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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA PERNAMBUCANA

Coordenação de Lourdes Sarmento

 

foto: Edmond Dansot (1985)

 

TERÊZA TENÓRIO

 

Francisca Terêza Tenório de Albuquerque nasceu em Recife, Pernambuco, nordeste do Brasil, em 1949. Poeta e contista, estudou Direito e Belas Artes. Participa do conselho editorial da revista “Encontro”.

 

 

Obra poética: Fábula do Abismo, 1999; Poemaceso, 1985; Mandala, 1980; Noturno selvagem, 1981; O Círculo e a pirâmide, 1976; Parábola,  1970. 

 

Terêsa Tenório é uma das poetas de Pernambuco que se tem convertido em coluna da geração de 1965. Através da sua palavra poética, transitamos por imagens, símbolos e horizontes imaginários, repletos de beleza. Em “Corpo da Terra”, de cujo prólogo é autor Fábio Lucas, Teresa Tenório realiza a sua liturgia poética, regulada por uma atmosfera em que convivem o amor e a intimidade do vivido e o observado. A poesia de Teresa Tenório sulca o caminho de iniciação na reflexão e o diálogo. É uma criadora que nos surpreende com a sua habilidade expressiva e com a força do equilíbrio que emana dos seus poemas amorosos e cósmicos. Xosé Lois García


TEXTOS EM PORTUGUÊS
/ TEXTOS EN ESPAÑOL

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. y traducción de Xosé Lois García

Santiago de Compostela: Edición Loiovento, 2001.

 

CORPO DA TERRA

 

Pela janela o verde

                            nos revela

o coração da mata acesa

                                      o úmido

veio das aromáticas

                            resinas

dentre nossas raízes

                            enlaçadas

a destilar a essência

                            do teu hálito

em mim

         corpo da terra

                            desvelado

 

 

NÃO OS QUERÍAMOS SAGRADOS

 

         A Aluizio Barro de Carvalho

         e Telma Nóbrega Tenório de Albuquerque

 

Não os queríamos sagrados nos ritos da sombra

Peregrinos do silêncio

como saber se lembrarão o vôo dos pássaros

a textura da rosa

os insondáveis caminhos?

 

A obsidiana revolve a terra

em busca do coração da argila

e seus dolorosos anéis

mais o selo de sangue puríssimo

 

Não os queríamos no Além

os anjos pairando sobre as luminosas cabeças

                   as mãos em cruz

                                      sentados à direita

         do oráculo

                            mortos 

 

         Corpo da Terra, 1994

 

                     VIRTUAL

                               No epicentro das ondas invisíveis

                   edifiquei mandalas para os celtas

                   habitantes dos últimos milênios

                   guelras de peixes e barbatanas retas

 

                   Onde o mar arrastara nossas redes

                   para morder-nos tênues fios de espera

                   o fluir das espumas retalhou

                   os tecidos da carne contra as pedras

 

                   nos módulos lunares dissolvi

                   toda a sombra da superfície líquida

                   seus cardumes de tubarões-martelo

 

                   entre indormidos teoremas míticos

                   arremessei ao lume destes versos

                   nossa imagem virtual de estranhos ritos

 

 

                   TRÍPODES

 

Queimados os corações

no sacrifício dos remos

sobre a pedra dos oráculos

reedificamos o templo

 

Marujos noutro avatar

fomos mortos ao relento

entre carvalhos e trípodes

no temor ao deus sangrento

 

No corolário da lenda

filha dos quatro elementos

fertilizamos a terra

 

na fenda ao sul do oriente

ao fim do embate mortal

a seiva do sol no zênite

 

                            Fábula do Abismo, 1999           

 

 

 

TENÓRIO, Terêza.  A casa que dorme.  Recife: LivroRápido, 2002.  73 p.  14,5x20,5 cm.    Capa: Franci Pena.  Col. A.M. 

 

CASO

 

O meu primeiro amor morreu de fome

O meu segundo amor não teve jeito

O meu terceiro amor se fez amante

recebendo-me à tarde radiante

 

Até hoje vivemos do seu jeito

como meu último amor

fatal

perfeito

 

 

O EXÍLIO DO POUSO DAS ESTRELAS

 

Trinta e três luas acesas

no tempo do desencontro

Trinta e três vozes amargas

no rastro das diligências

Trinta e três pedras de toque

vazias de toda crença

Trinta e três sorrisos mortos

nos lábios do afogado

Trinta e três sais na moleira

 

da que ficou sem o amigo

da que ficou sem parelha

da que ficou sem marido

a misturar na poeira

a dor desse amor perdido

 

 

MARIA SUSSUARANA

 

Não tenho medo da morte

Nem tenho medo da noite

Só tenho medo da força

que me prende em seu açoite

 

Não me virás por amor

mas paixão de vida ou morte

que a força do meu quebranto

nos amarra à mesma sorte

 

Sou cobra sussuarana

Meu cheiro é sangue no corte

melaço e caldo de cana

Salvou-te do meu quebranto

adormecido senhor

teu encanto e rezas fortes

 

 

TENÓRIO, Terêza.  Poemaceso.  Rio de Janeiro: Philobiblion; Pró-Memória –Instituto Nacional do Livro,1985.  226 p.   (Col. Poesia sempre, 4)    “ Terêza Tenório “  Ex. Bibl. Antonio Miranda

 

"Este plurifacetado POEMACESO, de Terêza Tenôrio, vem reafirmar a validade, a resistência e a eternidade da Lírica como categoria poética que transcende estilos de épocas e correntes estéticas, historicamente determinadas, mas sem negar sua procedência, seu atavismo latino."

Alberto da Cunha Melo

 

 

TORMENTO

 

Tantas vozes me trazem este tormento.

Revisito cidades e planícies

rostos brancos e longas mãos vazias

quando a infância fluiu dentro do tempo.

 

Naufrágios que me trazem este tormento.

O teu corpo em meu corpo edificado

quantas luzes e sombras alternadas

quando o amor renasceu além do tempo.

 

Sangue e fogo na face este tormento.

O sólido silencio das estrelas

as lâminas de gelo da lembrança

quando a vida se fez além do tempo.

 

 

 

XVIII

 

Ferido o coração mutila o corpo.

As lágrimas de ferro quase líquido

fixam na face branca sua marca.

 

O coração de fogo exila o corpo

fora as paredes nuas desta sala

cheia de pó, de mofo e deslembrança.

 

O coração do tempo anima o corpo

que o Amor exauriu na lua nova

e dissolveu a solitária sombra.

 

O pó, o mofo, o gelo, a deslembrança,

o ódio e seu cortejo de falácias,

a fuligem, a mentira, a indiferença,

 

tudo converge ao coração aceso

rubro de Amor e sangue das feridas  

que o tempo cicatriza lentamente.

 

       

 

  

TEXTOS EN ESPAÑOL

 

Extraídos de

ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA

Org. y traducción de Xosé Lois García

Santiago de Compostela: Edición Loiovento, 2001.

 

 

                   CUERPO DE TIERRA

 

                   Por la ventana el verde

                                                        nos revela

                   el corazón del bosque encendido

                                                        la humedad

                   vino de las aromáticas

                                               resinas

                   de entre nuestras raíces

                                               enlazadas

                   destilando la esencia

                                               de tu aliento

                   em mí

                            cuerpo de la tierra

                                                        desvelado

 

 

                        NO LOS QUERÍAMOS SAGRADOS

 

                  A Aluizio Barro de Carvalho

         e Telma Nóbrega Tenório de Albuquerque

 

No los queríamos sagrados en los ritos de la sombra

Peregrinos del silencio

¿Cómo saber si recordarán el vuelo de los pájaros

la textura de la rosa

los insondables caminos?

 

La obsidiana rebusca la tierra

buscando el corazón de arcilla

y sus dolorosos anillos

más com sello de sangre purísima

 

No los queríamos en el más Allá

los ángeles planeando sobre las luminosas cabezas

                   las manos en cruz

                                      sentados a la derecha

         del oráculo

                            muertos

 

        

         Corpo da Terra, 1994

 

 

VIRTUAL

 

En el epicentro de las olas invisibles

edifique mandalas para los celtas

los habitantes de los últimos milênios

bronquios de pecesy barbatanas rectas

 

Donde el mar arrastra nuestras redes

para picar en los tenues hilos de espera

los tejidos de la carne contra las piedras

 

En los módulos lunares disolví

toda la sombra de la superfície líquida

sus bancos de tiburones martillo

 

entre indormido teoremas míticos

lance al fuego de estos versos

nuestra imagen virtual de extraños ritos

 

 

 

TRÍPODES

 

Quemados los corazones

en el  sacrificio de los remos

sobre la piedra de los oráculos

reedificamos el templo

 

Marineros en otro avatar

fuimos muertos al ralente

entre robles y trípodes

em temor al dios sangriento

 

En el corolario de la leyenda

hija de los cuatro elementos

fertilizamos la tierra

 

en la grieta al sur de oriente

al final del choque mortal

la savia del sol em el cénit

 

 

         Fábula do Abismo, 1999

 

                                              

Página publicada em janeiro de 2008; ampliada e republicada em fev. 2013



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