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Foto: www.panoramadapalavra.com.br

LÍGIA DABUL

 

Poeta e antropóloga carioca, é professora na Universidade Federal Fluminense e faz pesquisas em antropologia da arte. É autora do livro de poemas Som (Bem-te-vi, 2005) e do ensaio Um percurso da pintura: a produção de identidades de artista (Eduff, 2001). 

Poeta y antropóloga carioca es profesora en la Universidad Federal  Fluminense y hace investigaciones en antropología del arte. Es autora del libro de poemas Som (Bem-te-vi, 2005)  y del  ensayo Um percurso da pintura: a produção de identidades de artista (Eduff, 2001).

Publicado originalmente em http://www.letras.s5.com, e reproduzido com autorização do tradutor.

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL
 

POEMAS

Seleção de Claudio Daniel
 

INVENTÁRIO

Drácula amanheceu sem medo. Raios                           
de sol acrescentaram muito pouco                                  
ao acontecimento por demais                                          
completo: ele mudou, ele mudou!                        
Estamos satisfeitos a esta hora.                          
Convocamos amigos. Nós seremos                               
tantos! Mas por favor deixem de fora                              
meus inimigos, pálidos, serenos,                         
pensando se devemos ou não ir,                         
devemos ou não ser. Muito cuidado                                
com tudo o que reluz. Não penso assim             
depois que despertei tão transformado.            
                                              
Amanheci sem medo e quero ver                        
no espelho refletidos meus desejos.                               

 

MUSTH                                                                   

Tudo esquematizado. Abandonar        
a música. Ficar só com os músculos.               
Abastecer com urros a manada            
de meninos tomados pelo rumo.           
Defesas, tromba, másculas batidas,                
dor onde ninguém pode chegar perto:              
na imaginação de uma divisa,                           
na agonia infinita porque quer                            
que passe logo rápido mas volta                         
o primeiro desejo de ser nela.                              
O amor está sozinho mesmo agora                     
que o corpo não comporta tanto. Resta  
catalogar mais uma variante                     
de viver, esse lapso de elefante.                          

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TEXTOS EN ESPAÑOL

Traducción: Leo Lobos

INVENTARIO

Drácula despertó sin miedo. Rayos
de sol acrecentaron muy poco         
el acontecimiento por demás
completo: ¡él cambió, él cambió!
a esta hora estamos todos satisfechos.
Convocamos a los amigos.
¡nos seremos tantos!
pero por favor dejen fuera
a mis pálidos serenos enemigos
que piensan quizás que debemos o no ir,
que debemos o no ser. Mucho cuidado
con todo lo que reluce.
desde que desperté tan transformado pienso así.                                                       

desperté sin miedo y deseo verme
en el espejo reflejando.


 

 MUSTH

Esquematizado todo. Abandonar
la música. Quedar solo.
Alimentar con rugidos la manada
de niños tomados por el rumbo.
Colmillos, trompa, batidas viriles
aflicción a la que nadie puede acercarse:
en la imaginación una línea divisoria,
la agonía que quiere pase rápido
pero regresa
el deseo de estar en ella.
El amor está solo incluso ahora
que el cuerpo no permite tanto. Resta
catalogar una variante más
para vivir, este lapso de elefante.

 

 

LITERATURA   Revista do Escritor Brasileiro.  No. 7.  Dezembro 1994. Publicação semestral da Editora Códice.  Brasília, DF. Editores: Nilto Maciel, Emanuel Medeiros Vieira e João Carlos Taveira.  Capa: Guitarista canhoto solando o “Concerto de Aranjuez” de Jorge Otávio.
Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

                PRA QUE LEIAS

       Poucas vezes entreguei meu punho
a pena tão seduzida!
Tentada, umedece as tetas
das letras na tua língua:
— “E quero morder o seu bico”.

        A caneta dá-se ao traço em pleno
umbigo do poema e peço:
Recita-me embaixo, isso,
sussurra aqui lábios versados, hum,
se abrindo em teus cílios e orelhas.

        E saboreias.

 

 

Página publicada em janeiro de 2008, ampliada em setembro de 2019



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