Foto: Macaxeira, 2012
MARILIA KUBOTA
(Paranaguá/PR, 1964) é escritora e jornalista. Participou dos livros Pindorama (2000), Passagens (2002), 8 Femmes (2007), Antologia da Poesia Brasileira do Início do Terceiro Milénio (2008), Selva de Sentidos (2008, Água- forte edições), Blablablogue (2009) e Todo Começo é Involuntário - Poesia Brasileira no Início do Século 21 (2011).
Em 2010, organizou a antologia Retratos Japoneses no Brasil - Literatura Mestiça, que recebeu um Prêmio Nikkei de Literatura em 2011. Em 2008, organizou o Concurso de Haicai Nempuku Saco. Em 2009, passou a ser editora do MEMAI- jornal e site de Letras e Artes Japonesas. É mestre em estudos literários pela UFPR, onde estudou as narrativas japonesas de
Valêncio Xavier.
TEXTOS EM PORTUGUÊS ; TEXTOS EN ESPAÑOL
KUBOTA, Marilia. Esperando as bárbaras. Curitiba: Blanche, 2012. 77 p. 14x21,5 cm. ISBN 978-85-65271-11-0 Col. A.M.
VEM A ONDA
lugar é espaço com memória
nelson brissac peixoto
vem a onda,
cheia e redonda,
logo atrás, outra:
nada, nadador.
no deserto miragem zomba
visionária: oásis multiflor.
pé de pato, sereia,
o escafandrista
engole alga, angola.
vivêssemos além de nós
seríamos um só ritmo ?
adentrar saaras marítimos
palavra gasta basta
deus vasto profano:
a caixa de papelão
leva a criança ao reino perdido
com a explicação do mundo.
LIKE A ROLLING STONE
como ser pedra
que rola no abismo
ser desvario
muitos gostariam
não podem
seguem programas
temem desabe o céu
ser inocente
— uma outra forma
de fazer arte —
pintar a parede
quase tudo
morre
de velhice
ou mesmice
se houver um buraco
para cavar
avise
talvez haja fórmula
para escrever
rimas, x e y,
se você quiser,
mas o que irrompe
é a onda elétrica
além do blablablá
a eloquência
arranca aplauso
cobre o rap soluçado
jogar paciência com cadáver
obedecer ordens não escritas
o raio atinge
em vez de rosa, cacto.
nem santo
nem ator:
o poeta é perdedor.
ESTE SILÊNCIO
este silêncio
é pra ser ouvido
como quem ouve
um velho amigo
como quem
põe sentido
e repercute
o menor ruído
este silêncio
é pra ser ouvido
contra o motor do avião
e placas de Proibido
pra ser ouvido
como quem anda pra trás
e acha divertido
viver por um triz
este silêncio
é pra ser cortado
por um pé de vento
e súbito cair abatido.
QUANTO ÀS ESCAPULAS
quanto às escápulas
faltam asas
por isso fico em casa
tramando pra que os pássaros
nunca saiam
e se percam
como as palavras soltas
com as quais golpeio a página.
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FANTASMA CIVIL. XX Bienal Internacional de Curitiba 2013. Organização Ricardo Corona. Curitiba, PR: Fundação Cultural de Curitiba, 2013. 43 cartões com imagens aéreas de Curitiba e, no reverso, versos de poetas paranaenses. Projeto gráfico Medusa. Obra inconsútil. ISBN 978-85-64029-08-8 Inclui os poetas: Josely Vianna Batista, Lindsey R. Lagni, Ademir Demarchi, Luci Collin, Fernando José Karl, Roberto Prado, Sabrina Lopes, Bruno Costa, Amarildo Anzolin, Carlos Careqa, Roosevelt Rocha, Camila Vardarac, Marcelo Sandmann, Vanessa C. Rodrigues, Anisio Homem, Greta Benitez, Ivan Justen Santana, Mario Domingues, Marcos Prado, Bianca Lafroy, Estrela Ruiz Leminski, Sérgio Viralobos, Alexandre França, Helena Kolody, Wilson Bueno, Paulo Leminski, Alice Ruiz, Zeca Corrêa Leite, Édson De Vulcanis, Afonso José Afonso, Homero Gomes, Leonardo Glück, Hamilton Faria, Emerson Pereti, Andréia Carvalho, Marilia Kubota, Ricardo Pedrosa Alves, Priscila Merizzio, Marcelo De Angelis, Adalberto Müller, Cristiane Bouger.
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TEXTOS EM PORTUGUÊS ; TEXTOS EN ESPAÑOL
MARILIA KUBOTA
Marília Kubota nació en Paranaguá, «la ciudad más antigua del estado de Paraná», en 1964. Es periodista. Publicó textos en diversas publicaciones. Aún no há publicado libro. Los poemas que se incluyen pertenecen a la serie Selva de sentidos.
TEXTOS EM PORTUGUÊS ; TEXTOS EN ESPAÑOL
[Traducciones de R.J., revisadas por M.K.]
Extraído de la revista
tsé=tsé
7/8 otoño 200
Buenos Aires, Argentina
metamorfose
sob a casa descascada
a lagarta da seda
arredonda a redoma
e sonha asas.
a sombra do luto
anuncia:
breve, aqui, mais um fruto
da metamorfose
metamorfose
bajo la casa descascarada
la lagarta de la seda
redondea la redoma
y sueña alas
la sombra del luto
anuncia:
breve, aquí,
pero un fruto
de la metamorfosis.
imensidão
escalar montanhas
que só o silêncio influencia
reencontrar nas primeiras cavernas
vestígios de eternidades antigas
descobrir novos sentido e limite
além de sombras conhecidas
buscar sonhos que, um dia,
foram mais que vento:
alimento que a boca queria
inmensidad
escalar montañas
que sólo el silencio influencia
reencontrar en las primeiras cavernas
vestigios de eternidades antiguas
descubrir nuevos sentido y límite
mas allá de sombras conocidas
buscar sueños que, un día,
fueron más que viento:
alimento que la boca quería
selva de sentidos
um sopro súbito: asas nos lábios
abertos daflor. o bico sorve
nuvens de pétalas de veludo
no céu incolor.
seda estremece surdo vôo.
o sol veloz empapa luz.
a criança no jardim
assiste séria o curso.
um tremor leve afasta o beija-flor.
o quarto escuro gera o grito
- entre ! a manhã cerra
as cortinas ao público.
selva de sentidos
un soplo súbito: alas en los lábios
abiertos de la flor. el pico sorbe
nubes de pétalos de mata
en el cielo incoloro
seda estremece sordo vuelo.
el sol veloz empapa luz.
la criatura en el jardín
asiste seria al curso.
un temblor leve aparta el picaflor.
el cuarto oscuro genera el grito
- i entra ! la mañana cierra
las cortinas al público.
Página publicada em março de 2010. ampliada e republicada em dezembro de 2013
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