LILIAN MAIAL
Carioca, médica, escritora e poeta, publicou um livro de poemas em 2000 – “Enfim, renasci!”, e tem participação em dezenas de antologias desde 1999.Autora premiada de concursos de poemas, de contos e crônicas, sendo que sua classificação com 3 poemas sobre o mar fizeram parte de uma antologia “Mar & Amor”, em 2001.
Integrante ativa do MIP (Movimento Internacional Poetrix), da qual é representante regional no Rio de Janeiro, teve seus poetrix publicados, em 2002, na “Antologia Poetrix”, com lançamentos no Ceará, na Bahia, São Paulo e no Rio de Janeiro.
Filiada à REBRA (Rede de Escritoras Brasileiras), já participou de 4 antologias lançadas pela REBRA, através da Editora Scortecci, de 2002 a 2006, com lançamentos nas Bienais do Livro de São Paulo. Filiada à APPERJ (Associação de Poetas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro).
Tem seus trabalhos divulgados em inúmeros sites nacionais e internacionais, é colaboradora de revistas eletrônicas em vários Estados do Brasil (“Click Negócios”, “Jornal ECOS – de Vânia Moreira Diniz,“Portal Blocos” – de Leila Miccolis, “Portal Maytê” – de Maria Tereza Albani, “Jornal Varginha On Line”), assim como em Portugal (“Cá Estamos Nós”), e em língua espanhola “Islas Negras”..
HP: www.lilianmaial.prosaeverso.com – http://lilian.maial.zip.net - http://lilianmt.zip.net – http://www.caraacara.blogger.com.br
e-mail: lilianmt@globo.com
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
Re-volver
No peito-húmus,
um músculo ávido de palavras.
Revolver a terra,
adubo em gotas,
versos irrigados.
O verbo cala,
o solo seca,
racha-se a criança -
migalha de pão dormido.
Fome e chão,
pisa descalça
em brasas da indiferença.
Pele e sangue ressequidos,
aridez de lágrima,
espinho e barro
a maquiar a pele,
manchas de verde e amarelo.
Chora a pátria,
pétrea de matas pálidas,
alopécia de cores,
extensas clareiras.
Terra vermelha
coberta do pó,
rugas no mapa,
pistas de pouso -
Clan-destinos.
Onde o branco,
a pureza,
a promessa?
Traída a terra,
ouro de tolo,
sorriso de icterícia,
parcos dentes
de mastigar solidão.
Céu de anil,
nuvens sanitárias,
homem esquálido
a plantar pesticida.
Traída a terra,
clamor rouco e abafado,
fumaça dos charutos cubanos,
pendurados nas bocas patronais,
sem lei e sem letra.
Traída,
a terra lamenta por seus filhos,
amamentados de esmola,
de enteados cuspindo confeitos,
mordendo,
com presas de ouro,
o amanhã e a decência.
Traída a terra.
Punhal enterrado no seio,
mãe órfã de rebento raquítico.
Abre-se a fenda,
engole o que resta:
homem e praga,
riso e lágrima,
orgulho e carbono.
Num futuro fóssil,
tropical tupiniquim,
semear e colher...
Milagre!
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TINTO TANGO
O momento é rubro
Como o tinto
da boca carmim.
O sangue ferve
Como o vinho
que desce queimando
[em desejos]
O tango aquece
Como o calor
de lábios ávidos
de vinho
de beijos
de amor.
O tango gira
A cabeça quente
O vinho ferve
A boca rubra...
O peito explode
O pensamento alcança
O amor se jorra
na taça tinta
do teu olhar...
o vinho
o beijo
o tango...
O momento é carmim
A taça é de sangue
O vinho é loucura
O tango é desejo.
A boca rubra
A taça gira
O amor loucura
O vinho excita.
Bebo-te louca
beijo-te tinto
Sorvo-te tango
Amo-te boca
Vejo-me rubra.
* * * * *
FONTE
em algum lugar
não cabe o todo
há muito mais de mim
em cada poro
ainda há o choro
o consolo
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.
.
CANTO DE AMOR N° IX
Por onde anda aquele por quem percorri mil léguas?
Aquele da palavra amena, do ombro largo e amigo, do colo quente e macio, das incontáveis cantigas, nas noites sem estrelas e sem luar?
O que tem o hálito de mato, olhos de horizonte e mãos de cais, de ancorar carinhos de espuma do mar, de acalentar madornas e acalmar tempestades.
Professor de línguas de anjos, de palavras aladas, escorregando de nuvens de risos marotos, abanando a solidão com um leque de arco-íris, afagando as cascatas negras com os dedos celestes, que guardam as revelações do destino.
O que dedilha meu corpo e lambe minhas feridas, com a ânsia dos meninos, a loucura dos desesperados, a sabedoria dos anciãos, que traduz meus sonhos e me reescreve em versos.
Aquele em quem repouso meu cansaço, e me deixo guiar na escuridão, segura e tranqüila, plenamente viva, para encontrar os segredos e mistérios da identidade nos braços da verdade.
Eu, tua metade inteira, a que te sabe de cor, a que te morde com fome, a que te alisa dengosa, a que te imprime a fotografia do encontro.
Ah! Quão suave é tua voz de pássaro em revoada! Quão doce o teu sorriso de sol e de garoa! Quão sincera é a tua mão, que se aperta à minha, eu, tua miragem, teu deserto e teu sol!
Aquele, cuja boca dita o meu dia, que me beija as dúvidas e me abraça as escolhas, cujos olhos iluminam meu caminho, sem interferir na jornada.
Eu, tua amada, a delirar esperas, a pressupor prazeres, a suportar a dor do silêncio, com a promessa da chegada, enfeitando as horas com teus humores, preservando a volúpia do vulcão em explosão, poupando tua pele de almíscar das labaredas dos meus olhares sedentos.
Abençoado filho de um jardim de virtudes, que entra por minha janela todas as noites e me observa o sono, me nutre os devaneios de malícia e sedução, e atiça as fagulhas do desejo e da entrega.
Percorre meu corpo e me conhece os atalhos, colhe meus frutos e bebe os orvalhos, pingando cheiros vorazes, que me marcam a ferro e fogo.
Eleita entre tantas, sou a mulher das tempestades, a diva dos vendavais, a dama dos horizontes, que te ordena e ordenha, que te cobra e te serve, que te morde e te sopra, que te expulsa e penetra. A que te elege entre tantos, a que te espera para sempre, a que te possui e te pare, a que te quer mais e mais a cada dia, pelo simples prazer de te saber aqui.
* * * * *
TINTO TANGO
Traducción de Maria Inês Nunes Storino
El momento es rojo
Como el tinto
De la boca carmesí.
La sangre hierve
Como el vino
Que baja quemando
[em deseos]
El tango calienta
Como el calor
De labios ávidos
De vino
De besos
De amor.
El tango gira
La cabeza caliente
El vino hierve
La boca roja ...
El pecho explota
El pensamiento alcanza
El amor aflora
Em la copa tinta
De tu mirada ...
El vino
El beso
El tango ...
El momento es carmesí
La copa es de sangre
El vino es locura
El tango es deseo
La boca roja
La copa gira
El amor locura
El vino exita.
Te bobo loca
Te beso tinto
Te trago tango
Te amo boca
Te veo rojo.
ANTOLOGIA POETRIX , 5 / organizador Goulart Gomes. São Paulo: Scortecci, 2017. ISBN 978-85-366-5212-2
Ex. biblioteca de ANTONIO MIRANDA
[ O POETRIX é terceto contemporâneo de temática livre, com título e um máximo de trinta sílabas. Proposto, inicialmente, como uma evidente alternativo do HAIKAI, mantendo sua forma em tercetos mas subvertendo o seu conteúdo, ao admitir título, rimas, figuras de linguagem e um maior número de sílabas. Maiores informações sobre a sua estrutura, podem ser lidas no BULA POETRIX, no site www.movimentopoetrix.com.br ]
ALZHEIMER
olho nos teus olhos
não te encontro
meninas cansadas
ANTROPOFAGIA
devoras-me os lábios
acolho-te a língua
punhal e unguento
FASHION
última tendência
moda ou dependência
...visto tua pele: [ví]cio
INF(V)ERNO
corpo outonal
caem folhas do calendário
o tempo não primavera
METAMORFOSE
vento varre o chão
folhas no ar a dançar
borboletas súbitas
MANIAS
lavar as mãos dez vezes
trancar a casa cinco vezes
beijar tua boca para sempre
FATOSSÍNTESE
todo poeta é uma árvore
deixa raízes-versos
respira impossibilidades
JURA
teu amor eterno:
letras de sal
caderno de areia
SENHA...
teu “gosto”
em “ minha ” “ boca ”
: acesso liberado
EMANAÇÃO
correntes no vento
o tempo se arrasta
u r ó b o r o
FORA DA LEI
querer antagônico
confusa fusão
pernas e danos
IMPRESSÕES
a foto me sorri
no fundo da gaveta
nós feitos de passado
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Página publicada em fevereiro de 2024.
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