MARCOS SISCAR
Nasceu em Borborema (SP), em 1964. Formado em Letras pela Universidade Estadual de Campinas, doutorou-se em Littérature Française na Universidade de Paris VIII, em 1995, e conclui o pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales, em 2003. Professor de Teoria da Literatura na Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de São José do Rio Preto. Como tradutor, publicou obras de Tristan Corbière, Michel Deguy e Jacques Roubaud, entre outros.
Bibliografia: Não se Diz, Editora7 Letras, 1999; Tome seu café e saia, Editora7 Letras, 2001, Metade da Arte, Editora Cosac & Naify/7 Letras, 2003; e O Roubo do Silêncio, Editora7 Letras, 2006. Tem textos publicados em antologias no Brasil, Argentina, Espanha e França.
Siscar, ao trabalhar com palavras, atinge o estágio de uma “pedra afiada”, ou seja, tem a rigidez de uma obra consolidada e mantém a sua capacidade de desafio constante, como o aço frio de um punhal pronto a nos lembrar que somos humanos.
Oscar D’Ambrosio
Página constrída por Salomão Sousa; publicada em agosto 2007.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
De
Marcos Siscar
INTERIOR VIA SATÉLITE
São Paulo: Ateliê Editorial, 2010. 104 p.
ilus. form. 18 X 27 cm.
ISBN 978-85-7480-470-5
Edição bem cuidada, de qualidade!
Marcos Siscar é um nome estabalecido na nova poesia e cada livro dele é uma renovação nos caminhos que esta poesia ganha entre nós. Quem comenta é o poeta e crítico Armando Freitas Filho: "A novidade, agora, é que o geólogo de antes e de sempre mostra as asas, até então apenas sugeridas, e a vista de longo alcance de sua aeronave" como a sugerir que a evolução do poeta o liberta das amarras do formalismo para uma fruição verbal mais espacial e livre, que deixa passar o lirismo, em que "varia e revela os significados refletidos nessas refrações". Ou seja, a mão o poeta "que escreve e colore os sentidos e a sensação semovente da poesia recolhida em Interior Via Satélite". Supera o hermetismo e o pavor pelo discurso inteligível para satelitar sobre sensações mais topográficas e reconhecíveis, sem optar pelo óbvio e o banal. Jamais." A. M.
Dentro dos estreitos limites da nossa lei do direito autoral (que está no momento sendo revista para atender aos reclamos do direito universal ao conhecimento e à cultura, compartilhando no espírito mais justo do "fair use", onde todos vão ceder e todos vão ganhar... Sem formação de leitores não lugar para a indústria editorial...) vão aqui dois exemplos, dentre os mais curtos:
JORGE DE LIMA SE FAZ POETA
jorge viu de cima o sobrado da família lima
viu o imenso panorama da serra da barriga
viu quilombo de palmares olarias e usinas.
o interior entrava pelos olhos da sanha nordestina.
que interior é esse que entra sempre pelos olhos?
que destino é esse de onde se deixa a mata espessa?
A VIDA SEM ANTI-SPAM
emagreça dormindo e sem dieta. pare de fumar
fumando. veja como é fácil. elimine o mau hálito
impotência nunca mais. aumente seu p. seduza
com 75% a mais de eficiência. 25% de desconto
100% jesus. tem alguém traindo você. veja como
é fácil. fale inglês sonhando. seu dinheiro de volta
sem juros. tudo 12 vezes em segundos livros cremes
viagens a cabo. nada de amadoras. venha paixão
é tão fácil gostar de gostar de coisa e tal. não tenha medo.
cobrimos a concorrência eu de midas onde a vida
enfia o dedo
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A EUGENIO MONTALE
meio-dia o sol apaga as arestas
a brisa perpetrou o mormaço
estalo de folha seca palha de milho pássaro
o tempo dorme com suas estátuas
a sombra encontra-se inteira com seu corpo
todas as coisas intactas
na hora morta do dia as formigas
sobre a sintaxe da terra inculta elaboram
sua tácita filosofia
De A Terra Inculta, 1994
SISCAR, Marcos. Não se diz. Poemas. Rio de Janeiro: Inimigo Rumor, 1999. 90 p. 14x21 cm. “ Marcos Siscar “ Ex. bibl. Antonio Miranda
DOR
não se diz rasgar rasgar um tecido como só as mãos
festa vital do barbarismo rasgar a tela de linho longamente encerada
abrir um sulco uma esteira um traço olhar por dentro dele
(você se demora na janela o vinco do seu decote
o hábito de dilacerar as folhas do caderno)
não se diz reter o vislumbre da carne pela camisa mutilada
pele retraída ao toque cerimônia do intelecto que se avalia
guardar a coisa pelo avesso posse da coisa ida
(o ato sem causa de uma chave colocada no contato)
De Não se Diz (1999)
TREZENTOS ANOS VOLTAIRE NASCIA
verter o café num dia sem cor o cálculo
do açúcar a colher inútil a voltear
mas olhando de dentro da espiral de fumaça
mil poetas absortos não obstante mortos
talvez se digam que quebrar esta xícara
bastaria para mudar a vida changer la vie
decidi ser feliz faz bem para a saúde
diz um deles livre uni-me ao aniversário
de sua ausência flor do ébano glauca
De Não se Diz (1999)
JARDIM À FRANCESA
eu com minha idade sentado num banco de praça
meu coração era do tamanho do mundo
feito do seu elemento de água rumor e ornamento
duas alamedas duas fontes se escorrendo
meu coração era do tamanho deste mundo
ora assim igual a si mesmo ora se
desconhecendo
mas meu coração é menos perfeito do que esta praça
às vezes se lembra e dificilmente
da hora exata do retorno do tempo
meu coração às vezes tropeça projeta uma perna
sobre a outra
se interrompe mudo parece
que pensa
De Não se Diz (1999)
PSICANÁLISE CASEIRA
há coisas de sobra que não se dizem
há coisas que sobram no que se diz
nossa miséria é uma alegria de palavras?
De Tome seu Café e Saia (2001)
SABIA?
mozart morreu de triquinose e não sabia
(quem saberá de que matéria o fim
é feito?) pessoa era esquizofrênico
e não sabia qual era a sua alegria?
cabral não se sabia? daquele tipo
a quem não interessa a biografia
mas de que resposta precisa um homem
que pergunta? não interprete agora marcos
nesta voz que lhe fala só o sabiá assobia
De Tome seu Café e Saia (2001)
DIABO TRISTE
o diabo tem um olhar triste em que moram
pesados devaneios irmãos de todas as coisas
meu irmão mãos malhadas de passar a ferro
uma eternidade de palavras pernas magras
cruz de sua sede irrefletida os ombros curvos
sobre o pulmão o gesto fogueira do desejo
luzes foscas no cabelo as veias secas
como fontes em que o amor não entra mais
por mais que suplique não se tira o amor
não entra ar não sai não se tira mais seus ais
e sobre o corpo prometido a cal e argila
se imobiliza enfim uma alegria intransitiva
deus é seu hospital
De Metade da Arte (2003)
ENQUANTO ISSO
enquanto o sarcófago de akhenaton passa no tomógrafo
você vomita o segredo do último rei monoteísta
e para curar-se do grande fora precisa cultivar o grande
dentro tratar o vício com o vício matar-se e ir ao cinema
mudar risco em perícia susto em consciência (eu aqui fora
trancado dentro do carro mãos sem dono passeiam pelo vidro
são medusas de nossa perplexidade
De Metade da Arte (2003)
SCHOPENHAUER DESCE AOS INFERNOS
e se a dor fosse apenas o fim da alegria
escondida um pouco aquém das (palavras
desconexas que você me estende como anúncio)
cores enfurecidas quase imemorável encontro
do doer com aquilo que dói reconhecimento
com liberação morte com prazer da renúncia
refinamento da tortura com a boa terapia
(freud fustiga schopenhauer pendurado
nas mandíbulas do inferno enquanto sua mãe
mete o dedo do nariz) comi a flor do pêssego
você me diz amanhã teremos filho
De Metade da Arte (2003)
TIGELA DE ÁGATE
Você fechou a janela, desceu as escadas e disse em prosa que se sentia bem embaixo, no pátio aberto, perto da porta. Você desceu o lixo, olhou o pássaro, brincou de cabra-cega com as crianças do pátio. Então, pediu-me que servisse a sopa numa tigela de ágate. A morte com dor não vale a sopa numa tigela de ágate. O mundo reduzido ao essencial. Isso a faz morrer de rir. O essencial, você me diz, cabe numa tigela de ágate. O que quis dizer com isso? Que essencial não há, ou muito pouco, que no fundo não importa, ou que de fato está nesta tigela de ágate? Desde então, a dúvida me impede de dizer meu nome. Com a sola dos pés procuro o fundo da terra sob um brejo de taboas. Cada vez que me perguntam que fundo é esse, as entranhas me gelam, a discrepância me invade. Sinto o fundo e ele me abala. Toda uma sismologia. Viajo sem ter vontade. Em cada lugar por onde passo, quero de mim uma nova coragem. Certa vez, você me acenou de longe, ao pé da plataforma, com os olhos vermelhos. Você que nunca chorava. Quis exilar-me em você. E talvez eu fique aqui, nesse boteco de luz amarela, no meio da amazônia, até o fim dos tempos. Mal penso nisso, o galo ainda não cantou, você já se estendeu ao longo do meu corpo, se derramou sobre mim e eu a contive. Você cabe em mim tão completamente. Ouço a sua voz fraca, perdida no percurso da garganta. O poema deve ser escrito com sangue? Pois que o sangue seja vivo, vermelho pêssego, turquesa, esmeralda. Foi então que você perdeu a voz, olhou de lado, fechou-se muda. E sobre as pálpebras cerradas palpitam veias de um sangue veloz. Diga-me: quanto sangue será necessário para aplacar o seu silêncio?
De O Roubo do Silêncio (2006)
SISCAR, Marcos. Cadê uma coisa. Ilustrações de Sofia Vaz. Rio de Janeiro: 7Letras, 2012. 78 p. Ilus. capa dura 17,5X24, 5 cm. ISBN 978-85-7577-999-5 Col. A.M.
SISCAR, Marcos. O Roubo do silêncio. Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. 66 p. (Coleção Guizos, 16) 12x19 cm. ISBN 85-7577-277-5 “ Marcos Siscar “ Ex. bibl, Antonio Miranda
NATUREZA MORTA
Tão composto, embora deitado e com as mãos espalmadas, o filho do imigrante ilegal. Dorme, ocioso e belo. Os cabelos penteados, como quem deveria ter ido à escola, mas deitou-se e dormiu. Talvez, saído do banho e já cansado do brinquedo, tivesse se estirado ao lado do pai, num dia muito quente. Talvez, descuidado, deixara-se -entorpecer. Talvez se imaginasse ao lado da piscina, de calção de banho amarelo, como quem estende o corpo sob a morna coberta de sol. Talvez as roupas e sapatos espalhados ao longo do corpo agora imóvel fossem memória de um alegre despir-se. Pudesse a inabitual tranquilidade tornar-se véspera de um despertar mais vivo. Um pintor espanhol o teria mostrado um momento antes, ao tirar os sapatos; ao fotógrafo restou a natureza morta.
SISCAR, Marcos. Metade da arte (1991-2002). Rio de Janeiro: 7 Letras; São Paulo: Cosacnaif, 2003. 173 p. (Col. Ás de Colete) 111,5x18,5 cm. 5 “ Marcos Siscar “ Ex. bibl, Antonio Miranda
Quem tem pouco
a quem tem pouco sobra diz a máxima
quem tem pouco acha muito no mínimo
tudo parece uma questão de escala
mas para ele é que é preciso graça
quem tem pouco tem que ser um tanto
artista tem que ser sábio do ínfimo
quem tem pouco quer não mais mas
outro quer tudo tudo o descortina
POEMAS EM ESPANHOL
Poemas extraídos de:
No se dice.
Buenos Aires: Edições Tsé=Tsé, 2003.
Trad. Anibal Cristobo
DOLOR
no se dice rasgar rasgar um tejido como solo las manos harían
fiesta vital del barbarismo rasgar la tela de lino largamente encerada
abrir un surco una estela un trazo mirar dentro de él
(te demorás en la ventana el pliegue de tu escote
el hábito de dilacerar las hojas del cuaderno)
no se dice retener el vislumbre de la carne por la camisa mutilada
piel retraída al toque ceremonia del intelecto que se evalúa
guardar la cosa al revés posesión de la cosa ida
(el acto sin causa de una llave puesta en contacto)
JARDÍN A LA FRANCESA
yo con mi edad sentado en un banco de plaza
mi corazón era del tamaño del mundo
hecho de su elemento de agua rumor y ornamento
dos alamedas dos fuentes escurriéndose
mi corazón era del tamaño de este mundo
ya así igual a sí mismo ya
desconociéndose
pero mi corazón no es tan perfecto como esta plaza
a veces recuerda y difícilmente
la hora exacta el retorno el tiempo
mi corazón a veces tropieza proyecta una pierna
sobre la otra
se interrumpe mudo parece
que piensa
SABÍAS?
mozart murió de triquinosis y no sabía
(quien sabrá de qué materia el fin
está hecho?) pessoa era esquizofrênico
y no sabia cuál era sua alegria?
Cabral no se sabía? de aquel tipo
al que no le interesa la biografía
pero qué respuesta necesita un hombre
que pregunta? no interpretes ahora marcos
en esta voz que te habla sólo el zorzal silba
TOMÁ TU CAFÉ Y SALÍ
a quién le interesa el fracaso
del otro por qué nos interesa
el fracaso o el dolor de vivir
es más fuerte que el abrazo
(por qué en la despedida el beso
sólo entonces impostergable por qué
las manos en los cabellos apenas
antes de la muerte los cuerpos se encuentran)
tal vez te interese
tal vez mueras de astucia
tomá tu café y salí
DIABLO TRISTE
el diablo tiene una mirada triste donde viven
pesados devaneos hermanos de todas las cosas
mi hermano manos manchadas de planchar
una eternidad de palabras piernas flacas
cruz de su sed irreflejada los hombros curvos
luces opacas en el pelo las venas secas
como fuentes donde el amor no entra más
aunque suplique no se saca el amor
no entra aire no sale no se sacan más sus ayes
y sobre el cuerpo prometido a cal y arcilla
se inmoviliza finalmente una alegría transitiva
dios es su hospital
MIENTRAS TANTO
mientras el sarcófago de akhenaton pasa por el tomógrafo
vos vomitás el secreto del último rey monoteísta
y para curarte del gran afuera precisás cultivar el gran
adentro tratar al vicio con vicio matarte e ir al cine
cambiar riesgo por pericia susto por conciencia (yo aquí fuera
encerrado dentro del coche manos sin dueño pasean por el vidrio
son medusas de nuestra perplejidad
Correspondencia celeste. Nueva poesía brasileña (1960-2000). Introducción, traducción y notas de Adolfo Montejo Navas. Madrid: Árdora Ediciones, 2001 – Obra publicada com o apoio do Ministério da Cultura do Brasil. Ex. bibl. Antonio Miranda
DOR
não se diz rasgar um tecido como só as mãos
festa vital do barbarismo rasgar a tela de linho longamente encerada
abrir um sulco uma esteira um traço olhar por dentro dele
(você se demora na janela o vinco de seu decote)
o hábito de dilacerar as folhas do caderno)
não se diz reter o vislumbre da carne pela camisa mutilada
pele retraída ao toque cerimônia de intelecto que se avalia
guardar a coisa pelo avesso posse da coisa ida
(o ato sem causa de uma chave colocada no contato)
DOLOR
no se dice rasgar un tejido como sólo las manos
fecha vital del barbarismo rasgar la tela de lino largamente encerada
abrir un surco una estela un trazo mirar por dentro de él
(tú te demoras en la ventana el pliegue de tu escote
el hábito de dilacerar las hojas del caderno)
no se dice retener el vislumbre de la carne por la camisa mutilada
retraída piel al toque cerimonia del intelecto que se evalúa
guardar la cosa por el reverso posesión de la cosa ida
(e lacto sin causa de una llave colocada em el contacto)
MOBILIDADE
a virtude retirou-se levou com ela
o consolo de seus retiros
um império restou um feixe de nervos
a compulsão da memória o ciclo das estações
e apesar da verdura os anos não se bastam
e não basta a medicina l´imperfection est la cime
preceito sem regra laboriosa é a vida
com seus longos prolegômenos para o vício
MOBILIDAD
la virtud se retiró con ella
el consuelo de sus retiros
sobró un imperio un haz de nervios
la compulsión de la memoria el ciclo de las estaciones
y a pesar del verdor los años no se bastan
y no basta la medicina l´imperfecion est la cime
precepto sin regla laboriosa es la vida
com sus largos prolegómenos hacia el vacío
(De Não se diz (1999))
JARDIM À FRANCESA
eu com minha idade sentado num banco de praça
meu coração era do tamanho do mundo
feito de seu elemento de água rumor e ornamento
duas alamedas duas fontes se escorrendo
meu coração era do tamanho deste mundo
ora assim igual a si mesmo ora se
desconhecendo
mas meu coração é menos perfeito do que esta praça
às vezes se lembra e dificilmente
da hora exata do retorno do tempo
meu coração às vezes tropeça projeta uma perna
sobre a outra
se interrompe mudo parece
que pensa
JARDÍN A LA FRANCESA
yo con mi edad sentado en un banco de plaza
mi corazón era del tamaño del mundo
hecho de su elemento de agua rumor y ornamento
dos alamedas dos fuentes escurriendo
mi corazón era del tamaño del mundo
ora así igual a si mismo ora
desconociéndose
pero mi corazón es menos perfecto que esta plaza
algunas veces se acuerda y dificilmente
de la hora exacta del retorno del tiempo
mi corazón algunas veces tropieza proyecta una pierna
sobre la outra
mudo se interrompe parece
que piensa
(De Não se diz (1999))
A MORTE TERÁ MEUS OLHOS
o pálido sentido da palavra morte
batido sem trégua num espelho de dias
mas como habituar-se com essa literatura
que preenche a vida de corpos e afasia
terrificante ainda a credulidade
por exemplo a dos olhos duplicados
na superfície inquiridora deste vidro
me interpela um anjo não nascido
(os olhos são bem mais velhos que o olhar)
um anjo que brinca e depois anuncia
que os olhos são velhos e lhe pertenciam
que um eu ali se consumia.
LA MUERTE TENDRÁ MIS OJOS
el pálido sentido de la palabra muerte
golpeado sin trégua en un espejo de días
pero cómo habituarse con esta literatura
que rellena la vida de cuerpos y afasia
terrorífica incluo la credulidad
por ejemplo la de los ojos duplicados
en la superficie inquisidora de este vidrio
me interpela un ángel no nacido
(dos ojos son bastante más viejos que la mirada)
un ángel que juega y despues anuncia
que los ojos son viejos y le pertenecían
que un yo allí se consumía
Página ampliada e republicada em dezembro de 2018
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