JUAN JOSÉ GARCÍA
TEXTOS EM PORTUGUÊS
Traduções de
Solon Borges dos Reis
ENCONTRO
Apenas um olhar... Depois um véu:
Perfumes e distâncias. Luzes, sonhos.
Nem uma só palavra. Nem lembrança
de teu acento — quieto, doce, certo?
Nem de tua vida o nome. Só o eco
de teu próprio silêncio em meu silêncio...
criei-te agora na minha memória:
na alma, na esperança e em meu desvelo.
Breve ventura e triste do encontro:
voltarmo-nos as costas, mudos, cegos.
Azar de reencontrarmo-nos num beijo,
por trás da nostalgia e da saudade.
MINHA PALAVRA
Um punhado de luz, minha palavra,
Para chamar-te Amor.
O eco de um suspiro que na noite
desperta o coração.
Um alvo no fulgor de tal distância
minha palavra pôs...
Semente que germina em tua esperança
de minha voz e eco.
E enfim sobre o horizonte da lembrança
talvez nem tu... nem eu.
NAUFRÁGIO
A alma com as asas fatigadas,
Gaivota cega, triste, leve, só...
Anhelo de voltar ao infinito,
truncado em adejar flácido e lânguido.
O tempo: sol, calor, distância e gleba,
Âncora em que se amarram nossas velas...
O vôo cotidiano é um naufrágio
de quilhas, asas, sonhos, luz e ânsias.
A noite põe alento em minha esperança:
suspiro que ressurge em meu verso.
ORVALHO
Para limpar a vida em tua fonte, vim,
cristal emudecido que se esvai em lágrimas.
À margem de ti mesma, olhando estou minha alma,
não te empana a pupila, a angústia que retrata...
Da alta luz do Céu, teus olhos, duas janelas,
me iluminam, me excitam, cegam e aniquilam.
Minha obscura mágoa não te turva o olhar:
o sangue nunca tinge o oceano da esperança.
VINDIMA
Estou aqui: defronte à tua lembrança.
O mar ante nós dois: um só navio
em breve vôo de esperanças trêmulas
alenta o horizonte com suas velas.
Tenho sede ante o mar. Sede do vinho
que espremi de teus olhos, uvas negras.
Mas tem iodo do mar, tem sal, tristeza
E o vinho de tuas lágrimas, tão longe!
Aqui a solidão, praia deserta,
Areia, sol, fastio: água sem vinho,
e no horizonte lá da tarde eterna,
o aceno de teus olhos, uvas negras.
Pagina publicada em novembro de 2007
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