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ROBERTO BOLAÑO

 

ROBERTO BOLAÑO

(28 de abril de 1953 — 15 de julho de 2003)

 

Roberto Bolaño talvez tenha sido uma das perdas mais prematuras para a literatura da América Latina. No auge da carreira, com 50 anos, este chileno, que morou grande parte de sua vida no México e onde ambientou a trama de suas grandes obras, morreu com insuficiência hepática. Apesar de ter deixado vastíssima e valiosa obra ficcional, tais como Os detetives selvagens (publicado no Brasil pela Cia. das Letras) e 2666 (romance publicado postumamente), a sua formação se deu com a escritura poética.

 

Página preparada por Salomão Sousa especialmente para o Portal de Poesia Iberoamericana. incluindo as traduções.

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL   /   TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

 

AUTORRETRATO A LOS VEINTE AÑOS

 

Me dejé ir, lo tomé en marcha y no supe nunca

hacia dónde hubiera podido llevarme. Iba lleno de miedo,

se me aflojó el estómago y me zumbaba la cabeza:

yo creo que era el aire frío de los muertos.

No sé. Me dejé ir, pensé que era una pena

acabar tan pronto, pero por otra parte

escuché aquella llamada misteriosa y convincente.

O la escuchas o no la escuchas, y yo la escuché

y casi me eché a llorar: un sonido terrible,

nacido en el aire y en el mar.

Un escudo y una espada. Entonces,

pese al miedo, me dejé ir, puse mi mejilla

junto a la mejilla de la muerte.

Y me fue imposible cerrar los ojos y no ver

aquel espectáculo extraño, lento y extraño,

aunque empotrado en una realidad velocísima:

miles de muchachos como yo, lampiños

o barbudos, pero latinoamericanos todos,

juntando sus mejillas con la muerte.

 

 

RESURRECCIÓN

 

La poesía entra en el sueño

como un buzo en el lago.

La poesía, más valiente que nadie,

entra y cae

a plomo

en un lago infinito cono Loch Ness

o turbio e infausto como el lago Batalón.

Contempladla desde el fondo:

un buzo

inocente

envuelto en las plumas

de la voluntad.

La poesía entra en el sueño

como un buzo muerto

en el ojo de Dios.

 

 

LOS DETECTIVES HELADOS

 

Soñé con detectives helados, detectives latinoamericanos

que intentaban mantener los ojos abiertos

en medio del sueño.

Soñé con crímenes horribles

Y con tipos cuidadosos

que procuraban no pisar los charcos de sangre

y al mismo tiempo abarcar con una sola mirada

el escenario del crimen.

Soñé con detectives perdidos

en el espejo convexo de los Arnolfini:

nuestra época, nuestras perspectivas,

nuestros modelos del Espanto.

 

 

LOS PERROS ROMÁNTICOS

 

En aquel tiempo yo tenía veinte años

y estaba loco.

Había perdido un país

pero había ganado un sueño.

Y si tenía ese sueño

lo demás no importaba.

Ni trabajar ni rezar

ni estudiar en la madrugada

junto a los perros románticos.

Y el sueño vivía en el espacio de mi espíritu.

Una habitación de madera,

en penumbras,

en uno de los pulmones del trópico.

Y a veces me volvía dentro de mí

y visitaba el sueño: estatua eternizada

en pensamientos líquidos,

un gusano blanco retorciéndose

en el amor.

Un amor desbocado.

Un sueño dentro de otro sueño.

Y la pesadilla me decía: crecerás.

Dejarás atrás las imágenes del dolor y del laberinto

y olvidarás.

Pero en aquel tiempo crecer hubiera sido un crimen.

Estoy aquí, dije, con los perros románticos

Y aquí me voy a quedar.

 

 

 

Atole*

 

Vía a Mario Santiago y Orlando Guillén

los poetas perdidos de México

tomando atole con el dedo

 

En los murales de una nueva universidad

llamada infierno o algo que podía ser

una especie de infierno pedagógico

 

Pero os aseguro que la música de fondo

era una huasteca veracruzana o tamaulipeca

no soy capaz de precisarlo

 

Amigos míos era el día en que se estrenaba

“Los Poetas Perdidos de México”

así que ya se lo pueden imaginar

 

Y Mario y Orlando reían pero como en cámara lenta

como si en el mural en el que vivían

no existiera la prisa o la velocidad

 

No sé si me explico

como si sus risas se desplegaran minuciosamente

sobre un horizonte infinito

 

Esos cielos pintados por el Dr. Atl, ¿los recuerdas?

sí, los recuerdo, y también recuerdo

las risas de mis amigos

 

Cuando aún no vivían dentro del mural laberíntico

apareciendo y desapareciendo como la poesía verdadera

esa que ahora visitan los turistas

 

Borrachos y drogados como escritos con sangre

ahora desaparecen por el esplendor geométrico

que es el México que les pertenece

 

El México de las soledades y los recuerdos

el del metro nocturno y los cafés chinos

el del amanecer el del atol

 

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Foto de Roberto Bolaño extraída de:

MORDZINSKI, Daniel. A literatura na lente de Daniel Mordzinski. Textos de Adriana Lisboa e Victor Andresco. São Paulo: SESI-SP editora, 2015. 412 p. ilus. col. ISBN 978-82075-604-2 Textos em português e castelhano.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

                     TEXTOS EM PORTUGUÊS

 

                  Traduções de Salomão Sousa

 

 

AUTORRETRATO AOS VINTE ANOS

 

Me deixei levar, pé na estrada e nunca soube

para onde poderia me levar. Ia cheio de medo,

doía a boca do estômago e a cabeça zumbia:

acredito que era do ar frio dos mortos.

Não sei. Deixei-me levar, pensei que era uma pena

acabar tão cedo, mas por outro lado

escutei aquele chamado misterioso e convincente.

Ou escutas ou não escutas, e eu escutei

e quase me lancei a chorar: um ruído terrível

nascido do ar e do mar.

Um escudo e uma espada. Então,

apesar do medo, me deixei levar, pus a face

junto da face da morte.

E foi impossível fechar os olhos e não ver

aquele espetáculo estranho, lento e estranho,

ainda que montado numa realidade velocíssima:

milhares de jovens como eu, imberbes

ou barbudos, mas latino-americanos todos

encostando suas faces na morte.

 

 

RESSURREIÇÃO

 

A poesia entra no sonho

como o mergulhador no lago.

A poesia, mais valente que ninguém,

entra e cai

direto

num lago infinito como Loch Ness

ou turvo e infausto como o lago Batalón.

Contemplai-o ali ao fundo:

um mergulhador

inocente

envolto nas plumas

da vontade.

A poesia entra no sonho

como o mergulhador morto

no olho de Deus.

 

OS DETETIVES GELADOS

 

Sonhei com os detetives gelados, detetives latino-americanos

que tentavam manter os olhos abertos

no meio do sonho.

Sonhei com crimes horríveis

E com tipos cuidadosos

que procuravam não pisar nos charcos de sangue

e ao mesmo tempo abarcar com um só olhar

o cenário do crime.

Sonhei com detetives perdidos

no espelho convexo dos Arnolfini:

nossa época, nossas perspectivas,

nossos modelos de Espanto.

 

OS CACHORROS ROMÂNTICOS

 

 

Naquela época eu tinha vinte anos

e estava louco

Tinha perdido um país

mas ganhara um sonho.

E se tinha esse sonho

o resto não importava.

Nem trabalhar nem rezar

nem estudar de madrugada

junto aos cachorros românticos.

E o sonho vivia no espaço de meu espírito.

Um cômodo de madeira,

na penumbra,

num dos pulmões dos trópicos.

E às vezes eu me revolvia dentro de mim

e visitava o sonho: estátua eternizada

em pensamentos líquidos,

um verme branco se retorcendo

no amor.

Um amor debochado.

Um sonho dentro de outro sonho.

E o pesadelo me dizia: crescerás.

Deixarás para trás as imagens da dor e do labirinto

e esquecerás.

Mas naquele tempo crescer teria sido um crime.

Estou aqui, disse com os cachorros românticos

E aqui eu vou ficar.

 

 

Atole*

 

Via Mario Santiago e Orlando Guillén

os poetas perdidos do México

tomando atole com os dedos

 

Nos murais de uma nova universidade

chamada inferno ou outra coisa que podia ser

uma espécie de inferno pedagógico.

 

Mas lhes asseguro que a música de fundo

era uma huasteca veracruzana ou tamaulipeca

no sou capaz de precisar

 

Amigos meus era um dia que estreava

“Los Poetas Perdidos de México”

assim vocês podem imaginar

 

E Mario e Orlando riam mas como em câmara lenta

como se no mural em que viviam

não existisse a pressa ou a velocidade

 

Não sei se me explico

como se seus risos se soltassem minuciosamente

sobre um horizonte infinito

 

Esses céus pintados pelo Dr. Atl, lembras?

sim, lembro, e também lembro

dos risos dos meus amigos

 

Quando ainda viviam dentro do mural labiríntico

aparecendo e desaparecendo como a poesia verdadeira

essa que agora os turistas visitam

 

Bêbados e drogados como escritos com sangue

agora desaparecem pelo esplendor geométrico

que é o México que lhes enternece

 

México das solidões e das lembranças

do metrô noturno e dos cafés chineses

do amanhecer e do atole

 

 

*Espécie de batida, no México

 

 

 

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