Nasceu a 24 de julho de 1930 em região missioneira, na cidade de Santiago, RS, Brasil. Poeta e ensaísta. Formado em Letras Clássicas, em Porto Alegre, foi diretor do Instituto do Livr ; professor pioneiro do nível médio, quando se inaugurou a Nova Capital (1960), e fundador da Universidade de Brasília (UNB), em 1962. Lecionou literatura luso-brasileira em Yale e na UCLA; pronunciou conferências sobre cultura em outras universidades norte-americanas e européias.
Bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa e da Comissão Fulbrigth, nos EUA, junto ao IWP “International Writing Program” da Universidade de Iowa. Prêmio de Poesia (1958), Festival Internacional da Revista “Quixote”, Porto Alegre, e Prêmio Nacional de Poesia (1965), no Encontro Nacional de Escritores, promovido pela Fundação Cultural do Distrito Federal, Brasília. De 1973 a 1985, contratado pelo Itamarati (MRE), foi Diretor do Centro de Estudos Brasileiros, sucessivamente em La Paz (Bolívia), Rosário (Rep. Argentina), Panamá e México.
Publicou vinte e um livros, inclusive antologias pessoais: Noite Elementar (Porto Alegre, 1958); Hinos Cotidianos (Rio de Janeiro, 1960); A Geometria das Águas (Porto Alegre, 1963); Ofício Humano (Rio de Janeiro, 1966); Verbo Intranqüilo (Rio de Janeiro, 1967); Conhecimento a Oeste (Lisboa, 1974); Dos Nomes (Rosário, Sta. Fe, 1977); Noção do Dia (Brasília, 1977); Promontorio Milenario (Panamá, 1983); Pedra Azteca (México, 1985) e Vez de Eros (Brasília, 1987); As colunas do templo (Brasília, 1989), O olho reverso (1993), Memórias de signos (Porto Alegre, 1993), O avesso do espelho (1996), Antologia Pessoal (Brasília: Thesaurus, 2001) e 20 poemas escolhidos e um falso haikai (2005).Vive em Brasília.
"Posso afirmar que encontrei na sua poesia alguns indício de ouro,para usar de uma expressão do poeta que lhe oferece a epígrafe para seu livro". CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
"Seus primeiros poemas já revelavam a preocupação mais recente da nossa poética — a visibilidade e a objetividade. J. S. N. tem a virtude da grandeza, é uma emoção transcendendo, seu mundo solicita formas que vai inventando ao sabor da sugestão, sua metáfora é sutil e dramática. Suas "coisas" estão diretamente implicadas em seu destino, em seu tempo, no destino e no tempo do homem, o que dá universalidade e validade à sua experiência.". WALMIR AYALA
"Un cántico sin efectismos, sin resabios, precisamente, de música simbolista. Porque en esta poesía hay tradición, pero una tradición cuya sustancia ha sido transformada en esencia. (...) No quiere esto decir que el poeta se aventure por caminos que desdigan de su inteligente y verdaderamente nuevo sentido de la tradición. Sus versos son conenidos, sobrios, generalmente de arte menor (por la medida, es claro, y no por la calidad) pero, de vez en cuando, su modernidad, su sentido experimental, se agudiza.(...) / Pero Naud no va a abusar de estos recursos retóricos — de nuevo cuño — que son muy raros en su libro. Nos dan, sin embargo, la medida de una intensa preocupación formal." ÁNGEL CRESPO - Revista de Cultura Brasileña, Madrid, 1966.
Faleceu em julho de 2020.
NAUD, José Santiago.Cara de cão. Prólogo por Loryel Rocha & Lúcia Helena Alves de Sá. Prefácio por Antonio Miranda. Rio de Janeiro (RJ): Instituto Mukharaji Edições, 2018. 727 p. 15x21 cm. ISBN 978-85-54264-02-4
O poeta José Santiago Naud, anfitrião de uma das sessões magnas da I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASILIA ( de 3 a 7 de setembro de 2008 ).
CANTARES DE NOSSA SENHORA
1.
Quero te falar de Maria.
Maria foi tão simples.
É muito anterior a Eva
e está noturnamente sozinha
na sua roca de Piedade.
2.
Era preciso que Deus baixasse
e nos desvãos da carne celebrasse
a aliança com o eterno.
Mas devia vir nu,
Deus,
sem uma pedra que lhe amparasse a cabeça,
nem placentas, submisso
e ancorado na vária geração.
Como nas vastas peregrinações
em que o homem equilibra
e partilha e o anseio,
se te exigia o máximo,
de virgem e de mãe.
Era preciso reunir
como o andarilho,
no olhar, todos os povos.
E tu ouviste o anjo.
Tu foste a casa e a flor,
o jardim e a lareira,
ajudando
para sempre
o espírito no tempo.
3.
Em segredo,
um campo azul pendia
das paragens celestes, vasto
de muitas flores. E vinhas por ele
com as vestes vaporosas, ao lado
o touro
- de finas ilhargas e a frente poderosa.
Oh, Pastora da besta,
as alvas mãos aberta
sob os seios explícitos!
Caminhas, pastoreando
enquanto a língua bruta,
áspera e sedenta,
forte e obscura
vai passando entre os beiços
(rorejados
de orvalho)
a grama, tenra.
Odores de terra sobem como chuva
a baba cintilante.
Simples, entre as mais simples
vejo a tua mão descer
sob o dorso selvagem
enquanto os flancos fremem.
Então, de rampa adusta
a pomba desce,
e adeja
no teu ventre a aspereza
portentosa do touro:
todas as flores que ele pasta
passam às tuas vestes
e ficam
vivo esplendor.
ORIGENS
Quando ainda não éramos,
víamos em toda a direção,
não obstante o Céu
por sobre nós conviesse
a cabeça terrena.
Mas, ai, o terrível instante
em que já não mais
o olho que vira se mantinha.
Tudo então se pensou.
E as nuvens, a cor
das águas azuis que se entregavam
em flores sexuais se entregavam
em flores sexuais se bipartiram
abrindo em volta de nós
os espaços da dor.
E eis nosso dia.
CAVALO MORTO
Morto.
A cabeça tão bela,
outrora insofrenável, agora
ropousando nos vermes. O corpo
terso, enorme,
inominável já,
colando-se na terra. E a grama
vencendo a repugnância
ensaia terna
uma cor mais nova.
Antes, uso. Agora,
memória mal exposta. Signo
do tempo. Meditação confusa.
Velocidade podre.
Das patas ágeis
- persistência patética –
restam os cascos,
apenas restos de cabelos escuros.
Sobre,
o arcanjo da destruição passa
sombrio, e enfeixa
aquela descomposta figura
nos silêncios da espada.
TOCADORA DE FLAUTA
Pelos campos de Osuna
ela havia de andar
ao mesmo vento
que ondulava o trigal.
E o mesmo sol
que tirava a capa ao companheiro
havia de brilhar sobre os dois,
hoje imóveis.
Ah, virtudes de pedra
capaz de reter quanto, só
na alma, o espírito endurece
- este permanecer,
brilho
fugidio preso no homem
(para logo voar)
quando o sexo se alça
ou a fome abre
quinas de morte.
Auletriz chamada, agora
auletriz a vejo. E digo
mais vivamente: tocadora de flauta.
Vem,
com teu canto de pedra,
costas voltadas ao companheiro gasto,
cunha da evocação.
Vem,
com teu passo imóvel.
Fixa nos meus olhos,
deixa que os ventos de Osuna
soprem de novo o remoto,
e os campos dobrem na tua cinta cingida,
e o sol doure o cacho dos cabelos
cintados pela trança de palha do chapéu.
Que o trilo da flauta
suba
a serpente dos montes,
enquanto a capa ondeie
rígida
os frêmitos passados
e volte o companheiro a convergir
os passos para ti.
Num instante
as noites primitivas estão aqui.
Juntos,
cosemos rugas do tempo, recompomos
o mundo. E o dia
(íntegro)
se faz.
A DAMA DE ELCHE
Seus olhos
pararam no limiar. Mas a morte
participa também do mistério da vida,
e essas amêndoas que mantém
explícitas ao nada, anunciam
outra árvore em nós.
Toda a feição já se concentra
no que os olhos não dizem. Antes
fossem fechados,
como os lábios na dureza do mento,
e a ciência ou a razão que nos perturba
não deixariam no berloque aguerrido
essa espantosa serenidade gélida de amor.
Mulher-senhora. Mãe?
Nos adornos
da espera, (nossa
a dúvida) fica a vida
que freme, e os abismos
que a beleza flanqueiam. Até que os pés
alados
despertem a princesa. Então,
Deus a recolhe,
e roça
nossas parcas medidas. A morte
desancora. Pela rigidez
da inacessível máscara, escorre
como as chuvas
o seu íntimo trabalho de existir.
Extraídos de Caminhos de Integração; antologia poética. Org. Sofía Vivo. Brasília: Thesaurus, 1993. [edição trilingüe: português, espanhol, inglês].
DA MORTE
A morte joga no descampado
o seu jogo de dados
mas é no íntimo de nós
no âmago
que os pontos contam.
Ela funda
no fundo de nós
sua raiz fecunda –
no ventre
como bicho faminto
no coração
como casa sem gente
na mente
como causa de causas sem motivo.
É a nossa companheira
longinquamente
desde o berço
e muito antes ainda
pois quando nos embalava
ao doce enlevo da mãe
já modulava o canto
antiqüíssimo
marcando o mais certo encontro conosco
para a miséria
ou para a glória.
Capas de alguns dos livros de José Santiago Naud: Ofício Humano (Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1966); A Geometria das Águas - 1952-1956 ( Porto Alegre: Editora Globo, 1963); Os Avessos do Espelho ( Brasília: Thesaurus, 1996); O Olho Reverso. Brasília: Thesaurus, 1993.
I BIENAL INTERNACIONAL DE POESIA DE BRASÍLIA
3 a 7 de setembro de 2008
Poemas lidos pelo autor no evento.
CANTARES DE NOSSA SENHORA
(Inédito)
Livro I, 3
Era preciso que Deus baixasse
e nos desvão da carne celebrasse
a aliança com o eterno.
Mas devia vir nu, Deus,
sem uma pedra que lhe amparasse a cabeça,
nem placentas, submisso
e ancorado na vária geração.
Como nas vastas peregrinações
em que o homem equilibra
a partilha e o anseio,
se te exigia o máximo
de virgem e de mãe.
Era preciso reunir como o andarilho,
no olhar, todos os povos.
E tu ouviste o anjo.
Tu foste a casa e a flor,
o jardim e a lareira
ajudando, para sempre,
o espírito do tempo.
ROMANCE
Fruto de solidão
preso à fronde do vento,
lua, tu nos dás
a medida do eterno,
essa altura que jogas
contra o espaço celeste
em nós refere a terra,
que em nossa ânsia integras.
E ao nosso amor integras
tudo o que não sofremos,
tudo o que não tivemos
e apenas pressentimos,
em tua marcha sentimos
tudo o que não teremos
e tudo o que já viveram
corações noutros tempos.
Flanco de solidão,
maçã casta e sensual
presa ao ramo oscilante
entre a alma e o carnal,
em ti, suprema altura,
os olhos vão reunindo
as trilhas do abandono
e alguns ecos da infância.
Pata branca de touro
extraviada no azul.
CÃO DE PLUMAS
Em cima
ou embaixo
trazemos sempre conosco
o chão das metáforas — cão de plumas
cão de estrelas
Cão Maior
ou menor
na curvatura dos céus.
E, mais para lá,
a memória.
Capas de alguns outros livros de José Santiago Naud: As Colunas do Templo (Brasília: Linha Gráfica Editora, 1988?); 20 Poemas escolhidos e um falso haikai. ( Brasília: Thesaurus, 2005); Antologia Pessoal ( Brasília: Thesaurus Editora, 2001); Fábrica de Ritos ( Brasília: Thesaurus, 2008).
(Foto Juvenido Barbosa Moreira)
Poetas José Santiago Naud e Antonio Miranda (Brasília set. 2005)
JOSÉ SANTIAGO NAUD
CANTARES DE NUESTRA SEÑORA
(versión del Autor, revisión final de Alma Sophia de San-Royal)
1.
Quiero hablarte de María.
María fue tan simple.
Es muy anterior a Eva
y está nocturnamente sola
en su roca de Piedad.
2.
Era preciso que Dios bajase
y en los desvanes de la carne celebrase
la alianza con lo eterno.
Mas debía venir desnudo,
Dios,
sin una piedra donde apoyar su cabeza,
ni placentas, sumiso
y anclado en la plural generación.
Como en las largas peregrinaciones
en que el hombre equilibra
la partija y el ansia,
se te exigía lo máximo
de virgen y de madre.
Era preciso reunir
cual andarín,
en el mirar, todos los pueblos.
Y tú oíste el ángel.
Tú fuiste la casa y la flor,
el jardín y el hogar,
ayudando
para siempre
el espíritu en el tiempo.
3.
En secreto
un prado azul pendía
de los parajes celestes, vasto
de muchas flores. Venías por él
con las vestes vaporosas, y a tu lado
el toro
-finos lo ijares y la frente poderosa.
Pastora de la bestia,
¡de albas manos abiertas
bajo los senos explícitos!
Caminas, pastoreando
mientras la lengua bruta,
áspera y sedienta,
fuerte y oscura
va pasando entre los belfos
(salpicados
de rocío)
la hierba, tierna.
Olores de tierra suben como lluvia
la baba centelleante.
Simple, entre las más simples
veo tu mano descender
sobre el lomo salvaje
mientras los flancos tiemblan.
De severas escarpas
desciende la paloma,
y aletea
en tu vientre la aspereza
portentosa del toro:
todas las flores que pasta
pasan a tu veste
y se quedan
vivo esplendor.
ORÍGENES
(traducción de Trina Quiñones y Sofía Vivo)
Cuando aún no éramos
veíamos en toda dirección,
no obstante el Cielo
por sobre nosotros viese
la cabeza terrena.
Pero, ay, el terrible instante
en que ya no más
el ojo que viera se mantenía.
Todo, entonces, se pensó.
Y las nubes, el color
de las aguas azules que se entregaban
en flores sexuales, se bipartieron
abriendo a nuestro alrededor
los espacios del dolor.
Y, hélo aquí, nuestro día.
CABALLO MUERTO
(traducción del Autor)
Muerto.
Su cabeza tan bella,
otrora irrefrenable, allí está
entre gusanos. Su cuerpo
terso, enorme,
ahora innombrable,
pegándose en la tierra. Y la hierba
venciendo el asco
un color más nuevo.
Antes, era el uso. Ahora
memoria contrahecha. Signo
del tiempo. Meditación revuelta.
Podrida velocidad.
De sus patas ligeras
-persistencia patética –
quedan los cascos,
restos no más de pelos oscuros.
Y encima,
el arcángel exterminador pasa
sombrío, amontonando
aquella descompuesta figura
con los silencios de su espada.
TOCADORA DE FLAUTA
(traducción de Trina Quiñones y Sofía Vivo)
Por los campos de Osuna
ella había de andar
por el mismo viento
que ondulaba el trigal.
Y el mismo sol
que sacaba el manto al compañero
había de brillar sobre los dos,
hoy inmóviles.
Ah, virtudes de piedra
capaces de retener aquello
que sólo en el alma, el espíritu endurece
-esa permanencia,
brillo
huidizo, preso al hombre
(para súbitamente volar)
cuando el sexo se eleva
o el hambre despierta
las esquinas de la muerte.
Auletris invocada, ahora
auletris te veo. Y digo
fervorosamente: tocadora de flauta.
Ven,
com tu canto de piedra,
dorso volcado hacia el compañero gastado
cuña de evocación.
Ven
con tu paso inmóvil.
Fíjate en mis ojos,
deja que los vientos de Osuna
soplen nuevamente lo remoto
y los campos doblen tu cintura ceñida
y el sol dore los racimos de tus cabellos
rodeados por la trenza de paja de sombrero.
Que el trino de tu flauta
suba
los serpientes de los montes,
mientras que la capa ondée
rígida
los rumores del pasado
y vuelva tu compañero a dirigir
sus pasos hacia ti.
En un instante
las noches primitivas están aquí.
Juntos,
cosemos las arrugas del tiempo,
reconstruimos el mundo. Y el día
(íntegro)
se hace.
LA DAMA DE ELCHE
(traducción del Autor)
Se quedaron sus ojos
ante el umbral. Mas la muerte
completa igual el misterio de la vida,
y esas almendras que sostiene
abiertas hacia la nada, anuncian
otro árbol en nosotros.
Su talla entera se concentra
donde los ojos no hablan. Antes
fuesen cerrados,
como los labios en su duro mentón,
y la ciencia o la razón que nos perturba
no abandonaran en el pinjante aguerrido
esa espantosa y gélida serenidad de amor.
Mujer-señora. ¿Madre?
En los adornos
de la espera,, (es nuestra
duda) quédase la vida
y vibra, los abismos
que a la belleza flanquean. Hasta que pies
alados
despierten la princesa. Entonces,
Dios la recoge,
y roza
nuestras parcas medidas. Su muerte
desancora. Por la rígida
máscara inaccesible, escurre
como las lluvias
su íntimo trabajo de existir.
Extraídos de Caminos de Integración; antologéa poética. Org. Sofía Vivo. Brasília: Thesaurus, 1993. [edição trilingüe: português, espanhol, inglês].
DE LA MUERTE
(trad. de Saúl Ibargoyen)
La muerte en el descampado juega
su juego de dados
pero es en lo íntimo de nosotros
en la médula
donde los puntos cuentan.
Ella funda
en lo hondo de nosotros
su fecunda raíz –
en el vientre
como bicho hambriento
en el corazón
como casa sin nadie
en la mente
como causa de causas sin motivo.
Es nuestra compañera
lejanamente
desde la cuna
y aún mucho más
pues cuando nos arrullaba
al dulce éxtasis de la madre
modulaba ya el antiquísimo
canto
marcando el más seguro encuentro
con nosotros
para la miseria
o para la gloria.
Extraído de Versos Comunicantes I – Poetas Iberoamericanos. Coord. de José Ángel Leyva. México: Ed. Alforja, 2002.
MIENTRAS EL VIENTO RUEDA
(trad. de Saúl Ibargoyen)
Mientras el viento allá afuera rueda
y una hoja amarilla golpea la vidriera
la lámpara allá adentro fluye esa flor de luz
en torno a la mesa
y el chantre conversa con la esposa
en tanto compone su música. Tranquilidad
de hacer el pan para todos
sin estar de lámpara al revés
ni encendería para dejarla debajo de la cama.
Más afectuoso todavía, el perro
se enrosca en medio de sus piernas
y él deja estar así
un perro astuto
prisionero del sueño y del tiempo
como un ovillo. Dulce paz
y dorado instante
que duran mientras allá afuera se sueltan los vientos
y ruge la destrucción-convulsión del mundo
sin perro ni gato, ratón
royendo lo perfecto
en tanto la música armoniza las puras disonancias
y entre marido y mujer la lámpara
incendia el aquí
pero habita sin tiempo
el centro de la armonía.
EN LA CALLE SOLITARIA
(trad. de Saúl Ibargoyen)
En la calle solitaria
con el Sol de mediodía
una línea de oro se extiende
oscureciendo todo
y tiñendo las cosas.
Un haz de espanto
el grito del loco raya el cielo
azul
en línea opuesta a la sombra del árbol.
Al amparo materno del umbu
se parten paz y sosiego, la dulzura
y el punto justo
son de pronto un rayo en la desmesura del grito del loco
con su alma en andrajo en un lecho de llamas
que despedaza los ojos del niño
presos en el silencio de la plaza.
De la sensación quedó
el pavor dominado, aquel preciso instante
de la visión de un revoque rojo
en el muro desconchado,
los ladrillos a la vista
y la acera
dura,
asperezas,
fascinación,
audacia,
y el grito del loco
rayando de sangre el cielo azul.
Así también (oculta)
la cadena de la herencia espiralaza
la explicitud de las formas, apariencia pura
con el espíritu adentro desde los espacios abiertos,
un acto hecho en nosotros:
Dios
escribiendo la pieza que dijimos
con la memoria de las células
orden y miedo de cumplir
la hora prescrita,
el tiempo cierto de salir –
claro mandala.
Como remonta el salmón la corriente
para dejar a la suerte del río sus huevos
y allí
fluyendo
comenzar a morir, así
el loco grita
o nosotros, apoderados de la razón, retrocedemos.
Sólo un perro por compañía
que vuelva nuestros ojos hacia la luz
o en la tiniebla ajuste nuestros pasos.
Dentro de la gruta
espesa
nuestros nervios palpitan impacientes
y pasa de padre a hijo el relámpago de las madres.
De pronto
las ruinas circulares de los derrumbes fatales están allí
y son
como el grito del loco
en una línea de oro
el cuadrado de la plaza – un rayo
de saudade
ahora
aquí
total recordación,
fiel presencia
para siempre fatal
en su sombra iluminada.
Extraídos de la revista Alforja, XIX, invierno 2001.
José Santiago Naud e Antonio Miranda. (Brasília. 2010?)
TEXT IN ENGLISH
ORANGE ON A PLATE
Poem by José Santiago Naud
Translated by Roy MacGregor-Hastie
With the exactness of a n egg
precise yellow
on a plate, dark, harsh
an orange
offers itself.
All around, silence.
Not even a buzz disturbs
that acid solitude.
Centred in so much space,
hungry
no longer.
Encircled
wholly itself, concentrated
at the periphery protected
by its own sweet mute.
Restricts the act, fact, of being
no longer effect.
Alone
soul of things, yet maturing
the moment of consumption,
for ever remaining
night an sign.
(from “Unquiet Word”, 1967)
Reencontro dos poetas JOSÉ SANTIAGO NAUD, LUIS TURIBA e ANTONIO MIRANDA durante o 33a. Feira do Livro de Brasília, no dia 20 de junho de 2017, instalada no Shopping Pátio Brasil. Turiba era, na ocasião, o Curador do evento.
SIMPLES BILLETE DE AMOR
PARA EMILY
Em Halifax, Bronte,
sofreste a nostalgia,
Sozinha,
pervagavas
Os ventos da charneca,
procurando a urze
que te desse
sombra e cor.
Um dia, ó indomável,
sozinha
tangeste o tropel.
E não sabias
que eu te esperava
um século depois.
(De “Noite Elementar”, 1958.)
POEMA
Curvo en las alas
todo el plan de lo alto.
Y en las entrañas, virgen
— cuando la paloma anuló
las herencias de la nada —
firme intención del hijo.
Cómo quedó aterrada
ante la voz del ángel,
diagonal de silencio
entre el no y la verdad.
Cómo quedó enrollada
en la humildad del acto,
ovillo reducido
o la hechura del abrigo.
Cómo quedó cautivada
por el misterio anunciado,
infinito, engastado
en los límites del cuarto.
Como acogió altiva
la misión intranquila,
tierra oscura tejiendo
las alburas de la rosa.
Curva, en el fiat,
toda la obediencia humana.
Y aceptado en el éxtasis
— cuando el dedo señaló
los orígenes del reino — fuerte
el sello de la vida.
Así los ciclos
que cercaban el tiempo, en temblor
de alas y de entrañas
fueron libres.
(De “Cantares de Nuestra Señora”, inédito.)
(traducción del Portuguém, por Alma Sophia de San-
[Royal, de la Universidad Católica de La Paz, Bolívia)
ORANGE ON A PLATE
With the exactness of an egg
precise yellow
on a plate, dark, harsh
an orange
offers itself.
All around, silence.
Not even a buzz disturbs
that acid solitude.
Centred in so much space,
hungry
no longer.
Encircled
wholly itself, concentrated
at the periphery protected
by its own sweet mute.
Restricts the act, fact, or being
no longer effect.
Alone
soul of things, yet maturing
the moment of consumption,
for ever remaining
night and sign.
(from “Unquiet Word”, 1967)
(translated from Portuguese into English, sin
Iowa City, academic year 1971/72 at the
University of Iowa. Vewrsion by Roy MacGregor-
Hastie, English poet.)