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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


   

VICENTE HUIDOBRO

 VICENTE HUIDOBRO (1893-1947) — Chileno. Dos maiores poetas da América. Instituiu o Criacionismo. Em Paris desde 1916, escreveu em francês parte de sua obra. Alguns títulos: Horizon Carré (1917), Tour Eiffel, Hallalí (1918), Saisons Choisies (1921), Automne Regulier (1925), Altazor (1931). Dos poemas aqui traduzidos, “Mares Articos” é de Poemas Articos (1918); os dois outros, de Espejo de Agua (1916).

Vea/veja tb: POESIA VISUAL DE VICENTE HUIDOBRO

 

Prelúdio de esperança 

 

Vicente Huidobro, tradução de Salomão Sousa:

 

 

Cantas e cantas falas e falas

E giras pelo tempo

E choras como lírio desvairado

E suspiras entre largos agonizantes que não sabem o que dizer

Às vezes também ris com teus ossos de grande noite

Assinalados em seu lugar de esqueleto

Designados num pedaço de terra saudando o céu 

Pede conformidade para teus altos interesses

No país da esperança que desperta em tuas costelas

Pede lição à árvore acusada por seus excessos 

E suas asas habituadas a todo transe

Escuta a saída do rio escuta a sombra dentro da flor

 

Cantas e cantas e falas e falas

E sonhas que a espécie esquecerá trevas

Logo logo o esquecimento do pranto

As lágrimas armadas de luz tão distante

Como animais numerados que vão saindo do mar

Logo o esquecimento de tanta sombra suspirada

Logo o futuro de horizontes que conhece sua paixão 

 

Cantas e cantas

E tens uma voz acumulada

Tens uma voz com certas partes dolorosas

E certos rincões impacientes 

E gotas de astros perdidos por seu terno coração 

Tens cascatas em tuas regiões mais pensadoras

Tens objetos convertidos em vidro no fundo de teus olhos

Tens rotas nascidas para o escuro sonhar da garganta 

Podes fazer um nó de portas com teus enigmas

E assim mesmo desatar o tempo entre sons e presságios 

Podes dar uma parte a tua luz no caminho mesmo

 

Falas e falas 

E já sabemos que é como o ruído da chuva

Que cai de cabeça sobre o campo

Mas teu ruído leva sonhos e pedaços de folhas pensativas

Leva um bronze que escavou cinzas e montanhas

 

Cantas e cantas choras e choras

E em teu chorar há o combate da morte e da marcha

Todas as últimas batalhas com sua cor de limite

E em teu silêncio crescem árvores tão decididas como as borrascas

E a morte obedece a seu mundo tenebroso

Ardendo em sonhos de chave visionária 

 

Falas e falas vês e vês 

E sentes a crosta que te separa das ânsias alheias 

Sentes de dentro de ti mesmo

Os impulsos do mundo as pulsações da terra

E os tormentos de todas as crisálidas 

Em seu escafandro de enigmas 

Sentes as asas cegas de teus signos ofegantes

E essa água abandonada de seus mares que corre em tuas artérias 

 

Cantas e cantas ris e ris

E tens uma doçura que te come os ossos

E ouves chiar a terra que não sabe seu nome

E doem-lhe as árvores 

Dói-lhe o mar com todas suas ondas

Dói-lhe a passagem dos homens

E os riachos obscuros que se entrecruzam

Num pacto ungido pela nobreza de seus anos

 

Chora e choras olhas e olhas ris e ris

e deténs-te pensativo no meio de tantos ecos

Nesta terra de entusiasmos secretos

Nestes ventos que trazem aparências de destinos

E contemplas de um lado o principiar do mundo 

Do outro a noite de cristais espantados

E vais e buscas ansioso

Essa música rasgada por onde se evade a casa

E desaparece movendo o coração entre fantasmas

Quando o sol te recompõe de repente

Que queres que te diga

A tempo de ver caem as plumas

Como velhice de palavra em traje de alma

Que queres que te diga

O mundo desce por tuas angústias ao teu encontro

 

Cantas e cantas falas e falas

E te esqueces de tudo para que tudo te esqueça 

Falas e falas cantas e cantas

Choras e choras vês e vês ris e ris

E partes em silhueta de ar

 


ARTE POETICA


Que el verso sea como una llave
Que abra mil puertas.
Una hoja cae; algo pasa volando;
Cuanto miren los ojos creado sea,
Y el alma del oyente quede temblando.

Inventa mundos nuevos y cuida tu palavra;
El adjetivo, cuando no da vida, mata.

Estamos en el ciclo de los nervios.
El músculo cuelga,
Como recuerdo, en los museos;
Mas no por eso tenemos menos fuerza:
El vigor verdadero
Reside en la cabeza.

Por qué cantáis la rosa, ¡oh, Poetas!
Hacedla florecer en el poema;

Sólo para nosotros
Viven las cosas bajo el sol.

El Poeta es un pequeño dios.

ARTE POÉTICA 
Tradução de Anderson Braga Horta


Que o verso seja como uma chave
Que abra mil portas.
Uma folha cai; algo passa voando;
Quanto fitem os olhos criado seja,
E a alma de quem ouve fique tremendo.

Inventa mundos novos e cultiva a palavra;
O adjetivo, quando não dá vida, mata.

Estamos no ciclo dos nervos.
O músculo pende,
Como lembrança, nos museus;
Mas nem por isso temos menos força:
O vigor verdadeiro
Reside na cabeça.

Por que cantais a rosa, ó Poetas!
Fazei-a florescer no poema.

Somente para nós
Vivem as coisas sob o sol.

O Poeta é um pequeno deus.


 


EL ESPEJO DE AGUA

 Mi espejo, corriente por las noches,
 Se hace arroyo y se aleja de mi cuarto. 

 Mi espejo, más profondo que el orbe
 Donde todos los cisnes se ahogaron.
 

 Es un estanque verde en la muralla
 Y en medio duerme tu desnudez anclada.
 

 Sobre sus olas, bajo cielos sonámbulos,
 Mis ensueños se alejan como barcos.


 De pie en la popa siempre me veréis cantando.
 Una rosa secreta se hincha en mi pecho
 Y un ruiseñor ebrio aletea en mi dedo.


O ESPELHO DE ÁGUA
Tradução de Anderson Braga Horta

Meu espelho, correndo pelas noites,
Torna-se arroio e foge do meu quarto. 


Meu espelho, mais profundo que o orbe
Onde todos os cisnes se afogaram. 


É um tanque verde na parede, e nele
Dorme tua desnudez ancorada.


Em suas ondas, sob uns céus sonâmbulos,
Os meus sonhos se afastam como barcos. 


De pé na popa sempre me vereis cantando.
Uma rosa secreta intumesce em meu peito
E um rouxinol ébrio esvoaça em meu dedo.

 

 

 

 

 

 


MARES ARTICOS

 Los mares árticos
                            Colgados del ocaso

 Entre las nubes se quema un pájaro

 Día a día
              Las plumas iban cayendo
Sobre las tejas de todos los tejados

 Quién ha desarrollado el arco-iris
                                                      Ya no hay descanso

                                          Blando de alas
                                                                Era mi lecho 

         Sobre los mares árticos

 Busco la alondra que voló de mi pecho


MARES ÁRTICOS

Tradução de Anderson Braga Horta

 

Os mares árticos
                            Pendurados do ocaso

 Por entre as nuvens se queima um pássaro

 Dia a dia
              As plumas iam caindo
Sobre as telhas de todos os telhados

 Quem desembrulhou o arco-íris
                                                   Já não há descanso

                                     Brando de asas
                                                            Era meu leito

 Sobre os mares árticos

 Busco a calhandra que voou de meu peito

 


CANCIÓN DE LA MUERVIDA

Mi mano derecha es una golondrina
Mi mano izquierda es un ciprés
Mi cabeza por delante es un señor vivo
Y por detrás es un senõr muerto.
Llevan su cuerpo como el tallo de un nenúfar precioso
Y no van más lejos que un tiro de pistola
Cuentan los días con huesos de frutas
Que guardan en jaulas como pájaros
Cuentan las estrellas y les dan nombres amistosos y tibios
Es preciso no confundir los lechos y no equivocarse de plato
Es preciso cantar como un nenúfar precioso

Un pájaro trina para mil orejas anónimas
Una estrella brilla para mil ojos recién nacidos
El pájaro cambia de día con una mirada
La estrella deposita la muerte y sigue su camino.


CANÇÃO DA MORVIDA
Tradução de José Jeronymo Rivera

A minha mão direita é uma andorinha 
A minha mão esquerda é um cipreste 
A minha cabeça pela frente é um senhor vivo 
E por detrás é um senhor morto. 

Os mortos perderam toda a confiança
 
Nas fundações de nossas casas e de nossas línguas 
E ainda de nossos relógios enrolados no infinito 
Que podemos dizer-lhes 
Eles sobem no telhado da eternidade 
E olham ao longe 
Prendem solidamente as nuvens que estão cheias. 
Tocam o sino do vazio que deve saudar os séculos 
Como um chapéu 
Levam um anel em cada um dos cinco sentidos 
E um pássaro em cada céu 
Estão desterrados da terra enceuados no céu 
Eles descascam a cortiça dos séculos. 

Os vivos alongam seu cipreste 
Para dar bons dias à andorinha 
Se afastam sorridentes até o horizonte 
Sobem cantando até o andar da morte 
Falam em uma língua há muito tempo adormecida 
São póstumos como os ecos da flor do trovão 
E tal como os perfumes 
Trazem o corpo como a haste de um nenúfar precioso 
E não vão mais longe do que um tiro de pistola 
Contam os dias com caroços de frutas 
Que guardam em gaiolas como pássaros 
Contam as estrelas e lhes dão nomes amistosos e mornos 
É preciso não confundir os leitos e não se enganar de prato 
É preciso cantar como um nenúfar precioso 

Um pássaro trina para mil orelhas anônimas
 
Uma estrela brilha para mil olhos recém-nascidos 
O pássaro troca de dia com um olhar 
A estrela deposita a morte e segue o seu caminho.

 


MARINO  

Aquél pájaro que vuela por primera vez

Se aleja del nido mirando hacia atrás

 

Con el dedo en los labios

                       os he llamado.

 

Yo inventé juegos de agua

En la cima de los árboles.

 

Te hice la más bella de las mujeres

Tan bella que enrojecías en las tardes.

La luna se aleja de nosotros

Y arroja una corona sobre el polo

Hice correr ríos

                       que nunca han existido

 

De un grito elevé una montaña

Y en torno bailamos una nueva danza.

Corté todas las rosas

De las nubes del este

Y enseñé a cantar a un pájaro de nieve

 

Marchemos sobre los meses desatados

 

Soy el viejo marino

                       que cose los horizontes cortados



MARINHO

Versão de Antonio Miranda

 

Aquele pássaro que voa por primeira vez

Se afasta do ninho olhando para trás

 

Com o dedo nos lábios

                                    eu os chamei

 

Eu inventei jogos de água

Na copa das árvores

 

Fiz de ti a mais bela das mulheres

Tão bela que enrubesces nas tardes

 

                   A lua se afasta de nós

                   E lança uma coroa sobre o pólo

 

Fiz correr rios

                      que nunca existiram

 

Com um grito elevei uma montanha

E arredor bailamos uma nova dança

 

                   Cortei todas as rosas

                   Das nuvens do leste

 

E ensinei um pássaro de neve a cantar

 

Marchemos pelos meses desatados

 

Sou o velho marinheiro

                                      que costura os horizontes cortados

 

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OTROS POEMAS...


LUNA

Estábamos tan lejos de la vida
Que el viento nos hacia suspirar

                  LA LUNA SUENA COMO UN RELOJ

Inútilmente hemos huido
El invierno cayó en nuestro camino
Y el pasado lleno de hojas secas
Pierde el Sendero de la floresta

                            Tanto fumamos bajo los árboles
                            Que los almendro huelen a tabaco

                                      Medianoche

Sobre la vida lejanda
                                      Alguien llora

Y la liuna olvidó dar la hora

                     (De El Espejo de Agua, 1916)

 

LUA

            Trad. Antonio Miranda

Estávamos tão distantes da vida
Que o vento nos fazia suspirar

                   A LUA SOA COMO UM RELÓGIO

Inutilmente fugimos
O inverno desceu em nosso caminho
E o passado pleno de folhas secas
Perde a trilha da floresta

                            Fumamos tanto sob as árvores
                            Que as amendoeiras cheiram a tabaco

                                      Meia noite

Sobre a vida distante
                                      Alguém chora
E a lua esqueceu de marcar a hora

                        (De El Espejo de Agua, 1916)

 

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ETERNIDAD

Palabras puntiagudas en el azul de viento
Y el enjambre que brilla y que no canta

         LA NOCHE EN TU GARGANTA

Acaso Dios se muere
                                      entre almohadones blancos

Bajo el agua gastada de sus párpados
El aire triangular
                            para colgar erstrellas
Y sobre la verdura nativa de aquel mar
Ir buscando tus huellas
                                      sin mirar hacia atrás

                        (De Poemas árticos, 1917-1918)


ETERNIDADE

            Trad. Antonio Miranda

Palavras pontiagudas no azul do vento
E o enxame que brilha e que não canta

         A NOITE EM TUA GARGANTA

Casualmente morre Deus
                            entre almofadões brancos

Sob a água gasta das palavras
O ar triangular
                            para pendurar estrelas
E sobre o verdor nativo daquele mar
Ir buscando teus vestígios
                                     sem olhar para trás
        
           
            (De Poemas árticos, 1917-1918)

 

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VICENTE HUIDOBRO

 

De
HOMENAGEM A VICENTE HUIDOBRO
NO 40º ANIVERSÁRIO DE SUA PARTIDA
1º  de dezembro de 1988.

Brasília: Embaixada do Chile,

Academia Brasiliense de Letras,
Instituto Cultural Brasil-Chile, 1988
Capa: retrato do poeta por Pablo Picasso.

 

 

POEMA FUNERÁRIO

 

A Guillaume Apollinaire

 

    Tradução de  Domingos Carvalho da Silva

 

 

O pássaro de luxo mudou de estrela

Aparelhai sob a tormenta de lágrimas

Vosso ataúde à vela

Em que se afasta a máquina do fascínio

 

Na vegetação das lembranças

As horas que nos cercam criam as viagens.

 

Ele vai rápido

          Ele vai rápido impelido por suspiros

O mar está repleto de naufrágios

Atapetei o mar para a sua passagem.

 

Assim é a viagem primitiva e sem bilhete

A viagem instrutiva e secreta

Nas galerias do vento

 

As nuvens se apartam para que ele possa passar

E as estrelas se acendem para mostrar o caminho

 

Que procuras nos bolsos de tua roupa?

Terás perdido a chave?

 

No .meio desta zuada celeste

Em toda a parte reencontras tuas horas antigas

 

O vento é negro e há estalactites em minha voz

Dize-me Guilherme,

Terás perdido a chave do infinito?

 

Uma estrela impaciente ia dizer que tem frio

 

As agulhas da chuva começam a costurar a noite.

 

Quando está pensativo diante de céu

Quando estás machucado em tuas almofadas

Quando te sinto chorar atrás de minha janela

Quando choramos sem razão como tu choras.

 

Eis aqui o mar

O mar onde se estilhaça o cheiro das cidades

Com o regaço cheio de barcos e peixes e outras coisas alegres

Esses barcos que pescam à margem do céu

Esses peixes que escutam cada raio de luz

Essas algas com sonhos seculares

E essa onda que canta melhor do que as outras

 

Eis aqui o mar

O mar que se estende e que se agarra as suas margens

O mar que envolve as estrelas em suas ondas

O mar com sua pele martirizada

E o sobressalto de suas veias

Com dias de paz e noites de histeria.

 

E do outro lado — que há do outro lado?

Que escondes mar do outro lado?

O começo da vida longo como uma serpente

Ou o começo da morte mais funda que tu mesmo

E mais alta do que todos os montes?

Que há do outro lado?

A milenária vontade de fazer uma forma e um ritmo

Ou o turbilhão eterno de pétalas partidas?

 

Eis aí o mar

O mar aberto de par em par

Eis ai o mar partido de repente

Para que o olho veja o começo do mundo

Eis aí o mar

De uma onda a outra há o tempo da vida

De suas ondas aos meus olhos há a distância da morte.

 

 

 

MONUMENTO AO MAR

 

    Tradução de  Domingos Carvalho da Silva

 

Paz sobre a constelação cantante das águas

Acotoveladas como os ombros da multidão

Paz sobre o mar às ondas de boa vontade

Paz sobre a lápide dos naufrágios

Paz sobre os tambores do orgulho e as pupilas tenebrosas

E já que sou o tradutor das ondas

Paz também sobre mim.

 

Eis aqui o molde cheio de fragmentos do destino

O molde da vingança

Com suas frases iracundas desatando-se dos lábios

Eis aqui o molde cheio de graça

Porque és suave e estás aí hipnotizado pelas estrelas.

Eis aqui a morte inesgotável desde o princípio do mundo

Até o fim de quem for o último a poder medir o tempo

Porque um dia ninguém mais irá a passeio pelo tempo

Ninguém ao longo do tempo pavimentado de planetas mortos.

 

Este é o mar

O mar com suas próprias ondas
Como os seus próprios sentidos

O mar tentando romper suas correntes

Querendo imitar a eternidade

Querendo ser pulmão ou névoa de pássaros cativos

Ou o jardim dos astros pendurados no céu

Sobre as trevas que arrastamos

Ou que casualmente nos arrastam

Quando de súbito voam todas as pombas da lua.

E escurece mais do que nas encruzilhadas da morte

O mar entra na carruagem da noite

E se afasta para o mistério dos seus esconderijos profundos

E se ouve apenas o ruído das rodas

E a asa dos astros aprisionados no céu

Este é o mar

Saudando de muito longe a eternidade

Saudando os astros esquecidos

Este é o mar que desperta como o choro de um menino

O mar abrindo os olhos e tateando o sol com o tremor das mãos pequenas

O mar empurrando as ondas que embaralham os destinos.

 

Levanta-te e saúda o amor dos homens.

Escuta o nosso riso e também o nosso pranto

Escuta os passos de milhões de escravos

Escuta o protesto interminável

Dessa angústia que se chama homem

Escuta a dor milenária dos corações de carne

E a esperança que lhes renasce das próprias cinzas cada dia.

 

Também nós te escutamos

Ruminando tantos astros colhidos em tuas redes

Ruminando eternamente os séculos naufragados

Também nós te escutamos

Quando revolteias em teu leito de dor

Quando teus gladiadores se batem entre si

Quando tua cólera faz estalar os meridianos

Ou mesmo quando te agitas como uma grande feira em festa

Ou mesmo quando amaldiçoas os homens

Ou te finges adormecido

Aranha tremula em tua grande teia à espera da presa

Choras sem saber porque choras

E nós choramos crendo saber porque choramos

Sofre sofre como sofrem os homens

Que se ouça o ranger de teus dentes na noite

Que te revolvas em teu leito

Que a insônia não te deixe atenazar os sofrimentos,

Que os meninos te apedrejam as janelas

Que te arranquem o cabelo

Tosse tosse rebenta em sangue os teus pulmões

Que tuas ferragens enferrujem

E te vejas calçado como erva de campo.

 

Sou porém vagabundo e tenho medo que me escutes

Tenho medo de tua vingança

Esquece minhas maldições e cantemos juntos esta noite

Digo-te faze-te homem como eu me faço às vezes mar

Esquece os presságios funestos

Esquece a explosão dos meus roçados.

Eu estendo-te as mãos como flores

Digo-te façamos as pazes

Tu és o mais poderoso

Que eu aperte tuas mãos nas minhas

E que haja paz entre nós

Sinto-te junto ao meu coração
Quando escuto o gemer dos teus violinos
Quando aí e estendes como o pranto de um menino.

 

 

 

 

HUIDOBRO, Vicente; ARP, Hans.  III Novelas ejemplares & 20 poemas.  Tradução e nota  preliminar de Floriano Martins.  Natal, RN: Sol Negro Edições, 2012.  94 p.  13x19  cm  

 

Ja vai Hatchou

 

Como um ar de música estive em todas as

partes e nenhuma

Vi o amor e o cavalo antigo

 

As ondas do mar morrendo de peste

O trem a vida o pranto que resolve seu teorema

 

O aninhado em uma nuvem que viajava para o leste

Um pássaro que cantava esquecido de si mesmo

 

No fundo eu te amo

Es mais pálida que a hora e fazes a lenda

Tuas pálpebras é a única coisa que voa

E es muito mais bela que retornar do polo

 

Durante a noite

Teu coração reluz

 

Somente tu vives

La fora é o fim do mundo e do violoncelo

Urna lágrima treme a bordo do céu

 

A terra se afasta e se desinfla
Igual a teus olhos e teu rosto

O quarto se esvaziou pela fechadura

 

 

De repente, 3

 

Me afasto em silêncio como uma fita de seda

Caminhante de rios

Todos os dias me afogo

Em meio a plantações de preces

As catedrais de minhas ternuras cantam à
          noite sob a água

E esses cantos formam as ilhas do mar

 

Sou o caminhante

O caminhante que se parece com as quatro estações

O belo pássaro navegante

Era como um relógio envolto em algodão

Antes de voar me disse teu nome

 

O horizonte colonial está todo coberto de cortinados
Vamos dormir sob a árvore parecida com a chuva

 

 

De repente, 18

 

Aqui me tens a bordo do espaço e longe das circunstâncias

Ternamente como uma luz eu me vou

 

Até o caminho das aparências

Voltarei a sentar-me nos joelhos de meu pai

Uma bela primavera refrescada pelo silêncio das asas

Quando os peixes destroçam o telão do mar

E o vazio se infla como um olhar virtual

 

Voltarei sobre as águas do céu

 

Gosto de viajar como o barco do olho

Que vai e vem em cada piscada

Seis vezes já toquei o umbral

Do infinito que fecha o vento

 

Nada na vida

A não ser um grito de antessala

Nervosas oceânicas por desgraça nos perseguem

No berço das flores impacientes   —

Se encontram as emoções em ritmo definido

 

 

 

 

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A POESIA É UM ATENTADO CELESTE

 

Eu estou ausente porém no fundo desta ausência

Existe a espera de mim mesmo

E esta espera é outro modo de presença

À espera de meu retorno

Eu estou em outros objetos

Ando em viagem dando um pouco de minha vida

A certas árvores e a certas pedras

Que me esperaram muitos anos

 

Cansaram-se de esperar-me e sentaram-se

 

Eu não estou e estou

Estou ausente e estou presente em estado de espera

Eles queriam minha linguagem para expressar-se

E eu queria a deles para expressá-los

Eis aqui o equívoco o atroz equívoco

 

Angustioso lamentável

Vou-me adentrando nestas plantas

Vou deixando minhas roupas

Vou perdendo as carnes

E meu esqueleto vai-se revestindo de cascas

Estou-me fazendo árvore Quantas vezes me converti em outras coisas,..

 

É doloroso e cheio de ternura

Podia dar um grito porém a transubstanciação se espantaria

Há que guardar silêncio Esperar em silêncio

 

 

Vicente Huidobro

(Traduzido por Waly Salomão)

 

 

 

HUIDOBRO, VicenteAltazor e outros poemas. Tradução e seleção de Antonio Risério e Paulo César Souza.  São Paulo: Art Editora, 1991.  215 p. 14x21 cm.  ISBN 85-7161-022-3  “ Vicente Huidobro “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.

 

(Tradução de Antonio Risério)

 

 

AL OÍDO DEL TIEMPO
(fragmento)

Tengo grandes ânsias y verguüenza de todo
Como uma hora que se detiene a pedir pan
Como aquel que no puede decir lo que quiere
Enterrado al fondo de sus raza

 

 

AO OUVIDO DO TEMPO
(fragmento)

Tenho grandes ânsias e vergonha de tudo
Como uma hora que para e pede pão
Como aquele que não pode dizer o que quer
Enterrado no fundo de sua raça

 


          DE VER Y DE PALPAR

          El iceberg sereno como um emperador
          Sigue su destino
          Obedece ciegamente a las líneas de su mano

 


                    DE VER E TOCAR

                    O iceberg sereno como um imperador
                    Segue sua sina
                    Obedece cegamente às linhas de sua mão

 


          SIGLO ENCADENADO EN UN ÁNGULO DEL MUNDO

          En los espejos corrientes
          Pasan las barcas bajo los puentes
          Y los ángeles-correo
                              reposan en el humo de los dreadnoughts
         
          Entre la hierba
                    silba la locomotora em celo
          Que atravesó el invierno

          Las dos cuerdas de su rastro
          Tras ella quedan cantando
          Como uma guitarra indócil
         
          Su ojo desnudo
                                  Cigarro del horizonte
                                                             Danza entre los árboles
          Ella es el Diógenes con la pipa encendida
          Buscando entr los meses y los días

          Sobre el sendero equinocción
          Empecé a caminhar
          Cada estrela
                             es un obus que estala
          Las plumas de mi garganta
          Se entibiran al sol
                                 que perdió un ala

El divino aeroplano
          Traía un ramo de olivo entre las manos
          Sin embargo
          Los ocasos heridos se desangran
Y en el puerto los ´dias que se alejan
Llevan una cruz en el sitio del ancla

Cantando nos sentamos en las playas
 Los más bravos capitanes   El capitán Cock
                                           Caza auroras boreales
En un iceberg iban a los        En el Polo Sur
                              polos
Para dejar su pipa en labios
Esquimales

Otros clavan frescas lanzas em el Congo
El corazón del Africa soleado
Se abre como los higos picoteados

Y los negros
                    De divina raza
Esclavos de Europa
Limpiaban de su rostro
                    La nieve que los mancha
Hombres de alas cortas
                    Han recorrido todo
Y um noble explorador de la Noruega
Como botín de guerra

Trajo a Europa
               entre raros animales
Y árboles exóticos
Los cuatro puntos carniales.

 

                    Ecuatorial, 1918


          SÉCULO ACORRENTADO NUM ÂNGULO DO MUNDO  

  

Pelos espelhos correntes
          Passam as barcas sob as pontes
          E os anjos-correio
                    repousam na fumaça dos navios de guerra

Entre a erva
                    silva a locomotiva no cio
          Que atravessou o inverno

As duas cordas de seu rastro
          Atrás dela ficam cantando
          Como uma guitarra indócil

Seu olho nu
                            Charuto do horizonte
                                                    Dança entre as árvores
          Ela é Diógenes com o cachimbo aceso
          Buscando entre os meses e os dias

          Sobre o caminho equinocial
          Comecei a caminhar
          Cada estrela
                              é um obus que estala
          As plumas de minha garganta
          Se enfraqueceram ao sol
                                           que perdeu uma asa

O divino aeroplano
          Trazia um ramo de oliva entre as mãos
          No entanto
                  Os ocasos feridos dessangram
          E no porto os dias que se afastam
          Levam uma cruz em lugar de âncora

Cantando nos sentamos nas praias
          Os mais bravos capitães      O capitão Cook
                                                     Caça auroras boreais
          Num iceberg iam aos          No Polo Sul
                                  polos
          Para deixar seu cachimbo em lábios
          Esquimós
         
          Outros cravam frescas lanças no Congo
          O coração da África soalhado
          Abre-se como figos bicados

 E os negros
                              de divina raça
          Escravos na Europa
          Limpavam de seu rosto
                                        A neve que os mancha
          Homens de asas curtas
                                        Percorrem tudo
          E um nobre explorador da Noruega
          Como despojos de guerra
          Trouxe à Europa
                              entre raros animais
          E árvores exóticas
          Os quatro pontos cardeais.  

 

 

 

 

ALMANAQUE DADÁ. Edición Richard Helsenbeck. Prólogo Simón Marchán Fiz.  Traducción de Anton Dieterich.  Madrid: Editorial Tecnos (Grupo Anaya), 2015.  124 p. 

 

 

 

HUIDOBRO, Vicente.   Tremor de céu.  Tradução e nota preliminar de Floriano Martins.  Edição bilíngue Español – Português.  Natal, RN:  Sol Negro Edições, 14 x 20,5 cm.   Editor: Márcio Simões.

Inclui também a breve conferência “A poesia”.    
Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Publicado originalmente em 1931, juntamente com Altazor, sua contraparte em veros, Tremor de Céu, longo poema em prosa poética, é um dos textos mais densos e impactantes do chileno Vicente Huidobro (1893-1948), e signo indelével de sua maturidade poética. FLORIANO MARTINS

A seguir, um fragmento livro:  

 

 

Ante todo hay que saber cuántas veces debemos abandonar nuestra novia y huir de sexo en sexo hasta el fin de la tierra.

Allí en donde el vacío pasa su arco de violín sobre el horizonte y el hombre se transforma en pájaro y el ángel en piedra preciosa.

El Padre Eterno está fabricando tinieblas en su labo¬ratorio y trabaja para volver sordos a los ciegos. Tiene un ojo en la mano y no sabe a quién ponérselo. Y en un bocal tiene una oreja en cópula con otro ojo.

Estamos lejos, en el fin de los fines, en donde un hombre colgado por los pies de una estrella se balancea en el espacio con la cabeza hacia abajo. El viento que dobla los árboles, agita sus cabellos dulcemente.

Los arroyos voladores se posan en las selvas nuevas donde los pájaros maldicen el amanecer de tanta flor inútil.

Con cuánta razón ellos insultan las palpitaciones de esas cosas oscuras.

 

 

Antes de tudo há que saber quantas vezes devemos abandonar nossa amada e fugir de sexo em sexo até o fim da terra.

Ali onde o vazio passa seu arco de violino sobre o horizonte e o homem se transforma em pássaro e o anjo em pedra preciosa.

O Pai Eterno está fabricando trevas em seu laboratório e trabalha para tornar surdos os cegos. Tem um olho na mão e não sabe em quem pô-lo. E em um bocal tem urna orelha em cópula com outro olho.

Estamos longe, no fim dos fins, onde um homem pendurado nos pés de urna estrela se balança no espaço de cabeça para baixo. O vento que dobra as árvores agita seus cabelos docemente.

Os arroios voadores pousam nas selvas novas onde os pássaros maldizem o amanhecer de tanta flor inútil.

Com quanta razão eles insultam as palpitações dessas coisas escuras.

 

       

 



Página republicada em julho de 2015; página ampliada e republicada em maio de 2019

         

 


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