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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




 

 

PABLO NERUDA

PABLO NERUDA (1904–1973) — Nome literário de Neftalí Ricardo Reyes. Chileno. Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Obras: Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada (traduzido por Domingos Carvalho da Silva), Residencia en la Tierra, Oda a Stalingrado, Tercera Residencia, Canto General, Odas Elementales, etc

Leia texto de Elga Pérez-Laborde sobre o centenário do poeta:
UM SÉCULO COM NERUDA: 1904-2004

DE LA TERCERA MUERTE DE NERUDA-Poema de Antonio Miranda



Músicas : https://soundcloud.com/poesianaweb/sets/presencia-de-neruda


VEINTE POEMAS DE AMOR
y una canción desesperada

20

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.

Escribir, por ejemplo: "La noche está estreitada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos".

El viento de la noche gira en el cielo y canta.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.

En las noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.

Ella me quiso, a veces yo también la queria.
Como no haber amado sus grandes ojos fijos.

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.

Oír la noche inmensa, más inmensa sín ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocio.

Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.

Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A Io lejos.

Mi alma no se contenta con haberla perdido.

Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.

La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.

Ya no la quiero, es cierto, pêro cuânto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.

De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.

Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.

Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.


Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.

Aunque este sea el último dolor que ella me causa,
y estos sean los últimos versos que yo le escribo.

 

VINTE POEMAS DE AMOR
e uma canção desesperada

          Trad. de Domingos Carvalho da Silva

20

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada
e tiritam, azuis, os astros à distância".

O vento desta noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a quis e por vezes ela também me quis.

Em noites como esta apertei-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me quis e ás vezes eu também a queria.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela.
E cai o verso na alma como o orvalho no trigo.

Que importa se não pôde o meu amor guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Para tê-la mais perto meu olhar a procura.
Meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite faz brancas as mesmas árvores.
Já não somos os mesmos que antes tínhamos sido.

Já não a quero, é certo, porém quanto a queria!
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos.

Já não a quero, é certo, porém talvez a queira.
Ah, é tão curto o amor, tão demorado o olvido.

Porque em noites como esta a apertei nos meus braços
minha alma se exaspera por havê-la perdido.

Mesmo que seja a última esta dor que me causa
e estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.

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ALTURAS DE MACHU PICCHU (POEMA XII)

Tradução de José Jeronymo Rivera

Sobe a nascer comigo, irmão

E tua mão estende-me da funda
zona de tua dor disseminada.
Não voltarás do fundo dos rochedos.
Não voltarás do tempo subterrâneo.
Não voltará tua voz endurecida.


Não voltarão teus olhos perfurados.
Vem me fitar da profundez da terra,
lavrador, tecedor, pastor calado:
domador de guanacos tutelares:
pedreiro por andaimes desafiado:
aguadeiro de lágrimas andinas:
joalheiro dos dedos machucados:
agricultor tremendo na semente:
oleiro em tua argila derramado:
trazei ao cálix desta nova vida
as vossas velhas dores enterradas.
Mostrai-me vosso sangue e vosso corte,
dizei-me: aqui fui castigado,
porque a jóia não rebrilhou, ou a terra
não entregou a tempo a pedra ou o grão:
assinalai-me a terra em que caístes
e o madeiro em que vos crucificaram,
acendei-me as antigas pederneiras,
as velhas lâmpadas, os látegos gravados
por séculos e séculos nas chagas
e os machados de brilho ensangüentado.
Venho falar por vossa boca morta.
Na vastidão da terra juntai todos
os silenciosos lábios derramados
e do fundo falai-me toda esta longa noite
como se eu estivesse ancorado convosco,
contai-me tudo, cadeia a cadeia,
contai elo por  elo, e passo a passo,
afiai os facões que conservastes,
ponde-os em meu peito e em minha mão,
como um rio de raios amarelos,
como um rio de tigres enterrados,
e deixai-me chorar, horas, dias, anos,
idades cegas, séc'los estelares.

Dai-me o silêncio, e a água, e a esperança. 
Dai-me o combate, dai-me o aço e os vulcões. 
Trazei a mim os corpos como ímãs. 
Acudi minha boca e minhas veias. 
Falai pelo meu verbo e por meu sangue.

ALTURAS DE MACHU PICCHU (POEMA XII)


Sube a nacer comigo, hermano.

Dame la mano desde la profunda
 zona de tu dolor diseminado.
 No volverás del fondo de las rocas.
 No volverás del tiempo subterráneo.
 No volverá tu voz endurecida.
 No volverán tus ojos taladrados.
 Mírame desde el fondo de la tierra,
 labrador, tejedor, pastor callado:
 domador de guanacos tutelares:
albañil del andamio desafiado:
 aguador de lágrimas andinas:
 joyero de los dedos machacados:
 agricultor temblando en la semilla:
 alfarero en tu greda derramado:
 traed a la copa de esta nueva vida
 vuestros viejos dolores enterrados.
 Mostrádme vuestra sangre y vuestro surco,
 decidme: aquí fui castigado,
 porque la joya no brilló o la tierra
 no entregó a tiempo la piedra o el grano:
 señaladme la tierra en que caísteis
 y la madera en que os crucificaron,
 encendedme los viejos pedernales,
 las viejas lámparas, los látigos pegados
a través de los siglos en las llagas
 y las hachas de brillo ensangrentado.
 Yo vengo a hablar por vuestra boca muerta.
 A través de la tierra juntad todos
 los silenciosos labios derramados
 y desde el fondo habladme toda esta larga noche
 como si yo estuviera con vosotros anclado,
 contadme todo, cadena a cadena,
 eslabón a eslabón, y paso a paso,
 afilad los cuchillos que guardásteis
 ponedlos en mi pecho y en mi mano,
 como un río de rayos amarillos,
 como un río de tigres enterrados,
 y dejadme llorar, horas, días, años,
 edades ciegas, siglos estelares.

Dadme el silencio, el agua, la esperanza.
Dadme la lucha, el hierro, los volcanes.
Apegadme los cuerpos como imanes.
Acudid a mis venas y a mi boca.
Hablad por mis palabras y mi sangre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 


 



CADA DÍA MATILDE

 

Hoy a ti: larga eres
como el cuerpo de Chile, y delicada

como una flor de anís,

y en cada rama guardas testimonio

de nuestras indelebles primaveras:

Qué día es hoy? Tu día.

Y mañana es ayer, no ha sucedido,

no se fue ningún día de tus manos:

guardas el sol, la tierra, las violetas

en tu pequeña sombra cuando duermes.

Y así cada mañana

me regalas la vida.

 

CADA DIA MATILDE
Tradução de Anderson Braga Horta 
   
               
Hoje a ti: és esbelta
como o corpo do Chile, e delicada
como uma flor de anis,
e em cada ramo guardas testemunho
de nossas indeléveis primaveras:
Que dia é hoje? O teu.
E é o ontem amanhã, não sucedeu,
nenhum dia se foi de tuas mãos:
guardas o sol, a terra, as violetas
em tua breve sombra quando dormes.
E assim cada manhã
presenteias-me a vida.

 

 

 

FINAL
 

Matilde, años o días
dormidos, afiebrados,

aquí o allá,

clavando

rompiendo el espinazo,

sangrando sangre verdadera,

despertando tal vez

o perdido, dormido:

camas clínicas, ventanas extranjeras,

vestidos blancos de las sigilosas,

la torpeza en los pies.

 

Luego estos viajes
y el mío mar de nuevo:

tu cabeza en la cabecera,

 

tus manos voladoras
en la luz, en mi luz,

sobre mi tierra.

 

Fue tan bello vivir
cuando vivías!

 

El mundo es más azul y más terrestre
de noche, cuando duermo

enorme, adentro de tus breves manos.
FINAL
Tradução de Anderson Braga Horta

 

Matilde, anos ou dias
febris, adormecidos,
aqui e ali,
cravando,
rompendo o espinhaço,
sangrando sangue verdadeiro,
despertando talvez,
ou perdido, dormido:
camas clínicas, janelas estrangeiras,
vestidos brancos das irmãs caladas,
torpitude nos pés.

Depois essas viagens
e de novo o meu mar:
tua cabeça à cabeceira,

tuas mãos voadoras
na luz, em minha luz,
e sobre a minha terra.

Foi tão belo viver
quando vivias!

O mundo é mais azul e mais terrestre
de noite, quando eu durmo,
enorme, em tuas pequeninas mãos.

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Cien Sonetos de Amor

(una muestra)

 

Soneto I

 

Matilde, nombre de planta o piedra o vino,

de lo que nace de la tierra y dura,

palabra en cuyo crecimiento amanece,

en cuyo estío estalla la luz de los limones.

En ese nombre corren navíos de madera

rodeados por enjambres de fuego azul marino,

y esas letras son el agua de un río

que desemboca en mi corazón calcinado.

Oh nombre descubierto bajo una enredadera

como la puerta de un túnel desconocido

que comunica con la fragancia del mundo!

Oh invádeme con tu boca abrasadora,

indágame, si quieres, con tus ojos nocturnos,

pero en tu nombre déjame navegar y dormir.

 

 

Soneto II

 

Amor, cuántos caminos hasta llegar a un beso,

qué soledad errante hasta tu compañía!

Siguen los trenes solos rodando con la lluvia.

En Taltal no amanece aún la primavera.

Pero tú y yo, amor mío, estamos juntos,

juntos desde la ropa a las raíces,

juntos de otoño, de agua, de caderas,

hasta ser sólo tú, sólo yo juntos.

Pensar que costó tantas piedras que lleva el río,

la desembocadura del agua de Boroa,

pensar que separados por trenes y naciones

tú y yo teníamos que simplemente amarnos,

con todos confundidos, con hombres y mujeres,

con la tierra que implanta y educa los claveles.

 

 

NERUDA, Pablo.  Cem sonetos de amor. Tradução de Carlos Nejar.  Porto Alegre, RS: L&PM, 2014.  224 p.  14x21 cm.  Edição bilíngue Español-Português.  ISBN 978-85-254-3182-0   Ex. bibl. Antonio Miranda 

“Um fantástico presente de Natal: uma edição bilíngue (única) dos cem sonetos de amor de Pablo Neruda, em tradução do poeta Carlos Néjar, membro da Academia Brasileira de Letras. Recomendável!!! Vejam um dos sonetos, o que aparece na sobrecapa:”

 

XLIV

 

SABRÁS que no te amo y que te amo

puesto que de dos modos es la vida,

la palabra es un ala del silencio,

el fuego tiene una mitad de frío.

 

Yo te amo para comenzar a amarte,

para recomenzar el infinito

y para no dejar de amarte nunca:

por eso no te amo todavía.

 

Te amo y no te amo como si tuviera

en mis manos las llaves de la dicha

y un incierto destino desdichado.

 

Mi amor tiene dos vidas para amarte.

Por eso te amo cuando no te amo

y por eso te amo cuando te amo. 

 

XLIV

 

Saberás que não te amo e que te amo

posto que de dois modos é a vida,

a palavra é uma asa do silêncio,

o fogo tem uma metade de frio.

 

Eu te amo para começar a amar-te,

para recomeçar o infinito

e para não deixar de amar-te nunca:

por isso não te amo todavia.

 

Te amo e não te amo como se tivesse

em minhas mãos as chaves da fortuna

e um incerto destino desditoso.

 

Meu amor tem duas vias para amar-te.

Por isso te amo quando não te amo

e por isso te amo quando te amo.

 

 

Casa de Neruda em Isla Negra, Valparaiso, Chile.


De     
MEMORIAL DE ISLA NEGRA
Traduções de José Eduardo Degrazia 

Porto Alegre: LP&M, 2007. 248 p.
(Col. LPM&M Pocket,644)ISBN 978-85-254-1663-6

 

 

OS ABANDONADOS

 

Não somente o mar, não só costa, espuma,

pássaros de insubmisso poderio,

não só aqueles e estes grandes olhos,

não só a noite em luto com os seus planetas,

não só as árvores com sua alto mansidão,

mas sim a dor, a dor que é o pão do homem.

Mas, por quê? Então naquele tempo eu era

fino feito um fio e bem mais escuro

do que um peixe de águas noturnas, e não pude,

não pude mais, de um golpe quis mudar o mundo.

Pareceu-me estar mordendo a erva mais amarga,

compartir um silêncio manchado de crime.

Mas é na solidão que nascem e morrem coisas,

a razão cresce e cresce até ser desvario,

a pétala se estende sem chegar à rosa,

a solidão é o pó inútil do mundo,

a roda que dá voltas sem terra, nem água, nem homem.

E eu, assim foi como gritei perdido

e que se fez grito sem freio na infância?

Quem ouviu? Que boca respondeu? Que caminhos tomei?

Que responderam

os muros quando batidos por minha cabeça?

Levanta e volta a voz do débil solitário,

gira e gira a roda atroz das desditas,

subiu e voltou aquele grito, e não soube ninguém,

não o souberam nem mesmo os abandonados.

 

RELIGIÃO NO ORIENTE

 

Ali em Rangoon eu compreendia que os deuses

eram tão inimigos como Deus

do pobre ser humano.

                            Deuses

de alabastro estendidos

como baleias brancas,

deuses dourados semelhantes a espigas,

deuses serpentes enroscados

ao crime de nascer,

budas desnudos e elegantes

sorrindo no coquetel

da eternidade

como Cristo na sua cruz horrível,

todos dispostos para tudo,

impondo-nos um céu,

todos com chagas ou pistola

para comprar piedade ou queimar-nos o sangue,

deuses ferozes do homem

para esconder a covardia,

assim era tudo ali,

toda a terra cheirava a céu,

como mercadoria celeste.

 

 

A NOITE NA ISLA NEGRA

 

Antiga noite e sal desordenado

golpeiam as paredes da minha casa:

só é a sombra, o céu

e agora como um bater de oceano,

o céu e sombra estalam

com fragor de combate desmedido:

e toda a noite lutam,

ninguém conhece o peso

da cruel claridade que se irá abrindo

como uma tarda fruta:

assim nasce na costa,

de uma furiosa sombra, a manhã dura,

mordida pelo sal em movimento,

varrida pelo peso desta noite,

em sangue na sua cratera  marinha.

 

 

O QUE NASCE COMIGO

 

Eu canto esta erva que nasce comigo

neste instante libero, e aos fermentos

do queijo, do vinagre, na secreta

floração do primeiro sêmen, canto

ao canto do leite que agora cai

de brancura em brancura aos mamilos,

eu canto os crescimentos do estábulo,

o fresco esterco destas grandes vacas

de cujo aroma voam as multidões

de asas azuis, eu falo

sem transição do que agora acontece

ao besouro com o seu mel, ao líquen

com suas germinações tão silenciosas:

como um tambor eterno

as sucessões soam, como no transcurso

do ser ao ser, e nasço, nasço, nasço

com o que está nascendo, eu estou unido

ao crescimento, ao surdo envolvimento

de quanto me rodeia, e que pulula,

propagando-se em densas umidades,

nos estames, nos tigres, e nas geléias.

 

Eu sou pertencente à fecundidade

e crescerei enquanto crescem as vidas:

sou jovem com a juventude da água,

sou lento com a lentidão do tempo,

e sou puro com a pureza do ar,

escuro com o vinho mais noturno

e só estarei imóvel quando seja

tão mineral que não veja nem ouça,

nem participe do que nasce e cresce.

 

Quando escolhi a floresta

para aprender a ser,

folha por folha,

escrevi as lições

e aprendi a ser raiz, barro profundo,

terra calada, noite cristalina,

e pouco a pouco mais, toda a floresta.

 

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As traduções de José Eduardo Degrazia são primorosas e a edição do Memorial de Isla Negra é integral, completa, vale a pena conferir. Poeta essencial, vai aqui apenas uma pequena mostra da copiosa e envolvente obra do grande poeta chileno, Prêmio Nobel 1971.

 

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Cem Sonetos de Amor

 

Tradução de Carlos Nejar

(apenas uma pequena mostra do

notável trabalho de tradução feita por nosso poeta)

 

 

Soneto - I

 

 MATILDE, nome de planta ou pedra ou vinho,

do que nasce da terra e dura,

palavra em cujo crescimento amanhece,

 em cujo estio rebenta a luz dos limões.

 

Nesse nome correm navios de madeira

rodeados por enxames de fogo azul-marinho,

e essas letras são a água de um rio

que em meu coração calcinado desemboca.

 

Oh nome descoberto sob uma trepadeira

como a porta de um túnel desconhecido

que comunica com a fragrância do mundo!

 

Oh invade-me com tua boca abrasadora,

indaga-me, se queres, com teus olhos noturnos,

mas em teu nome deixa-me navegar e dormir.

 

 

Soneto - II

 

AMOR, quantos caminhos até chegar  a um beijo,

que solidão errante até tua companhia!

Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.

Em Taltal não amanhece ainda a primavera.

 

Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,

juntos desde a roupa às raízes,

juntos de outono, de água, de quadris,

até ser só tu, só eu juntos.

 

Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,

a desembocadura da água de Boroa,

pensar que separados por trens e nações

 

tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos,

com todos confundidos, com homens e mulheres,

com a terra que implanta e educa os cravos.

 

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NERUDA, PabloOs versos do capitão.  Ilustrados por Raúl Soldi.  Santiago de Chile:          Editorial Antártica, 1996.  s.p.  (Coleção IMPSAT, 5)  isbn 987-99212-3-2   ilus. col.           capa dura  sobrecapa.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

O TIGRE

Sou o tigre.
Entre as folhas te espreito,
largas como lingotes
de mineral molhado.

O rio branco cresce
sob a neblinas. Chegas.

Tu, desnuda, mergulhas.
Espero.

De repente num salto
de fogo, sangue, dentes,
de um só golpe derrubo
teu peito, tuas ancas.

Bebo teu sangue, tomo
teus membros, um a um.

E então fico velando
por anos na floresta
teus ossos, tua cinza,
imóvel, longe
da cólera e do ódio,
desarmado em tua morte,
cruzado por cipós,
todo imóvel na chuva,
sentinela implacável
do meu amor que mata.

 

O INSETO

De tuas ancas a teus pés
quero fazer uma longa viagem.

Sou menor do que um inseto.

Vou por estas colinas
que têm a cor da aveia,
e sinais pequeninos
que somente e conheço,
por centímetros queimados,
pálidas perspectivas.

Aqui há uma montanha.
Dela nunca hei de sair.
Ó que musgo gigante!
Uma cratera, rosa
de fogo umedecido.

Por tuas penas desço
tecendo uma espiral
ou dormindo na viagem
e chego a teus joelhos
de redonda dureza
como as alturas duras
de um claro continente.

Para teus pés resvalo
entre as oito aberturas
de teus dedos agudos,
lentos, peninsulares,
e deles na amplidão
do nosso lençol branco
caio, querendo cego,
faminto o teu contorno
de vasilha escaldante!

 

O SONHO

Andando nas areias
decidi te deixar.

Pisava um barro escuro
que tremia,
me atolando e saindo
decidi que saíras
de mim, que me pesavas
como pedra cortante,
preparei tua perda
passo a passo:
cortar tuas raízes,
soltar-te só no vento.

Ai, nesse minuto,
coração meu, um sonho
com as asas terríveis
te cobria.

Te sentias tragada pelo barro,
e me chamavas, mas não te acudia,
tu ias imóvel,
sem te defender
até que te afogavas na boca da areia.

Depois
minha decisão encontrou teu sonho,
de dentro da rotura
que partia nossa alma,
surgimos limpos outra vez, desnudos,
nos amando,
sem sonho, sem areia,
completos e radiantes,
selados pelo fogo.

 

 

TRADUÇÕES DE THIAGO DE MELLO

 

 

SONETO

         Tradução de Thiago de Mello

 

Não te quero a não ser porque te quero

e de te querer a não te querer chego

e de te esperar quando não te espero

passa meu coração do frio ao fogo.

 

Só te quero porque é a ti quem quero,

sem fim te odeio, e com ódio te peço,

e a medida do amor meu, viageiro,

é não te ver e amar-te como um cego.

 

Talvez consuma a luz de janeiro,

seu raio cruel, meu coração inteiro,

de mim roubando a chave do sossego.

 

Nessa história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e fogo.


                            (De Cien sonetos de amor)

 

SONETO


         Tradução de Thiago de Mello

 

Pensei morrer, senti de perto o frio,

e de quanto vivi só a ti eu deixava:

tua boca era o meu dia e minha noite terrestres

e tua pele a república fundada por meus beijos.

 

Nesse instante se terminaram os livros,

a amizade, os tesouros sem trégua acumulados,

a casa transparente que tu e eu construímos:

tudo deixou de ser, menos os teus olhos.

 

Porque o amor, enquanto a vida nos acossa,

é simplesmente uma onda alta sobre as ondas

mas ai quando a morte nos vem tocar a porta

 

só existe teu olhar para tanto vazio,

só a tua claridade para não seguir sendo,

somente o teu amor para encerrar a sombra.

 

                              (De Cien sonetos de amor)
 

 

XLIV

         Tradução de Ferreira Gullar

Onde está o menino que eu fui?
Está dentro de mim ou se foi?

Sabe que jamais o quis
e que tampouco me queria?

Por que andamos tanto tempo
crescendo para nos separarmos?

Por que não morremos os dois
quando minha infância morreu?

E se minha alma se foi
por que me segue o esqueleto?

(Extraído da obra LIVRO DAS PERGUNTAS, de Pablo Neruda, tradução de Ferreira Gullar, ilustrações de Isidoro Ferrer. São Paulo: Cosac Naify, 2008.  182 p. ilus.  ISBN 978-85-7503-686-0)

=========================================================

 

NERUDA, PabloPresente de um Poeta.  Tradfução de Thiago de Mello. Pinturas de Dafni
            Amecke Tztzivakos.   S.l.: Vergara & Riba, Editores, s.d.  105 p. (Coleção "O melhor
            dos melhores")   ilus. col.  Contracapa. ISBN  85-87213-25-3  


 

Título da apresentação de Elga Pérez-Laborde no evento:

"Vigência estética da obra de Pablo Neruda.".

CICLO 8 GRANDES DA LITERATURA LATINO-AMERICANA
realizado na Universidade de Brasília em 2017:


 

Apresentação da palestra homenagem a Pablo Neruda,  no Ciclo 8 Grandes da Literatura Latino-Americana contemporânea,  realizada em junho de 2017 na UnB. Participaram na ocasião  os artistas  Roberto Medina ( doutorando em Literatura)   e a dançarina Erica Bearlz, os dois da UnB, numa coreografia da Ode ao ar, dramatização e tradução ao português do primeiro.
(Clicar nas fotos...)

 

ODE AO AR,

de Pablo Neruda (1954)

 

[Tradução de Roberto Medina]

 

 

Andando por um caminho

encontrei o ar

cumprimentei-o e disse

respeitosamente:

"me alegro

pois, uma vez, pelo menos,

abandonas tua transparência

conversemos, então".

 

Ele, incansável,

dançou, revolveu as folhas

espanou com o sorriso

o pó dos meus sapatos

e içando todo

o azul de seu mastro,

seu esqueleto de vidro,

suas pálpebras de brisa,

imóvel como um cão

ficou me ouvindo.

Eu beijei seu manto

de rei do céu,

me enrolei em sua bandeira

de seda celestial

e disse:

monarca ou camarada,

fio, corola ou pássaro

não sei quem és. Mas

uma coisa te peço,

não te vendas.

A água se vendeu

e nos encanamentos

do deserto

eu tinha visto

extinguirem-se as gotas

e o mundo pobre, o povo

andar sedento

cambaleando na areia.

 

 

Vi a luz da noite

racionada,

a luz fulgurante da casa

dos ricos.

Tudo é aurora nos

novos jardins suspensos,

tudo é escuridão

na terrível

sombra do beco.

Daí, a noite,

mãe madrasta,

sai

com um punhal entre

os olhos de coruja,

e um grito, um crime,

se erguem e se apagam

engolidos pela sombra.

 

Não, ar,

não te vendas,

que não te canalizem,

que não te entubem,

que não te encaixotem

nem te comprimam,

que não te estraçalhem,

que não te engarrafem.

Cuidado!

Me chama

quando precisares de mim,

eu sou o poeta, filho

de pobres, pai, tio,

primo, irmão de carne

e cunhado

dos pobres, de todos,

de meu país e dos outros,

dos pobres que vivem perto do rio,

e dos que nas alturas

da cordilheira vertical

quebram pedra,

pregam tábuas,

costuram roupas,

cortam lenha,

aram a terra,

e por isso

eu quero que eles respirem,

tu és o único que eles têm,

por isso és

 

transparente,

para que vejam

o que virá amanhã

por isso existes,

ar,

deixa-te respirar,

não te aprisiones,

não confies em ninguém

que venha de automóvel

para te investigar,

deixa-os,

ria deles,

faça os chapéus deles voarem,

não aceites

suas propostas,

vamos juntos

dançando pelo mundo,

arrancando as flores

da macieira

entrando pelas janelas,

assoviando juntos,

assoviando

melodias

de ontem, de amanhã.

 

Há de vir o dia

em que libertaremos

a luz e a água,

a terra, o homem,

e tudo para todos

será, como tu és.

Então, agora

Cuidado!

E vem comigo

ainda nos resta muito

a dançar e a cantar.

Vamos

ao longo do mar,

ao pico dos montes,

vamos

aonde veremos florescer

a nova primavera

e um sopro de vento

e de canto

compartilharemos as flores,

o aroma, os frutos,

o ar

de amanhã.



ARTPOESIA Revista Cultural.  Ano XIV  2013  No. 108.  Salvador, Bahia: Movimento Cultural e Editoração ARTPOESIA, 2013.  32 p. ilus.ISSN 2316-1426               Ex. bibl. Antonio Miranda


                A presente edição da revista ARTPOESIA celebrando, em 2013,
o 40 anos da memória do grande poeta chileno PABLO NERUDA, inclui vários poema dele, traduzidos por CARLOS NEJAR, além de poemas de brasileiros em homenagem ao mesmo poeta.
Aqui, escolhemos apenas a capa e a sobrecapa (nesta um poema dele!) Ampliamos assim a já enorme página de Neruda em nosso Portal.

 

*

 

Página ampliada e republicada em abril de 2023

 

Página ampliada e republicada em julho de 2017. Ampliada em outubro de 2017

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