a morte

como a uns pobres pastores

de animais. 

 

MANRIQUE, JorgeCoplas a la muerte de su padre. Edición prologada y anotada por Juan Cardiff.  2ª . edición.  Buenos Aires,: Editorial Marcos Ssatre, 1953.   64 p.  (Biblioteca de Clásicos Castellanos, 1) 11,5x16 cm

Traduciones de ANTONIO MIRANDA: 

III. CANCIÓN

 

          Quien no´estuviere en presencia,
no tenga fe en confianza,
pues son olvido y mudanza
las condiciones d´ausencia.
          Quien quisiere ser amado,
trabaje por ser presente,
que cuan presto fuere ausente,
tan presto será olvidado:
          y perda toda esperanza
quien no´estuivere en presencia,
pues son olvido y mudanza
las condiciones d´ausencia.

 

III. CANÇÃO

          Quem não estivera em presença,
não tenha fé em confiança,
pois são olvido e mudança
as condições d´ausência.
          Quem quisera ser amado,
trabalhe por ser presente,
que quão presto fora  ausente,
tão presto será olvidado:
          e perca toda esperança
quem não estivera em presença,
pois são olvido e mudança
as condições d´ausência.

 

V. CANCIÓN

          Con dolorido cuidado,
desgrado, penas y dolor,
parto yo, triste amador,
d´amores desamparado,
d´amores, que no d´amor.

          Y el corazón, enemigo
de lo que mi vida quiere,
ni halla vida ni muere
ni queda ni va conmigo;

          Sin ventura, desdichado,
sin consuelo, sin favor,
d´amores desamparado,
d´amores, que no d´amor.

 

          V. CANÇÃO

                    Con dolorido cuidado,
          desregrado, penas e dor,
          parto eu,  triste amador,
          d´amores desamparado,
          d´amores, que não d´amor.

                    E o coração, inimigo
          do que minha vida requer,
          nem vida acha: sequer
          a vida não fica, nem vai comigo;

                    Sem ventura, desgraçado,
          sem consolo, sem favor,
          d´amores desamparado,
          d´amores, que não de amor.

 

VII. ESPARZA

          Ya callé males sufriendo
 y sufrí penas callando,
padescí no mereciendo
y merescí  padesciendo
los bienes que no demando:

          Si ell esfuerzo qu´he tenido
para calar y sofrir,
tuviera parara  decir,
no sintiera mi vivir
los dolores que ha sentido.

 

          VII. ESPARSA

                    Já calei males sofrendo
          e sofri penas calando,
          padeci não merecendo
          e mereci padecendo
          os bens que não demando:

                    Se o esforço que hei tido
          para calar e sofrer,
          tivera para dizer,
          não sentira meu viver
          as dores que hei sentido.
      


Página publicada em abril de 2010 - Ampliada e republicada em dezembro de 2013; ampliada e republicada em agosto de 2015.

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