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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Fonte: www.blocosonline.com.br  

LEILA MICCOLIS 


Leila Miccolis nasceu no Rio de Janeiro.  Editora, professora de roteiro de televisão, promotora cultural e artista performática.

Obra:  Em perfeito mau estado (Editora Achiamé, Rio de Janeiro, 1987); Do poder ao poder - alternativas na poesia e no jornalismo nos anos 60 (Editora Tchê, Rio Grande do Sul, 1987); O bom filho a casa torra, (Edicon e  Blocos, São Paulo e Rio, 1992); Achadas e Perdidas e Sangue cenográfico (Editora Blocos, Rio de Janeiro, 1997).

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL

           

         EU TE DOU OS MELHORES ANOS DE MINHA VIDA

                Coso a alça de um vestido descosido,
         enquanto pregas um prego
         numa madeira bichada,

dou chiclete a nosso filho

para parar de gritar,

te mostro a casa cheirando

a pinho e desodorante,

me sorris agradecendo.

É certo que não quero recompensa.

Mas te beijo tua boca vomitada

que tem gosto de fome

e de torrada.

 

 

ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

 

Esqueço meu desejo de vingança,

e a mágoa recalcada esqueço até,

se ponho a te afagar o membro flácido

com as pontas dos artelhos

do meu pé. 

 

PENA DE MORTE

 

Eram bastante bons

aqueles tempos de ódio,

em que planejávamos nossos assassinatos,

pelo simples prazer de nos vingarmos:

eu te via com os dedos na tomada,

tu me vias sufocada pelo gás.

Tempos em que sorrias ao atravessar a rua,

e eu achava graça em ser atropelada;

tempo em que queríamos fazer um filho

para espancarmos juntos,

nos dias de ócio,

em que eu te servia de escarradeira,

em vez de cozinheira e passadeira.

Depois veio o amor

que é como um lenço em que se assoa,

ou mãe que chicoteia e nos perdoa.

Hoje afago-te as corcovas

e lustro-te as botas novas.

 

 

MODA

 

Eu queria te ver,

coxas de fora,

(como de fora vejo teus pêlos do peito

pela camisa de seda),

a andares na rua,

entre assobios e apalpadelas,

o olhar disperso

como quem nada percebe,

e mostrando ao sentares,

subindo-te a roupa,

a cueca combinando com a gravata.

 

 

LAÇOS INDISSOLÚVEIS

 

Refaço nós de capacho:

por um fio me escapas,

por um laço te prendo;

tranço um fio — me queres —

tranço outro — me odeias.

Por diversão lavo o filho até conseguir dar brilho,

enxaguo tua barba de Bombril

com mil e uma utilidades,

colho batatas grelhadas

da raiz do teu cabelo

para de noite jantar,

e no fim da noite gozo,

te chupando o calcanhar.

 

 

PITADA DE SAL

 

Quero ver onde vai dar teu jogo

de esconder o feto no forno,

o macarrão no banheiro da empregada,

a cerveja na bexiga cheia.

Teu jogo de esconder

o desejado

no sorriso cordial,

e nas festas galantes de sempre.

Esconder tua voz de cio,

teus pêlos enroscados

entre a coxa aberta,

o medo de perder a virgindade

e o teu recato de homem.

 

 

EFEITOS ÓTICOS

Quanto mais se envelhece
mais os mortos se aproximam.
Mas a conversa é difícil:
eles usam expressões diáfanas,
ectoplásticas,
e sussurram sombras.
Às vezes,
figuras nos muram grafitam;
outros,
em torno da palavras gravitam.
E sempre que se vão,
atravessando tijolo,
concreto, cimento e cal,
nos deixam a confirmação
— nenhuma parede é real.


 

HORÁRIO COMERCIAL


As mães do meu edifício
falam assim com seus filhos:
—"Cuidado pra não cair...
Se sujar a roupa nova
eu vou lhe dar uma sova".
Tem outra espécie, também,
que sempre se sobressai,
a que ameaça terrível:
— "Eu vou contar pro seu pai"...
Por fim, eu ouço a que diz:
— Ah, meu Deus, que mal eu fiz
pra ter tido este estrupício?"
Eu então, ouvindo isso,
me arrisco a uma conclusão
sem brilho e bem pessoal:
mãe sorrindo para os filhos,
só na televisão
em algum comercial...

 

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No universo das divergências

Em vez de eu me deitar na cama,
resolvi criar fama.
E aí comecei a fazer versos, a mendigar editores,
como se eles fizessem grandes favores
em nos publicar...
E de tanto batalhar, virei... poeta
— um grande passo em minha meta —
porque em poetisa todo mundo pisa.
E quando me consideraram menina prodígio,
consegui que um crítico de prestígio
analisasse minha papelada.
Ele deu uma boa folheada,
pensou, pensou e sentenciou:
“— Incrível... não tem nível...”
Juro que fiquei com muita mágoa
porque, afinal, quem precisa de nível
é caixa d´água...

 

Extraído de: CABAÑAS, Teresa. Que poesia é essa?!  Poesia marginal: sujeitos instáveis, estética desajustada... Goiânia: Editora UFG, 2009
            Obra crítica recomendável para os estudiosos do tema!

 

 

TEXTOS EN ESPAÑOL

TRADUCCIÓN DE

ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO

 

TE DOY LOS MEJORES AÑOS DE MI VIDA

Coso el ruedo de un vestido descosido

mientras clavas um clavo

en una madera agusanada

le doy chicles a nuestro hijo

para que deje de gritar

te muestro la casa oliendo

a pino y desodorante

me sonríes agradecido.

Es cierto que no quiero recompensa.

Te beso la boca vomitada

que tiene gusto de hambre

y de tostada.

 

 

Extraído de la obra

VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA

Goiânia: Editora Oriente, s.d.

 

Página republicada em junho de 2008




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