Fuente: www.memoriachilena.cl
JULIO BARRENECHEA
(1910-1979)
GF
Poeta, escritor, parlamentario y diplomático, Julio Barrenechea nació en Santiago el 13 de marzo de 1910, hijo de Julio Barrenechea Contreras y Claudia Pino Salazar. Luego de cursar las preparatorias en la escuela anexa al Liceo de Aplicación, prosiguió sus estudios de humanidades en el Instituto Nacional, donde fue su profesor de castellano, el poeta Samuel Lillo, quien descubrió su vocación poética. A los quince años fue admitido en el Centro de artes y letras latinoamericano que funcionaba en el salón de actos del Diario Ilustrado. Más tarde ingresó a estudiar derecho en la Universidad de Chile. Fuente: http://foropoetico.mforos.com
Traduções de Solon Borges dos Reis
DIÁRIO MORRER
Não sou eu quem vive,
é o mundo que vive em meus olhos.
As cores, o ruído
no atento ouvido.
A suave pele de mármore
Vive no tacto fino.
No úmido paladar moram os sabores,
e no olfato
a alma das flores.
Eu não vivo, apenas capto a vida.
Sou o pobre recinto
onde a luz passageira
asila sua vida permanente.
Sou o parente que sofre pelas coisas mortais.
Assisto ao funeral de cada mariposa,
e sinto que perco algo, ao morrer cada rosa.
Se eu pudesse ir-me só, se eu pudesse
ir-me sem tudo o que vai comigo.
Vendo a juventude não envelheceria.
Vejo que envelheço em meus amigos.
Ó! profundidade cinza! Ó! distância!
Bruma dos espelhos embaçados.
Como se vão secando as pupilas!
Como se vão os rostos afastando!
Ah! quem pudera deter os rostos.
que não continuem fundindo-se no ar,
que não caiam ao fundo dos olhos,
que sigam na luz, que não naufraguem.
Se eu pudesse ir-me só, se pudesse
ir-me sem tudo o que vai comigo.
Se o meu morrer fosse só uma sombra
que sozinha se consome no incendiado.
Se enquanto vou morrendo, entre as coisas
tudo fosse ficando intacto e vivo.
Se o manancial secreto do meu pranto
Em grades de cristal fosse vertido,
ante o recinto de cor e de canto.
Se eu apenas pensasse em meu passado,
não morreria tanto como eu morro,
porque não morro em mim, mas no amado.
ESQUINA COM FLAUTA
Tocam as sombras do cego
e sai luz da flauta.
Brilha o fio da esquina,
graças à luz que canta.
Para a pena, a gente fuma
e o cego fuma na flauta.
Sua canção é na noite
uma luzinha branca.
Música triste acesa
no final da flauta.
(Pela noite dos céus
acende-se a lua branca)
A noite tem sua lua
e o cego tem sua flauta.
Mal de escuridão que espantam
cantando canções brancas.
Lua que vai pelos céus,
Como uma nota de flauta.
Esquina de flauta, onde
um raio de lua canta.
CÍRCULO
Minha avó é pequena e distante
Cheia de assuntos longínquos.
Situada ao fim de muitos anos,
no começo de meu pai.
É pequena como uma aldeia.
E dela meu pai, um dia,
saiu com seu amarrado de música,
a andar pela vida do mundo.
Meu pai foi de lugar em lugar,
Pelas cidades, procurando-me.
Até divisar-me escondido
sob os olhos de minha mãe.
No fundo de suas águas claras,
como um seixo, eu lá estava.
E meu pai, com o mais terno
dos esforços de sua vida,
me tirou para sofrer e brincar
com os outros meninos do mundo.
Um dia meu pai partiu
para a terra do silêncio.
Levava os olhos fechados,
e nas mãos um frio intenso.
Minha avó permaneceu
como uma coisa de outra vida.
Pequena aldeia que visito
para sonhar perante suas ruínas.
Pequena aldeia da saudade,
onde revivem coisas mortas.
Eu sou meu pai para ela,
meu pai, que deu uma volta.
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