PEDRO MARQUÉS DE ARMAS
Marcelo Flores fez a tradução ao nosso idioma dos poemas do Pedro Marqués de Armas. A partir das obras "Fatigas (1992-1993) e "Cabezas (1994-1997), de um poeta nascido em Havana, em 1965, da nova geração da poesia cubana. Pedro Marqués de Armas é figura constante nos periódicos literários de Iberoamérica e autor de três livros de poesia, autor premiado em seu país. Médico psiquiatra.
"(...) língua estrangeira de si mesma" - referindo-se à poesia do cubano - "forjada a partir da criação de modulações do espaço — que, por sua vez, relativizam o tempo —, revelando-se despida de mimese e referencialidade verossímel, para tratar como referente aquilo que está por vir e o seu processo em si", declara Marcelo Flores.
O poeta se define, por escapatória: "Ni vaguardia ni fundación. Ni arqueología ni tabula rasa. Acaso un poco de todo eso: procesos que retoman la escritura como ilusión y a la vez como simulacro que enmascara sus propios límites..."
Difícil e inútil rotular a nova poesia, livre dos cânones consagrados. Há no prefácio uma advertência de que não se trata da escrita automática dos surrealistas, nem o recurso palavra-puxa-palavra que esteve em voga no poema processo, nem se pretende chamá-la de neobarroca...
"À primeira vista, seus poemas parecem ser abstratos e intangíveis, o que certamente se configura como ardiloso recurso de ironia e produz como consequência ríspido efeito de disparate", nos diz o prefaciador. Mas devemos ler os textos para percatar-nos de sua formulação. Aqui vão dois exemplos esparsos. Depois é conferir no livro. Afinal, cabe celebrar a edição pois são raras as oportunidades que temos de ver, em livro, obras de autores hispânicos contemporâneos nas livrarias... A. M.
DOIS TEXTOS BREVES EN ESPAÑOL / DOS BREVES TEXTOS EM PORTUGUÊS
De
Pedro Marqués de Armas
CABEÇAS E OUTROS POEMAS
São Paulo: Hedra, 2008
127 p. Edição bilingue = ISBN 978-85-7715-018-2
una lluvia de trenes
de cálcio al hipocampo
locomotoramente
movía las manos
sobre papel granulado
Erectas barreras
abrían nuevas vías
por manchones rápidos
Nuevos campos
de escape a la siniestra
en un caer estroboscópico
de oleaje y pasto.
***
aunque disimulado
por esa flor blanca
(plumería)
que rendia su sombra
aunque disimulado
viste
en la techumbre de la nave
un hueco
y, alrededor
como dormida
la misma gente
(gente de 1844)
abriendo la tierra
con mandíbulas
reciamente
con el Á
ángulo facial de Camper
y pensaste
un hueco
un hueco
un hueco
cuán profundo
aunque disimulado.
Valle de los Ingenios, mayo de 2000.
Uma chuva de trens
de cálcio no hipocampo
locomotivamente
movia as mãos
sobre papel granulado
Eretas barreiras
abriam novas vias
por violentos matagais
Novos campos
de escape à esquerda
num cair estroboscópico
de marulhada e pasto.
ainda que dissimulado
por essa flor branca
(plumeria)
que rendia sua sombra
ainda que dissimulado
viste
na égide da nave
um vão
e, ao redor
como em torpor
a mesma gente
(gente de 1844)
abrindo a terra
com mandíbulas
vigorosamente
com o ângulo facial de Camper
um vão
um vão
um vão
quão profundo
ainda que dissimulado.
Página publicada em dezembro de 2010
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