VICENTE HUIDOBRO
VICENTE HUIDOBRO (1893-1947) — Chileno. Dos maiores poetas da América. Instituiu o Criacionismo. Em Paris desde 1916, escreveu em francês parte de sua obra. Alguns títulos: Horizon Carré (1917), Tour Eiffel, Hallalí (1918), Saisons Choisies (1921), Automne Regulier (1925), Altazor (1931). Dos poemas aqui traduzidos, “Mares Articos” é de Poemas Articos (1918); os dois outros, de Espejo de Agua (1916).
Vea/veja tb: POESIA VISUAL DE VICENTE HUIDOBRO
Prelúdio de esperança
Vicente Huidobro, tradução de Salomão Sousa:
Cantas e cantas falas e falas
E giras pelo tempo
E choras como lírio desvairado
E suspiras entre largos agonizantes que não sabem o que dizer
Às vezes também ris com teus ossos de grande noite
Assinalados em seu lugar de esqueleto
Designados num pedaço de terra saudando o céu
Pede conformidade para teus altos interesses
No país da esperança que desperta em tuas costelas
Pede lição à árvore acusada por seus excessos
E suas asas habituadas a todo transe
Escuta a saída do rio escuta a sombra dentro da flor
Cantas e cantas e falas e falas
E sonhas que a espécie esquecerá trevas
Logo logo o esquecimento do pranto
As lágrimas armadas de luz tão distante
Como animais numerados que vão saindo do mar
Logo o esquecimento de tanta sombra suspirada
Logo o futuro de horizontes que conhece sua paixão
Cantas e cantas
E tens uma voz acumulada
Tens uma voz com certas partes dolorosas
E certos rincões impacientes
E gotas de astros perdidos por seu terno coração
Tens cascatas em tuas regiões mais pensadoras
Tens objetos convertidos em vidro no fundo de teus olhos
Tens rotas nascidas para o escuro sonhar da garganta
Podes fazer um nó de portas com teus enigmas
E assim mesmo desatar o tempo entre sons e presságios
Podes dar uma parte a tua luz no caminho mesmo
Falas e falas
E já sabemos que é como o ruído da chuva
Que cai de cabeça sobre o campo
Mas teu ruído leva sonhos e pedaços de folhas pensativas
Leva um bronze que escavou cinzas e montanhas
Cantas e cantas choras e choras
E em teu chorar há o combate da morte e da marcha
Todas as últimas batalhas com sua cor de limite
E em teu silêncio crescem árvores tão decididas como as borrascas
E a morte obedece a seu mundo tenebroso
Ardendo em sonhos de chave visionária
Falas e falas vês e vês
E sentes a crosta que te separa das ânsias alheias
Sentes de dentro de ti mesmo
Os impulsos do mundo as pulsações da terra
E os tormentos de todas as crisálidas
Em seu escafandro de enigmas
Sentes as asas cegas de teus signos ofegantes
E essa água abandonada de seus mares que corre em tuas artérias
Cantas e cantas ris e ris
E tens uma doçura que te come os ossos
E ouves chiar a terra que não sabe seu nome
E doem-lhe as árvores
Dói-lhe o mar com todas suas ondas
Dói-lhe a passagem dos homens
E os riachos obscuros que se entrecruzam
Num pacto ungido pela nobreza de seus anos
Chora e choras olhas e olhas ris e ris
e deténs-te pensativo no meio de tantos ecos
Nesta terra de entusiasmos secretos
Nestes ventos que trazem aparências de destinos
E contemplas de um lado o principiar do mundo
Do outro a noite de cristais espantados
E vais e buscas ansioso
Essa música rasgada por onde se evade a casa
E desaparece movendo o coração entre fantasmas
Quando o sol te recompõe de repente
Que queres que te diga
A tempo de ver caem as plumas
Como velhice de palavra em traje de alma
Que queres que te diga
O mundo desce por tuas angústias ao teu encontro
Cantas e cantas falas e falas
E te esqueces de tudo para que tudo te esqueça
Falas e falas cantas e cantas
Choras e choras vês e vês ris e ris
E partes em silhueta de ar
Que el verso sea como una llave
Que abra mil puertas.
Una hoja cae; algo pasa volando;
Cuanto miren los ojos creado sea,
Y el alma del oyente quede temblando.
Inventa mundos nuevos y cuida tu palavra;
El adjetivo, cuando no da vida, mata.
Estamos en el ciclo de los nervios.
El músculo cuelga,
Como recuerdo, en los museos;
Mas no por eso tenemos menos fuerza:
El vigor verdadero
Reside en la cabeza.
Por qué cantáis la rosa, ¡oh, Poetas!
Hacedla florecer en el poema;
Sólo para nosotros
Viven las cosas bajo el sol.
El Poeta es un pequeño dios. |
Tradução de Anderson Braga Horta
Que o verso seja como uma chave
Que abra mil portas.
Uma folha cai; algo passa voando;
Quanto fitem os olhos criado seja,
E a alma de quem ouve fique tremendo.
Inventa mundos novos e cultiva a palavra;
O adjetivo, quando não dá vida, mata.
Estamos no ciclo dos nervos.
O músculo pende,
Como lembrança, nos museus;
Mas nem por isso temos menos força:
O vigor verdadeiro
Reside na cabeça.
Por que cantais a rosa, ó Poetas!
Fazei-a florescer no poema.
Somente para nós
Vivem as coisas sob o sol.
O Poeta é um pequeno deus. |
Mi espejo, corriente por las noches,
Se hace arroyo y se aleja de mi cuarto.
Mi espejo, más profondo que el orbe
Donde todos los cisnes se ahogaron.
Es un estanque verde en la muralla
Y en medio duerme tu desnudez anclada.
Sobre sus olas, bajo cielos sonámbulos,
Mis ensueños se alejan como barcos.
De pie en la popa siempre me veréis cantando.
Una rosa secreta se hincha en mi pecho
Y un ruiseñor ebrio aletea en mi dedo. |
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Tradução de Anderson Braga Horta
Meu espelho, correndo pelas noites,
Torna-se arroio e foge do meu quarto.
Meu espelho, mais profundo que o orbe
Onde todos os cisnes se afogaram.
É um tanque verde na parede, e nele
Dorme tua desnudez ancorada.
Em suas ondas, sob uns céus sonâmbulos,
Os meus sonhos se afastam como barcos.
De pé na popa sempre me vereis cantando.
Uma rosa secreta intumesce em meu peito
E um rouxinol ébrio esvoaça em meu dedo. |
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Los mares árticos
Colgados del ocaso
Entre las nubes se quema un pájaro
Día a día
Las plumas iban cayendo
Sobre las tejas de todos los tejados
Quién ha desarrollado el arco-iris
Ya no hay descanso
Blando de alas
Era mi lecho
Sobre los mares árticos
Busco la alondra que voló de mi pecho
Tradução de Anderson Braga Horta
Os mares árticos
Pendurados do ocaso
Por entre as nuvens se queima um pássaro
Dia a dia
As plumas iam caindo
Sobre as telhas de todos os telhados
Quem desembrulhou o arco-íris
Já não há descanso
Brando de asas
Era meu leito
Sobre os mares árticos
Busco a calhandra que voou de meu peito
Mi mano derecha es una golondrina
Mi mano izquierda es un ciprés
Mi cabeza por delante es un señor vivo
Y por detrás es un senõr muerto.
Llevan su cuerpo como el tallo de un nenúfar precioso
Y no van más lejos que un tiro de pistola
Cuentan los días con huesos de frutas
Que guardan en jaulas como pájaros
Cuentan las estrellas y les dan nombres amistosos y tibios
Es preciso no confundir los lechos y no equivocarse de plato
Es preciso cantar como un nenúfar precioso
Un pájaro trina para mil orejas anónimas
Una estrella brilla para mil ojos recién nacidos
El pájaro cambia de día con una mirada
La estrella deposita la muerte y sigue su camino.
Tradução de José Jeronymo Rivera
A minha mão direita é uma andorinha
A minha mão esquerda é um cipreste
A minha cabeça pela frente é um senhor vivo
E por detrás é um senhor morto.
Os mortos perderam toda a confiança
Nas fundações de nossas casas e de nossas línguas
E ainda de nossos relógios enrolados no infinito
Que podemos dizer-lhes
Eles sobem no telhado da eternidade
E olham ao longe
Prendem solidamente as nuvens que estão cheias.
Tocam o sino do vazio que deve saudar os séculos
Como um chapéu
Levam um anel em cada um dos cinco sentidos
E um pássaro em cada céu
Estão desterrados da terra enceuados no céu
Eles descascam a cortiça dos séculos.
Os vivos alongam seu cipreste
Para dar bons dias à andorinha
Se afastam sorridentes até o horizonte
Sobem cantando até o andar da morte
Falam em uma língua há muito tempo adormecida
São póstumos como os ecos da flor do trovão
E tal como os perfumes
Trazem o corpo como a haste de um nenúfar precioso
E não vão mais longe do que um tiro de pistola
Contam os dias com caroços de frutas
Que guardam em gaiolas como pássaros
Contam as estrelas e lhes dão nomes amistosos e mornos
É preciso não confundir os leitos e não se enganar de prato
É preciso cantar como um nenúfar precioso
Um pássaro trina para mil orelhas anônimas
Uma estrela brilha para mil olhos recém-nascidos
O pássaro troca de dia com um olhar
A estrela deposita a morte e segue o seu caminho.
MARINO
Aquél pájaro que vuela por primera vez
Se aleja del nido mirando hacia atrás
Con el dedo en los labios
os he llamado.
Yo inventé juegos de agua
En la cima de los árboles.
Te hice la más bella de las mujeres
Tan bella que enrojecías en las tardes.
La luna se aleja de nosotros
Y arroja una corona sobre el polo
Hice correr ríos
que nunca han existido
De un grito elevé una montaña
Y en torno bailamos una nueva danza.
Corté todas las rosas
De las nubes del este
Y enseñé a cantar a un pájaro de nieve
Marchemos sobre los meses desatados
Soy el viejo marino
que cose los horizontes cortados
Versão de Antonio Miranda
Aquele pássaro que voa por primeira vez
Se afasta do ninho olhando para trás
Com o dedo nos lábios
eu os chamei
Eu inventei jogos de água
Na copa das árvores
Fiz de ti a mais bela das mulheres
Tão bela que enrubesces nas tardes
A lua se afasta de nós
E lança uma coroa sobre o pólo
Fiz correr rios
que nunca existiram
Com um grito elevei uma montanha
E arredor bailamos uma nova dança
Cortei todas as rosas
Das nuvens do leste
E ensinei um pássaro de neve a cantar
Marchemos pelos meses desatados
Sou o velho marinheiro
que costura os horizontes cortados
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OTROS POEMAS...
LUNA
Estábamos tan lejos de la vida
Que el viento nos hacia suspirar
LA LUNA SUENA COMO UN RELOJ
Inútilmente hemos huido
El invierno cayó en nuestro camino
Y el pasado lleno de hojas secas
Pierde el Sendero de la floresta
Tanto fumamos bajo los árboles
Que los almendro huelen a tabaco
Medianoche
Sobre la vida lejanda
Alguien llora
Y la liuna olvidó dar la hora
(De El Espejo de Agua, 1916)
LUA
Trad. Antonio Miranda
Estávamos tão distantes da vida
Que o vento nos fazia suspirar
A LUA SOA COMO UM RELÓGIO
Inutilmente fugimos
O inverno desceu em nosso caminho
E o passado pleno de folhas secas
Perde a trilha da floresta
Fumamos tanto sob as árvores
Que as amendoeiras cheiram a tabaco
Meia noite
Sobre a vida distante
Alguém chora
E a lua esqueceu de marcar a hora
(De El Espejo de Agua, 1916)
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ETERNIDAD
Palabras puntiagudas en el azul de viento
Y el enjambre que brilla y que no canta
LA NOCHE EN TU GARGANTA
Acaso Dios se muere
entre almohadones blancos
Bajo el agua gastada de sus párpados
El aire triangular
para colgar erstrellas
Y sobre la verdura nativa de aquel mar
Ir buscando tus huellas
sin mirar hacia atrás
(De Poemas árticos, 1917-1918)
ETERNIDADE
Trad. Antonio Miranda
Palavras pontiagudas no azul do vento
E o enxame que brilha e que não canta
A NOITE EM TUA GARGANTA
Casualmente morre Deus
entre almofadões brancos
Sob a água gasta das palavras
O ar triangular
para pendurar estrelas
E sobre o verdor nativo daquele mar
Ir buscando teus vestígios
sem olhar para trás
(De Poemas árticos, 1917-1918)
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De
HOMENAGEM A VICENTE HUIDOBRO
NO 40º ANIVERSÁRIO DE SUA PARTIDA
1º de dezembro de 1988.
Brasília: Embaixada do Chile,
Academia Brasiliense de Letras,
Instituto Cultural Brasil-Chile, 1988
Capa: retrato do poeta por Pablo Picasso.
POEMA FUNERÁRIO
A Guillaume Apollinaire
Tradução de Domingos Carvalho da Silva
O pássaro de luxo mudou de estrela
Aparelhai sob a tormenta de lágrimas
Vosso ataúde à vela
Em que se afasta a máquina do fascínio
Na vegetação das lembranças
As horas que nos cercam criam as viagens.
Ele vai rápido
Ele vai rápido impelido por suspiros
O mar está repleto de naufrágios
Atapetei o mar para a sua passagem.
Assim é a viagem primitiva e sem bilhete
A viagem instrutiva e secreta
Nas galerias do vento
As nuvens se apartam para que ele possa passar
E as estrelas se acendem para mostrar o caminho
Que procuras nos bolsos de tua roupa?
Terás perdido a chave?
No .meio desta zuada celeste
Em toda a parte reencontras tuas horas antigas
O vento é negro e há estalactites em minha voz
Dize-me Guilherme,
Terás perdido a chave do infinito?
Uma estrela impaciente ia dizer que tem frio
As agulhas da chuva começam a costurar a noite.
Quando está pensativo diante de céu
Quando estás machucado em tuas almofadas
Quando te sinto chorar atrás de minha janela
Quando choramos sem razão como tu choras.
Eis aqui o mar
O mar onde se estilhaça o cheiro das cidades
Com o regaço cheio de barcos e peixes e outras coisas alegres
Esses barcos que pescam à margem do céu
Esses peixes que escutam cada raio de luz
Essas algas com sonhos seculares
E essa onda que canta melhor do que as outras
Eis aqui o mar
O mar que se estende e que se agarra as suas margens
O mar que envolve as estrelas em suas ondas
O mar com sua pele martirizada
E o sobressalto de suas veias
Com dias de paz e noites de histeria.
E do outro lado — que há do outro lado?
Que escondes mar do outro lado?
O começo da vida longo como uma serpente
Ou o começo da morte mais funda que tu mesmo
E mais alta do que todos os montes?
Que há do outro lado?
A milenária vontade de fazer uma forma e um ritmo
Ou o turbilhão eterno de pétalas partidas?
Eis aí o mar
O mar aberto de par em par
Eis ai o mar partido de repente
Para que o olho veja o começo do mundo
Eis aí o mar
De uma onda a outra há o tempo da vida
De suas ondas aos meus olhos há a distância da morte.
MONUMENTO AO MAR
Tradução de Domingos Carvalho da Silva
Paz sobre a constelação cantante das águas
Acotoveladas como os ombros da multidão
Paz sobre o mar às ondas de boa vontade
Paz sobre a lápide dos naufrágios
Paz sobre os tambores do orgulho e as pupilas tenebrosas
E já que sou o tradutor das ondas
Paz também sobre mim.
Eis aqui o molde cheio de fragmentos do destino
O molde da vingança
Com suas frases iracundas desatando-se dos lábios
Eis aqui o molde cheio de graça
Porque és suave e estás aí hipnotizado pelas estrelas.
Eis aqui a morte inesgotável desde o princípio do mundo
Até o fim de quem for o último a poder medir o tempo
Porque um dia ninguém mais irá a passeio pelo tempo
Ninguém ao longo do tempo pavimentado de planetas mortos.
Este é o mar
O mar com suas próprias ondas
Como os seus próprios sentidos
O mar tentando romper suas correntes
Querendo imitar a eternidade
Querendo ser pulmão ou névoa de pássaros cativos
Ou o jardim dos astros pendurados no céu
Sobre as trevas que arrastamos
Ou que casualmente nos arrastam
Quando de súbito voam todas as pombas da lua.
E escurece mais do que nas encruzilhadas da morte
O mar entra na carruagem da noite
E se afasta para o mistério dos seus esconderijos profundos
E se ouve apenas o ruído das rodas
E a asa dos astros aprisionados no céu
Este é o mar
Saudando de muito longe a eternidade
Saudando os astros esquecidos
Este é o mar que desperta como o choro de um menino
O mar abrindo os olhos e tateando o sol com o tremor das mãos pequenas
O mar empurrando as ondas que embaralham os destinos.
Levanta-te e saúda o amor dos homens.
Escuta o nosso riso e também o nosso pranto
Escuta os passos de milhões de escravos
Escuta o protesto interminável
Dessa angústia que se chama homem
Escuta a dor milenária dos corações de carne
E a esperança que lhes renasce das próprias cinzas cada dia.
Também nós te escutamos
Ruminando tantos astros colhidos em tuas redes
Ruminando eternamente os séculos naufragados
Também nós te escutamos
Quando revolteias em teu leito de dor
Quando teus gladiadores se batem entre si
Quando tua cólera faz estalar os meridianos
Ou mesmo quando te agitas como uma grande feira em festa
Ou mesmo quando amaldiçoas os homens
Ou te finges adormecido
Aranha tremula em tua grande teia à espera da presa
Choras sem saber porque choras
E nós choramos crendo saber porque choramos
Sofre sofre como sofrem os homens
Que se ouça o ranger de teus dentes na noite
Que te revolvas em teu leito
Que a insônia não te deixe atenazar os sofrimentos,
Que os meninos te apedrejam as janelas
Que te arranquem o cabelo
Tosse tosse rebenta em sangue os teus pulmões
Que tuas ferragens enferrujem
E te vejas calçado como erva de campo.
Sou porém vagabundo e tenho medo que me escutes
Tenho medo de tua vingança
Esquece minhas maldições e cantemos juntos esta noite
Digo-te faze-te homem como eu me faço às vezes mar
Esquece os presságios funestos
Esquece a explosão dos meus roçados.
Eu estendo-te as mãos como flores
Digo-te façamos as pazes
Tu és o mais poderoso
Que eu aperte tuas mãos nas minhas
E que haja paz entre nós
Sinto-te junto ao meu coração
Quando escuto o gemer dos teus violinos
Quando aí e estendes como o pranto de um menino.
HUIDOBRO, Vicente; ARP, Hans. III Novelas ejemplares & 20 poemas. Tradução e nota preliminar de Floriano Martins. Natal, RN: Sol Negro Edições, 2012. 94 p. 13x19 cm
Ja vai Hatchou
Como um ar de música estive em todas as
partes e nenhuma
Vi o amor e o cavalo antigo
As ondas do mar morrendo de peste
O trem a vida o pranto que resolve seu teorema
O aninhado em uma nuvem que viajava para o leste
Um pássaro que cantava esquecido de si mesmo
No fundo eu te amo
Es mais pálida que a hora e fazes a lenda
Tuas pálpebras é a única coisa que voa
E es muito mais bela que retornar do polo
Durante a noite
Teu coração reluz
Somente tu vives
La fora é o fim do mundo e do violoncelo
Urna lágrima treme a bordo do céu
A terra se afasta e se desinfla
Igual a teus olhos e teu rosto
O quarto se esvaziou pela fechadura
De repente, 3
Me afasto em silêncio como uma fita de seda
Caminhante de rios
Todos os dias me afogo
Em meio a plantações de preces
As catedrais de minhas ternuras cantam à
noite sob a água
E esses cantos formam as ilhas do mar
Sou o caminhante
O caminhante que se parece com as quatro estações
O belo pássaro navegante
Era como um relógio envolto em algodão
Antes de voar me disse teu nome
O horizonte colonial está todo coberto de cortinados
Vamos dormir sob a árvore parecida com a chuva
De repente, 18
Aqui me tens a bordo do espaço e longe das circunstâncias
Ternamente como uma luz eu me vou
Até o caminho das aparências
Voltarei a sentar-me nos joelhos de meu pai
Uma bela primavera refrescada pelo silêncio das asas
Quando os peixes destroçam o telão do mar
E o vazio se infla como um olhar virtual
Voltarei sobre as águas do céu
Gosto de viajar como o barco do olho
Que vai e vem em cada piscada
Seis vezes já toquei o umbral
Do infinito que fecha o vento
Nada na vida
A não ser um grito de antessala
Nervosas oceânicas por desgraça nos perseguem
No berço das flores impacientes —
Se encontram as emoções em ritmo definido
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