Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


TITE DE LEMOS

TITE DE LEMOS
(1942-1989)

 Newton Lisboa Lemos Filho, poeta, letrista., dramaturgo e jornalista. Trabalhou como redator e cronista do Jornal O Globo. Nasceu e morreu na cidade do Rio de Janeiro.

Publicou quatro livros de poesia, entre eles "Corcovado Parque", "Marcas do Zorro" (1979), com prefácio do futuro acadêmico Ivan Junqueira e (o último em vida) "Outros sonetos do caderno" com orelha escrita por Otto Lara Resende, todos publicados pela Editora Nova Fronteira.

Como dramaturgo foram encenados seus textos "A Serra", "A Licha" e "A Bola".

No ano de 1970, escreveu em parceria com Guarabira, Luiz Carlos Maciel, Sidney Miller, Paulo Affonso Grisolli e Marcos Flaksman, o musical "Alice no país divino-maravilhoso", do qual participou Sulei Costa, que viria a se tornar sua parceria musical mais constante. O espetáculo estreou no Teatro Casa Grande, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro.

No início da década de 1970, junto a Luís Carlos Maciel, Torquato Neto e Rogério Duarte, foi editor da revista literária Flor do Mal.
Biografia extraída de : www.dicionariompb.com.br/.

TEXTOS EM PORTUGUÊS     /     TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Marcas do Zorro

 

Tu és o cavaleiro eu sou a montaria

às vezes me castigas e outras vezes não

vou cegamente aonde a Tua mão me guia

mas em segredo me pergunto aonde vão

essas desconhecidas Tuas rotas minhas

eu preferia ser apenas o cantor

o jardineiro um leopardo uma florzinha

capaz de em cada outono sucumbir de amor

dizem que és um vingador Te chamam Zorro

uns outros Te nomeiam Christian Rosenkreutz

me humilhas sei e me maltratas mas eu morro

da Tua ausência mais do que quando me açoitas

ah eu desejaria uivar gemer e calo

por ser dos duros deuses todos o cavalo

 

         (De Marcas do Zorro, 1979

 

 

XXIII [Toda vida é rascunho impermanente]

 

Toda vida é rascunho impermanente

manuscrito com tinta azul lavável.

Não divise futuros, não invente

eternidades nem se torne escrava

 

de horizontes perdidos e apagados.

Somos mortais, por isso celebramos

casuais centelhas de imortalidade.

Por mais que dure e se transvie em ramos,

 

uma árvore tem a sua hora.

Se a chuva a curva, sofre mas não chora,

senão, dizem, até se alegra e gosta

 

sem se dar ao trabalho de sorrir.

Deus, amor, lhe dê olhos de menina

que a paisagem de hoje descortinem.

 

         (De Caderno de Sonetos, 1988)

 

 

IX

 

exercícIo para letras gothicas

dona Irene foi quem me aplicou

quando ponho um pé na catedral sinto que um oceano me

                                                                  [assassina

o que isso tem a ver com o futuro? entrementes

uns índios guaranys incendeiam ervas sagradas ali logo na

                                                                  [esquina

 

                   (De Marcas do Zorro, 1979)

 

 

 

QUANDO PROCURO MUITO EU SINTO QUE AGONIZO

QUANDO ME AUSENTO EU SINTO MUITO QUE PRECISO

DE UM GOLE OU DOIS DE ABSINTO EU NÃO TENHO JUIZO

OS MARES MUSCULOSOS DANTES ERAM LISOS

PRETENDO HOJE SAIR PARA FISGAR BALEIAS

ANTIGAMENTE AS BESTAS-FERAS ERAM BELAS

NÃO SEI POR QUE RAZÃO FICARAM ASSIM FEIAS

ARREIA OS BURROS AS CHARRETES CARAVELAS

QUE EU VOU SAIR PARA COLHER A FLOR MAIS RARA

QUANDO GARIMPO TANTO ASSIM FICO SOMBRIO

NO CÉU ESCURO A LUA CONTINUA CLARA

A LUA CONTINUA NUA E EU NAO SORRIO

NEM CHORO SOBRE AS ÁGUAS LINDÍSSIMA BÓIA

COMO NUM BERÇO OU NUM ESQUIFE AQUELA JÓIA

 

                   (De Marcas do Zorro, 1979)

 

 

BILHETE A MEU FILHO

 

seus olhos índios

 

toda insurgente flor será bem-vinda

ali ou em nenb

huma parte estarão as fronteiras

 

                   nós trêmulos cosmos

 

nós pensamos diverso mas somos os mesmos

 

                   (De Corcovado park, 1985)

 

 

Um último poema é urna fragata

avizinbando-se do cais do porto

urna canção que nos consola e mata

alegremente o coração já morto

lembra-me gypsies, margaridas; chuvas

ressurreições. A brisa bruxa acorda

as donzelas princesas e as víúvas

senhoras dos seus mestres e seus corpos

os adeuses têm gosto de suspiros

são doces brevidades souvenirs

ursinhos de pelúcia esquecimentos.

Quando nos visitar a inconbecida

visitante estaremos, longe, ausentes

e ao mesmo tempo sempre, sempre, aqui

 

 

57

 

Viver, confiou-me fino escriba, é falta pura,

água matando a sede de cansadas mulas.

A linha que a ti mesmo, débil, te costura

une o atirado fora àquilo que acumulas.

 

Nasces num berço que é já tua sepultura

e de um, só de um suspiro todo riso anulas

e o choro todo, as dores e os prazeres. Dura

quase nada este tudo. Muito mal calculas

 

quão breve é o intervalo de urna vida longa

na partitura em que urna sobre as outras eras

avança e se mistura sem medida ou grau.

 

O que se encurta ou corta aqui ali se alonga

e desta arte jamais serás quem ontem eras.

Da teu relógio ao relojoeiro universal.  

(De Outros sonetos do caderno, 1989)

 

De
CORCOVADO PARK
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Capa: Victor Burton, sobre aquarela de Luis Afonso Veiga

 

A poética de Tite de Lemos constrói-se por elipses, por alusões à la Salinger ou Carlos Süssekind, nas pistas que só duram um minuto, onde a sugestão tem valor igual à expressão. Só assim é que se conseguirá capturar o célere, os dados do acaso, a sensação que está prestes a sumir, sem deixar memória escrita.  ARMANDO FREITAS FILHO

 

vou á (me sinto em) plena escura mata

sei que ao redor de mim tudo é secreto

mas adivinho onde a clareza habita

talvez sabe-se lá para assustar fantasmas grito jota

e escuto Jota é o nome próprio de um poeta

 

Altamira's gift

 

Esboça um caçador a sua caça

a cores sobre os muros de urna gruta.

No exterior a nuvem chumbo passa

mãe grávida do seu rebento, a Bruta

Chuva, presságio de celestes raivas

das estações nascendo sem cessar.

O escuro firmamento faiscava.

Criaturas aéreas bebem ar

que um criador lhes serve qual champagne

nos profundos copinhos. Não me estranhe,

disse-me face a face a onça pintada

nas minhas quatro ou mais interiores

paredes. Eu apenas sou seu lado

do avesso a te seguir aonde fores

 

         A arrebentação

 

espalha   espumas,   fagulhas,  resíduos, cacos ao r

edor do que rebentou.

         Os melhores  artilheiros  da  costa não são ca

pazes de rastrear  os reais rumos  desses trilhões d

e farelos.

         O mais  que  se  ficou  sabendo foi que,  pron

to.

         Estouramos  um  cordão  vermelho  bruto  pa

ra celebrar

 

         FIDUCIA. Confissões

                                  
1.
                           
Meu grande pai morreu onde viveu, no mesmo quarto
                            por toda parte
                            havia um cheiro de charuto

                            2.
                           
— Do yor own thing, man.
                            — You do your own thing.

                           
3.
                            Habito dois mundo.
                            O primeiro mundo e o segundo

                            4.
                            já de meu pai, pequeno
                            herdei o ardor de princípios
                            o gosto dos abismos

                            5.

                            Eu posso ser um impostor.
                            E sou.

                            6.
                            Posso não ser um impostor.
                            Mas sou.

                            7.
                            Não ser eu.
                            E não sou.

                            8.
                            Ser eu.
                            Sim.


                            9.
                            pela última vez
                            a voz das fontes mana sem cessar
                            pela última vez

                            diz oh diz
                            diz o poema
                            até silenciar

                            10.
                            silencia o poema
                            até dizer

 



-----------------------------------------------------------------------------------


TEXTOS EN ESPAÑOL
Tradução de Adolfo Montejo Navas
 

 

 

IX

 

ejercicio para letras góticas

doña Irene fue quien me instruyó

cuando pongo un pie en la catedral siento que un océano me

                                                                  [asesina

¿y eso qué tiene que ver con el futuro? entretanto

unos indios guaraníes incendian yerbas sagradas allí mismo en

                                                                  [la esquina

 

                   (De Marcas do zorro, 1979)

 

 

CUANDO BUSCO MUCHO YO SIENTO QUE AGONIZO

CUANDO ME AUSENTO YO SIENTO MUCHO QUE NECESITO

DE UN TRAGO O DOS DE ABSENTA YO NO TENGO JUICIO

LOS MARES MUSCULOSOS ANTES ERAN LISOS

HOY PRETENDO SALIR A CAZAR BALLENAS

ANTIGUAMENTE LAS FIERAS-BESTIAS ERAN BELLAS

NO SÉ POR QUÉ RAZÓN SE QUEDARON ASÍ FEAS

ARREA LOS BURROS IAS CARROZAS CARABELAS

QUE YO VOY A SALIR PARA COGER LA FLOR MÁS RARA

CUANDO ASÍ ESCUDRIÑO TANTO ME VUELVO SOMBRÍO

EN EL CIELO OSCURO LA LUNA CONTINÚA CLARA

LA LUNA CONTINÚA DESNUDA Y YO NO SONRÍO

NI LLORO  SOBRE LAS AGUAS LINDÍSIMA BOYA

COMO EN UNA CUNA O EN UN ATAÚD AQUELLA JOYA

 

                   (De Marcas do zorro, 1979)

 

 

NOTA PARA MI HIJO

 

tus ojos indios

 

toda flor insurgente será bienvenida

allí o en ninguna parte estarán las fronteras

 

de los temblorosos cosmos

nosotros pensamos distinto pero somos los mismos

 

 

                   De Corcovado park, 1985)

 

 

Un último poema es una fragata

aproximándose del muelle del puerto

una canción que nos consuela y mata

alegremente el corazón ya muerto

me recuerda gypsies, margaritas; lluvias

resurrecciones. La brisa bruja despierta

las doncellas princesas y las viudas

señoras de sus maestros y sus cuerpos

los adioses saben a suspiros

son dulces brevedades souvenirs

ositos de peluche olvidos.

Cuando nos visite la desconocida

visitante estaremos lejos, ausentes

y al mismo tiempo siempre, siempre, aquí

 

                            (De Corcovado park, 1985)

 

57

 

Vivir, me confió fino escriba, es falta pura,

agua matando la sed de cansadas mulas.

La línea que a ti mismo, débil, te costura

reúne lo tirado a aquello que acumulas.

 

Naces en una cuna que es ya tu sepultura

y de un suspiro sólo toda risa anulas

y el lloro, los dolores y placeres. Dura

casi nada este todo. Pues muy mal calculas

 

cuan breve es el hiato de una vida larga

en la partitura en que una sobre otras eras

avanza y se confunde sin medida o grado.

 

Lo que se acorta o corta aquí allí se alarga

de este arte jamás serás quien ayer eras.

Da tu reloj al relojero universal.

 

                   (De Outros sonetos do caderno, 1989) 

Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000)

 

*De Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas.  Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Culta do Brasil.

 

*Nota: o tradutor Adolfo Montejo Navas é amigo comum nosso com Wagner Barja, e o convidamos a participar da exposição OBRANOME 2 no Museu Nacional de Brasília, durante a I Bienal Internacional de Poesia de Brasília 2009. Montejo Navas prometeu-nos suas traduções ao castelhano e só na Espanha, em viagem, é que conseguimos os originais que estamos divulgando parcialmente no nosso Portal de Poesia Ibeoramericana, com os agradecimentos.


Página publicada em junho de 2009

 



 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar