VERÔNICA DE ARAGÃO
Nasceu no Rio de Janeiro, em 1965. Professora de língua e literatura portuguesa. Licenciada em Literatura Brasileira pela Universidade Federal d Rio de Janeiro. A sua tese doutoral recolhe como idéia fulcral o pós-modernismo e centra-se na obra de Silviano Santiago. Tem publicado artigos em edições acadêmicas.
“É imperdoável não ter lido Verônica de Aragão até agora! Ela faz a ponte exata entre o clássico e o pós-moderno, entre o filosófico e o poético, tarefa quase impossível, enquanto outros poetas ficam na periferia, apesar de seus méritos. Quem tem o que dizer e tem a forma adequada para fazê-lo, idéia e forma se conjugam na composição, como nos exemplos _ “exemplares”, no sentido cervantino— dos poemas “Caminhos” e “Fenda do Tempo”. Acho que ela foi quem chegou mais perto do sentido que Roberto Juarroz deu à palavra “poiesofia”. Sendo jovem, espanta pela maturidade, e por ser atemporal. “Copacabana”, na contramão, é mais descritivo, o quer dizer banal.” Antonio Miranda
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
FENDA DO TEMPO
Cada útero
é uma fenda no tempo
em que os homens querem estar pela ilusão de conquistá-lo,
pelo prazer de dominá-lo
e o desejo de eternidade.
Cada útero
é uma janela aberta
para o infinito em chamas,
para o inefável:
nela o delírio dos homens encontra
catarse de todas as dores;
nela o princípio e o fim.
Penetrá-la é renascer
pela ilusão finita da reversibilidade.
E vai o homem,
como os relógios, com o seu pêndulo,
a avançar no tempo,
vagando de par em par.
E eis o fim de tudo,
no mesmo ermo
em que tudo começa.
TRATADO DO TEMPO
Eu vos proclamo
com toda a certeza de quem nada sabe:
só existe o presente.
O resto
são miragens que vislumbro
da minha janela, quando amanhece.
O passado é um rio incessante e pleno
interior, mágico e sombrio,
(que física reconstrói emoções, fragmentos na memória?)
O futuro é uma janela por onde aporta a esperança
e por onde adentra o teu amor, tão certo, tão bom, tão infinito.
Mas amor, não há nada além do agora.
E é desconcertante entender eu no agora não nos encontramos.
Deixemos para depois esta possibilidade,
este sonho de que um dia as almas se conheçam.
COPACABANA
Copacabana,
loba solitária,
prostituta noturna,
depositário de noctívagos;
Copacabana,
micro cidade dentro da cidade:
a droga, o crack, a ebulição das loucuras,
o eterno vai-e-vem do tráfego e do tráfico,
a feirinha de artesanato a vender confetes para o primeiro
mundo no carnaval.
A cidade que não dorme dentro da cidade que adormece
para o mar e a natureza,
o martírio dos desesperados a se largarem pelas calçadas.
Copacabana,
o sorriso dos turistas e o passeio da malandragem,
Copacabana,
o cinema poeirinha,
o hotel cinco estrelas e a favela sem saneamento.
Copacabana,
o frenético sexo entre as esquinas e nas estalagens,
o paraíso,
o delírio,
o palco e o declínio
dos marginais.
Poemas extraídos de Enigmas, 1977.
TEXTOS EN ESPAÑOL
Extraídos de
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
Org. e trad. de Xosé Lois García
Santiago de Compostela: Laiovento, 2001.
ISBN 84-8487-001-4
GRIETA DEL TIEMPO
Cada útero
es una grieta en el tiempo
donde los hombres quieren estar por la ilusión de conquistarlo,
por el placer de dominarlo
y el deseo de eternidad.
Cada útero
es una ventana abierta
hacia el infinito en llamas,
hacia lo inefable:
en ella el delírio de los hombres encuentra
la catarsis de todos los dolores;
en ellla el principio y el fin.
Penetrarla es renacer
por la ilusión finita de la reversibilidad.
Y va el hombre,
como los relojes,com su péndulo,
avanzando en el tiempo,
vagando de par en par.
Y he ahí el fin de todo,
en el mismo descampado
en que todo había empezado.
TRATADO DEL TIEMPO
Yo proclamo
con toda la certeza de quien nada sabe:
solo existe el presente.
El resto
son espejismos que vislumbro
desde mi ventana, cuando amanece.
El pasado es un río incesante y pleno
interior, mágico o sombrío,
(?qué física reconstruye emociones, fragmentos en la memória?)
El futuro es una ventana por donde llega la esperanza
y por donde se adentra tu amor, tan verdadero, tan bueno, tan
infinito.
Pero amor, existe nada más llá del presente.
Y es desconcertante entender que em el ahora no nos encontramos.
Dejemos para despúes esta posibilidade,
este sueño de que un día las almas se conozcan.
COPACABANA
Copacabana,
loba solitaria,
prostituta nocturna,
depositaria de noctívagos;
Copacabana,
micro ciudad dentro de la ciudad:
la droga, el crack, la ebulición de las locuras,
el eterno vaivén del trajín y de tráfico,
el mecadillo de artesanía vendiendo confetis al primer
mundo en el carnaval
La ciudad que no duerme dentro de la ciudad que adormece
hacia el mar y la naturaleza,
el martirio de los desesperados escapando por las calzadas.
Copacabana,
la sonrisa de los turistas y el paseo de las granujas,
Copacabana,
el cine polvoriento,
el hotel de cinco estrellas y la favel sin saneamiento.
Copacabana,
el frenético sexo entre las esquinas y em los albergues,
el paraíso,
el delírio
el escenario y la decadência
de los marginales.
Engimas, 1977.
Página publicada em janeiro de 2008.
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